Os dois entram no quarto quietos. Sasuke fecha a porta e se senta tenso na cama cobrindo o rosto com as mãos tentando se acalmar. Sakura o observa ainda de pé meio apreensiva.

– E então? O que temos pra hoje? - pergunta com tom forçado de animação.

Sasuke ergue os olhos por um instante e volta a fitar o chão. Sakura percebe que ele parece preocupado e usa a estratégia da bolacha. Esse é um tipo de ritual que os dois fazem desde que Sakura descobriu que o Sasuke só como a parte sem recheio da bolacha. Então quando um precisa do outro eles separam as partes e comem para mostrar que o outro sempre estará ali.

Ela vai até uma gaveta do amigo e fuça até achar o pacote. Ele sorri minimamente quando ela se senta ao seu lado dando a parte sem recheio. Ele aceita sua parte e suspira depois de comer.

– Preciso conversar com você.

Sakura dá um sorriso o incentivando a continuar.

– Bem... primeiro foi mal por te tratar daquele jeito agora a pouco, é que a minha mãe não facilita as coisas... - diz quase num resmungo a última parte.

– 'Tá tudo bem. - responde repartindo outra bolacha e o entregando.

– Eu sei que você já ' tá sabendo que a minha mãe não teve uma reação muito boa, quanto... a ... você sabe... - Sasuke olha para os próprios pés e demora um pouco pra continuar. - Eu não queria te meter nisso, foi mal.

– Ela só 'tava nervosa, 'tá tranquilo. - responde Sakura separando outra bolacha.

Ele engole com certa dificuldade e dá um suspiro longo sem encará-la.

– Isso 'tá sendo difícil... - diz Sasuke bagunçando os cabelos frustrado.

– Desabafa, cara.

– É que, eu não queria chegar a isso...

– O quê?

– É complicado...

– O quê é complicado?

– Você sabe que é minha melhor amiga né? - pergunta com uma pontada de súplica no olhar.

Sakura suspira e o encara com pouca paciência. Segurando uma bolacha separada nas mãos.

–Pára de enrolar e fala logo.

– Eu... eu acho... droga!

– Larga a mão de ser marica e desembucha logo!

– Eu... não sei como dizer isso.. acho melhor agente dá um tempo...

– Tempo? Como assim?

– Er... acho que a gente devia parar, quero dizer, tentar não se ver tanto...

Sakura o encara incrédula. Não consegue compreender o que ele está falando. Vendo a expressão da amiga ele tenta se explicar:

– É só porque a Karin tem muito ciúmes e ela fica muito nervosa quando falam de você e isso não faz bem pro bebê. - Ele a olha receoso enquanto ela ainda está congelada com as duas partes da bolacha em suas mãos. - Você entende né?

Sakura o encara com uma expressão indecifrável por um momento fazendo-o ficar mais apreensivo com a situação. Ela se levanta e olha para as duas partes da bolacha em suas mãos. Encara-o mais uma vez como se esperasse que ele estivesse fazendo uma brincadeira, mas ele continua a fitando com os olhos quase suplicantes por uma resposta.

Sakura engole em seco e dá um suspiro olhando para as mãos. Num gesto, volta a encaixar a bolacha com as duas partes e a morde. Sasuke entende o recado e não sabe o que fazer quando ela lhe dá as costas e sai pelo quarto deixando a porta aberta.

– Sakura! Espera! Sakura... DROGA!

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Sasori:

Quando Karin me pediu para interrogar a esquisita e deixá-la caidinha por mim, achei que ia tirar de letra, mas ela é esperta. consegui tirar algumas coisas, e até pareceu que estava caindo na minha, mas de repente ela ficou arisca e agressiva. Isso me assustou. Confesso que nunca tinha a visto tão de perto, e quando reparei bem ela até que não era feia... Tem olhos muito bonitos. Verdes. Bem, ela, agora de verdade conseguiu me deixar intrigado.

Karin e eu somos meio irmãos. Nasci e pouco depois meu pai trocou minha mãe pela Uzumaki, mãe da Karin. Não somos muito ligados e por isso quase ninguém sabe de nosso parentesco...

O fascínio dela pelo Uchiha a fez pedir esse favor pra mim, achei divertido no começo, ia ser engraçado brincar com a garota, mas não saiu do jeito que planejei...

Normalmente, aos sábados eu durmo até mais tarde, mas hoje minha mãe me acordou mais cedo pra fazer umas entregas de doces com a minha moto no outro lado da cidade.

Entrego a encomenda em uma casa humilde, onde parece que vai haver uma festa de aniversário infantil. Mas, não tem nenhuma criança por perto.

Quando estou subindo na moto para voltar, escuto gritos e risadas. Subo umas duas ruas e me deparo com um bando de crianças jogando futebol em uma quadra. Mas o que me surpreende é ver a esquisita no meio delas.

Desço da moto curioso e me escoro nas grades que cercam o campo. Ela está usando as costumeiras roupas largas e o cabelo preso, mas exibe um sorriso tão bonito.

Eu nunca neguei que ela joga muito bem, tem muito talento e desenvoltura com a bola, além de ser uma boa capitã. Porém sempre achei muito divertido tirar sarro dela e por isso nunca tive a oportunidade de trocar ideias e ter uma conversa séria com ela.

Olho de novo o jogo e percebo que ela deixa as crianças roubarem bola dela e não usa todo seu potencial, sem deixar de dar dicas e broncas quando necessário.

Um garotinho faz um gol depois de um passe preciso dela. Não consigo não rir quando os dois começam a fazer uma dancinha comemorando.

Ops, ela olhou pra cá. Me viu. Está vindo. Droga.

– Sasori? O que faz aqui? - pergunta ofegante.

Parece não estar mais com raiva de mim.

– Vim fazer uma entrega. E você? - pergunto olhando as crianças pegando suas coisas na lateral do campo e saindo gritando tchau pra garota.

– Tchau, até sábado! Treinem hein! - ela grita sorrindo para eles. - Eu dou aulas de futebol pra eles.

Ela sai por um buraco da grade e pega uma toalhinha na bolsa enxugando o rosto suado.

– A gente se vê, então. - ela diz me dando as costas.

Sem pensar eu seguro o braço dela. O que eu ‘tô fazendo?

– Aceita um sorvete pra refrescar? - pergunto já me arrependendo. Ela muda a expressão na hora e me fuzila com o olhar. Antes que ela comece a me atacar eu continuo - Qual é, eu não vou fazer nada, acredita em mim. A gente pode ficar até amigo.

Ela me olha apreensiva e percebo que seus olhos estão tristes...

– ‘Tá legal, não tenho o que fazer mesmo...

Nem vejo quando chegamos a minha moto. Eu ‘tô confuso com a minha impulsividade, mas ela é tão diferente e escorregadia que me deixou realmente curioso. Entrego um capacete que deixo de reserva no compartimento de entrega e coloco o meu sem darmos nenhuma palavra.

– Vai devagar, ok? - diz se sentando atrás de mim - Não sou fã de moto.

Sorrio ao perceber que ela segurou o suporte de ferro em baixo do banco para ficar firme.

– Pode segurar em mim, eu não mordo.

Ela não responde e nem se mexe. Dou partida na moto e quando saio ela agarra minha cintura.

É até uma sensação agradável.

A levo até minha sorveteria favorita, nos sentamos do lado de fora enquanto aguardamos alguém nos atender.

Ela pede uma banana split e eu somente um sunday. Eu quebro o silêncio.

– Então, você ensina garotos carentes a jogar futebol? - a resposta é óbvia, mas espero que ela me explique. Estou curioso.

– Aham. - responde dando uma colherada no sorvete.

– Achei isso muito bacana da sua parte. - fui sincero e acho que ela percebeu quando me olhou meio surpresa.

– Valeu. - responde com a bochecha um pouco corada. Ela não parece acostumada com elogios...

Droga! E agora?

– Eles parecem se divertir bastante.

Ela dá um sorriso meigo olhando para o sorvete como se lembrasse de algo.

– Eu também me divirto muito com aquela turminha.

Neste momento ela não lembra em nada aquela garota que me ameaçou na escola. Parece tão calma, feliz... Mas, há algo em seu olhar que eu não consigo decifrar.

– Sabia que vai ter um show de talentos mês que vem? - pergunto tentando puxar uma conversa, a outra tentativa falhou.

– Fiquei sim, a Hinata é da organização... - ela parece mais empolgada. beleza! - Você vai participar?

– Eu vou, e você?

– Eu não hehehe, não gosto de aparecer em público...

Ela é tão natural, não parece pensar antes de responder, não parece querer chamar a minha atenção como as outras falando coisas pensadas... mas a última parte me deixou meio perturbado... me senti culpado. Mesmo ela não esboçando qualquer expressão diferente, eu sei o porquê ela não gosta de aparecer...

– Mas o que você vai apresentar? - pergunta um pouco curiosa enquanto termina seu sorvete.

Melhor deixá-la curiosa...

– Só vai saber se for me assistir. - dou meu sorriso malandro fazendo-a rir.

– Odeio ficar curiosa! - ela diz sorrindo - Pode contar comigo... Vou puxar os aplausos.

– Hahahaha, valeu.

Conversamos mais algumas trivialidades quando meu celular toca. Aff, é a Karin.

– Alô.

– Oi maninho. - Que vozinha irritante.

– O que você quer?

– Quero te contar que meu plano deu certo! - ela dá uma risadinha mais irritante. – Ele 'tá na minha achando que gosto daquelas coisas chatas e ainda de quebra brigou com a Maria machão.

Olho pra Sakura que me dá um sorriso fraco. Então eu compreendo o que está afligindo ela. Mais uma vez me sinto culpado. Que eu saiba ela e o Uchiha são amigos desde crianças e por um capricho imbecil da Karin eu posso ter ajudado a desmanchar uma das poucas amizades que ela têm.

– E daí?

– E daí que pode ficar tranquilo que você não precisa mais fazer o sacrifício de ficar perto daquela coisinha.

Olho de novo pra ela e sinto que tenho que compensá-la de alguma forma.

– Tá, tchau.

Nem espero a Karin responder, desligo e me dirijo à ela:

– Foi divertido, mas eu tenho que ir embora começar a preparar o meu show.

Ela dá um sorriso tirando o dinheiro do seu sorvete da carteira.

– Deixa que eu pago, fui eu que convidei.

– Nem pensar, eu não gosto disso.

Ela é diferente mesmo... Eu gosto. Aceito o dinheiro dela e a levo para casa.

– Foi legal, Sasori. Sabe, até que você é bacana. - ela diz me entregando o capacete. - Desculpa por ontem...

– Sem problemas.

– Então, até segunda.

– Até.

Acho que sei o que fazer pra compensá-la...