– Hey, campeã. Já está melhor?

Sakura abre os olhos lentamente e vê os olhos verdes do pai a olhando com preocupação, enquanto o sorriso dele tenta mostrar calma e carinho. Ela tenta se levantar, mas sente seu corpo fraco. Kizashi a deita novamente e começa a fazer carinho na cabeça da filha.

– Você estava linda, pequena. - diz orgulhoso, porém seus olhos ainda guardam preocupação.

Sakura arregala um pouco os olhos depois de entender o que ele acabou de dizer. Sente seu coração acelerar e sua garganta formar um nó.

– O-o senhor viu. - murmura confirmando e não perguntando.

Kizashi assente e aperta os lábios com força, deixando o sorriso calmo de lado e mostrando como estava devastado e cansado. Ele se inclina e a abraça com força. Num gesto de desculpa e proteção.

– Por que nunca me disse? - pergunta controlando a voz em um sussurro.

Sakura sente os olhos marejarem e estremece quando cai na real de que tudo aquilo realmente aconteceu.

Não havia visto seu pai na plateia, na verdade nem se lembrou de que ele estaria ali. Só queria desabafar e dar um lição naquelas pessoas.

– Me desculpa - responde num fio de voz apertando o pai com mais força. - Era uma luta minha, não queria preocupar o senhor. - termina com a voz embargada.

Kizashi dá um suspiro triste e afasta-se da filha para olhá-la nos olhos.

– Somos nós dois nessa, lembra? Não tem essa de lutar sozinho, eu estarei sempre com você.

Sakura o aperta novamente buscando conforto no abraço do pai. Os dois ficam ali por um longo minuto. Eles não precisam de palavras, só precisam um do outro. Logo, eles sabiam, tudo estaria bem.

– O Naruto quase invadiu a casa quando você não atendeu as 50 ligações que ele fez - diz Kizashi um pouco divertido olhando para a filha. - e quando vim no quarto ver se você tinha acordado, eu podia jurar que vi a Ino subindo nos ombros de um ruivo tentando alcançar sua janela antes de sair correndo quando os flagrei.

Sakura ri com o pai imaginando as loucuras que os amigos poderiam estar aprontando.

– Eles são malucos - diz sorrindo mais aliviada se ajeitando na cama.

– Eles estão lá embaixo te esperando desde às 8. - diz Kizashi. Sakura arregala os olhos e olha para o relógio e descobre ser quase 11 horas da manhã.

– O que aconteceu comigo? - pergunta alarmada.

– Você desmaiou por excesso de estresse. - responde com uma leve repreensão nos olhos.

Sakura abaixa a cabeça envergonhada e sente a mão quente de seu pai pousando em seu ombro lhe dando conforto.

– Pede pra eles entrarem, fazendo favor. - diz depois de receber um sorriso amoroso do pai.

Com uma piscada, Kizashi sai e logo em seguida os três amigos entram preocupadíssimos. Ino pula em cima de Sakura assim que a vê fazendo todos caírem na gargalhada quando Sakura reclama da amiga estar pesada.

– Como você está, Sakura? - pergunta Hinata dando seu mais meigo sorriso e se sentando aos pés da cama.

– ‘Tô melhor, obrigada. - responde olhando para os três.

– Sakura-chan! O que foi aquilo? - Naruto surpreende a todos se empolgando e mexendo as mãos no ar. - Foi incrível!

– Foi mesmo! - sorri Hinata com os olhos brilhando.

– Foi linda! Sexy! Divônica! - diz Ino empolgada pulando na cama - foi um A-R-R-A-S-O-U!!!

Sakura ri dos amigos que começam a comentar alegres cada parte da sua apresentação. Ino e Naruto disputavam quem falava mais, enquanto Hinata somente concordava com a cabeça sorrindo divertida para Sakura.

A garota olhava toda cena e inevitavelmente sentia falta de alguém. Se fosse antes, Sasuke seria o primeiro a estar ali.

– ... mas você calou todo mundo! E foi, tipo, UAU! - Ino puxou o braço de Sakura para cima dramatizando seu discurso tirando a amiga dos pensamentos nostálgicos. - Amiga, você foi demais! - termina dando um sorriso enorme e orgulhoso para Sakura. que responde com um simples sorriso tímido.

– Acho que eles nunca ouviram algo tão sincero. Na segunda o colégio vai parecer outro. - diz Hinata num suspiro aliviado.

– E se alguém não entendeu o recado, eu coloco na cabeça deles! - diz Naruto fazendo pose com as mãos em punho tirando risos de Sakura e Hinata.

– Acho que demos um grande passo para a civilização. - filosofa Ino com um dedo no queixo fazendo Sakura e Hinata a olharem abismadas.

Depois de muita conversa jogada sem sentido, Naruto pareceu um pouco inquieto e olhou para a casa ao lado. Sakura acompanhou o olhar do amigo e viu um vulto desaparecendo de lá.

– Er... Sakura-chan... - começa Naruto incerto tentando encontrar as palavras. - Só tô perguntando de curiosidade mesmo.... er...

– Fala loga cabeça de amoeba! - diz Ino impaciente tirando uma carranca de Naruto.

– Se... por acaso uma pessoa, assim, qualquer pessoa, que fez uma cagada grande quiser pedir desculpa pra você...

– AQUELE MARICA METIDO E IDIOTA NÃO VAI CHEGAR PERTO DA SAKURA! - grita Ino entrando na frente da amiga como se a protegesse.

Sakura olha com certa curiosidade para Naruto que parece hesitante. Algo que não é normal nele.

– Shiii, Ino! Fala mais baixo! - diz Hinata aflita olhando para a janela a poucos metros a frente.

– FALA BAIXO NADA, HINA! É BOM AQUELE BABACA SABER QUE NÃO PASSA DE UM PERFEITO IDIOTA! - grita Ino mais exaltada apontando um dedo em direção a casa ao lado.

Sakura suspira enquanto Naruto e Ino começam uma discussão sem nexo. Hinata olha para amiga com pena e ambas compartilham um olhar sigiloso de compreensão. Hinata sabe que ela sente falta de Sasuke e dos sentimentos dela por ele, mas sabe que a ferida que ele deixou ai demorar pra se cicatrizar.

– Vocês viram a apresentação fofa do Sasori? - pergunta Ino juntando as mãos com os olhos brilhando em expectativa.

Naruto deu um muxoxo de desaprovação e se sentou ao lado de Hinata segurando suas mãos na dele, fazendo corar imediatamente. Sakura ficou olhando a cena com um aperto no peito. O nome de Sasori a fez lembrar da resposta que teria que dar. E não deu.

Sente-se aflita por um momento. Parece que a semana passou tão rápido e quando tinha certeza de que iria aceitar, descobriu que não tinha como fugir dos olhos negros que antes lhe confortavam e agora a machucava, mas que de certa forma a afetavam consideravelmente.

Hinata pareceu perceber o conflito interno de Sakura e com um sorriso reconfortante, passou força para a amiga com um aperto gentil em suas mãos.

O sábado se prolonga com sessão pipoca, Hinata aprendendo a jogar Mario, Sakura tentando viciar Ino em Harry Potter (a loira franze o nariz só de ver o tamanho dos livros). Os quatro se despedem ao fim do dia com muitos abraços e promessas de que no ouro dia estarão ali novamente.

Sakura se senta cansada no sofá enquanto um programa qualquer passa na TV. Ela não presta atenção, sua cabeça se volta para o ruivo que a considera e a quer por perto e o moreno que a dilacerou.

Pensando bem, é bem fácil saber qual a resposta que Sasori quer... Mas quem pensa é a cabeça, e nesses assuntos não é ela quem manda.

__________________________________________________________________________

Sasori se senta com um amigo em uma mesa de lanchonete. Ele parece cabisbaixo.

– Ah cara, para com isso. Esquece ela. - diz o amigo já de saco cheio com as lamentações de Sasori. - Ela nem deu as caras, isso quer dizer que não te quer nem pintado de ouro!

– Você é muito sensível, Suigetsu! - ironiza Sasori dando um suspiro casado em seguida.

– Eu sou realista! - se defende brincando com o um palito enquanto espera o pedido chegar.

Sasori olha para um ponto fixo e se perde em pensamentos. Lembra-se de estar no fundo do auditório procurando Sakura quando a vê subindo ao palco irreconhecível.

– Ela estava tão linda. - comenta distante.

– Ah, man. - Suigetsu revira os olhos impaciente. - Para de falar nessa garota! Já viu que ela não quer, desencana! Credo, é Sakura é isso pra lá, a Sakura fez aquilo pra cá... Enche o saco. tenho cara de garotinha adolescente? - resmunga Suigetsu.

– É que ela mexeu tanto comigo, cara. - diz Sasori triste apoiando a cabeça na mão.

– Mas isso é motivo pra eu saber até o signo da garota? - se indigna Suigetsu.

– Você é meu melhor amigo, é sua obrigação me escutar calado. - diz Sasori tentando brincar, mas a falta da resposta de Sakura ainda o perturba e o incomoda. - E o discurso dela... - termina pensativo

– Ah, tanto faz. - diz desinteressado se encostando mais na cadeira - mas, fala aí... e a Karin?

Sasori franze a sobrancelha confuso e olha o amigo dando de ombros.

– Vô saber daquela lá. Por que a pergunta? - pergunta desconfiado.

– É que eu não vi ela lá... Vi o Uchiha sozinho. - responde indiferente.

– Hm. Não conversei com ela desde que a gente foi pra capital fazer a entrevista. - responde tomando a bebida que a garçonete acabou de servi-los.

– falando em entrevista, acho que me dei bem, cara! - diz Suigetsu animado - conseguir enrolar o reitor direitinho. Essa vaga ‘tá no papo. - se vangloria.

– Acho que fui bem também - diz Sasori se lembrando do “Até logo” que o reitor lhe dirigiu ao acabar a entrevista.

– Pensa só se nós dois passarmos, que louco! - se anima Suigetsu com os olhos sonhadores - Vamos ter festas de fraternidades, garotas, bebida, garotas...

– Matsuri... - Sasori solta num resmungo azedo.

– Foi muito azar encontrar ela lá! - diz Suigetsu se lembrando da ex-namorada do amigo que estuda na faculdade que queria ingressar. - Ela parecia querer falar com você...

– Ela não sabe o que quer da vida. - diz Sasori revoltado. - o melhor pra mim é esquecer e seguir em frente.

– Ah, mas com a sua sorte pra mulher o melhor é começar a pensar em virar monge! - debocha Suigetsu ganhando um olhar raivoso do amigo.

– Cala a boca.

__________________________________________________________________________

Sasuke

Desde a hora que o nome dela foi anunciado até este momento eu sinto o meu corpo em choque. Ela sumiu de mim dois dias atrás magoada e fragilizada e quando retorna parece uma deusa destemida.

Como ela estava linda!

Eu a conheço há 10 anos e jamais imaginei que ela soubesse dançar ou que era tão deslumbrante.

Nunca a achei feia, pelo contrário. Confesso que via que ela era bonita, singela e simples, mas bonita, mas quando se conhece Sakura Haruno a palavra beleza perde a noção. Ela podia ter os olhos mais verdes e mais bonitos que já conheci, as covinhas nas bochechas mais graciosas quando sorri, o cabelo mais inusitado e charmoso, além do sorriso mais sincero e contagiante, porém a sua beleza física era ofuscada pela personalidade marcante e o coração enorme que ela tem. Por isso não a via como mulher... Ela sempre foi mais que isso. Sempre foi mais que um sorriso e mais do que olhos bonitos. Ela era amiga, companheira, confidente, irmã...

Até que descobri que por isso ela não era qualquer uma para mim.

Quando a vi naquele palco quase não acreditei. Ela estava maravilhosa. Meus olhos ficaram hipnotizados com os movimentos precisos de seu corpo... Um corpo que nunca tinha visto sem as roupas largas... um corpo que acendeu o meu desejo pela mulher que ela é.

Por um instante senti uma raiva tremenda quando vi que todos a olhavam com a mesma expressão de deleite que eu. Queria socar a cara daqueles aproveitadores e sequestrar ela pra mim.

Mas quem sou eu pra fazer isso?

Quando acabou a dança e ela começou a falar, senti todos os meus músculos tremerem, de culpa, de medo, de arrependimento.

Vi ali que eu era o último que ela queria por perto.

Me senti um inútil perto da maturidade e da força dela.

Covarde... Tudo me perfurou certeiro.

Ela estava sofrendo e eu não fiz nada.

Depois de ter descoberta tudo que eu sentia e decidido a falar pra ela, toda a minha coragem parece que desmoronou com um plano impossível e infantil.

Quem eu queria enganar? Eu a conhecia bem o suficiente pra saber que nada será como antes. Que a confiança dela ‘tá abalada e que o único culpado por tudo, sou eu e meu ego.

No quarto ao lado consigo escutar a risada estridente de Naruto. Ele me viu e logo comecei a escutar gritos da Ino me xingando em voz alta pra que eu escutasse. Foi desnecessário. Eu já sabia tudo aquilo que ela falou, e agora um pouco mais...

Só sei que nunca me senti tão perdido e sozinho.

Meu celular toca. Que hora oportuna pro Itachi me ligar... deve tá fazendo isso depois que a Dona Mikoto ligou desesperada porque eu não atendo quando ela bate na porta.

– Fala.

– Você quer matar a mãe?

– Só quero ficar sozinho.

Escuto o suspiro de Itachi do outo lado e já espero o sermão.

– Eu aviso ela.– Ele me pegou de surpresa nessa.

– Não vai falar nada? Não vai me dar bronca?

– Adianta?

Filho da mãe.

– Talvez sim.

– Naruto me ligou contando...

– Aquele fofoqueiro de uma figa...

– Calma! Ele ligou preocupado porque você não atende ele e fiz ele falar o que aconteceu.

Ficamos em silêncio, ele sabia que eu não ia falar nada, mas sabia que eu precisava pensar um pouco e me acalmar pra continuar.

– Quer um conselho?

– Hm.

– Dá um tempo pra ela...

– Eu não tenho esse tempo, droga Itachi! Quanto mais tempo eu perco, mais longe ela fica.

– Nesse caso não é assim. Você foi um babaca e ela ainda mal, não é sensato aparecer e falar o que você quer, apesar de ser algo nobre e você ter finalmente descoberto...

Maldito

– Então eu tenho que me afastar?

– Você já se afastou... agora, você tem que voltar devagar. Conquistar a confiança dela aos poucos...

– Tá, valeu.

– Mas não vai ficar mofando nesse quarto enquanto o tempo passa. Arruma algum hobbie, sei lá, mas não deixa a mãe preocupada.

– Hobbie?

– É maninho... Como alguém pode gostar de um cara desocupado e chato? Vai arrumar o que fazer.

O que ele ‘tá falando?

– Tipo o quê?

– Que tal uma banda?

Não gostei da ideia. Odeio que me vejam tocando e muito mais cantando.

– Vou pensar...

– Beleza. Faz um favor então, sai desse quarto antes que meu professor me expulse da sala por causa das ligações da Dona Mikoto...

– Tá tá, valeu.

– De nada. Qualquer coisa me liga.

Nunca pensei que iria ter esse tipo de conversa com o Itachi... é estranho. Mas ele ajudou, e acho que é isso mesmo que eu vou fazer.

Já esperei 10 anos só pra cair na real... o que é esperar mais um pouco pra ela também cair?