Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 46
O Aposento Escuro


Notas iniciais do capítulo

Antepenúltimo capítulo, gente!
Não consigo acreditar que chegamos até aqui *---*



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Elliot

— Vá, meu filho. — Aubrey Trannyth se despedia do filho com um beijo em sua testa. Estava com um avental e preparando as refeições do almoço, parando um pouco para dar atenção a ele. — Tenha um bom estudo e depois me conte o que foi ensinado nas aulas de hoje!

— Pode deixar, mamãe!

Elliot desceu o pequeno degrau de madeira e andou um pouco pela rua extensa que existia no arraial e dividia dois lados, onde casas se situavam umas coladas às outras. Naquela época, quando era mais novo, andava com as gêmeas Evelyn e Katherine e vivia frequentando a humilde moradia dos Muirden, onde era recebido com um imenso carinho. Era também o melhor amigo das duas, assim como Gregory e Thorfin.

O pai das meninas o cumprimentou com um forte aperto nas mãos.

— Olá, garotão! — Ele se ajoelhou, ficando com o rosto de frente para o dele. Um homem ao mesmo tempo atencioso e brincalhão, sabendo ser sério nas horas mais importantes. Esse jeito chamava a atenção das crianças dali, provocando sentimentos negativos vindo de seus respectivos pais. — Como está? Ansioso para aprender mais coisas? 

— Sim!! — Era um pouco tímido, mas gostava bastante daquele ambiente. Era mais calmo, ao contrário de muitas outras casas nas quais pessoas discutiam o tempo todo e deixavam de viver. — O que teremos hoje?

— Não seja apressado! — Greg riu e levou a mão aos seus cabelos, bagunçando-os por completo. Em seguida, permitiu seu acesso à pequenina sala. — Em breve saberá. Fique esperando aqui, enquanto vou chamá-las para nos reunirmos.

Alguns livros eram tirados da biblioteca de Arroway para serem jogados fora, podendo ser considerados proibidos ou até mesmo serem criadas novas edições, que faziam com que as mais antigas fossem retiradas de lá, já que não havia espaço para tudo. Aproveitando-se disso, Gregory apanhava alguns destes para si.

— Elliot! — gritou Katherine, caminhando até ele e o recebendo com um abraço amigável. Evelyn fez o mesmo e as duas o cercaram, parecendo não terem-no visto há tempos. — Vamos para a mesa!

Gregory se sentou de frente para os três, lendo versos dos mais variados livros. Livros de poesias, livros de histórias, livros de contos infantis e adultos. Faziam exercícios de escrita e vocabulário, pois o jovem aprendera a escrever através de um amigo da corte que o auxiliara. Fez com que as filhas se tornassem pessoas cultas e dotadas de interesse pela leitura. Elliot recebeu um convite para estudar junto com as amigas e aceitou na mesma hora.

Quando escreviam em pergaminhos e treinavam suas respectivas caligrafias, Elliot percebeu a diferença da letra de cada uma das gêmeas e reparou um sinal preto na mão direita de Evelyn.

— Você tem uma pinta... — disse, sem ter a mínima noção do efeito que aquelas palavras poderiam ou não causar. A garota riu e continuou a escrever, mas não deixou de respondê-lo.

— Sim, e é provavelmente a única coisa que é capaz de nos diferenciar uma da outra. Nossos olhos são iguais, os cabelos também. Até mesmo a voz e o jeito de andar!

— Muitos nos confundem quando estamos passando pelas ruas, trocando nossos nomes ou simplesmente se esquecendo destes. Como você nunca fez isso? Não me recordo de ter acontecido alguma confusão sua.

— Também não me lembro. — Elliot riu, concluindo a escrita da frase. As três penas e o tinteiro foram compradas por Gregory com muito suor, portanto, o garoto utilizava o mínimo possível para evitar gastos maiores. — Mas consigo enxergar diferenças em vocês duas. Na personalidade, talvez.

Elliot não sabia que o sinal na mão de Evelyn faria uma grande diferença em eventos posteriores. E não esperava que fosse se lembrar disso em um momento tão horrendo e destruidor em Hastryn.

...

— Isso não levará a nada! — Charlotte se opôs a ele, impedindo-o de sacar a espada e cravá-la na barriga do prostituto situado à sua frente. — Por favor, que não haja mais derramamento de sangue! Esse garoto deve ter feito algum juramento e está cumprindo o que foi prometido. Nem mesmo a ameaça de morte foi capaz de fazê-lo revelar o que queremos!

— Nesse caso, terei que tomar uma medida mais radical. Qualquer um que ousar me impedir de fazer o que desejo arriscará a vida de outras pessoas, além de si próprio. Tenho guardas lá em baixo em quantidade o suficiente para massacrar os habitantes daqui. — dito isso, olhou com raiva para o desobediente. — Está entendido?

O rapaz se encolheu no assento em que estava, preferindo continuar calado ao invés de colocar a vida em perigo falando algo que pudesse ser ofensivo aos ouvidos do novo rei. 

— Charlotte e Hazel, necessito da ajuda de vocês. Vasculhem o primeiro andar da casa. — Ele respirava fundo, pronto para começar com o que estava planejando desde que pisara ali. — Cômodo por cômodo, sem hesitar!

As duas se levantaram e o seguiram, iniciando pelo primeiro piso. O banheiro estava vazio, assim como as duas salas de embelezamento, onde havia perucas, vestidos de festa, maquiagens e outros acessórios e objetos relacionados às apresentações do bordel.

— Não há nada aqui. — disse Charlie, ainda sem compreender o que estava acontecendo. — Me explique o motivo de estarmos fazendo isso. Acredita que Evelyn está aqui dentro?

— É o que descobriremos.

Subiram os degraus brancos da escadaria que interligava os dois primeiros pisos, chegando a um corredor extenso com inúmeras portas. Sendo obrigados a invadir a privacidade das pessoas que ali estavam, abriram uma por uma, encontrando várias prostitutas em momentos íntimos. Uma delas estava seminua e se trocando para descer e tomar o desjejum. Outra atendia um cliente que havia chegado ao bordel na noite anterior.

Elliot encostou-se à parede e olhou para cima, bufando de raiva.

— Tenha calma. — Hazel se aproximou e colocou a mão direita sobre seu ombro. — Sei que é difícil estar neste lugar, mas resista ao que seus olhos veem e vamos continuar com isso. Quanto mais rápido formos, mais cedo acabaremos.

— A senhora tem razão... — Ele sentia vontade de vomitar, desejando ir embora dali naquele momento, mas precisaria ficar até que Evelyn fosse achada. — Fico tão mal em saber que minhas amigas de infância vieram parar aqui. Por que a vida é tão injusta com pessoas que são bondosas?

— É uma pergunta interessante. Talvez por ser uma maneira de elas provarem que são mesmo bondosas em situações difíceis. Quantos, ao se verem obrigados a sobreviver, praticam crimes ou outras atitudes perversas?

Após alguns minutos de silêncio, Charlotte ficou de frente para o jovem e, com um baixo e doce tom de voz, perguntou:

— Vamos?

Nada de diferente nos aposentos restantes. A cada vez que arrombavam um cômodo e não viam nenhum sinal da gêmea perdida, Elliot ficava mais desmotivado.

— Ainda falta o principal. — Charlotte disse, relembrando algumas palavras ditas por Katherine em uma conversa com a madrasta. — Aquele em que a proprietária do estabelecimento dorme, pois é o maior de todos e com um espaço amplo para guardar seus pertences. É o cômodo em que Evelyn passou a ter para si quando se tornou a nova comandante do Rosa Indomável.

...

Diante dos cadáveres reunidos para a homenagem aos amados falecidos, Elliot lamentava desesperadamente a morte de Susan. Havia insistido para que a jovem não viesse para a guerra e ficasse em Horgeon, comandando a cidade e longe do perigo, mas isso não era de sua vontade. Elliot não poderia obrigá-la, como muitos maridos faziam quando discutiam com suas esposas.

Entretanto, se houvesse feito isso, Susan poderia estar viva.

O ódio que Elliot sentira por Lothar era tão forte a ponto de querer matá-lo e jogá-lo de uma torre. Quando viu a jovem ser atacada pelo monstro que o rei soltara, imediatamente se dirigiu ao castelo para procurar o covarde que tinha se escondido e matá-lo com as suas próprias mãos. Não conseguiu encontrá-lo a tempo, sabendo que outra pessoa o havia feito. Gritos o fizeram correr para fora e encontrar o corpo.

O assassino ainda era um mistério. Elliot tinha medo descobrir a sua identidade. Charlotte e Hazel seriam capazes de assassinar alguém? Elliot achava que não. Suas suspeitas inteiras se direcionavam à Evelyn, que até então estava desaparecida e não havia comparecido ao enterro da própria irmã. Por que motivo Evelyn não viria? Ela poderia ter sido uma das vítimas do ataque das serpes, mas o jovem sentia que isso não havia acontecido.

Antes de queimar os mortos, descobriu algo que o deixou chocado. Assim que olhou para as duas metades juntas do corpo de Katherine atacado pela serpe, reparou em um sinal preto presente em uma de suas mãos. De olhos arregalados, engoliu em seco e manteve seus pensamentos em silêncio. Preferiu aguardar até que tivesse certeza de que aquilo realmente havia acontecido.

Charlotte percebeu sua mudança de reação.

— Aconteceu algo?

— Apenas pensava sobre Evelyn. Ela tinha de estar aqui para se despedir de sua irmã mais nova. Estou preocupado com o que pode ter acontecido para não ter vindo. Agora que terei controle sobre esta cidade, poderei abrigá-la e fornecer a ela uma condição favorável. Será uma forma de agradecimento a Gregory e aos anos de amizade que mantive com as gêmeas.

Charlotte segurou sua mão e a de Hazel ao mesmo tempo.

— Iremos achá-la juntos.

...

A porta do aposento principal estava trancada mais do que as outras. Havia algo de segurança no lado de dentro que os impedia de entrar e descobrir quem ali estava. Elliot se esforçou para arrombar a porta, mas não conseguiu de primeira.

— Tenho quase certeza de que encontraremos o que queremos.

— Elliot...

— Sim? — Ele se virou para a princesa ao ouvir seu nome.

— E se Evelyn não quiser aceitar nossa oferta? Recordo-me que Katherine tentou cedê-la uma moradia maior e com condições melhores, mas a irmã recusou.

— Conhecendo ela, certamente estava com medo de que Kath fosse punida por ter feito isso ou não queria depender de alguém como o rei. Mesmo que a rainha insistisse que nada aconteceria, Evelyn não aceitaria.

Utilizando toda a força e brutalidade que poderia existir dentro de si, Elliot mais uma vez chutou a porta. Dessa vez, esta pendeu para o lado de dentro e um buraco se abriu. Com auxílio de Charlotte e Hazel, tirou o excesso de madeira e os três se abaixaram para atravessar a passagem.

O interior do cômodo estava completamente escuro, com as janelas sendo cobertas por cortinas pretas e abajures apagados. Um silêncio aterrorizante preenchia o local, mas Elliot sabia que alguém estava ali dentro. Quando tentou acender as luzes, percebeu que as lâmpadas tinham queimado e precisavam ser trocadas.

Um verdadeiro cenário de terror.

Sobre a cama, havia alguém de costas. Utilizava um manto preto que cobria todo seu corpo e impedia que fosse reconhecível. Elliot se aproximou com delicadeza, tocando nas costas da mulher e a fazendo se virar para eles.

Ele se ajoelhou e disse:

— Viemos tirá-la daqui, Katherine.


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Notas finais do capítulo

AAAAA GENTE EU TÔ SURTANDO TANTO QUANTO VCS (TENHO CERTEZA).
O que acharam? Como imaginam os dois próximos capítulos?
QUERO SABER TUDINHOOO



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