Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 38
As Serpes


Notas iniciais do capítulo

Tenho uma coisa a pedir antes de iniciarem a leitura: Peguem um copo de água e respirem fundo, porque a coisa vai ser intensa!



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Lothar

Quando já se encontrava longe o suficiente das movimentações na cidade, parou o cavalo e se escondeu atrás das moradias vazias, olhando atentamente para o campo de guerra. Cidadãos se envolviam em um intenso combate, no qual era impossível saber quem sairia vivo ou morto. Os sulistas estavam em maior número, tendo chances maiores de obter vitória, o que era desagradável para todos os habitantes das terras nortenhas.

Os pesadelos do rei estavam se tornando realidade. Desde pequeno, tinha medo de que os Prince tirassem de seu pai o trono e, com isso, destruíssem tudo o que pertencia aos Wildshade. Aos poucos, aprendeu a odiá-los, mas ainda acreditava na existência dos deuses e zelava pelas almas honradas dos adversários de guerra.

Entretanto, seu pensamento se tornou diferente com o passar dos anos. Temia pela morte de si mesmo e de seus guerreiros, pois Elliot viria diretamente atrás dele para encerrar pessoalmente o conflito e roubar sua nação. Para impedir isso, Lothar precisava utilizar de todas as armas possíveis.

Ofegante, lutava para permanecer de pé, indo contra o desejo de se deitar sobre o chão e descansar. Após três minutos, continuou sem relutar a trajetória em direção ao único trunfo que ainda tinha em mãos. Conforme o animal se locomovia, respirava fundo para não desmaiar e não perder o equilíbrio.

A Floresta Negra de Arroway ficava localizada em um terreno mais distante do local no qual estava acontecendo a guerra que definiria para sempre o destino dos hastrynianos. Para chegar lá, Lothar atravessou casas destruídas, áreas incendiadas e construções intocadas, devido ao fato de que os sulistas ainda não haviam passado por ali. As matas escuras ficavam atrás dos bosques abertos, onde o acesso era permitido para qualquer cidadão que quisesse colher frutos ou apenas passear pelos espaços arborizados e belos.

Cercas altas feitas com a utilização de arame farpado e placas de madeira indicavam o fim das áreas livres, decretando que ninguém sem permissão deveria atravessar aquele limite. Uma ordem imposta pelo próprio rei, com o intuito de impedir que o mal ali de dentro se proliferasse por Arroway e afetasse a vida de todos.

Cruzando as cercas, Lothar sabia que poderia não sair vivo dali.

...

Reuniu-se com Ulrick, o único em quem confiava a ponto de compartilhar tal pensamento que o torturava por dentro. A misteriosa cigana, que o rei nunca tinha visto antes, o alertara sobre o início de uma guerra na frente de todos os presentes no salão. Fazendo pouco caso do que fora dito, Lothar ordenou que a prendessem, mas suas palavras ecoavam em sua mente desde então.

— Está me dizendo que a louca previu outra guerra entre Arroway e Horgeon? — Ulrick tentava compreender, reunindo mentalmente os fatos ditos pelo amigo. — E, com isso, o senhor acredita que a visão pode estar correta e haja a possibilidade de ocorrer mortes em massa?

Lothar assentiu.

— Sendo assim, devemos nos cuidar antecipadamente, garantindo que nossos exércitos sejam capazes de combater as nações inimigas. A hipótese de perdermos é inadmissível!

— Tenho uma proposta melhor.

Ulrick aguardou em silêncio até que o rei a revelasse. Lothar, após encher uma taça de vinho e ingerir todo o líquido de uma só vez, tornou a falar.

— Faremos uma viagem perigosa, mas necessária. Iremos até as Montanhas Assombradas, onde capturaremos duas criaturas fortes o suficiente para massacrar uma população inteira quando famintas. Através de estudos sobre quais monstros seriam ideais para nossa missão, cheguei a uma conclusão.

Lothar caminhou até uma estante de madeira que se situava em um canto sem iluminação do escritório. Não havia muitos livros ali, apenas os necessários para a realização de seus objetivos. Lothar detestava as histórias lendárias, pois o faziam se lembrar de um passado triste e doloroso, portanto, se livrou de todos os que eram desse tipo.

Colocando o exemplar sobre a mesa circular vazia, folheou suas páginas à procura da fera na qual se referia. Ao finalmente encontrá-la, posicionou o livro aberto e colocou o tinteiro sobre a página escolhida, para que esta não passasse e facilitasse a leitura atenta de Ulrick.

— Serpes...

— Criaturas que devoram a qualquer um de forma descontrolada, principalmente quando há muitas pessoas que possam saciar sua fome. Normalmente possuem um ótimo olfato movido a sangue, o que não faltaria na guerra. Os filhotes de serpe não podem ser domesticados, mas controlados sim, pois ainda não terão adquirido a força dos adultos, mesmo que tenham grande porte em questão de meses.

Ulrick leu os artigos duas vezes. Quando terminou a segunda, fechou o livro e continuou olhando para a superfície vazia da mesa. Lothar compreendeu de imediato aquela sensação, pois se identificava com ela. O medo de não sobreviver à viagem.

— Teremos problemas para passar pelas mães sem sermos atacados. Porém, quando os dois estiverem capturados, voltaremos a Arroway e os aprisionaremos em locais em que não podem ser vistos. Contornaremos o caminho pela entrada que poucos conhecem. Assim, não teremos o risco de descobrirem nossa estratégia.

— E se não der certo?!

— Dará certo, homem! Deixe de ser pessimista! — Lothar cerrou os punhos e socou a mesa, assustando o amigo. Em seguida, percebeu o erro que havia cometido e seu tom de voz tornou a ficar calmo. — Apenas confie na palavra de Lothar Wildshade.

...

Após tirarem a vida da serpe mãe, Lothar e Ulrick descobriram ferimentos em seus corpos. O conselheiro não fora afetado diretamente, mas as garras da fera atacaram o rosto do rei e a cauda abriu ferimentos venenosos em seu braço direto. Veneno cujo antídoto existia, mas apenas em Arroway. Portanto, nenhum dos dois desistiu da pesada atividade que lhes foi destinada a ser feita.

Levaram correntes até as Montanhas Assombradas, feitas com materiais especiais para prender os pescoços dos dois filhotes. Durante o caminho, precisariam matar algumas pessoas desconhecidas, para que suas carnes servissem de alimentos às serpes, motivando-as a continuarem o trajeto.

Entretanto, quando estavam próximos de Arroway, Lothar não aguentou e caiu desacordado nas matas. Ulrick pensou rápido e prendeu os répteis em um lugar seguro, cuidando do amigo, aguardando até que acordasse.

No instante em que despertou, o homem arregalou os olhos. A dor era insuportável e agoniante. Lothar berrava de desespero, sentindo como se a morte estivesse próxima.

— Temos que ser mais rápidos. Não temos notícias há um tempo, estando sem saber se aconteceu algo de perigoso com nossa nação. — Não se importava com a saúde e sobrevivência dos habitantes, mas perderia seu trono caso seus aliados fossem atingidos pelas tropas inimigas. — Além disso, preciso tomar antídotos. Irei pela parte da frente de Arroway, pedindo socorro para os enfermeiros. Enquanto isso, conduza esses demônios até a Floresta Negra e os prenda nas construções em ruínas. Saberá de qual local estou falando assim que pisar naquelas matas e ir pelo sentido leste. Tome cuidado!

...

A Floresta Negra recebera esse nome devido aos monstros terríveis encontrados em suas terras. Criaturas difíceis de serem combatidas que representavam uma ameaça ao povo. Além disso, suas matas eram escuras, com árvores altas o suficiente para dificultar a iluminação, de modo que poucos raios solares encontrassem brechas.

Um dos terríveis seres encontrados ali era o monstro do fosso, usado para a punição de criminosos muitíssimo antes da criação da Praça da Execução, a parte do castelo favorita de Lothar. Nos dias atuais, o monstro permaneceu esquecido e sem ser alimentado. Lothar não compreendia como poderia estar vivo após tantos anos de fome.

O cavalo seguiu pelas trilhas até as grandes e antigas construções, onde os Wildshade ficavam quando desejavam se afastar de seu povo. Desde que o acesso foi proibido, a casa foi abandonada por seus proprietários e aos poucos foi ficando como estava naquele momento.

Lothar conseguia ouvir os gritos das feras ao sentirem aproximações. Desceu da montaria e a levou até um cômodo pequeno, decidindo escondê-la e amarrá-la em uma fenda na parede destruída, decidido a ir andando até as serpes e libertá-las.

Estavam na parte aberta da casa, presas e desesperadas para serem soltas, provavelmente sentindo os cheiros de sangue e morte vindos da cidade. Tinham crescido absurdamente, estando um pouco menores do que a mãe, mas grandes o suficiente para massacrar os sulistas de forma rápida. As asas eram semelhantes às dos morcegos, mas com tamanho incomparável. A cauda era extremamente farpada e os monstros tinham presas pontudas dotadas de venenos fortes, além das rajadas fortes do fogo que se espalharia rapidamente pelos corpos dos inimigos. Possuíam apenas duas patas.

Antes de deixar o campo de batalha, Lothar caminhou até um guerreiro morto e apanhou seu machado. A lâmina era resistente o bastante para quebrar qualquer corrente, podendo ser usada para soltar os animais. Seus olhos brilharam ao encontrá-las outra vez, sentindo a chama da esperança se reacender em seu coração. Existiam chances de vencer aquela guerra e de tomar o trono de Horgeon para si, expandindo o legado de sua família e criando um mundo melhor para os filhos, que seriam os futuros governantes.

Lothar quebrou as correntes por trás, longe do campo de visão das serpes. Antes que percebessem que foram libertadas, deu a volta e se escondeu em uma parte subterrânea aberta abaixo de sua casa, provavelmente feita por Ulrick para escapar dos ataques chamejantes e furiosos.

O rei as ouviu gritar à procura de carne por longos minutos que demoravam a passar, porém, estas se cansaram e decidiram seguir o faro direcionado aos guerreiros. Era possível escutar o bater de suas asas ficando cada vez mais baixo, enquanto iam em direção ao local da guerra, onde a nação inimiga jamais esperaria por algo como aquilo.

Quando tudo se silenciou, Lothar Wildshade se retirou do buraco e retornou até onde o cavalo estava, aliviado ao descobrir que as feras não o devoraram. Arrepiado, se sentou sobre o chão e o obrigou a fazer o mesmo, descansando a cabeça em seu corpo, até que suas energias se recuperassem.

Lothar tinha a certeza de que todos seriam mortos, inclusive seus aliados. Entretanto, isso não faria a mínima diferença, visto que ambos os monarcas do sul seriam extintos pelo terrível fogo que queimaria seus ossos. Era o mais importante a ser feito. Pensando nessa hipótese, ria por dentro, comemorando sua ascensão mais uma vez.

Recordou-se do passado, quando cravou um machado nas costas de Hector Prince, tirando a vida do rei do sul. Mesmo que houvesse acontecido por muito tempo, seriam inesquecíveis as lembranças daquele dia. Principalmente do momento em que se virou para os guerreiros inimigos, chocados com o falecimento do monarca, e disse as mesmas palavras que repetiria ali, anos depois, em mais uma guerra.

— Vitória para o norte!

Entretanto, lembrou-se de algo que o fez parar e repensar sobre absolutamente tudo o que havia feito naquele momento. Quando percebeu a atitude horrenda que cometeu e as consequências que poderiam vir, foi tomado por um súbito arrependimento e uma culpa extremamente grande.

Katherine ainda poderia estar fora do castelo.


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Notas finais do capítulo

Eu disse!
Não vejo a hora de saber a reação de vocês!



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