Somente à noite escrita por Ys Wanderer


Capítulo 9
Todos somos esquisitos




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Estava tudo correndo muito bem.

Estava.

Até Conchito vir atrás de mim com uma cara espantada.

— Anna, seu amigo já bebeu alguma vez na vida? — ele perguntou, esbaforido.

— Não sei. Acho que não. Por quê? O que houve? — me desesperei.

— Nada demais — ele riu. — Mas eu acho que você precisa ver isso.

— Ver o quê?

— Isso! — ele explicou quando chegamos a outra parte do salão. Algumas pessoas faziam um círculo e batiam palmas, mas eu não conseguia ver quem estava dentro dele. Todos pareciam muito animados e gritavam bastante, algumas monas completamente enlouquecidas. Curiosa, fui abrindo caminho entre as pessoas e então estanquei. Fiquei estarrecida com o que vi.

A cena era muito, muito engraçada, mas eu estava tão chocada que simplesmente não consegui rir. Havia três caras dançando Conga La Conga completamente desajeitados e com uma coreografia desigual. O primeiro era Jeferson, e ele estava tão bêbado que logo entrelaçou as pernas uma na outra e caiu, sendo amparado pelas “amigas”. O segundo era um dos dançarinos bonitões, ele era o que mais rebolava e recebia algumas notas que eram colocadas no cós de sua calça apertada. E o terceiro...

O terceiro era Davi.

Provavelmente o álcool havia subido até o seu cérebro e ele estava se sentindo um gogo boy. Ele dançava, levantando a camisa e mostrando a barriga e fiquei boquiaberta quando uma mulher deu um tapa na bunda dele. Se alguém estivesse me contando isso eu provavelmente acharia que era mentira.

— Minha santa Beyoncê, eu nunca imaginei que meu novo coquetel fosse fazer tanto sucesso! — Conchito gritou no meu ouvido.

— Coquetel novo? Como assim? Eu bebi aquela coisa que você me deu e não fiquei nesse estado — apontei para Davi, que agora estava tirando o casaco e girando no ar. Ele jogou para o alto e as monas se estapearam para pegá-lo.

— Não, não estou falando daquela coisinha de morango — Conchito riu. — Falo daquele sabor pimenta.

— O quê? — gritei. — Do que você está falando?

— Ah, eu inventei uma coisa nova, mas estava guardando para o final. É um drinque feito com pimentas peruanas colhidas por virgens que habitam as montanhas. Tem a capacidade de pôr para fora todas as nossas vontades ocultas... — ele fez uma cara debochada e sacudiu os ombros. — Davi só bebeu uma taça, eu juro! O resto é tudo alegria contida — gargalhou. — Se ele está fazendo isso é porque sempre teve vontade.

— Conchito, seu irresponsável — gritei. — Como você inventa uma coisa com esse efeito e nem avisa as pessoas?

— Aliás, depois que sua avó e Alex beberam, os dois simplesmente sumiram — ele continuou, maldoso e sem se importar com a minha opinião. — Todo mundo está feliz. Por que você não fica feliz também?

— Porque Davi está sob a minha responsabilidade, anta! E fora que eu e ele somos menores de idade, imagine se alguém nos pega aqui?

— É... — Conchito pareceu pensar pela primeira vez na vida. — Então é melhor você resgatar o seu bofe antes que ele seja devorado. Tá todo mundo louco!

Senti vontade de matar meu amigo, mas infelizmente assassinato brutal dá pelo menos uns trinta anos de cadeia. Se bem que sendo menor de idade eu não seria presa e em pouco tempo estaria de volta à sociedade... Porém, havia algo mais importante no momento, que era saber como tirar Davi dessa situação completamente constrangedora, e por isso abandonei os pensamentos homicidas.

Atravessei a roda de pessoas e cheguei até Davi, arrastando o garoto pelo pulso. Todos começaram a me vaiar e a gritar me chamando de “estraga prazeres”, contudo eu ignorei aquele bando de malucos. Porém, como desgraça pouca é bobagem percebi que Davi começou a ficar verde enquanto o levava para longe. Eu mal tive tempo de chutar a porta do banheiro quando ele vomitou tudo o que podia dentro da pia.

— Sério, tem como isso ficar pior? — reclamei. — Se eu soubesse teria ficado de olho em você — disse enquanto o ajudava a lavar as mãos e o rosto.

— Nós estamos... no banheiro feminino! — Davi falou com a voz enrolada. — Isso está totalmente errado...

— Aqui nesse lugar essa divisão é o que menos importa — respondi. Ele então piscou algumas vezes e sentou em um banco que havia dentro do banheiro. — Você está bem? — perguntei.

— Anna, o que houve? — ele pareceu um pouco mais sóbrio depois de ter colocado tudo para fora e lavado o rosto com água gelada.

— Você exagerou, só isso. Lembre-se de nunca mais beber algo feito com pimenta. Sente-se melhor?

— Você sabe por que o cachorro entrou na igreja? — perguntou ao mesmo tempo em que ria. Eu revirei os olhos. — Porque a porta estava aberta! — ele mesmo respondeu, gargalhando. Era a treva.

— É, você ainda não está nada bem... — resmunguei.

— Precisa de ajuda? — Conchito ofereceu, se materializando do nada na porta do banheiro.

— Claro que sim, afinal isso é tudo culpa sua! — ralhei. — Olha, vamos dar um jeito de levar ele para casa. Eu vou indo na frente e enquanto isso procure o casaco dele, pegue as chaves do carro e avise a vovó aonde vamos — articulei com dificuldade, enquanto levantava Davi e passava seu braço em torno do meu pescoço como apoio.

Eu nos conduzi até o lado de fora da boate, praguejando e me arrependendo de tudo o que nos levou àquele momento tosco. Abri a porta do carro e coloquei Davi sentado nos bancos de trás. Só então me deixa conta de uma coisa: como eu o levaria para casa se não fazia ideia de onde ele morava?

— Davi? — eu segurei seu rosto para que olhasse diretamente para mim. — Você poderia me dizer onde mora?

— Nossa, você é a garota mais linda que eu já vi na vida... — ele passou a mão nos meus cabelos e fiquei chocada. Conchito disse que ele só faria o que tivesse vontade e me perguntei se o que dizia era verdade.

— Ah... obrigada — respondi sem graça. — Mas deixe os galanteios para depois e responda. Onde. Você. Mora? — perguntei bem devagar.

— Eu não sei — ele riu. — Não lembro.

— Era só o que faltava. Um bebum perdido... — bufei. — Eu vou ligar para os seus pais, ok? — disse enquanto revirava os seus bolsos a procura do seu aparelho. Como ele estava descarregado, coloquei o chip dele no meu celular e revirei a agenda.

— Não ligue para a minha mãe! — Davi reclamou meio choroso. — Eu odeio aquela mulher.

Fiquei um pouco triste com a afirmação de Davi, ninguém devia ter raiva dos próprios pais. Por isso eu escolhera ignorar muitas das coisas erradas que os meus fizeram e simplesmente segui em frente. Mas Davi parecia ser aquele tipo de pessoa muito frágil e que fazia de tudo para parecer forte, e com isso imaginei que sua vida pessoal deveria ser bem conturbada.

— Eu preciso falar com alguém, senão vou te largar na primeira sarjeta. Tem alguém que possa te ajudar?

— A minha babá, a Maria. Eu tenho uma babá — ele gargalhou tanto que lágrimas saiam de seus olhos. Eu tenho uma babá — repetiu.

Ao encontrar o número liguei para a mulher e fiquei morrendo de medo de ela não me atender por causa do horário. Somente depois de várias tentativas uma voz sonolenta e suave respondeu do outro lado da linha.

— Davi? — ela perguntou ao reconhecer o número.

— Ah, não. Oi, desculpe atrapalhar, mas eu preciso de uma ajudinha. Você é a Maria?

— O que houve com o meu menino? Quem é você?— ela quis saber e fiquei apreensiva.

— Meu nome é Anna e sou colega do Davi. Nós estávamos em uma festa e ele acabou exagerando um pouco. A senhora pode me dar o endereço dele para que eu o leve de volta?

— Ele não está em casa? — ela perguntou confusa. Depois de alguns segundos de silêncio, ela finalmente falou. — Está bem, anote aí. Vou esperar vocês no portão.

Memorizei o endereço e quando olhei para o lado Davi estava dormindo com a cabeça apoiada na janela. Esperei mais ou menos quinze minutos até Conchito aparecer.

— E aí, para onde vamos? O expresso do Conchito pode te levar para onde você quiser — meu amigo fez graça e mostrei a ele como chegar à casa de Davi.

*

— Anna, tem certeza de que é por aqui?

— Claro que sim. Foi esse o endereço que me deram.

— Nossa! — Conchito exclamou. — Parece que o seu bofe é cheio da nota.

— Pare de dizer que ele é meu bofe! — reclamei. — E eu realmente não sabia que ele morava nesse lugar tão fino — disse ao entramos no bairro. Parecia outro mundo. Casas enormes, bem pintadas e com muros imensos. — Pela descrição é aquela ali.

Paramos em frente a uma casa amarela exatamente como Maria havia descrito. Não demorou muito tempo até que uma pequena porta se abrisse e de dentro surgiu uma senhorinha com cara de poucos amigos.

— Meu Deus, seremos assassinados! Olha como está a cara dela! — Conchito falou, exagerado como sempre, e o mandei calar a boca. Descemos do carro e a velhinha me olhou de cima a baixo.

— Você que é a Anna?

— Eu acho que sou — respondi com medo da mulher.

— O Davi me falou sobre você. Disse que você é legal... Mas que também é bem doida — ela falou e Conchito riu. Dei uma cotovelada nele.

— Bom, o pacote está entregue — cortei antes que ela dissesse mais alguma coisa constrangedora. Abri a porta do carro e tirei lá de dentro um Davi sonolento e com uma cara bastante feliz. — Me desculpe por isso.

— Tudo bem — a senhorinha abanou as mãos e sua expressão mudou radicalmente, ela parecia alguém doce e que só estava preocupada. A mulher colocou o braço de Davi em volta do pescoço e o apoiou. — Acho que ele precisava mesmo se divertir.

— Eu adoro seus bolinhos... — Davi fungou no pescoço dela e ela riu.

— Quando ele melhorar, a senhora poderia pedir, por favor, para ele me ligar? — pedi e entreguei a ela o celular dele e o chip. — Gostaria de saber se ele vai ficar bem.

— Não se preocupe. Um bom banho gelado e um café bem forte curam isso rapidinho — ela o olhou com afeto. — Obrigada por trazê-lo para casa. Boa noite e vão com cuidado, meus filhos — Maria se despediu e fiquei feliz por Davi ter alguém pudesse cuidar dele.

O portão da casa se fechou e eu e Conchito ficamos encostados no carro aspirando o ar noturno. O céu estava se fechando novamente e logo logo outra chuva iria cair.

— É, foi uma noite bem doida — ele disse.

— Bem doida...

— E agora, o que você quer fazer, Anna?

— Quer saber, toca para a boate. Agora quem está com vontade de tomar um porre com aquele treco de pimenta sou eu...

*

— Acho que fui atropelada! — reclamei quando, depois de muita luta, consegui levantar da cama. Realmente a bebida nova de Conchito era um estouro e me fez dançar a macarena até o amanhecer, porém, seu efeito no dia seguinte era devastador. Parecia que todos os meus ossos haviam sido moídos e substituídos por gelatina.

— Bando de gente mole — Conchito fungou me entregando um café tão forte que era possível sentir o cheiro a quilômetros de distância.

— Você diz isso porque não tomou do próprio veneno. Que horas são, aliás?

— Três da tarde.

Então o domingo já estava para lá da metade e eu ainda parecia uma mendiga. Tomei um bom banho, um comprimido para dor de cabeça e sentei na varanda com três sanduíches de presunto e uma latinha de guaraná. Só depois que minha cabeça parou de latejar foi que finalmente me lembrei de Davi.

Olhei em meu celular e não havia nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Bom, havia três alternativas. A primeira é que ele deveria estar morrendo. A segunda era que ele deveria estar com vergonha. E a terceira era que ele deveria estar morrendo de vergonha.

*

Era a quinta vez que eu ligava para ele e a ligação simplesmente caía na caixa postal.

— Andressa, você faz alguma ideia de onde Davi está?

— Davi? Que Davi? — ela perguntou curiosa, parando o sanduíche no ar a espera de uma resposta.

— O Davi, aquele garoto que estuda com você? Lembra?

— Ah, aquele esquisito — ela respondeu e sua expressão antes maldosa se esvaiu.

— Ele não é esquisito! — defendi e respirei fundo. — Enfim, você sabe onde ele está?

— E para que você quer saber?

— Por causa daquele trabalho sobre Romeu e Julieta que fizemos há um tempo — menti e, como o assunto não interessava a Andressa, ela não ligou.

— Acho que na biblioteca — ela proferiu de boca cheia. — Gente estranha adora uma biblioteca...

— Você fala como se fosse uma criatura completamente normal, não é? — eu incitei. — Quem foi que me disse que dorme de meias, mesmo no calor, porque tem medo de alguma alma tocar-lhe o pé com aqueles dedos gelados? Quem é que tirou uma foto olhos fechados só para saber como ficava dormindo? Ah, e quem foi que me contou que adora bacon com banana?

— Ok, todos somos esquisitos — ela riu. — Inclusive você.

— Provavelmente eu sou a rainha das estranhezas — respondi e me despedi dela bagunçando seus cabelos.

A biblioteca estava quase vazia, como sempre, e por isso não foi tão difícil avistar quem eu estava procurando. Davi estava nos fundos, sentado no chão e encostado na parede, lendo um livro sobre a segunda guerra mundial. Fiquei em pé em sua frente, bloqueando a luz, mas ele simplesmente me ignorou como se eu fosse invisível. Tirei uma sacola de dentro da minha mochila e joguei na frente dele com força.

— As roupas molhadas que você deixou na minha casa — eu disse e ele me olhou por apenas alguns instantes antes de voltar a ler. — Quando alguém te dá alguma coisa o educado é agradecer, sabia? — reclamei e ele respirou fundo.

— Obrigado. Agora pode ir.

— Ah, fala sério — eu reclamei e sentei ao lado dele no chão. Percebi que ele ficou espantado. — Você vai me ignorar por causa do que aconteceu?

Ele colocou o livro e a sacola de roupas rapidamente na mochila e se levantou, dando as costas para mim. Dei uma risada sarcástica.

— Você é um covarde — falei e ele parou. Fechei os olhos e apoiei a cabeça na parede.

— O que disse? — ele perguntou e sua voz estava compassada.

— Você ouviu bem que eu sei.

— Como você pode...

— Como você pode, como você isso, como você aquilo — interrompi e me levantei. — Você não cansa de viver em função do que os outros acham sobre você e o que você faz?

— Por que, você não se importa?

— Sim, Davi, eu me importo. Mas ao menos tento fingir que não — respondi e ao ver que eu estava realmente magoada ele se desarmou. — Não me culpe pelo que aconteceu.

— Não estou te culpando. Mas estou mal porque não gostei de me expor a você.

— Ah, sim, você quer continuar na sua redoma, mas esquece que invadiu a minha privacidade. Você esteve dentro da minha casa, dentro do meu quarto, conheceu a minha família e é o único aqui que sabe como eu realmente sou e como vivo. E agora quer vim com esse papo de “não gostei de me expor a você?” — eu falei já sem nenhuma paciência e ele baixou os olhos. Resolvi mandar tudo para o inferno e voltei a sentar no chão, fechando os olhos e me encostando a parede. Fiquei um bom tempo assim e quando me imaginei sozinha senti que alguém sentava ao meu lado.

— Me desculpe, Anna — ele pediu quase inaudível. — Eu não tinha visto por esse ângulo.

— Pois é, o mundo não gira ao seu redor, Davi — respondi e ficamos em silêncio.

Um longo silêncio.

— Você gosta da sua vida? — ele interrompeu a calma e pensei muito antes de responder.

— Gosto. As pessoas que me cercam fazem de tudo por mim e me ensinaram a ser boa e respeitar as diferenças. Acho que não posso pedir mais do que isso.

— Quer dizer que você nunca sentiu raiva deles?

— Claro que sim — respondi. — Uma vez Conchito foi provar um vestido de show e o zíper travou. Como estava atrasado para buscar meu boletim e minha avó estava gripada, ele foi até a escola assim mesmo — contei e rimos um pouco alto demais. — Imagine a cena quando ele entrou. Nossa, eu fui muito zoada.

— E o que você fez?

— Quebrei o nariz de uma garota que ousou desrespeitá-lo — contei e ele arregalou os olhos. — O legal de se ter uma família é que só você pode falar mal dela. Ninguém mais — suspirei e novamente veio o silêncio.

— Eu odeio a minha vida — Davi confessou.

— Não diga isso, Davi. Não deve ser tão ruim assim.

— Claro que é. Como você mesma disse, sou obrigado a viver numa redoma.

— Por causa da fotossensibilidade? — perguntei e ele hesitou antes de falar.

— Sim, um pouco. Meu caso é mais intenso e não posso me expor de maneira alguma ao sol. Uma porcaria... A minha rotina foi sempre de casa para a escola e da escola para casa. E meus pais são tão preocupados com as próprias vidas que nunca perceberam como é não poder sair durante o dia para fazer coisas simples. Eles acham que está tudo bem comigo desde que eu fique trancado em casa.

— É por isso que sai escondido à noite? — questionei e ele ficou tímido. — Pela cara da sua babá ela achou que você estava em casa, dormindo com seu ursinho bilú.

— Você jamais vai esquecer isso não, é? — ele deu uma risada tímida antes de continuar. — Eu só fico dando voltas por aí, nada demais. Mas fazer isso sozinho não tem muita graça. E fora que não sei nada sobre a cidade e eventualmente me perco tentando achar alguma coisa. Ainda não vi nada que valesse a pena.

— Olha, eu conheço um monte de lugares legais e as minhas noites também são um bela duma porcaria. Se você precisar de um guia...

— Sério? — ele pareceu cético.

— Sério. Se o seu problema é o sol a gente pode sair somente à noite. Como eu disse, serei sua guia, no entanto te cobrarei muito caro pelo serviço — brinquei. — Mas se eu achar que você merece a minha amizade até te faço um desconto.

— Não sei, acho que isso não vai dar certo. Da primeira vez que eu estive com você...

— Eu te salvei, querido donzelo — cortei e ele fingiu indignação. — Se não fosse por mim você teria que transformar aquele sapo no seu príncipe com bastante carinho. E da segunda vez você estava sobre o efeito da pimenta peruana. Não se preocupe, dessa vez é só você não beber nada que está tudo certo.

— Pimenta peruana?

— É, foi ela te fez dançar Conga La Conga sensualmente como um gogo boy.

— Eu fiz o quê? — ele perguntou e realmente parecia estar falando a verdade, seu rosto ficando tão vermelho quanto um tomate. — Eu só me lembro de ter bebido e vomitado! — falou exasperado. Se ele estava morrendo de vergonha só por causa disso, imagine se soubesse o resto.

— Estou brincando com você — menti e ele se acalmou. Respirei bem fundo para segurar o riso e continuei. — Mas e aí, topa?

— Não sei. Acho que vou pensar.

— Então tá. Qualquer coisa é só me ligar. Agora eu tenho que ir porque já perdi uma aula de biologia por causa de um bocó — me despedi e virei as costas. Porém, antes de sair da biblioteca ele me chamou.

— Não abra agora — ele me entregou um papel dobrado e parecia estar bastante inseguro.

— Obrigada, Davi. Desde que não seja uma bomba.

— Não, não é uma bomba. Eu fiz isso naquele primeiro dia em que esbarramos, mas nunca achei que pudesse ter uma oportunidade de te entregar. Espero que goste.

— Valeu — agradeci mais uma vez e segui rapidamente até a minha sala. Depois que sentei, aproveitei um descuido do professor e abri o papel. Fiquei bastante impressionada e não consegui conter um sorriso bobo.

Dentro do papel havia um desenho muito bem feito, um desenho de uma garota.

A garota era eu.

 

 


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