Os alunos da plateia aplaudem alucinados com a chegada das líderes de torcida. Elas usam roupas parecidas com seus uniformes usuais de líderes, porém elas são mais curtas e provocantes tirando assovios e cantadas dos meninos do colégio.

Gaara soca um garoto ao seu lado que gritou “Gostosa” quando a Ino parou ao seu lado. A loira dá um sorriso enorme ao ver seu ruivo cruzando os braços e a examinando dos pés a cabeça com um sorriso de lado.

Todas as garotas se viram de costas para a plateia e a música Hollaback Girl entoa fazendo todos calarem e admirarem os passos das líderes.

De primeiro momento todas mexem somente um pé com a batida e uma mão que seguram o pompom rosa. Quando a música se converte em mais toques, elas se viram e começam uma coreografia sensual e ameaçadora.

Os corpos rebolam e sensualizam a cada nota lenta, depois elas surpreendem com rodopios e mortais nas batidas mais fortes.

Ao final da música elas elaboram uma perfeita pirâmide humana tirando aplausos entusiasmados da plateia.

O Profº Gai retorna ao palco com um sorriso gigantesco no rosto pedindo mais aplausos às garotas que saem saltitando do palco.

– Bravo meninas! Mostraram bem o fogo da juventude! - diz o profº empolgado tirando risadas da plateia que entende a frase com duplo sentido. - Agora os nossos próximos participantes... Roooooock Lee e Neji Hyuugaaaaaaaaaaaaaa!!!

Lee e Neji aparecem em um kimono branco com uma faixa preta amarrada a cintura.

– Hyuuga? - sussurra Sasuke olhando para Naruto. Este está branco feito papel e com os olhos arregalados enquanto os dois no palco fazem uma demonstração muito real de combate em artes marciais.

O loiro nem consegue falar nada, só balbucia palavras desconexas mostrando seu medo perante o cabeludo que lhe lança olhares mortais antes de cada golpe.

– Agora eu sei onde a Hina aprendeu a fazer aquilo. - diz por fim, enxugando o suor frio da testa, lembrando-se da namorada imobilizando com maestria Shion.

Os aplausos eclodem o auditório tirando um sorriso divertido de Sasuke, mas logo esse sorriso some com a apresentação do próximo participante.

– Senhoras e senhores! Aplausos para Sasori Akasunaaaaaa!

Uma cortina se estende pelo palco tampando-o por completo enquanto as pessoas aplaudem curiosíssimas.

Sasuke trinca o maxilar ao escutar a voz de Sasori no microfone, sem o mesmo se mostrar.

– Boa noite pessoal. O número que vou apresentar é dedicado a uma garota muito especial - gritinhos foram ouvidos entre as garotas da plateia - Ela me mostrou que podemos nos surpreender se dermos uma chance. Eu não a vi ainda, mas sei que ela está aqui e que sabe que estou falando dela.

Sasuke bufa de raiva sentindo uma vontade enorme de socar a cara do ruivo. Naruto dá um tapinho em seu ombro pedindo para que se acalme e nessa hora a música Angel, suave e lenta começa a tocar no recinto.

As cortinas se abrem e um pequeno palco é visto com uma marionete maltrapilha andando curva sobre o som da música. Tudo ao fundo do pequeno palco é preto, até as roupas de Sasori que manipula a marionete com habilidade.

Passe todo seu tempo esperando

Por uma segunda chance

O boneco maltrapilho, usando uma capa gasta, se arrasta curvo enquanto um ajudante de Sasori o ajuda com alguns bonecos que jogam objetos na pequena figura que se arrasta sem olhá-los.

Por uma mudança que resolva tudo

Sempre há um motivo

A plateia fica hipnotizada com a música e os movimentos graciosos do boneco que se volta para o céu como se fizesse uma prece enquanto pedacinhos de papeis pratas caem em si como se fossem chuva.

Para não se sentir bem o suficiente

E isso é difícil no fim do dia

O boneco anda mais um pouco e é cercado por outros bonecos que o agridem deixando-o no chão.

Alguns soluços são ouvidos na plateia. Naruto encara tudo com os olhos acalentados e até Sasuke se impressiona com a história contada se lembrando de Sakura e de como ela sofreu.

Eu preciso de alguma distração

Oh, bela libertação

O boneco se mexe dolorosamente depois de ser agredido e roubado e se põem em pé, sem levantar o rosto. Começa a andar mais lentamente enquanto coloca uma das mãos a frente para pegar as gotas da chuva e beber.

Lembranças vazam de minhas veias

Deixando-me vazia

Um dos que agrediram e roubaram o maltrapilho retorna e começa a segui-lo. Vê ele agachando-se e alimentando um pobre cãozinho com seu último pedaço de pão. Ele coloca as mãos no rosto em arrependimento por ter machucado uma pessoa bondosa.

Oh, e leve, e talvez

Eu encontre alguma paz esta noite

O homem que o segue é surpreendido por uma viga que cai em cima de seu corpo, e a última coisa que vê é o maltrapilho se virando e tirando sua capa rasgada.

Nos braços de um anjo

Voe para longe daqui

As asas que saem da figura manipulada por Sasori fazem as garotas suspirarem emocionadas. O maltrapilho se transforma em um anjo, em vestes brancas brilhantes, cabelos brancos levemente rosados e asas felpudas.

Deste escuro e frio quarto de hotel

E da infinitude que você teme

Graciosamente o anjo se desloca até o homem ferido e o levanta em seus braços.

Você é arrancado das ruínas

De seu devaneio silencioso

O homem toca a face do anjo a sua frente enquanto este alça voo. Os dois se encaram por segundos e o braço do homem cai inerte para o lado, mostrando que a morte chegou.

Você está nos braços de um anjo

Talvez você encontre algum conforto aqui

A plateia fica um momento em silencio depois que a música acaba. Gai aparece desconcertado, com os olhos e nariz vermelhos, e limpa a garganta chamando Sasori e o amigo para o palco.

– Isso... isso foi lindo! - desaba a chorar o professor se apoiando nos ombros de Kankuro, assistente e amigo de Sasori, que empurra o professor estranhando a reação do mesmo.

O ruivo sorri agradecido para a plateia e seus olhos se encontram com os de Sasuke por um instante. O Uchiha o encara inexpressivo recebendo o mesmo tratamento. Sasuke não está mais com raiva do Akasuna, está com raiva de si mesmo.

Desvia os olhos, incomodado, e se depara com Naruto fungando e segurando as lágrimas nos olhos. Sasuke revira os olhos dando um tapa no amigo.

O próximo número é de Kiba, ele faz uma apresentação de adestramento de cães, tirando gritinhos das garotas pela fofura do cachorrinho e por seus truques bem feitos. A seguir se apresenta uma banda composta por garotos do 3º ano e depois uma garota de coques, chamada Tenten, fazendo um número impressionante de pirofagia.

– Muito obrigada Tenten! Este número foi realmente quente! - Gai faz uma piadinha sem graça tirando somente os aplausos entusiasmados para a garota que sai agradecendo. - e agora nosso último número. Recebam com muitos aplausos... - Sasuke engole em seco e sente um frio estranho na barriga. Pela enésima vez, olha ao redor procurando Sakura, mas não a encontra. Hinata e Ino passam por eles correndo afobadas se sentando ao lado de Naruto e olhando atentas para o palco. Antes que qualquer um dos dois pergunte qualquer coisa a voz de Gai deixa-os petrificados. - Sakura Haruno!

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Sakura

Eu nunca me senti tão decidida em minha vida.

Eu tinha que fazer isso, mesmo que todo o meu corpo tremesse de nervosismo e meu estômago se revirasse a cada aplauso que eu escutava vindo da direção do auditório.

Pensei mil vezes em desistir, mas isso seria mais que uma apresentação...

Estou escondida em uma salinha com o sobretudo preto da Ino cobrindo meu corpo. Meus cabelos estão soltos depois que passei pelos “tratamentos de beleza da madame Ino”, ela os lavou, secou, puxou, alisou e depois enrolou as pontas.

Ainda me lembro de seu sorriso sádico ao pegar a pinça e tirar a minha sobrancelha com gosto, ou de quando veio com todos aqueles pós, pincéis, algodões, palavrões (sim, palavrões. Meus e dela), curvador, batom e mais pó!

Quando me vi no espelho consegui entender o por quê do sorriso surpreso de Ino ou de sua empolgação em me fazer desfilar inúmeras vezes por seu quarto... Eu estava linda.

Hinata quase não me reconheceu quando cheguei, deu um grito quando caiu na real e eu ri muito. Ela me escondeu para que nenhum participante do show me visse.

Senti minhas pernas bambas e meu coração palpitando igual louco no meu peito.

Eu estou morrendo de vergonha! E não é pra menos! Não queria que me vissem assim, mas isso será uma lição... Isso me motiva a continuar. Porém, no meu íntimo eu queria que uma pessoa me visse. Só uma. Sasuke.

Minha garganta se fecha só de pensar nele e a tristeza que carreguei esses dias aparecem como mágica ao lembrar de seus olhos sobre mim.

– Sakura, 5 minutinhos e você é a próxima. - diz Hinatinha dando um sorriso confiante para mim. - Eu vou te assistir da plateia, não posso perder nada.

Ela me abraça e Ino aparece as suas costas com os olhos brilhando e um sorriso maior que o mundo.

– Gata! Arrebenta! Cala a boca desses panacas! - diz se juntando ao abraço coletivo.

– Valeu meninas. Por tudo!

Meus olhos já começam a arder, mas o olhar severo de Ino me dizendo “não estrague a maquiagem” me faz recompor.

As duas saem correndo quando Tenten deixa o palco. Eu fico ali, com as pernas bambas e sem reação.

– Sakura? - A diretora aparece ao meu lado me olhando surpresa. Dou um sorriso tímido. Ai que vergonha! - você está muito bonita. - diz com sinceridade.

Isso me alivia um pouco e me faz lembrar do por quê de tudo aquilo.

– Er... diretora. - ela mexe a cabeça para que eu prossiga. Sinto minhas mãos e pés ficarem gelados - Eu preciso falar umas coisas pra eles depois da apresentação, então por favor, confie em mim.

Ela me encara por um segundo me analisando. Me sinto uma garotinha assustada diante de seus olhos, mas um sorriso gentil aparece em seu rosto me tranquilizando.

– Não faça eu me arrepender Haruno.

Nem tenho tempo de responder. Meu corpo inteiro estremece ao ouvir meu nome sendo pronunciado pelo professor Gai.

– Vai lá, boa sorte. - pisca a diretora.

Subo ao palco, mas fico no canto, onde ninguém me vê, somente o pessoal da organização. Eu retiro meu sobretudo e entrego a um garoto que escancara a boca e me olha da cabeça aos pés. Sinto meu rosto queimar.

– Qual é gente? Aplausos para a Sakura Haruno! - insiste o professor ao escutar minguados aplausos que tenho certeza ser de meus amigos.

– Ela vai fazer o que? Embaixadinha? - grita um garoto na plateia motivando a risada de muitos.

Meu sangue ferve e uma coragem brota dentro de mim, me fazendo sentir poderosa e pronta para tudo.

As batidas da música, Ojos Así começam e o silêncio reina ao dar o meu primeiro passo.

Consigo ver cada boca escancarada quando ando graciosamente ao ritmo da música. Isso me deixa entusiasmada.

Meus quadris se insinuam enquanto sinto as batidas entrarem dentro de mim.

A minha roupa é verde destacando ainda mais os meus olhos marcados pelo delineador.

Meu bustiê é todo trabalhado em pedrarias e com várias correntinhas finas presas em sua base dando mais movimento aos meus passos. Minha barriga desnuda não gela mais, sinto a música fluindo por mim e ela requebra a cada batida.

Minha saia voa quando me movimento em giros, mostrando minhas coxas. As medalhas em meu cinto chacoalham junto com meus quadris e me sinto novamente dentro do meu mundo.

De olhos fechados componho uma coreografia só minha.

Meus pés descalços me levam para o deserto, onde eu me entrego sem nenhum olhar acusador em mim.

Minhas mãos se mexem livremente com movimentos delicados seguindo o ritmo de meus quadris.

Dou um giro e paro de perfil abrindo os olhos e encarando todos a minha frente enquanto meus quadris quebram junto com a batida.

Os olhos arregalados me deixam mais aquecida e sinto que a última parte da música se aproxima.

Meu ser toma os movimentos de uma serpente e com uma leve onda feita com meu corpo, a música cessa.

Hinata e Ino me encaram da primeira fileira de boca aberta, mas sorrindo, ao lado delas Naruto não consegue esconder o espanto e ao seu lado eu vejo aqueles olhos.

Me desfaço da personagem de odalisca ao ver seus olhos me encarando surpresos e com algo mais que não identifico. Os atrasados aplausos me tiram de meu devaneio.

Todos parecem bestificados me olhando.

Meus nervos começam a ferver novamente enquanto escuto os assovios e gritos vindos deles.

– QUIETOS! - grito com toda a amargura que estava dormindo dentro de mim.

Todos se calam surpresos. Até Hinata e Ino me olham procurando uma explicação.

Pego o microfone do professor Gai que se mantém congelado olhando para mim.

Olho para todos os rostos dentro daquele lugar e sinto meu rosto esquentar, mas dessa vez não é de vergonha. É raiva.

– Por que estão aplaudindo? - pergunto me fazendo de desentendida. - Vocês não estão me reconhecendo? - Todos ficam quietos e confusos me olhando. - Sou eu gente, a Sakura! - continuam silenciosos me olhando perdidos... - Sakura Haruno, a brutamonte, a machão, a esquisitona, a irmã do Hulk... não lembro dos outros apelidos, mas acho que vocês lembram né? - vejo minhas amigas prendendo a respiração e Sasuke olhar para o chão. - Por que me aplaudem? Não deveriam me xingar? Me humilhar? Me insultar? Qual o problema de vocês? - pergunto retórica com minha raiva maquiada em uma voz calma que parece me deixar ainda mais aterrorizante. - Ah entendi! É a maquiagem? ou a roupa? Do que eu preciso me fantasiar pra receber uma palavra gentil de vocês? Por que é assim que vocês são, não é? Hipócritas! - as palavras saem como doce de minha boca. Eu preciso desabafar e eles precisam ouvir. - Então se eu sair daqui e colocar meu moletom e arrancar toda essa pintura da minha cara eu vou ser apedrejada? ou vocês vão continuar me aplaudindo? - o silêncio parece ficar maior enquanto muitos abaixam a cabeça sob o meu olhar revoltado. - Covardes! É isso o que vocês são. São covardes porque sabem que é mais fácil apontar o dedo do que ajudar. Sabem que é mais cômodo rir dos problemas dos outros do que resolver os próprios. Qual o problema com as minha roupas? Eu as troquei e de repente sou outra pessoa? Digna do afeto e amizade de vocês? Digna de admiração? Mas eu continuo a mesma. - vejo os olhares chocados de todos, menos de Naruto, Hinata e Ino que me olham com admiração sincera. - Isso não é o bastante? Eu tenho que ser por fora aquilo que todos querem para ser deixada em paz? É isso o que vocês fazem? Vestem uma máscara para poderem serem aceitos? Covardes! - cuspo as palavras não consigo manter a raiva que cresce dentro de mim. Suspiro fechando meus olhos por um segundo e vejo o rosto de minha mãe sorrindo, sinto-me relaxada. Abro os olhos e me sento na lateral do palco - Antes de nascer, estive entre a vida e a morte, o médico perguntou se deveria salvar a minha mãe ou a mim, as duas juntas não iriam sobreviver. - minha garganta faz o nó de sempre quando conto essa história. - Escolheram salvar a minha mãe, mas ela não quis ser salva. Ela se entregou a morte para que eu vivesse. - dou uma pausa vendo os rostos chocados e sem graça que me olham, dou mais um suspiro a fim de não começar a soltar as lágrimas que teimam em marejar meus olhos. - Eu sou fruto de um sacrifício. E todo santo dia ao acordar eu me pergunto se minha mãe se orgulharia de mim. E quando me deito me pergunto se valeu a pena o sacrifício dela. - Abaixo um pouco a cabeça e deixo as lágrimas rolarem soltas, não consigo segurar. Meu peito está apertado demais, minha cabeça dói, mas eu tenho que continuar. - Eu vivo feliz, porque eu sinto que ela me olha e se orgulha. - minha voz sai embargada pelas lágrimas, vejo Ino e Hinata chorarem silenciosas querendo vir ao meu encontro, mas nego com a cabeça. Naruto soluça baixinho secando os olhos com as mangas, mas Sasuke continua encarando o chão, vejo sua mãos tremerem. - Vocês se orgulham de si mesmos? - Minha voz sai mais alta fazendo muitas cabeças se voltarem surpresas para mim. - Pessoas como vocês são responsáveis por milhares de suicídios pelo mundo todos os anos. - Eles me olham espantados e alguns como se eu fosse louca. Me levanto e continuo olhando seriamente para todos. - Bullying mata. - O entendimento geral e as cabeças se abaixando em sinal de vergonha me deixam aliviada. Eles entenderam a mensagem. - Façam um auto exame de consciência todos os dias e sejam pessoas melhores. Obrigada.

Nenhum aplauso, nenhum assovio, nenhum insulto. Nada.

– Você foi muito corajosa. - diz a diretora quando passo meio atordoada por ela.

Depois de liberar tudo o que sinto, meu corpo não reage mais. Minha pernas bambeiam e minha visão fica turva.

A última coisa que vejo são os braços de Tsunade tentando me aparar antes que eu chegue ao chão.