Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 32
Revolta


Notas iniciais do capítulo

Volteei! Prometi que não abandonaria vocês ♥



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Charlotte

As aves-correio eram extremamente ágeis e enviavam recados e bilhetes em poucos dias. Quatro semanas depois de terem escrito a carta, não receberam nenhuma resposta. Nem Katherine e muito menos Charlotte. Ambas entraram em um acordo, concluindo que existiam duas hipóteses que explicavam isso e somente uma delas poderia ser verídica. Na primeira, Wolfric tinha desistido de seus planos, o que era do feitio do Elliot que conheciam. Na outra, estava esperando um momento mais oportuno para retomar o contato.

Despertando de madrugada ao ouvir uma doce melodia, Charlotte deixou o aposento e foi até a sala de estar, local onde pensava ser a origem do som. Estava enganada, descobrindo que vinha do lado de fora da casa. Curiosa, espiou pela janela, mas não encontrou ninguém.

Em silêncio, andando na ponta dos pés, abriu a porta dos fundos e foi até o jardim escuro. A música se tornava cada vez mais alta, o que indicava o caminho certo.

Quando encontrou a fonte do som, ficou surpresa. Permaneceu escondida ao saber que, ao invés de estar dormindo em seu quarto, Elizabeth se encontrava sentada sobre um dos muros pertencentes à varanda um pouco distante dos quartos e das salas. Tocava flauta distraidamente.

A criança reparou em sua presença e interrompeu a música.

— Charlie, me desculpa! Não queria atrapalhar o seu sono!

— O som não estava alto para quem estava lá em cima. — Charlotte se aproximou da enteada e sentou ao seu lado. — Eu que não consegui dormir bem. Percebo que está melhorando bastante.

—Achei que devesse treinar mais...

Lizzie era muito insegura, precisando que alguém a elogiasse constantemente para ter a certeza de que nada de errado acontecia a ela. Gostava quando seus parentes faziam comentários bons sobre suas práticas musicais e se sentiam orgulhosos, pois isso servia como motivação.

— Treinamentos sempre devem ser feitos, mesmo quando for a melhor artista musical de Arroway. E, acredite, você tem potencial para conseguir isso.

— Espero que esse dia chegue rápido... — Ela riu, deitando sobre o colo da madrasta. Charlotte acariciou seus cabelos cacheados. Uma menina tão bonita e tão doce, impossível de não se apegar.

— Chegará. Nunca deixe de fazer o que a diverte, mesmo que exista a possibilidade de pessoas julgarem ou criticarem. O que importa é o prazer que sente naquilo.

Pensando em suas próprias palavras, Charlie tomou uma decisão. Pediu que Elizabeth fosse dormir, pois teria pouco tempo até o amanhecer e não seria certo trocar o dia pela noite. Voltou a se deitar ao lado do marido, aguardando até que o homem levantasse para sair durante a manhã.

Antes que Ulrick saísse do quarto, ela se levantou e o segurou delicadamente pelo braço, fazendo um gesto para que se sentasse sobre o colchão.

— Bom dia. — A jovem beijou o rosto do marido. — Antes que desça, gostaria de conversar um pouco. Seu apoio é necessário para que eu faça o que quero.

— Sobre o que está falando?

— Sinto vontade em retornar a trabalhar nas enfermarias. Fiquei muito tempo longe, mas consigo recuperar a experiência através das práticas. Também ficarei ciente dos antídotos criados nesses últimos anos e nos que ainda serão. Mas, isso depende de sua autorização.

Ulrick parou para cogitar a ideia. Longos minutos que aparentavam ser intermináveis se passaram e o silêncio finalmente foi quebrado pelo homem.

— Está permitida.

...

Após tomar um delicioso banho em águas perfumadas, Charlotte escolheu o melhor de seus vestidos para a ocasião. A parte superior do vestido era branca e as saias, verdes. Sobre a roupa, foi colocado um avental marrom com espaços para que fossem guardados os antídotos que curavam feridas e doenças. Prendeu os fios de cabelo longos e louros em uma trança, para que os fortes ventos não os jogassem para os lados.

As enfermarias se situavam fora do castelo, mas não muito longe. Era acessível por caminhadas, cujo trajeto consistia em descer uma pequena colina e subir uma rampa feita de pedra. Mudaram de lugar para que a construção crescesse e os pacientes tivessem um atendimento mais adequado.

Charlie foi deixada próxima à rampa. Agradeceu ao cocheiro, pedindo para que permanecesse à sua disposição na entrada do castelo. Tomada por uma grande ansiedade que não sentia desde que parou de trabalhar com medicina, subiu em pequenos passos, temendo a reação dos funcionários quando a vissem.

Como a porta estava aberta, preferiu não interromper o trabalho dos outros ao pedir para entrar. Empurrou-a até que conseguisse passar e a encostou. Dentro do ambiente, encontrou inúmeras camas repletas de pacientes adormecidos ou sendo atendidos pelos médicos. No último inverno, alguns cidadãos ficaram gravemente doentes e precisaram ser levados até ali com urgência. Diana assumiu seu posto provisoriamente, consciente de que um dia a princesa poderia voltar a chefiá-los.

— Sua Alteza! — exclamou Diana, o que chamou a atenção de todos. Estes, quando a viram, pararam o que estavam fazendo e realizaram uma reverência em respeito a ela. — A que devo a honra de encontrá-la aqui pela manhã?

— Tenho uma notícia a vocês... Nesta mesma semana, retomarei a profissão e estaremos trabalhando juntos novamente! Estou pronta para recuperar o tempo perdido!

Tornava-se outra pessoa ao cruzar as portas das enfermarias, pois deixava para trás os pensamentos depressivos e tristonhos, tentando trazer um pouco de esperança e alegria aos corações dos pacientes.

— Você está mesmo aqui. — Diana se aproximou e segurou suas mãos, tendo dificuldades para acreditar. — Finalmente apareceu. Por que sumiu e pediu que não a visitassem?

— Isso não é assunto para hoje, por favor. — Charlotte andou pelos centro do quarto imenso, se dirigindo até o grande armário onde os livros estavam guardados. — Temos novos medicamentos preparados?

— Sim, observe estes. — Ela a seguiu, retirando um exemplar criado recentemente, com novos ingredientes descobertos em áreas fora de Arroway. — Encontramos ervas capazes de curar feridas mais profundas, quase mortais.

— Isso é bem interessante! — exclamou, se sentando sobre um banco para folhear os registros e anotações de cada erva. — Alianora. Seria essa?

— Sim. De acordo com os habitantes da região, próxima de Siedronus, recebeu esse nome em homenagem a uma mulher que habitava na região antigamente.

— Excelente! Temos que criar antídotos mais potentes contra envenenamentos também. Nunca saberemos se algum traíra estará entre nós e tentará começar uma nova guerra.

A verdade é que Charlotte queria tentar de tudo para impedir o maior número possível de mortes caso realmente houvesse mais um conflito norte-sul. Mesmo que não houvesse, era uma precaução que se tornava favorável à nação do norte. Garantiria maiores sobrevivências.

— Tenho que ir agora. Farei uma visita ao castelo, depois de um grande sumiço. — Reencontraria Katherine e Lothar, descobrindo como estava a situação lá dentro e quais as maldades recentemente cometidas pelo rei. — Estarei de volta mais tarde.

Optou por descer a colina pelo lado direito, sem seguir pela rampa reta. Utilizou as pedrinhas para se equilibrar, cortando o caminho para ir mais rápido ao palácio. Quando subiu, parou em frente aos portões, que foram abertos pelos guardas.

Cedric e Daevon estavam no pátio e correram até ela quando a viram. Abraçaram-na tão forte que quase tiraram seu equilíbrio. Charlotte riu e se ajoelhou para beijar o rosto de cada um.

— Olá, meus queridos irmãozinhos. — Mexeu carinhosamente no cabelo dos gêmeos, bagunçando-os mais ainda. — Podem me levar até a rainha?

As crianças assentiram e Charlie os seguiu. Katherine estava parada em um dos campos, olhando fixamente para uma cena na qual a princesa se chocou. Dois homens estavam amarrados em postes enquanto o rei tinha um chicote na mão direita. Os empregados estavam nus da cintura para cima e eram torturados, com grandes ferimentos nas costas. Sangue escorria por suas peles e sujava as roupas.

— Por que estão sendo açoitados?

Katherine se virou, assustada com a súbita voz. Como se viam frequentemente, não estava tão surpresa com a presença da princesa, mas reagiria da mesma forma que os gêmeos se fosse o contrário.

— Lothar não está de bom humor e esses funcionários cruzaram seu caminho. Sabe o que seu pai faz com as pessoas quando está irritado, mesmo que não tenham feito absolutamente nada para serem punidos.

— Essa loucura vai acabar agora.

— Charlotte, não! — Kath a segurou pelo braço esquerdo. Seu olhar era de súplica, preocupação. — Enfrentar seu pai nesse momento trará consequências ruins. Não faça isso!

Mas nada seria capaz de impedi-la de fazer o que achava correto. Chegou perto de Lothar sem que o pai reparasse e o empurrou para o lado, tirando seu equilíbrio. Apanhou o açoite de suas mãos. Katherine gritou, apavorada com a valentia e a força da enteada.

— O que ganha fazendo mal a essas pessoas? Percebo que a melhor atitude que tomei foi a de me afastar. O senhor fica pior a cada dia! Lamentável!

— Garota, não seja insolente! — Lothar se ergueu e a esbofeteou, mas Charlie não largou o açoite. Afastou-se um pouco, levantando o objeto. — Só pode estar com vontade de se juntar a esses dois porcos imundos!

— Experimente se aproximar outra vez! — Os olhos da princesa brilhavam enquanto pronunciava as palavras e encarava a expressão aterrorizada do pai. Com aquele chicote em mãos, poderia finalmente se vingar do homem e torturá-lo na frente de todos. Não se importava com o que poderia acontecer depois, já que estaria completamente saciada. — Estou com uma arma nas mãos e não tenho medo de usá-la. Pensa que não treinei lutas e caçadas durante esses anos?

Lothar respirou fundo e avançou até a filha. Jamais permitira que alguém o afrontasse na presença de outras pessoas. Provaria a todos que era um rei de palavra e castigaria a qualquer um que se opusesse ao seu sistema de governo.

— Guardas, tirem essa louca daqui. — Os capangas do monarca o obedeceram, cercando a jovem. Sem alternativa, Charlotte largou o açoite e tentou correr, mas um deles segurou sua perna esquerda e a fez cair. — Prendam-na.

— Não! Covarde!

Foi levada à antiga torre na qual dormia em todos os dias antes de se casar com Ulrick e se mudar para a mansão. Arrependia-se do surto tido horas atrás, mas não suportava olhar para Lothar sem que seu instinto vingativo falasse mais alto.

À tarde, alguém abriu a porta. Era o próprio rei em pessoa, carregando uma bandeja de prata. Colocou o objeto sobre uma mesa de canto e se sentou sobre uma das cadeiras.

— Trouxe seu almoço... Será liberta assim que terminar de comê-lo e falar comigo como um ser humano normal, ao invés daquele animal estúpido que tentou me atacar. É essa a melhor maneira de matar as saudades?

Charlotte ignorou a pergunta.

— Deveria parar de maltratar os cidadãos gratuitamente. Os criminosos e assassinos devem ser castigados, mas os inocentes não precisam passar por nada disso.

— Fiz apenas o que mereciam... — Lothar se levantou, retirando a chave dos bolsos e abrindo a fechadura. — Percebo que não há conversa com você. Saia e vá embora logo, antes que eu me arrependa.

...

— Ficou louca? — Katherine a repreendeu, quando as duas saíram do castelo e andavam pelas ruas da cidade situadas após as colinas altas. — Talvez estivesse morta agora!

— O único louco é ele, desde que minha mãe morreu. Deseja se reconciliar comigo e continua matando e maltratando indivíduos que não são culpados de nada. Não é possível que sejamos do mesmo sangue!

— São, sem dúvidas... Precisava ter visto como estava ao segurar aquele açoite e ficou contra seu pai. Foi assustador, Charlie. Eu jamais acreditaria se não estivesse presente e outra pessoa me dissesse sobre o ocorrido.

Charlotte sabia que a madrasta tinha razão. Pela primeira vez, sua fúria foi tão grande a ponto de sentir vontade de matar Lothar Wildshade e quase realmente fazer isso em público. Se os guardas não a tivessem interceptado, certamente teria cometido algo terrível.

— Espero que isso não se repita...

Nesse momento, uma das aves-correios veio do céu ao encontro das duas. O animal parou bem perto de Charlie e deixou um papel em suas mãos. Era um pássaro desastrado, com problemas para entregar os objetos, quase tombando no chão. A jovem sorriu enquanto o observava até sumir de seu campo de visão.

— Katherine, agora é a hora de descobrirmos a verdade. — O coração da princesa parecia que iria parar de respirar a qualquer instante. Olhava para a carta enrolada em suas mãos, sem saber se deveria mesmo abri-la. — Estou nervosa...

— Se preferir, posso ler para você.

— Não. É melhor que façamos isso juntas. — Retiraram a fita vermelha e desenrolaram o papel.

“Vossa Alteza de Arroway,

Em primeiro lugar, devo me desculpar pela demora de enviar uma mensagem de resposta. Ocorreram eventos de grande importância em minha cidade e tive pouco tempo sem interrupções indesejáveis.

Nosso rei faleceu e sua filha assumiu o trono. Para auxiliá-la no governo, casei-me com ela e nos tornamos os atuais Rei e Rainha de Horgeon. Agora, tenho todo o poder do continente sulista em minhas mãos e Susan concorda com os meus planos de declarar guerra contra o norte. Caso vençamos, anexaremos os territórios e acabaremos com essa rivalidade. Arroway será nova. É do meu desejo arrancar Lothar Wildshade do trono. Espero que estejam do meu lado nesse conflito.

Atenciosamente,

Elliot Trannyth.”


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