Somente à noite escrita por Ys Wanderer


Capítulo 11
Eu gosto da sua luz




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— Sanduíche de atum, presunto ou bacon? — a atendente da lanchonete da escola perguntou com aquele mau humor típico de quem não aguenta mais ouvir gritaria de crianças e adolescentes o dia inteiro e, obviamente, eu respondi bacon.

Bacon... Bacon duplo. Bacon triplo.

Bacon hoje, bacon amanhã, bacon para sempre.

— Nossa, bacon deveria ser tombado como patrimônio mundial — eu disse de boca cheia após morder meu sanduíche e Davi fez uma cara de espanto.

— Você não tem medo dos efeitos de comer tanta porcaria? — ele perguntou, sentando em uma cadeira ao meu lado na mesa do refeitório. Era a primeira vez que iríamos passar o intervalo na área comum, depois de muito eu ter insistido para que ele não se escondesse em algum canto qualquer, mas nem por isso eu estava na minha versão mais educada. Fome e bacon faziam de mim quase um animal selvagem.

— Garanto que isso aqui está bem melhor do que essa sua comida sem graça — eu debochei ao ver que em sua bandeja havia um sanduíche de pão integral com peito de peru, suco natural e uma maçã.

— Pelo menos eu vou viver mais tempo do que você — ele devolveu.

— Mas vai ser um velho magro, amargo e triste, enquanto que eu vou morrer gorda, jovem, porém muito feliz — respondi e ao rir Davi acabou se engasgando com o suco. Dei algumas batidas fortes em suas costas e ele reclamou do meu excesso de força, porém se segurando para não rir novamente. Algumas pessoas que passavam olharam a curiosa cena com bastante espanto – levando em consideração os envolvidos –, mas sinceramente eu não estava nem aí.

Já fazia duas semanas desde que eu e Davi havíamos ido juntos até a ponte e tido aquela conversa filosófica sobre gramas, cercas e afins, e desde aquele dia ficamos um pouco mais próximos, até bem mais do que eu poderia imaginar. Mas ainda era algo muito superficial, conversávamos na maioria das vezes apenas sobre livros, músicas e coisas da escola. Era como se ele realmente vivesse em uma redoma e não permitisse que ninguém soubesse nada sobre ele. No entanto, a companhia dele era legal e percebi que ainda faltava eu conhecer muita coisa boa que estava escondida debaixo daquela casca dura, coisas que só poderiam aparecer após umas boas marteladas. O fato de vê-lo rindo comigo por causa das bobagens que eu costumava dizer era a prova disso.

No início Andressa achou muito estranha essa minha súbita amizade com Davi, já que ela nunca nos vira trocar mais do que duas palavras na escola. Mas depois de algumas explicações, na maioria editadas, ela acabou aceitando tudo numa boa e logo esqueceu o assunto. Andressa agora estava mais ocupada com os braços fortes e tatuados de André do que com qualquer outra coisa e por isso não tive que me preocupar com a enxurrada de perguntas que viriam caso ela não tivesse o que fazer.

— Então, qual é a piada? — minha amiga perguntou ao nos ver rindo e sentou do lado oposto da mesa, ficando frente a nós dois. Davi imediatamente ficou quieto e baixou os olhos para a sua comida, ativando o modo tartaruga.

— Nada — respondi. — Davi estava me censurando por não ligar para calorias e carboidratos.

— E ele tem toda razão! Não é verdade, Davi? Diga para a Anna que se continuar assim o coração dela vai acabar explodindo. Quem sabe você ela escute, pois eu já desisti faz tempo — ela pediu para ele e ficou esperando uma resposta com os cotovelos apoiados na mesa e os punhos embaixo do queixo. Olhei para Davi e vi que ele ficou surpreso com a intervenção. Cinco segundos eternos passaram antes de ele abrir a boca.

— É... verdade — ele falou meio sem jeito. — Eu acabei de dizer isso a ela.

— Tá vendo, Anna? — ela piscou para Davi e ele sorriu discretamente. — Agora são dois contra um!

— Dois meses de internet, um tênis novo, a fatura do celular, a conta da lanchonete da escola e a conta da padaria — falei e ela me olhou sem entender nada.

— Do que raios você está falando?

— São as contas que devo. Paguem e aí então vocês podem tomar conta da minha vida — respondi fingindo estar com raiva e ela balançou a cabeça, indignada.

Voltamos a comer nossos lanches e ficamos em silêncio enquanto isso, mas não era nem um pouco desconfortável essa falta de assunto. Na verdade era bem acolhedora até. Mas essa calma não durou muito tempo, pois logo André sentou ao lado de Andressa e os dois começaram a tagarelar sobre um exercício penoso que deveria ser entregue na semana seguinte.

— Então, vocês já terminaram de responder todas as questões sobre o livro Os Lusíadas? — minha amiga perguntou.

— Eu ainda preciso terminar de ler, mas confesso que é bem difícil, tem que ter muita paciência para entender um livro complexo como aquele — Davi respondeu e eu fiquei muito feliz por ele ter entrado no assunto espontaneamente.

— Eu não li, prefiro ver o filme. Aposto que deve ter, esses livros lançados nos últimos anos sempre viram filmes — André proferiu todo alegre e eu não evitei dar um tapa na minha testa como reação ao ouvir tamanha asneira. Com essa frase incrível eu finalmente entendi porque ele ainda estava no segundo ano mesmo com dezoito. Andressa, por sua vez, continuou olhando completamente maravilhada para o namorado como se ele fosse capaz de ganhar o próximo Nobel de física quântica. Bom, talvez o amor fosse assim, e com apenas quatro dias de namoro ainda era impossível para qualquer um notar se o outro tinha algum defeito.

— André, querido — eu pigarreei e Davi estava vermelho de tanto segurar o riso, chegando a fazer barulho com o nariz de tanto forçar o ar —, Os Lusíadas é um livro muito antigo, mais antigo até do que a idade do Brasil. E é todo escrito em forma de poesia, com uma linguagem beeeeem difícil. Isso quer dizer que não é um livro novo e sinto em falar que não há filmes sobre ele. Sinto muito, mas você não vai achar nenhum Tom Cruise vestido de Vasco da Gama nas telas de Hollywood.

— Poxa. É uma pena — ele coçou a cabeça e fez uma expressão triste. Nessa hora fiquei até com pena do garoto. André uma um cara muito legal, mas também tão burro quanto uma porta.

— E que tal se a gente tentasse responder as questões juntos, nós quatro?  — eu sugeri e Andressa corou. Olhei para André e ele estava com uma cara de quem iria aprontar e então entendi o que eles queriam dizer sem palavras. Provavelmente os dois queriam aproveitar o tempo livre um com o outro ao invés de usá-lo para tentar decifrar os versos de Camões.

— Eu preciso fazer umas coisas — Andressa falou tentando disfarçar e eu lhe lancei uma expressão debochada, fazendo a famosa dancinha de sobrancelhas que indicava safadeza. Ela riu.

— Tudo bem, sem problemas. Estou indo para a biblioteca — eu articulei enquanto levantava da mesa e punha a mochila nas costas. — Davi, você vem? — questionei e ele fez que sim. Despedi-me do casal e segui com Davi ao meu lado.

Entramos na biblioteca vazia, agora nosso esconderijo em meio a todo aquele caos escolar, e pedi para que Davi me emprestasse seu tablet para eu pesquisar um pouco mais sobre o livro. Sentamos no chão próximo à parede e enquanto eu vasculhava a internet ele permaneceu calado.

— Aqueles dois são mesmo umas figuras, não é? — disse me referindo a Andressa e André.

— É. São legais. Mas também um pouco aéreos — Davi respondeu.

— Aéreos e felizes e é isso o que importa. Eles são o tipo de pessoa que a “maldade ainda não tocou”.

— Nossa, que profundo, Anna — ele brincou.

— Obrigada. Eu sei ser sensível de vez em quando.

*

— Esses caras de Portugal eram mesmo malucos. Sair andando de navio por aí meses a fio e sem saber se um dia iriam retornar. Uma grande jornada e com certeza uma bela aventura! — Davi deixou escapar animadamente quando terminamos a tarefa sobre Camões.

— Uma bela porcaria, isso sim. Foi numa dessas viagens malucas que Pedro Álvares Cabral desceu por aqui e transformou o Brasil nessa zona que é hoje — devolvi e Davi pôs a mão no rosto enquanto ria.

— Você me parece ter sempre opiniões muito fortes sobre os acontecimentos do mundo.

— Vou considerar isso um elogio — devolvi e notei como o clima entre nós ia ficando cada vez mais leve. Como estávamos sentados no chão da biblioteca, coloquei minha mochila atrás da cabeça e me deitei sobre ela, aproveitando o alívio que minha cabeça sentiu ao tocar uma superfície macia. — Estou tão cansada. Acho que depois dessa mereço um dia de descanso. Melhor do que isso, um dia de descanso na praia!

— Você gosta de ir à praia? — Davi perguntou e isso me fez abrir os olhos.

— Eu adoro. Adoro a areia sob meus pés, a água, o vento, a paisagem. E o sol, principalmente o sol.

— Deve ser mesmo legal — ele disse, pensativo. — Aposto que é uma sensação incrível.

— Ah, é mesmo. E a melhor parte é...

Parei quando enfim processei a informação e entendi o que Davi dizia em tão poucas palavras. Ele provavelmente achou que não estava me revelando nada, mas estava.

— Davi... você nunca foi a uma praia, né? — perguntei e ele me deu um sorriso tímido.

— Você mesma acabou de falar sobre o sol, então... — Davi deu de ombros.

Ficamos em silêncio por um momento, ele mexendo nas próprias unhas, eu maquinando coisas que provavelmente iriam dar em encrenca. Tentei afastar o pensamento, mas ele ficou roendo o meu cérebro como um bichinho dentro de uma fruta, caminhando e dando voltas e voltas por dentro da minha cabeça, incomodando e me deixando inquieta.

E, não satisfeito com tudo isso, o bichinho-pensamento encontrou, mordeu e matou meu último neurônio ainda vivo.

— Davi, você quer ir à praia comigo esse fim de semana? — perguntei e ele me olhou de esguelha, como se eu tivesse feito a pergunta mais idiota do mundo.

— Anna, você sabe que isso não é possível — ele respondeu. — Eu não acabei de falar sobre o so...

— Eu sei disso, criatura — cortei. — Mas quem disse que a gente vai durante o dia?

— Anna... a praia mais próxima fica a mais de uma hora daqui. E como é que chegaremos lá à noite? — ele perguntou meio descontente, mas no fundo percebi que ele esperava que eu desse uma resposta positiva.

Eu sorri.

— Não se preocupe com isso — respondi. — Você só precisa dizer se quer me acompanhar ou não.

Davi mordeu os lábios e olhou para um lado, para o outro, para cima, para baixo, para o teto... coçou a nuca, sorriu, respirou fundo...

— Ai, meu Deus! — gritei impaciente. — Será que é tão difícil responder?

— Eu... — ele me fitou indeciso, porém contente. Depois de nova sessão de pensamento ele enfim falou. — Que seja! Só espero que você tenha um bom plano.

— Eu sempre tenho bons planos — rebati.

Quer dizer, eu tinha planos. Se eles eram bons ou não era algo que precisaríamos descobrir.

*

— Alex, por favor! — fiz beicinho e ele me olhou feio.

— Não, Anna, eu não fazer isso com Sarah. Ela já se preocupar muito com você — ele escorregou na conjugação verbal e isso só acontecia quando ele estava muito nervoso. — Você estar maluca?

— Por favor, gringo, é por uma boa causa.

— Ele ser tão importante assim para você? Esse seu amigo?

Respirei fundo.

— Sim. Quer dizer, não. Não do jeito que você imagina. Olha, eu preciso da sua ajuda para poder fazer isso. Alex, eu faço o que você quiser em troca. Qualquer coisa, mas me ajude, please! — falei e ele colocou a mão no queixo. O americano me olhou com aqueles olhões azuis e então começou a rir. Eu até imaginei o que viria em seguida.

— Ok, Anna. Eu quero jantar a sós com a sua avó — ele riu aquele riso torto e passou a mão pelos cabelos bem cortados. — E você vai ter que convencê-la a me dar uma chance.

— A minha avó vai me matar se souber um dia que eu a vendi dessa forma!

— A sua avó vai te matar se souber um dia o que você vai fazer — ele devolveu.

— E se ela souber que você me ajudou matará a nós dois.

— Então ninguém poder descobrir — ele piscou. — É pegar ou largar.

Eu fingi pensar.

— Tudo bem, então estamos de acordo. Comparsas? — estendi a mão.

— Comparsas — Alex riu antes de apertá-la.

*

Eram sete horas da noite de sexta.

Estava bastante quente e eu esperava por Davi na praça próxima à escola, a mesma que havíamos nos encontrado da última vez. Como sempre, ele estava atrasado.

— Eu juro que dessa vez tentei chegar na hora — ele disse ofegante quando enfim chegou e me assustei com a sua presença repentina, como se ele tivesse corrido até ali.

— Um minuto a menos do que na última vez — falei sorrindo. — Se continuar assim um dia você consegue — ele então sentou ao meu lado. — Pode levantar, não podemos perder tempo — eu o fiz andar e ele estranhou o fato de não estarmos indo pegar o ônibus. Demos a volta pela praça e então ele parou quando viu o latão, o velho carro da vovó.

— A sua avó vai levar a gente, Anna?

— Óbvio que não, ela nem sonha que eu peguei o carro. Vovó na verdade nunca me deixa dirigir.

— Você sabe dirigir? — ele arregalou os olhos. — Como?

— Sim, eu sei dirigir. Foi o meu pai que me ensinou no ano passado.

— Você tem pai? — Davi perguntou e achei engraçado. Ele parecia uma criança, me enchendo de perguntas.

— Claro que eu tenho pai, ou você acha que eu brotei do chão feito um legume? — respondi, mas não dei detalhes sobre o assunto. Se ele não contava coisas sobre si para mim me dei o direito de não precisar explicar nada. Davi apenas balançou a cabeça, espantado.

— Anna, você não tem carteira de motorista, pois sequer tem idade para isso — ele reclamou. — O que faremos se formos pegos em uma batida policial?

— Você começa a gritar, eu a pular, a gente arranca os cabelos um do outro e fingimos então que somos dois malucos que fugiram do hospício — respondi, já ficando impaciente.

— Ai, meu Deus...

— Escuta — eu interrompi. — O Alex está me ajudando nessa e me dando cobertura. Ele me deu grana para encher o tanque e vai ficar de olho no movimento da boate. Se alguém quiser ir para casa mais cedo ele vai impedir, e quando a boate estiver prestes a fechar ele vai me avisar e então a gente volta. Sem furos e complicações — cruzei os braços e esperei. — Então?

— O que você ganha com tudo isso? — ele perguntou de supetão e essa pergunta me deixou fula da vida. Apertei os punhos e explodi.

— Olha, garoto, eu não sei se você percebeu, ou então é burro demais para entender, mas eu estou tentando ser sua amiga desde o dia que te conheci! Será que isso é tão difícil de aceitar? — gritei e ele se assustou. — Sério, isso já tá ficando chato! Se você acha que eu me aproximei de você com algum tipo de interesse você é um tremendo de um babaca. Então, Davi, se por um caso eu sou burra o suficiente para insistir em ser sua amiga é porque você me pareceu alguém que precisava de um amigo. E também... — respirei devagar e abaixei o tom de voz — porque você é parecido comigo. E eu sinceramente adoraria que alguém como eu viesse me ajudar.

Eu fazia isso por ele porque eu gostaria que alguém fizesse isso por mim. Havia coisas mal resolvidas em minha vida que, por mais amor que existisse entre nós, minha avó e Conchito e mesmo outras pessoas não podiam resolver. Era algo profundo, algo que só alguém tão preso dentro de si como eu poderia me ajudar a resolver.

Eu fazia todas essas coisas por Davi, mas não era por ele.

Era por mim.

Davi continuou me olhando calado e, saindo do seu campo de visão, encostei-me à traseira do latão. Fiquei alguns segundos de cabeça baixa, respirando fundo, até que ele se colocou ao meu lado.

— Vá embora! — eu pedi.

— Eu não queria te ofender.

— Mas ofendeu.

— É que isso é estranho para mim. No mundo em que eu vivo ninguém se importa muito uns com os outros — ele disse e percebi que sua voz estava trêmula. — Anna, você não sabe o que é...

— Eu saberia se você conversasse comigo, Davi — falei sem olhá-lo. — E o que eu percebi nesse pouco tempo que te conheço é que o seu maior problema não são os outros, mas você mesmo. Eu sou persistente, porém as outras pessoas talvez não sejam, então acho que por isso elas não se aproximam de você, porque você é o primeiro a impedir qualquer proximidade. No entanto, se as coisas continuarem assim, eu também desistirei.

Davi então buscou meus olhos pela primeira vez e disse algo bem baixinho. Algo que eu jamais esqueceria na vida.

— Eu não quero que você desista de mim, por favor. Eu gosto da sua luz e de como ela faz eu me sentir.

A minha luz.

Então eu ainda tinha uma luz?

— Luz?

— É... — ele aquiesceu. — Eu queria aprender a enfrentar as coisas da mesma maneira que você faz. E perto de você eu me sinto... capaz disso. Acho que por isso tenho tanto medo.

Mordi os lábios para conter algumas lágrimas que queriam se formar.

— Davi... — eu respirei bem fundo antes de continuar — acho que a gente ainda tem muita coisa para aprender na vida. Coisas boas e coisas ruins. Mas somos nós quem escolhemos de qual maneira elas irão nos afetar. E bom, como eu disse, eu sou persistente — olhei para ele e puder ver o quanto ele estava enternecido.

— Você pode me desculpar pelas bobagens ditas?

— Vou pensar no seu caso — amenizei.

— Eu sou um idiota, não é?

— Um completo. Um dos maiores. O rei deles — respondi e a tensão foi se dissipando. — E é também um bocó, um burro, um insensível, uma besta, um grandessíssimo filho da mãe, um lerdo, um bronco, um bruto — xinguei e quando me dei conta eu já estava sorrindo novamente. — Um imbecil, um estúpido, um...

— Hei! — ele reclamou, mas estava sorrindo também. — Tudo bem, eu acho que mereço ouvir tudo isso.

— Você merecia apanhar também. Agora vamos, já perdemos tempo demais — encerrei o assunto antes que ficasse meloso demais.

— Achei que você tinha me mandado embora — ele fez graça e gostei de ver um pouco do seu deboche de volta, mas confesso que essa dualidade toda também me fazia ter vontade de esganá-lo. Entrei no velho carro e ele ficou me olhando do lado de fora.

— Escuta, estou seriamente pensando em te atropelar depois dessa, mas ia dar muito trabalho ter que lavar o carro depois. Então entra logo aqui antes que eu arranje um jeito de te matar sem fazer sujeira. E aí, quer correr o risco?

— Por que será que eu tenho a impressão de que vou me arrepender disso? — ele suspirou e então riu.

— Eu tenho mais certeza de que você se arrependerá caso decida ir embora e não entre aqui. Sinceramente, acho que você vai lamentar pelo resto da vida o dia que não entrou nesse belo carro.

— Nossa, que frase tocante — Davi gracejou, finalmente se colocando ao meu lado.

— Valeu. Foi mais ou menos isso que o Sam Witwicky disse a Mikaela para convencê-la a entrar no Bumblebee no primeiro filme de Transformers.

— E qual a probabilidade desse carro sair caminhando e falando como um autobot do filme?

— O latão é do mal — respondi. — Ele está mais para um decepticon.

Nós então rimos e qualquer resquício de mal estar entre nós se dissipou. Davi se benzeu quando dei a partida no carro e eu dei um soco forte em seu braço, pois ele não tinha motivo para ter medo de mim ao volante.

No entanto, por dentro, eu me benzi também.

Mas foi para espantar sentimentos estranhos que eu sentia ao lado daquele esquisito.




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