Capítulo 27: Madrugada.

– Eu fiz a maior besteira da minha vida!!

– Isso é hora para bater à porta da casa de alguém?

A rua estava deserta e fazia muito frio. E às cinco da manhã Roderich estava ali, ainda com pijama e sem os óculos, tentando entender o que havia acontecido com Vash.

– Vai ficar aí parado ou vai me deixar entrar?

– É “Por favor, eu posso entrar?”. Não quero ser desrespeitado a essa hora da...

– Saia logo da frente, caramba! Ou quer que eu morra na rua, congelado?!

O austríaco suspirou e abriu passagem.

Nunca havia visto o amigo tão desesperado. E, pelo que conhecia, isso devia ter alguma relação com a irmã.

– Pode começar dizendo o que-

– Eu a violei!!

Silêncio. Nem Roderich esperava por uma resposta daquelas. Até mesmo resolveu sentar.

– Você o quê?!

– Não vai querer que eu repita, vai?!

– O que exatamente você fez?

Vash era exagerado às vezes. E Roderich não queria acreditar no que ouviu. Não podia ser verdade.

– Eu a vi no sofá e...bem...

A face começou a esquentar. Ele tentou bater a cabeça contra a parede mais próxima para afastar aquelas lembranças, mas o outro conseguiu impedi-lo.

– Não faça mais barulho! Não quero que acorde meus pais!

– Não estou me importando com seus pais nesse momento!!!

– Vamos, diga, não consigo acreditar ainda que tenha feito algo tão grave assim!!

– Mas é grave!! Eu fui pior do que todos aqueles infelizes com quem Lili se relacionou até hoje!!

– Acredito que o máximo que fez foi beijá-la! Sim! Você não faria mais do que isso! E somente isso já seria capaz de fazê-lo se sentir tão arrependido a ponto de me atormentar a essa hora!! - exclamou, perdendo um pouco a compostura.

Vash não falou nada. Ele acertou. Sentou-se no sofá, um pouco menos agitado.

O austríaco voltou ao seu lugar e suspirou, tentando ficar mais calmo.

– Isso não é certo...

– De fato, não é.

– Mas eu...

– Imagino que sua irmã tenha ficado assustada.

– Ela saiu chorando...

Lembrar-se daquela cena fazia Vash querer se jogar no Lago de Zurique.

– É só se desculpar.

Para Roderich tudo parecia bem mais simples, enquanto que para Vash era a pior coisa do mundo.

– Não adiantaria só me desculpar com ela! O que fiz é muito mais...

– Apenas peça desculpas e diga...hm...que estava pensando em outra pessoa quando fez isso.

– Outra pessoa?

A ideia parecia absurda.

– Isso. Outra pessoa...alguém como...ah, aquela belga viciada em chocolates da nossa sala. - Bel, a quem ele se referia, vivia discutindo com Vash sobre qual era o melhor chocolate do mundo - Diga que está tão apaixonado a ponto de cometer loucuras desse tipo.

–Não vai funcionar.

– Melhor do que nada. Tem ideia melhor?

E ele não tinha.