Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 47
A Rosa Indomável


Notas iniciais do capítulo

É maratona! O autor surtou! Últimos dois capitulos de Hastryn liberados no mesmo dia.
Aproveitem, galera. Vai ter textão no próximo ♥



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Katherine

A serpe atacou o último cavalo restante, obrigando-a a saltar de sua montaria e corresse caso quisesse escapar com vida. Entretanto, a única direção possível consistia em um beco vazio e sem saída. Para qualquer um dos lados, havia chamas espalhadas pelas ruas. 

Quando terminou de devorar a carne do bicho, caminhou até a rainha com os dentes prontos para mais um ataque. Nesse momento, Katherine Wildshade fechou os olhos, aceitando a morte que lhe foi destinada.

Ouviu um grito, percebendo que a criatura havia recebido uma flechada na parte direita de seu largo pescoço, que era repleto de escamas pontudas. Assustada, a rainha aproveitou sua distração e recuou, encontrando uma oportunidade de fugir. Nesse mesmo instante, percebeu quem era o responsável por ter causado aquilo.

Em cima de outro cavalo, Evelyn utilizava uma balestra para atacar a serpe, acompanhada do namorado Thomas, que direcionava o animal por onde deveriam seguir. Kath, apavorada com a possibilidade de o casal ser atacado, berrou:

— O que estão fazendo? Fujam daqui!

— Nunca deixarei que minha irmã seja morta! — A voz de Evelyn era firme. A gêmea mais velha entregou a arma nas mãos do companheiro e desceu do cavalo. — Distraia este demônio para que eu possa ir até lá.

Ele assim o fez, convencendo a serpe a se virar em sua direção. O réptil abriu sua grande boca, disposto a devorá-lo em apenas uma mordida apressada, enquanto Evelyn corria até Katherine.

— Venha! — Ela segurou seu braço e a puxou. Sentindo-se nos velhos tempos, nos quais era protegida pela irmã, Kath permitiu ser levada. — Encontramos as meninas no caminho e elas nos informaram sobre onde a viram por último.

Ouvindo seus passos, o monstro deixou de dar tanta importância a Thomas e voltou sua atenção para as gêmeas, impedindo o acesso pelo percurso que estavam tomando.

— Thomas, salve nossa rainha! — Evelyn gritava, lançando pedras de porte médio no rosto da serpe. Estava disposta a servir como distração e até mesmo como presa para garantir a fuga de Katherine. — Siga nosso trato! Cumpra o acordo que fizemos!

— Evelyn, você não pode se sacrificar! — Katherine não iria embora dali sem levá-la consigo. Preferiria morrer a deixá-la em risco.

Concentrada no que fazia, a prostituta respondeu sem olhá-la.

— Poucos sentirão minha falta, querida. Você conseguiu se tornar uma rainha! Alguém importante que definirá para sempre a história de Arroway. Além disso, possui dois filhos pequenos que precisam de sua criação.

Thomas chegou e a segurou fortemente pelos braços. Katherine se debatia e tentava de tudo para não ser levada, mas a força do rapaz era absurda e a impedia de se soltar. Ele a colocou sobre a montaria.

Nesse momento, Evelyn foi atacada.

— Não! — A rainha fechou os olhos ao saber que nada mais poderia fazer para evitar aquilo e não desejava ver o restante da cena. Sabia que a irmã partiria para a morte, desejando guardar para sempre sua imagem viva e presente nos momentos alegres, sem se recordar de um corpo destruído. — Largue-me! Por favor, largue-me!

Thomas se segurava para não desabar emocionalmente. Estava abrindo mão de uma vida inteira ao lado da mulher que amava por causa de um pedido importante feito pela própria. Abdicara de constituir uma família ou de envelhecer ao lado de Evelyn para proteger a vida de uma rainha.

Thomas era um verdadeiro herói.

Por conta da cidade incendiada, o percurso demorou um pouco. Ao observar de longe alguns guerreiros, Kath ordenou que se afastassem e fossem por uma das entradas subterrâneas, evitando atravessar a ponte levadiça e encontrá-los, além de conhecer um atalho que os levaria mais rápido até o lado de dentro.

No acesso, havia escadas que conduziam tanto para o piso térreo quanto às masmorras. Extremamente devastada e sem conseguir respirar o suficiente para falar por onde iriam, apenas apontou com o dedo indicador na direção certa. Chegaram em uma área arborizada, passando por um pátio que se localizava próximo aos estábulos. Dentro do local, prenderam o cavalo.

— Alguém está vindo. — disse Thomas, puxando a jovem para trás de uma pilastra próxima. Ambos ali permaneceram, encolhidos, evitando serem encontrados pela misteriosa pessoa.

A mulher empurrou a cabeça um pouco para frente, curiosa. Descobriu que não era ninguém menos que o covarde Lothar Wildshade. Assim que o homem deixou seu cavalo junto aos outros e saiu do estábulo, Kath sussurrou no ouvido do aliado:

— É o rei! Evelyn morreu por culpa dele!

Kath tinha a balestra em mãos e a utilizaria assim que tivesse chance. Descobriu que o marido tinha ido até a cozinha para ingerir goles aparentemente intermináveis de vinho. Decidida a esperar até que ficasse completamente bêbado, permaneceu encostada na parede do corredor. Aguardou um movimento do homem.

Após longos minutos, Lothar deixou o recinto e se dirigiu ao aposento real. Kath sabia que chamariam sua atenção se fossem rápido demais atrás dele e colocariam todo o plano a perder, preferindo ficar escondida por mais um tempo, até ouvir o último passo.

Quando o rei terminou de subir, seguiram seu rastro devagar, sempre tomando cuidado para não serem percebidos. Se qualquer outro indivíduo aparecesse ali e dirigisse uma palavra aos dois, seus objetivos seriam atrapalhados por completo.

Katherine estava determinada a acabar com aquela loucura de uma vez por todas. Ninguém seria capaz de pará-la ou impedi-la de continuar a fazer aquilo que todos em Arroway sentiam vontade, mas não tinham coragem. Seria a voz de uma população inteira.

Lothar entrou no quarto.

Em passos lentos e silenciosos, a dupla atravessou o longo corredor e se preparou para invadir o cômodo. Quando Kath fez o sinal, Thomas arrombou a porta e o rei se surpreendeu. Virando-se para descobrir quem eram os criminosos, ficou de olhos arregalados ao encontrar Katherine segurando a balestra e perplexo com o fato de estar desarmado exatamente naquele instante.

— Feche a porta, por favor.

Thomas a obedeceu e sacou sua espada, pronto para desferir um golpe no inimigo caso tentasse de alguma maneira arrancar a arma atiradora das mãos da mulher.

— Katherine... — Lothar tinhas as duas mãos erguidas, garantindo que não tentaria lutar ou fugir. — Não faça isso.

— Esperei tempo demais, seu desgraçado! — Kath cuspiu em seu rosto, andando ao redor do homem. Thomas a circundava, evitando qualquer chance de perderem a vantagem da luta. — Sempre com a inútil esperança de que mudasse seu jeito e se tornasse um homem bom. Estúpida! Pelo visto, estive enganada por todo o tempo em que dividi esta cama com você!

— Eu posso mudar! Podemos iniciar uma nova vida, ao lado de Charlotte e de nossos lindos e fortes filhos. Ceda-me essa chance e prometo não decepcioná-la mais.

— Como tem a coragem de fazer essa promessa? — vociferou, finalmente expondo todas as palavras guardadas em seu coração durante o tempo em que o casamento durava. — Assassinou meu pai sem dá-lo uma chance de se defender de forma adequada! Agora, trouxe criaturas que parecem ter vindo direto do inferno e que foram responsáveis pela morte de minha única irmã!

Lothar ficou chocado.

— Jamais foi minha intenção tê-la matado!

— Deveria ter pensado bem antes de cometer suas maldades. Nunca imaginou que, depois de tantas vitórias, perderia uma batalha para uma mulher, não é? Saiba que nós somos seres humanos. Assim como meu pai naquela época, hoje você não tem nenhuma chance de sobreviver e pagará por todos os seus pecados!

A primeira flechada foi lançada em seu peito.

Lothar ainda permaneceu de pé, olhando para a ferida aberta em seu corpo e observando o sangue sujar suas vestimentas. Sem forças para falar, levantou uma das mãos para tentar se aproximar da esposa.

Kath recuou e atirou novamente.

Ele se ajoelhou, perdendo o equilíbrio. Em seguida, caiu sobre o chão da varanda e uma poça de sangue se formou abaixo. O líquido vermelho se espalhou pelo chão de madeira.

Ainda insatisfeita, a jovem apanhou a última flecha e a cravou com suas próprias mãos no coração do marido. Com um grito, Katherine se deitou ao lado do homem, sentindo a dor de ter assassinado alguém que tanto amava.

Seu único erro. Havia se apaixonado verdadeiramente por Lothar Wildshade.

Thomas a segurou, colocando-a de pé. Katherine se sentia tonta, com uma mistura de sentimentos que a confundiam. Não sabia se sofria por Evelyn, por Lothar ou pelos filhos que cresceriam sem a presença de um pai. Estava definindo para sempre o futuro e o destino de Cedric e Daevon com aquela atitude.

Afastou-se de todos os pensamentos negativos. Teria tempo o suficiente para eles quando aquele pesadelo acabasse. Seu objetivo ainda não tinha sido cumprido, pois as pessoas que batalhavam lá em baixo não faziam ideia da queda do rei. Após saberem da notícia, não existiriam mais motivos para continuar participando de uma guerra.

— Arremesse o corpo para o pátio que fica logo abaixo daqui. — Kath se virou para Thomas e colocou as mãos sobre seus ombros. — Preciso que os cidadãos estejam cientes do que aconteceu.

...

Utilizando um manto negro, Katherine compareceu à celebração de despedida dos mortos. Homenagem tradicional em Arroway, sempre que uma guerra acontecia e muitos guerreiros eram mortos. Quando a nação vencia, também havia uma comemoração com banquetes especiais no palácio, o que não era aquele caso.

Evitou olhar para o corpo de Evelyn, apenas estando ali para dar adeus à irmã, pois poderia se arrepender eternamente de não tê-lo feito e aproveitado o último momento.

“Descanse em paz...”

Conforme os cidadãos iam embora, Kath também foi. Se esperasse até o fim, seria descoberta por Charlotte e Elliot. Não estava pronta para retornar ao palácio, ainda se sentindo culpada pelo crime cometido. Sabia que, a cada instante em que olharia para o rosto dos filhos, seria lembrada do fim de Lothar Wildshade em suas mãos.

No Rosa Indomável, foi acolhida pelos antigos colegas de trabalho, passando a dormir no cômodo em que Evelyn ficava. As lâmpadas queimaram e Katherine tomou a decisão de passar o restante do dia anterior no cômodo escuro, fazendo os outros prometerem que não revelariam seu paradeiro.

O preto combinava com o luto e com a falta de vontade de continuar vivendo. Katherine abraçou aquela cor e passaria a utilizar muitas vestimentas que a continham.

...

Evitando que Kath tivesse que relembrar todo o ocorrido e se pronunciar a respeito do assunto, Elliot explicou a situação inteira para Charlotte e Hazel. Grata, a mulher apenas sacudiu a cabeça positivamente, ficando cabisbaixa logo em seguida. Foi quando revelou a eles sobre a autoria do crime.

Não tinha ânimo para absolutamente nada, e nem mesmo as presenças de seus dois melhores amigos e de uma amável conselheira foram capazes disso.

Charlotte se sentou ao seu lado, abraçando-a fortemente.

— Cedric e Daevon precisam de você... Seja forte! Estaremos sempre presentes nos momentos mais difíceis, quando for preciso! Não desista de viver!

Ela se emocionou e descansou a cabeça sobre o ombro da princesa, permitindo que mais lágrimas escorressem de seus olhos e molhassem a vestimenta negra que cobria seu corpo. Os cabelos louros estavam bagunçados e despenteados, pois havia perdido a vaidade que mantinha antes.

— Venha conosco para o castelo. — Elliot segurou sua mão, incentivando-a a se levantar e se retirar daquele terrível local. — Será mais seguro! Acompanhará o crescimento de seus filhos e terá a vida que quiser. Devo isso à memória de Gregory e não descansarei enquanto não vê-la bem.

— Nós três tivemos perdas dolorosas... — disse Charlie. — Perdemos Ulrick, Susan e Evelyn... É um sentimento horrível que infelizmente nós três conhecemos e compartilhamos um com o outro. Isso nos ligará para sempre, até o fim de nossas vidas. Nossos corações estão inconsoláveis, mas devemos manter nossa união além dessa guerra.

Ela tinha razão. Os rumos tomados por Charlotte, Katherine e Elliot os uniram a ponto de resistir a todo aquele sofrimento em nome de um mundo mais promissor. Katherine via a dor nos olhos dos três, até mesmo de Hazel, cujo passado ainda permanecia em dúvida para ela. Todos estavam tentando lutar para conseguir reerguê-la.

Elliot afirmou:

— Teremos a implantação de um sistema novo de governo.

— O que será feito? — perguntou, curiosa com o destino do norte após a posse do monarca sulista. — Compreendo que as duas nações serão apenas uma, isso é lógico, mas Arroway permanecerá sendo um centro de representação do continente, com um de seus fiéis aliados? Ou toda a sede se concentrará apenas em Horgeon?

— Isso, minha cara amiga, é algo que depende de sua vontade. — Após dizer isso, Elliot atraiu todos os olhares para si. Aparentemente, não havia sido algo combinado entre eles. — De acordo com os costumes da região sulista, mulheres podem ter a capacidade de governar sozinhas um reino inteiro. Susan teria sido uma destas, caso não formasse comigo uma aliança que a levou ao falecimento... — Ao dizer isso, Elliot respirou fundo, controlando a grande vontade de chorar. — Para que Arroway continue a ser uma sede, alguém precisará ficar aqui. Aceita ocupar esse cargo?

Kath ficou radiante com a proposta. Jamais havia passado por sua cabeça a possibilidade de ser a Grande Monarca de Arroway, pois um homem sempre era o que chefiava o reino e, quando falecia, seus filhos homens ou os maridos de suas filhas tomavam o trono para si. O título de rainha era apenas social, algo que a diferenciava das demais e superiorizava sua imagem. Com as culturas sendo misturadas, seria possível que ela se tornasse a primeira mulher a governar um reino nortenho sozinha.

— Essa não seria a função perfeita para Charlotte? Seria mais digno!

— Não gosto de me envolver em assuntos políticos, preferindo evitá-los o máximo possível. — Charlie confessou, gostando da ideia de Elliot. — Além disso, você era a esposa de meu pai e possui capacidade para continuar o legado dos Wildshade, mudando os olhares do povo e mostrando o início de uma nova era.

Kath não soube o que dizer. Enxugando as lágrimas com a manga do vestido, respondeu a pergunta do rapaz.

— Nesse caso, eu aceito.

...

O mistério sobre o verdadeiro assassino de Lothar Wildshade se manteve em segredo entre os quatro. Ninguém mais, além de Thomas, que havia presenciado e até mesmo participado do crime, saberia do que aconteceu e futuramente a população se esqueceria do fato e apenas se lembraria que as crueldades do antigo rei chegaram ao fim. A decisão de não revelar o crime foi tomada por Kath, que não desejava ser vista de forma negativa por seus filhos tão pequenos e muito menos que estes a odiassem pelo feito.

Caso algum dia os gêmeos ficassem sabendo do fato por outra pessoa que não fosse ela, Katherine deveria voltar a se preocupar, pois os motivos para perderem a confiança na mãe eram muitos. Entretanto, estava disposta a arriscar e procurar a melhor hora para confessar.

Seria a única solução plausível.

...

Um mês depois, quando o período de luto se encerrou e as trajetórias diárias continuaram, foi realizada uma celebração da coroação oficial de Katherine Wildshade como a representante monárquica de Arroway. O povo abandonou as vestimentas negras usadas em luto pelos falecidos em suas famílias e trajava roupas alegres. Algumas simples, outras mais elegantes, dependendo da classe econômica pertencente a cada um. O importante e essencial era que todos comemoravam à sua maneira e membros de todas as classes estavam presentes no evento, que acontecia na Sala do Trono.

Um local gigante cuja arquitetura era extremamente firme e bonita, com pilastras brancas que sustentavam o pesado teto abobadado, onde estava esculpida uma visão maravilhosa do paraíso no mundo pós-morte. Animais corriam de um lado para outro em cenários verdes e coloridos, junto de crianças sorridentes e animadas. Famílias felizes viviam diante de belíssimas e aparentemente intermináveis paisagens naturais.

Em contraste a isso, as janelas de vidro tinham figuras sérias de guerreiros importantes na história de Hastryn, com suas armaduras brilhantes e espadas longas erguidas no nome da pátria em que lutavam. Em uma parede extensa, foram penduradas quatro pinturas com cada um dos deuses da natureza e seus determinados elementos.

Quando Katherine adentrou o salão, toda a atenção foi direcionada para si. Pessoas que conversavam subitamente ficaram em silêncio, obrigando as outras a também ficarem para presenciar a beleza da nova rainha. Ela havia abandonado as roupas pretas especialmente para aquele dia, decidindo colocar um de seus vestidos vermelhos elegantes, com mangas que desciam até os braços. Os cabelos louros foram escovados por Charlotte e as damas de companhia e caíam em cachos por suas costas até um pouco abaixo da cintura. Os olhos verdes brilhavam de emoção, encantando aos convidados.

A jovem atravessou o tapete extenso, sorrindo ao encontrar os pequeninos filhos ao lado da irmã, que por sua vez era acompanhada por Hazel e Diana. A princesa também estava linda, com os cabelos louros quase brancos presos em uma trança longa e um vestido bege semelhante ao de Kath, porém mais simples.

Elliot se encontrava próximo ao trono, com uma vestimenta renovada e esculpida especialmente para ocasiões como aquela. Os cabelos castanhos foram cortados e a barba, aparada. O rei de Horgeon tinha uma coroa dourada em mãos.

— Caros cidadãos da sede do norte, — Sua voz firme atraiu os olhares de todos. Katherine se impressionava com a maneira utilizada pelo amigo para se impor diante do povo. — estamos aqui para oficializar o início de um reinado diferente. Teremos a nossa primeira rainha independente da existência de um marido ou de um filho para controlar o reino. Tenho a honra de chamar Katherine Wildshade.

A mulher andava em pequenos passos, com medo de que o nervosismo a tirasse o equilíbrio na frente da população inteira. Quando chegou perto o suficiente, ficou ajoelhada, permitindo que Elliot colocasse o objeto sobre sua cabeça.

Ele tornou a falar.

— Gostaria de dizer algumas palavras?

Kath assentiu, ficando de pé. Ficou exatamente no centro da parte mais alta do salão, de frente para o trono de pedra em que vários monarcas masculinos se sentaram em gerações anteriores. Sentia-se muito honrada em ser a primeira a realizar aquela conquista.

— Meu povo, no que depender de minhas ações, garanto um reino promissor nos próximos anos. Durante o período em que fui rainha ao lado de meu falecido marido, não tive muitas oportunidades de trazer melhorias às suas vidas, mas consegui que fosse feita a construção de lares para pessoas sem condições de ter uma moradia própria e uma melhor estrutura para nossas alas hospitalares e orfanatos. Quero que saibam que tenho o desejo de cuidar de meu povo e protegê-lo com unhas e garras! Reconstruiremos nossa cidade e iniciaremos uma nova fase!

O salão inteiro foi tomado por aplausos e gritos. Pessoas berravam seu nome, batendo palmas e até mesmo fazendo danças estranhas, demonstrando uma grande admiração. Katherine estava impressionada com aquela cena, refletindo rapidamente sobre como havia crescido em tão pouco tempo.

Fora uma cidadã pobre, cujo pai tinha um sonho de vê-la em uma posição maior, sem passar fome e com um bom marido que a amasse. Fora uma prostituta, obrigada a vender o corpo para não ser expulsa da casa em que fora hospedada. Fora uma rainha, que participou de conspirações para matar seu próprio marido.

E agora seria uma líder. Uma verdadeira rosa indomável.

Lamentava o fato de Gregory não estar vivo. Estava extremamente grata por ter sido criada por alguém como seu pai. Muitos não possuíam nem mesmo a oportunidade de conhecer um e o dela era um herói. Pensando no homem, ficou entristecida, mas não a ponto de deixar que percebessem seus sentimentos.

Caminhou até o trono e se sentou um pouco, pois mais tarde daria continuidade à alegre festa.

...

Foram para outro salão, onde se encontravam mesas repletas de pratos e bandejas com os mais variados alimentos da cultura hastryniana, junto das bebidas mais ingeridas pela maioria dos cidadãos, como água, vinho ou sucos de diversas frutas frescas retiradas das melhores árvores de Arroway.

Era comida suficiente para abastecer o estômago de qualquer um que ali estivesse presente. As refeições eram compostas de grandes quantidades de pavões, frangos, galinhas, peixes, perus e carnes de porco, além de vegetais e dos doces que mais tarde seriam servidos como sobremesas especiais.

Katherine, Charlotte, Elliot, Hazel, Cedric, Daevon, Richard e Elizabeth se sentaram diante da mesa real, que ficava na frente de todas as demais. Famílias se espalhavam pelos acentos, algumas bem unidas e outras separadas em largas distâncias.

— Fico feliz por terem feito essa escolha, — disse a rainha, ao ouvir o comunicado da viagem de Charlotte e Hazel para Horgeon. — mas ficarei sozinha em Arroway. Precisarei fazer novos amigos.

— Thomas e Diana continuarão aqui. — A princesa afirmou, com uma piscadinha no olho direito. Charlotte era sempre doce, o que cativava aos mais próximos e os trazia boas sensações. A princesa permitiu que Elliot a abraçasse, beijando seu rosto e esboçando um sorriso alegre. — Dias melhores finalmente virão em nossas vidas. Jurei que morreria sem ver uma luz no fim do abismo.

— Tudo o que posso desejar é que sejam muito felizes e tenham uma família repleta de filhos e crianças espalhadas pelo palácio do sul. É prazerosa a sensação de segurar o primeiro bebê no colo. — Somente depois de falar, Kath percebeu a gravidade do que dissera na frente da enteada e se calou. Afinal, Charlie tivera problemas de gravidez. — Desculpe-me.

— Está tudo bem... Não foi por mal! — Charlotte se virou para o companheiro. — Organizaremos nosso casamento assim que chegarmos à cidade, pois não podemos perder tempo. Além disso, as crianças terão seus próprios quartos no palácio.

Richard e Elizabeth estavam numa parte mais distante da mesa, distraídos em conversas com os gêmeos. Aquilo era um alívio tanto para Charlotte quanto para Katherine, que ainda sentia calafrios ao temer ser descoberta futuramente.

— Minha filhinha finalmente terá sua chance de viver bem... — Hazel pensou alto, com um sorriso simpático. Era uma mulher adorável, uma espécie de conselheira para Kath, mesmo que inicialmente não confiassem totalmente uma na outra. — E será uma das rainhas de Hastryn. Conseguem imaginar a hipótese de os três terem livros escritos sobre suas histórias e trajetórias? Podem até mesmo se tornar lendas!

— Isso seria bem interessante. — Ela respondeu, sentindo uma sensação de calma que não a pertencia há bastante tempo. Os dias realmente se tornavam melhores, final. — Desde que os livros possuíssem conteúdos verdadeiros e se distanciassem das mentiras ditas por alguns escritores.

— Sem dúvidas.

Elliot entrou no assunto.

— Nessa história, não poderia faltar a existência do Poço dos Desejos. Afinal, foi um dos pontos principais e mais importantes que nos levaram até os dias de hoje. A magia existente na fé que tivemos depositada nas moedinhas nos trouxe até a posição em que ocupamos. Os deuses souberam ser generosos.

O casal estava de mãos dadas e se olhava de uma forma que Katherine nunca havia visto antes. O amor de Charlotte e Elliot vinha se desenvolvendo aos poucos, em um tempo certo que dizia respeito apenas aos dois. Acreditavam ser a hora ideal para iniciarem uma vida de casados, e a rainha os apoiaria com imenso carinho.

Além dos soldados sulistas, que retornariam a seu lar, outros foram reunidos para escoltar Katherine e seus filhos gêmeos até o centro governamental de Hastryn do Sul: a cidade de Horgeon. A monarca se sentia extremamente bem ao ver a felicidade de alguém que sofreu tanto por toda sua vida. Charlotte merecia qualquer forma de felicidade que pudesse obter.

Katherine tinha certeza disto. Estava ansiosa pelo casamento da amiga.


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Notas finais do capítulo

Esse foi o último capítulo oficial. O próximo será o epílogo :)



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