Um amor de outra vida escrita por Maria Vitoria Mikaelson


Capítulo 53
Nova Fase - Conhecer Vai Muito Além De Perguntar.


Notas iniciais do capítulo

Voltando e com um dos capítulos mais românticos dessa fanfic!!!
Boa Leitura!!!



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Amores antigos são como cicatrizes, depois de um tempo não dói mais. Mas sempre vão estar ali, na sua pele, na sua lembrança

(Música do Capítulo)

 

Ponto de vista: Maggie Storm.

    Lysandre me tratou como um perfeito cavalheiro quando foi me buscar em casa e me trouxe para o melhor restaurante da cidade. Se ele quer me impressionar está conseguindo, agindo dessa forma. Me senti um pouco tímida ao adentrar no estabelecimento, e estranhei a mim mesma por isso, afinal eu sempre era segura de mim em “encontros”  Talvez meu desconforto se deva ao fato de ter deixado Katherine sozinha naquele estado tão frágil.Sei que o Nick e o Maurício estão lá, a apoiando,mas ainda sim ,sinto que ela precisa de mim.E também tem outra coisa,essa é a primeira vez que saio com alguém depois de tudo que aconteceu com Nicholas,tudo parecia fora dos eixos,e aquilo estava me apavorando um pouco.

      Admito que surtei um pouco,pra decidir como me vestiria hoje,queria deixar uma boa impressão,abandonar um pouco da minha imagem infantil e tentar passar mais credibilidade,mostrar que eu posso ser madura quando quero e preciso,e acho que consegui.

     O metri nos indicou a nossa mesa,e caminhamos até lá em silêncio,seguindo o funcionário. Lysandre foi educado ao puxar a cadeira pra mim,agradeci movendo os lábios,sem falar literalmente e sorri.Logo um garçom chegou nos entregando os cardápios.Abri o meu e comecei a avaliar as opções,vi pelo canto do olho que Lysandre estava fazendo mesmo.Estava indecisa sobre o que pedir.

—Ouvi dizer que aqui servem o melhor risoto ao molho branco.— ele falou quebrando o silêncio, sorri pelo que ele disse,e me lembrei que aquele era o prato preferido da Katherine. Mas naquele momento resolvi que era melhor me focar no “encontro” do que nos meus amigos.

—Acho que prefiro Vitela ao Porto e compota de frutas secas. — ditei o que eu queria, já havia apreciado aquela iguaria uma vez ,quando vim jantar com meus pais aqui. Lysandre sorriu como se apreciasse meu gosto.

—Vou pedir Frango ao Curry com coco e castanha-de-caju. Experimentei uma vez quando estava na Índia. — ele falou sem se vangloriar disso, apenas como um comentário qualquer,   que surgiu automaticamente. O encarei surpresa.

—Já esteve na Índia ? — era meio estúpido eu ficar surpresa ao questiona-lo sobre isso, afinal não nos conhecíamos. Ele poderia ir pra qualquer lugar do mundo e eu nem ao menos suspeitaria .Acho que o objetivo daquele jantar era oficialmente mudar isso.

—Sim. Já estive em vários lugares,me considero meio que um nômade, mas no fim sempre volto pra casa. — ele disse como se aquela fosse uma metáfora irônica. Bebi um pouco de água, querendo molhar a garganta, interessada no rumo que a conversa estava tomando.

—Estudos ? — arrisquei uma opção e aquilo pareceu diverti-lo.

—April. — resumiu o motivo em um nome próprio, tão rapidamente quanto chamou o garçom para anotar nossos pedidos. O funcionário escreveu tudo que queríamos e se retirou, pedindo licença, encarei Lysandre com uma sobrancelha arqueada.

—Eu deveria saber quem é April? ...Quer dizer... Conte-me algo sobre sua vida que eu não sei. — pedi por mais informações, afinal eu precisava delas.

—April é minha noiva —ele disse naturalmente,me fazendo arregalar os olhos, dessa vez realmente surpresa. Ele não podia ser menos impactante ao me contar isso ? Mais sutil talvez? Lysandre avaliou minha reação e se deu conta da realidade — E você parece incomodada com isso. — ele constatou o obvio.

—É por que eu meio que tenho moral,e só descobri agora que estou num encontro com um cara que tem noiva — comentei irônica e um tanto ácida,realmente descrente da situação.

—Maggie, eu já disse que não quero,e que não posso ter um relacionamento amoroso,ou carnal com você,quero sua amizade...E quanto ao meu noivado,um cubo de gelo é mais quente que ele. —não entendi o sentido de suas ultimas palavras,e resolvi me tranquilizar com as primeiras,pois eu me sentiria menos culpada se fizesse isso.

—O que quer dizer ? — questionei sabendo que ele já tinha total ideia sobre o que eu perguntava.

—Meu noivado com a April é totalmente de negócios,nossas famílias fizeram um acordo,em que ambos saímos comprometidos.Nunca nos envolvemos romanticamente se assim posso dizer,claro que já ficamos juntos e sim de forma carnal. Nosso relacionamento é do tipo aberto, só um pedaço de papel,perdi as contas de com quantos caras ela já ficou, mas eu prefiro me privar disso , sendo que no fim o acordo será cumprido. No fim da faculdade pra ser mais especifico —ele esclareceu minhas duvidas,e eu senti pena por aquilo.

—Isso é triste...A forma como você falou sobre amor quando estava comigo,merecia  se casar com alguém que amasse — falei tocando sua mão delicadamente,sensibilizada com o que ele me contou.  — Desculpe por perguntar isso,depois do que me disse ,mas...já se apaixonou por alguém, pelo menos ? — quis saber por que aquilo já seria um ótimo consolo.Afinal ele ao menos poderia ter sentido o que é amar alguém.

—Já — ele foi breve e vago,me tranquilizando sobre o fato de eu achar que o incomodei com a pergunta. Estava com receio de ter sido invasiva.

—Não me diga que ela partiu seu coração — falei divertida,querendo acabar com o clima tenso que ali se instalou.

—Ela morreu — ele contou.E eu me senti o ser humano mais insensível da humanidade,do mundo,do universo e das galáxias.

—Oh ...eu...sinto muito — falei envergonhada por minha gafe. Para minha surpresa,ele riu.

—Não se preocupe, não estava errada,antes de morrer ela partiu meu coração —ele comentou bebendo um pouco de seu vinho, que tinha chegado nesse instante.

—O que aconteceu ? — estava curiosa sobre aquilo.

—Ela partiu meu coração.Logo após se casou,teve uma vida pacata e morreu,fim da história — ele explicou como se não fosse nada.

—Fala dela com mágoa...Não a desculpou ? — indaguei achando aquilo cruel de mais.

—Há uma amiga minha que diz:que o perdão deixa a alma mais leve.Mas pra o que temos de enfrentar,não podemos nos dar ao luxo de fazer isso— ele disse como se se lembrasse dessa tal amiga.

— E essa April,em nenhum momento cogitou ama-la ? — questionei querendo mudar de assunto,vendo que o anterior não o deixava bem.

—Eu sei que a forma como eu contei,soa como se fossemos duas criaturas frias que não se importam que vão passar o resto de suas vidas juntos.Mas não vejo assim ,apesar de April ser a criatura mais atrevida,respondona,irônica,fria e cruel ,não consigo imaginar um dia da minha vida sem ela ao meu lado,para tornar tudo caótico.Parece que nos conhecemos a séculos,apesar de não amar-la romanticamente ,amo ela,como se fosse minha irmã,minha amiga,minha companheira e minha cúmplice —ele declarou com um sorriso no canto dos lábios.

—Tem razão,isso não é frio...Ao contrário é poético — falei sorrindo,encantada pelo que ele falou.

—Se a April te ouvisse dizendo que nossa relação é poética ela te esganaria — ele brincou divertido.

—Você se dá bem com a família dela ? — perguntei curiosa,achando todo aquele enredo interessante.

—Sim ! E ela também se dá super bem com a minha família.April transava com meu irmão — meu queixo foi ao chão quando ele pronunciou aquelas palavras num tom sério.

—Você está brincando,não é ? — perguntei quando me recuperei do abalo.

—Não ! E nem me importo com isso.Também tive lá meus momentos errados — ele comentou sem querer se aprofundar no assunto.

—Vocês dois são estranhos —comentei sorrindo.Bebi um pouco mais de água,e Lysandre começou a me observar de um jeito esquisito — O que foi ? — perguntei curiosa.

—E o cara pelo qual você estava apaixonada,o que houve ? —ele perguntou,me pegando totalmente de surpresa,não imaginava que ele me questionaria sobre aquilo.

—É complicado... — resumi o problema,que eu achava que já estava solucionado.

—Sempre é — ele retrucou,dando a entender que queria saber qual era a complicação.A resposta mais sincera seria: Tudo.

—Eu não tinha certeza dos meus sentimentos por ele,por isso decidi não lutar — contei,antes de soltar um suspirou longo.

—A gente nunca tem certeza de nada,Maggie.Lutamos por algo sem entender a intensidade do que queremos ou realmente sentimos,temos que nos arriscar —ele disse sua opinião.

—Eu sempre me arrisquei,isso acabou se tornando o maior problema —falei um dos motivos da minha história com o Nick,não ter ido para a frente.

—Pelas pessoas erradas...Você pode ter encontrado a pessoa certa,e fugiu...Entende a ironia disso ? Você se doa por pouco,e corre do muito —ele constatou,me deixando sem palavras por alguns instantes.

—Sou uma adolescente não é mesmo ?...Meus pequenos erros podem ser justificados pela idade — brinquei querendo fingir que não me afetei com o que ele disse.

—Eu não chamaria de erro algo que pode ser concertado..Erro é algo inconcertável —declarou enigmático.

—Está me aconselhando,a estragar a relação do meu melhor amigo,por um capricho fútil meu de me entregar a mais uma paixão que no fim não vai ter nada demais ? — perguntei irônica,um pouco irritada com a intromissão dele naquele assunto.Ele me contou uma parte da vida dele,mas nem por isso,tinha o direito de se intrometer em uma decisão da minha.

—Só estou dizendo Maggie...Que o amor verdadeiro é raro demais para ser desperdiçado...quando você o perde é doloroso e irremediável de mais —ele falou num tom baixo.

—Nick não é meu amor verdadeiro...E eu já sofri por amor,sei como é — justifiquei as palavras que estavam me abalando.

—Não ,Maggie,você não sofreu — ele afirmou convicto,e eu olhei para ele incrédula,esperando que ele explicasse essa frase dele —Quando você sofre por amor isso não acaba,não há superação,só dor,e fingimento,uma eterna atuação de que tudo está bem,e de que seu coração não está despedaçado,quando na verdade ele  está quebrado de todas as formas possíveis — ele disse de uma forma tão profunda,que eu me questionei se ele sentia aquilo —Ele foi o primeiro cara que você desistiu de conquistar,porque se importa com ele...Se preocupar com a pessoa antes de você mesmo...Essa é essência do amor verdadeiro — Lysandre afirmou e eu tive a ligeira impressão que ele me dizia aquilo com a intensão que eu entendesse mais uma vez,que “ele e eu” nunca aconteceria.Me senti culpada por usar a frase “eu sofri por amor” dada aquelas circunstâncias,pelo que parecia eu não sabia nem metade desse sofrimento,e era errado eu pronunciar aquela frase,sem ter a dignidade de tê-la representado.

              Por fim o jantar continuou,começamos a conversar sobre banalidades,para deixar o clima mais leve e isso funcionou,me divertir com as inúmeras histórias ocorridas nas viagens dele,e aquilo teve o poder de me distrair por algumas horas.Quando ele se encerrou,percebi que havia valido a pena aceitar aquele convite de encontro entre amigos.Apesar da conversa tensa que tivemos,eu estava feliz por ter compartilhado aquele momento com ele,feliz pela primeira vez ter tido um jantar com alguém,sem segundas intensões,apenas conversas verdadeiras,e risadas facéis.

      Ele continuou sendo cavalheiro ao pagar a conta,e se recusou avidamente quando eu me ofereci para dividirmos,alegou ser um homem das antigas,o que era um fato muito estranho,já que ele era tão novo.Depois seguimos rumo ao estacionamento,onde entramos no carro dele.O caminho até a minha casa se passou no mais profundo silêncio,e eu não ousei quebra-lo.Lysandre parou o veículo em frente a minha casa,e então nos encaramos,não sei porquê mas eu estava hesitante em relação a sair dali,não queria que o encanto daquela noite acabasse.Mas sabia que era o necessário,e o certo a se fazer,Lysandre desceu do carro,e abriu a porta para mim,desci e olhei para ele da forma mais agradecida que podia.

—Foi um ótimo jantar —afirmei.Abraçando meus braços por conta do frio.

—Com certeza...Acho que agora é melhor eu ir —ele disse,colocando suas mãos no bolso da calça.E me dando as costas,pronto para ir embora.

—Da próxima vez eu escolho o lugar — arrisquei-me no desconhecido,ao supor que haveria uma segunda vez,ele se virou para mim,sorrindo e deu voz a minha dúvida,me fazendo sorrir também.

—Então terá uma “próxima vez” ? — perguntou divertido.

—Depende...Você quer que tenha ? — indaguei com um sorriso de lado,ele balançou a cabeça negativamente,rindo.

—Você é uma figura,Magnólia —ele pontuou brincalhão,e eu o olhei séria.

—Como sabe meu nome completo ? — questionei,já que eu não havia dito a ele.Vi que ele se incomodou por ter sido pego,mas tentou disfarçar.

—Eu chutei —respondeu rapidamente.

—Você não chuta,você sempre tem certeza do que diz,aparentemente você não hesita —descrevi o que achava dele.

—Notou isso hoje ? — indagou querendo saber,um tanto intrigado,sorri.

—Notei isso quando te conheci,você não pensou duas vezes antes de vir falar comigo —relembrei-o do fato.

—Como você sabe que eu não hesitei naquele dia ? — foi a vez dele de ficar curioso.

—Você não ficou nervoso,nem sequer piscou ao se oferecer para me ouvir...Desde então me pergunto,porque de verdade,veio falar comigo —admiti.

—E qual é a sua teoria ? —perguntou de uma vez.

—Isso é sobre seu amor verdadeiro...Perdeu ele,e enxerga em mim a ingenuidade de ainda continuar acreditando.Eu te intrigo por apesar de cada tombo,ainda conseguir me entregar por completo,você quis ver de perto uma pessoa que ainda tem esperanças de um final feliz —contei o que eu achava e ele sorriu.

—E se você estiver certa,o que mudaria ? —indagou,não negando o que eu falei.

—Sinceramente ? Isso só me faria gostar de você ainda mais —falei tendo certeza daquilo.Ele sorriu e nada mais disse,antes de entrar em seu carro,e partir para um rumo desconhecido.

 Demorei alguns minutos,para decidir entrar em casa.Tirei a chave de dentro da bolsa,e abri a porta,sentindo o aquecedor me esquentar.Coloquei meu chaveiro em cima de um dos aparadores da entrada,e me virei me deparando com Katherine,Maurício e Nick deitados no sofá,rindo de alguma coisa boba que meu irmão havia dito,pareciam não ter notado minha presença.Eu mentiria se dissesse que não senti um calafrio subir por minha espinha ao ver Nick,depois das palavras de Lysandre.Resolvi ignorar a sensação,e dei dois passos para frente,o barulho do meu salto,me denunciou,os três se viraram ao mesmo tempo,e me viram.

—E ai...Como foi o encontro ? —Nick foi o primeiro a se pronunciar,e parecia realmente não querer a resposta daquilo,só perguntou para ser educado,tentei sorrir.

—Foi ...estranho — aquela palavra definiria bem.Nicholas me olhou confuso,e Kath revirou os olhos.

—Vindo daquele cara não é nada surpreendente — ela disse como se realmente entendesse.

—O que estavam fazendo ? — questionei para mudar o assunto.

—Ouvindo seu irmão ser ele mesmo— Katherine respondeu com tédio.

—Tudo bem...Irei subir colocar um pijama e em seguida descerei para participar disso —informei,indo em direção as escadas,e eles assentiram,desconfiados.Chegando no corredor de lá de cima,me encostei em uma das paredes e suspirei.

—Não complique mais as coisas Maggie — falei para mim mesma.

Ponto de vista:Katherine Evans.

     Tudo bem que meu dia estava caótico a nível extremo,mas isso não tirou minha capacidade de ser observadora,e perceber as coisas há quilômetros de distância. Maggie estava esquisita,e isso não tinha nada haver com o estranho Carter,vi a forma que ela olhou para o Nick.E ele também estava incomodado com esse encontro que ela teve.O que nos leva a uma conclusão lógica e decepcionante:eles não tinham superado cacete de amor platônico de nada,ainda estavam em dúvida sobre seus sentimentos.E pelo visto não havia sido só Dean que voltou para minha vida,mas também aquele constante drama dos dois de : “Somos amigos,mas nos sentimos atraídos,nos amamos mas não queremos nos magoar,estamos bem e sabemos o que queremos,mas ai de repente não sabemos mais”.Aquela mesma porcaria que sempre me colocava na mesma posição: A amiga que tem que apoiar e consolar os dois lados,da maldita e estranha incerteza de ambos.

            Não toquei no assunto,não queria mostrar que estava tão na cara o que estava acontecendo ali,estava sem a mínima paciência para ser eu mesma hoje. Maggie voltou como havia dito,e estava fingindo bem que estava prestando atenção na conversa,não comentou muito sobre a sua noite,contou de forma vaga,e Nick pareceu agradecer por isso.Não perguntei nada a ela,só ouvi o que ela falava,assentindo algumas vezes.Acho que eu também estava fingindo que me importava,porque depois de mais duas frases dela,eu já estava perdida em devaneios,pensando em meus recentes problemas.Mal vi quando Maggie se levantou junto com Nick,alegando que iriam fazer chocolate quente para nós.Só notei isso,quando os dois voltaram com as canecas.

      Dormimos ali,os quatros esparramados pelo sofá.A noite se passou de forma rápida,e logo amanheceu.Abri os olhos lentamente,com um desconforto nos músculos,por ter dormido numa má posição,bocejei e me espreguiçei,pisquei algumas vezes tentando me situar para saber onde eu estava,e quanto descobri,dei um jeito de sair do sofá,sem acordar os outros.Peguei o celular de Nick que estava no criado-mudo e vi que ainda eram cinco horas da manhã,bufei por ter acordado tão cedo,e me levantei,pegando minhas botas e as colocando no pé.Eu devia estar com a aparência péssima,mas não liguei para isso,fiquei me perguntando mentalmente o que deveria fazer,e decidi que sair daqui seria uma boa opção,passei tempo demais brincando de ser uma adolescente clichê,eu não era assim.

       Caminhei até a porta,decidida,peguei as chaves da Maggie,e a abri,me pondo para fora no mesmo instante.Fui até o meu carro,e entrei dentro do veículo,colocando o cinto de segurança em seguida.Liguei o motor,e acelerei,dirigindo pelas estradas desertas,de New Town.Não demorou muito,para que eu chegasse no centro da cidade,estacionei meu carro próximo a torre do relógio,e me encaminhei para o CaféSabores. Ao chegar no estabelecimento,aquele sininho irritante fez questão de tocar,e eu soltei um xingamento baixinho,logo alcancei o balcão e pedi um café expresso,depositando alguns dólares em cima do móvel,para pagar.

      Olhei em volta,e vi que o local estava praticamente vazio,a não ser pelo um casal de velhinhos numa mesa dos fundos,lendo o jornal diário.Um funcionário me deu meu pedido,e eu agradeci com um aceno de cabeça,logo comecei a tomar a bebida quente e amarga,quando estava próxima a saída,esbarrei em alguém,e quase revirei os olhos ao ver que se tratava de Jane.Me perguntei o que aquela criatura estava fazendo acordada uma horas dessas num domingo,mas logo a resposta veio,ao vê-la vestida com roupas esportivas,ela com certeza estava fazendo uma corrida matinal,para manter o corpinho de líder de noticia.Ela me olhou como se nunca tivesse me visto.

—Onde você se meteu ? ...O Edward está louco atrás de você,liguei para o Nick,tentando te contatar,mas ele também pareceu sumir —ela disse atordoada,e eu franzi as sobrancelhas.

—Desde quando você é tão amiga do Edward,a ponto de ajudar ele numa busca por mim ? — perguntei curiosa e ao mesmo tempo ácida,não foi de propósito.

—Desde sempre...Ele e eu tínhamos o mesmo grupo de amigos —ela esclareceu,mas aquilo não foi o suficiente para me convencer.

—Amigos? Chama aquela corja que você andava de “amigos”.Precisa fazer um workshop sobre amizade — debochei e ela revirou os olhos.

—Podemos voltar ao foco da conversa?...Ele está preocupado com você —ela contou,e eu quase me desarmei.Estava sendo ingênua ao achar que poderia deixar Edward de fora de toda essa confusão,ele estava envolvido na minha vida agora,ele se importava comigo.

—Não tive tempo para falar com ele...Depois da confusão da Hillary,com aquele cara loiro—tentei justificar,escondendo os reais motivos.

—Aquilo tudo foi muito louco...Edward até tentou ir atrás de você...Só que você foi mais rápida...depois disso ele levou Hillary para casa,e tentou te contatar ... — ela continuou a contar ,mas eu ignorei todo o resto.Era egoísmo meu não gostar de Edward ter dado carona para a Hillary? Mesmo depois de eu me questionar umas quinhentas vezes hoje se ainda sentia alguma coisa por Dean ? Depois de ter dito que o amava?Sim,eu acho que era.

—Escuta Jane...Eu preciso ir agora...Se falar com ele,diga que está tudo bem comigo...que as coisas estão complicadas agora e... — não consegui continuar,pois não sabia mais o que dizer.

—Por que não diz você mesma ? — ela questionou de forma séria.

—Eu não vou aparecer na casa dele as cinco da manhã — afirmei,mesmo aquele não sendo o real motivo de eu não ir até ele.

—Eu acho que você conhece ele o suficiente para saber que ele está magoado,e que quando ele quer refletir,ele vai a um lugar especifico para isso —ela disse misteriosa,me provando que realmente era amiga dele.Eu sabia exatamente onde Edward estava.

—Obrigado...Acho que depois dessa eu tenho que parar de te chamar de vadia 2 — afirmei,e sem dar tempo para que ela me respondesse,corri em direção a saída.Jogando meu café no lixo, durante o percurso.

          Dirigi em alta  velocidade,querendo chegar o mais rápido possível e me senti patética por isso,estava correndo para encontrar um cara,pois tinha medo de perdê-lo por ter sido uma idiota que não consegue fingir que não está afetada com a presença,de uma pessoa do seu passado.Havia sido uma estúpida,por não ter ligado para o Edward,para inventar uma desculpa qualquer,que justificasse minha burrada,ele havia percebido que isso era muito mais do que aparentava,e tudo por um descuido meu...Ei espera ! Não vou me sentir culpada,não é culpa minha o Dean ter aparecido e ferrado com tudo...Oh Droga! Mas é culpa minha ter feito Edward perceber isso.

       Estacionei meu carro,no acostamento da entrada da floresta “Vale do Paraíso” Quase congelei quando desci do veículo,da outra vez eu estava bem agasalhada.Mas decidi que aguentaria o frio,adentrei a floresta,tentando me recordar da trilha,e caminhando com dificuldades,por conta do salto da minha bota,esbarrei em vários galhos e quase cai umas cinquenta vezes.Edward realmente tinha que dar valor ao meu esforço,me agarrei a um tronco quando tropecei numa pedra,e tentei controlar minha respiração,segui a direita,torcendo para aquele ser o caminho certo,e constatei que era ao ver Edward de costas,com uma câmera nas mãos,fotografando,no topo da pequena montanha,que ele havia me trazido,quando nos beijamos pela segunda vez.Apesar de estar quase congelando,consegui mover meu corpo até lá,ele estava tão distraído com o que estava fazendo,que não me viu ali.

—Sabe uma vez eu me perguntei “Por que porcaria o Edward sempre sobe nessa montanha e tira as mesmas fotos,com a mesma paisagem e o mesmo cenário,se nada nunca muda?” Então encontrei a resposta,cada vez que você sobe aqui não é a paisagem que está diferente,é você. Faz questão de registrar cada pequena mudança,com uma foto,porque isso te dá uma nova forma de vê-las — murmurei o surpreendendo,ele se virou para me encarar.E me olhou de um jeito,que nem parecia que aquele cara já foi um popular babaca,ele olhou como se pudesse ver minha alma,e eu sorri por isso.

—Olha, quando você começou a namorar comigo,já sabia que eu sou a pessoa mais complicada do universo,e que as vezes eu ferro com as coisas,porque não sei lidar com elas.Eu fugi,porque por um mísero segundo eu precisava me situar com tudo que aconteceu,e mesmo que você não tenha conhecimento do que é esse “tudo” eu só te peço que me desculpe por não ser a namorada mais perfeita do mundo,e por  eu não poder te explicar...não enquanto eu não entender as coisas —despejei de uma só vez,querendo que ele entendesse isso,ele me fitou de forma séria e suspirou.

—Está bem claro que tem haver com aquele cara...Você o conhece mais do que admitiu —ele disse num tom baixo,mostrando que estava chateado com aquilo.Abaixei a cabeça lentamente,mas depois levantei e o encarei.

—Eu era diferente do que sou hoje Edward...Não era uma pessoa boa...e Dean faz parte disso,ele é um lembrete constante do que eu fui...Antes que você se sinta inseguro quanto a isso,nunca tivemos um relacionamento “amoroso” ou “romântico” — esclareci de uma forma embelezada  e Edward me olhou incrédulo.

—Eu vi a forma que você ficou quando o encontrou Katherine,ele te afeta...E por favor não aja como se eu fosse um idiota que não notou isso...Está obvio que você está escondendo algo de mim — ele gritou irritado,despejando toda a sua frustração,me fazendo dar um passo para trás,assustada,lágrimas já estavam presentes em meus olhos.

—Sim você está certo,tem coisas que você não sabe sobre mim...Coisas que eu não me atrevo  a contar nem para minha própria sombra...E me tortura não poder te contar...Porque eu confio em você mais do que confio em mim mesma...e sei que você nunca esconderia algo do tipo de mim —declarei exaltada,e pode ser impressão minha,mas vi seu olhar vacilar por alguns segundos.

—Não vou conseguir agir como se não soubesse que algo está errado —ele contou sem me encarar,a essa altura não impedi as lágrimas de caírem.E junto com elas,gotas de chuvas começaram a nos molhar.Parece que o sol resolveu abandonar a cidade.

—O que que dizer com isso ? — perguntei,temendo pela resposta.Seus olhos azuis me fitaram de uma forma intensa.

—Eu não sei Katherine — ele admitiu,seus cabelos negros banhados pela tempestade,que caia acima de nós.Iriamos ficar encharcados,mas não estávamos ligando para aquilo no momento.Edward deu as costas para mim,vi que ele estava a ponto de chorar também.Só que estava decidido a ir embora.

—Não pode desistir de mim —falei num tom baixo,e sôfrego.Ele não se virou,para me questionar.

—Por quê ? — ele precisava de um bom argumento,então dei a ele o mais sincero de todos.

—Porque eu te amo—admiti sem hesitar,vi que ele estava estático com a minha resposta.Eu o amava sim ! Se eu era capaz de amar Dean que me machucou tanto,por que eu não amaria Edward? — Eu te amo,porque você me salvou,te amo por você ter me feito feliz por todo esse tempo,te amo por você ter enxergado algo bom em mim,e pode acreditar seja lá o que Dean tenha significado para mim,isso não afeta o fato de eu amar você.Amar acima de qualquer coisa —declarei firme,então ele se virou,e procurou em mim algo que denunciasse que eu estava mentindo,e quando viu que eu estava falando a verdade.Suspirou,e deu um passo para frente.

—Eu também te amo Katherine...Apesar do seus mistérios...Apesar de tudo...Você é quem me torna o melhor que eu posso ser,você traz vida para minha existência...e a forma como eu te amo é estranha,pois parece que eu te conheço de outras vidas,meu amor é tanto que não pode ser explicado —ele disse gesticulando com as mãos, como se aquilo atordoasse ele—E eu não vou te perder —decretou convicto,e eu me permitir sorrir.

—Não vai mesmo— concordei,e ele me puxou pela cintura,e tomou meus lábios para si.Me beijando da forma mais profunda e intensa que podia,como se quisesse comprovar tudo que dissemos um ao outro.Entrelacei minhas mãos nos seus cabelos,e ficamos ali presos naquele momento.Exatamente como a primeira vez que nos beijamos,debaixo da chuva.O ar nos faltava,mas nós não queríamos nos separar.Mas uma hora,tivemos que fazer isso.Colamos nossas testas uma na outra,e nos olhamos ofegantes.

—Pode me dizer mais uma vez que me ama ? —ele perguntou patético como sempre era.Com os olhos fechados,e um sorriso no rosto.

—Idiota —murmurei sorridente também,dando um tapa no seu braço.

—Podemos ficar aqui para sempre? —ele questionou e por mais que eu quisesse aquilo,sabia que eu tinha que enfrentar a realidade.

—Eu tenho que ir... — sussurrei e em seguida me separei dele,lentamente.Ele não falou nada,apenas me assistiu,me afastando.Girei meus calcanhares,e o encarei sorrindo.

—Mas só para confirmar...EU TE AMO EDWARD RICHARDS — gritei,gargalhando,e ele riu.Minhas palavras ecoaram pela mata,enfatizando ainda mais a importância delas.

—EU TE AMO KATHERINE — ele disse de volta,da mesma forma que eu.Nós eramos patéticos!Sorri ainda mais,e iniciei minha caminhada de volta para o carro,mesmo que cada órgão do meu corpo,me alertasse que eu deveria ficar,para continuar vivendo aquele momento.Nunca pensei que me sentiria tão bem ao falar que amava o Edward,mas eu estava me sentindo completa.No meio de todo caos do momento,algo bom aconteceu,e isso até me fez me sentir melhor,mas eu sabia que isso não duraria por muito tempo,logo eu teria que enfrentar a minha real situação lá em casa.Esbarrei em uma árvore durante o percurso,e então senti uma tontura,fechei os olhos esperando que ela passasse,então milhares de flashs apareceram em minha mente,numa velocidade constante,me deixando confusa,abri meus olhos,tentando controlar minha respiração,e encarei o nada.

—Você me ensinou que viver vai muito além de respirar —ouvi a voz ressoar em minha mente.

 — Uma hora tudo acaba nada é para sempre—a mesma pessoa falou me atordoando

—Nosso amor é —outra voz disse.

 —Eu prometo —alguém pronunciou.

—Eu prometo —uma mulher fora responsável por estas.

  Balancei a cabeça tentando me livrar dessas vozes,começando a cogitar seriamente a possibilidade de que eu estava louca.Decidi sair dali o mais rápido possível,mas fui impedida quando tropecei em algo,parecia ser duro.Me agachei e passei minha mão pelo barro que estava quase um lamaçal por causa da chuva,em busca do que quase me fez cair,então acabei resgatando.Era um livro.Estava velho,surrado e com as páginas manchadas.As letras da capa eram antigas e bem desenhadas.O abri tirando a terra de suas páginas e lendo a introdução.

     Volume feito em 1860.

     Dono:Stefan Brendon.

   Subtítulo:Contos de um coração partido.

             Naquele instante tive a sensação que já havia tocado naquele livro antes.Que de alguma forma ele já havia me pertencido.O que me parecia estranho era o fato de eu ter encontrado ele depois de dizer que amava o Edward.Coloquei na última página apenas por curiosidade e li o último verso.

     Queres saber o segredo de um amor ser eterno ? O regue,faça com que nos tempos sombrios ele se revele,o cuide pois ele é frágil como o caco de vidro.O proteja pois ele é tão indefeso quanto uma criança.Mas acima de tudo acredite neste amor.Pois quando duvidares de tudo,só o que restará será ele.Quando tudo parecer perdido,ele te guiará,e quando duvidar dele,lembre-se  que para tudo há um motivo.Porque quando um amor é mais forte do que a própria vida ,ele não cabe numa só história ,ele desafia certezas ,enfrenta obstáculos...Ele sobrevive,e ele renasce .


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Notas finais do capítulo

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