Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 30
Planos




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Katherine

Katherine, enquanto discutia com Lothar, foi interrompida pela chegada dos gêmeos. Em seguida, chamou Daevon para irem para o lado de dentro, deixando Cedric com o pai. O filho caçula a acompanhou pelos pátios que davam acesso ao hall, onde se situavam as escadarias que levariam ao andar onde ficava o aposento real.

Nesse momento, uma ave de penas acinzentadas veio do céu a seu encontro, largando nos ares um papel enrolado e preso com uma fita vermelha. Kath estendeu as mãos e apanhou o objeto. Logo depois, a ave voltou pela mesma direção que veio.

A rainha voltou seus olhos para o garoto.

— Você não dirá nada sobre isso a ninguém. Nem mesmo seu pai, está ouvindo? — Teve a sorte de não estar com Cedric, que era leal a Lothar. Daevon assentiu e a mãe respirou fundo, guardando o papel em suas vestimentas. O menino a obedecia sempre que recebia uma ordem.— Pode vir comigo.

Subiram as escadas e foram até o quarto que Katherine dividia com Lothar. O rei passeava com Cedric, portanto, não a procuraria por um bom tempo. Qualquer pessoa que tentasse entrar no cômodo seria evitada por ela, pois estaria concentrada demais na resposta que daria a aquela carta para fazer outra coisa

Fechou a porta e se sentou de frente para uma mesa, onde havia uma pena e tinta disponível para quando fosse necessário. Colocou a carta sobre a superfície e retirou a fita, desdobrando o papel para ler o conteúdo ali escrito.

 

Excelentíssima rainha de Arroway,

Posso lhe assegurar de que minhas palavras não são mentiras. Estou completamente ciente dos riscos que corro ao manter contato com a soberana de um reino inimigo, mas preciso descobrir qual é seu verdadeiro posicionamento. Se possível, gostaria de saber como está Charlotte. Jamais parei de pensar nela...

Aguardando notícias,

Wolfric Luckov.

 

Era perceptível a dificuldade que os dois possuíam para confiar um no outro. Passaram anos distantes e não mantinham mais a mesma amizade unida de antes. Katherine sentia falta daqueles tempos, quando era uma pessoa desconhecida por grande parte da população do norte e poderia correr à vontade pelos campos sem sentir medo. Uma época na qual sua família ainda estava unida.

— Pode me dizer o que foi dito? — Daevon sabia ler, mas não seria capaz de invadir a privacidade da mãe. Havia uma relação de respeito entre eles. 

— Infelizmente não, meu amor... Esses problemas cabem apenas aos adultos resolverem. No futuro, você entenderá a importância de cada uma dessas coisas.

Decidiu não responder de imediato. Guardou o papel consigo, evitando que o marido o encontrasse e descobrisse o contato que existia entre Arroway e Horgeon.

— Vá brincar com seus amigos... Vou precisar fazer uma viagem pela cidade. Caso Cedric ou Lothar façam perguntas sobre mim, diga que não sabe de nada e que desapareci sem dizer para onde fui.

Procurou um dos cocheiros responsáveis por comandar os cavalos que guiavam sua carruagem quando se locomovia para lugares distantes. Permaneceu do lado de dentro, evitando espiar a paisagem urbana pela janela, pois cidadãos insatisfeitos poderiam querer pará-la para pedir melhorias. Auxiliava a população da melhor maneira que podia, mas não era uma hora oportuna para que viessem fazer petições a seus ouvidos. Existiam eventos que eram marcados especialmente para isso.

Ordenou que fosse deixada na subida para o Rosa Indomável. O homem a esperaria até que saísse da grande casa, mesmo que existisse a possibilidade de demorar horas lá dentro. Era um empregado fiel, sem pronunciar ao rei nada do percurso que fazia ao conduzi-la. Katherine admirava a lealdade deste, mesmo sabendo que qualquer valor monetário a compraria em questão de segundos.

Quem a atendeu foi uma meretriz que Katherine não conhecia. Deveria ser nova no trabalho. A rainha lamentava a vida das pessoas que eram obrigadas a seguir aquele caminho, mas nada podia ser feito para protegê-las. Se oferecesse a mão a uma, deveria oferecer a todas as outras.

— Sua Majestade, seja bem-vinda.

— Obrigada. — Kath respondeu, esboçando um sorriso simpático para a jovem. Esta reagiu de forma estranha, certamente não esperando aquele gesto bondoso da mulher. — Tenha um ótimo dia!

Katherine foi guiada até o escritório onde Evelyn administrava as economias do sistema do bordel. Aquilo se tornou um estabelecimento diferente, onde as funcionárias eram respeitadas, apesar da profissão que seguiam. Não ocorriam roubos, mesmo que uma parte do dinheiro recebido das mulheres fosse utilizada na confecção de roupas e de outros acessórios que exigiam gastos.

A gêmea mais velha a abraçou assim que a viu. Eram extremamente parecidas, mas Evelyn tinha vestidos mais exuberantes que mostravam mais partes do corpo, diferentes dos de Katherine. A rainha apresentava uma elegância mais simples, mas ainda assim notável aos olhos do povo.

— Estava com muitas saudades e fico bastante feliz por ter conseguido tempo para me visitar. Como estão meus amados sobrinhos?

— Fortes e crescendo rápido. — Kath riu, se sentando em uma cadeira de frente para a mesa principal da irmã. — Percebo que tem novas trabalhadoras aqui dentro.

— É o que acontece quase em todo o tempo... Deseja comer algo? Posso pedir também que os criados lhe sirvam café ou chá, se for de sua vontade.

— Obrigada, mas não. — A voz de Katherine se tornou séria, mostrando para a irmã que o assunto talvez não fosse agradável. — Estou preocupada com algo que aconteceu e tem tirado meu sono durante algumas noites. É de seu interesse.

 — Para estar falando dessa maneira, não duvido que seja.

Katherine retirou a carta e mostrou a ela. Evelyn apanhou o objeto e leu o conteúdo rapidamente. Quando terminou, virou-se para ela com uma expressão de confusão no rosto.

— Quem é Wolfric Luckov?

— Pelo modo como fala comigo, parece ser Elliot. Pode ser que tenha escapado junto com sua família e que não tenha sido morto como pensávamos. O único que vimos ser executado foi nosso pai, mas não existem provas de que os Trannyth também haviam sido!

— É verdade! — Evelyn ficou boquiaberta, refletindo sobre a época em juntas tentavam sobreviver nas ruas de Arroway, pedindo abrigo a pessoas que fechavam as portas sem piedade. — Acredita que Wolfric seja realmente um Trannyth?

— Só me resta acreditar... Até mesmo Charlotte foi mencionada. Quero que me aconselhe: devo mostrar esse bilhete à princesa? Está morando longe dos problemas do castelo e ocupada com sua própria família. Talvez eu tenha cometido o erro de falar sobre a primeira carta, mas posso omitir a existência dessa.

— Não faça isso. Se Charlotte soube da primeira, com certeza saberá dessa em algum momento, e é melhor que seja revelada por você. A princesa deve saber de tudo o que envolve seu nome.

— Você tem razão.

...

A carruagem parou próxima à mansão dos Yorkan. Katherine desceu do veículo com a ajuda do cocheiro e descobriu que uma das criadas perambulava pelas áreas externas da residência. Cumprimentou a mulher e seu acesso para o lado de dentro foi permitido, onde aguardou até que a enteada estivesse pronta para vir a seu encontro.

— Kath, é muito bom vê-la novamente! — Charlie a abraçou e as duas se sentaram sobre um dos sofás. Aproveitariam enquanto ninguém mais estava por perto. — Há alguma notícia importante que veio me informar?

— Sim! Veja isto.

Charlotte apanhou a carta de suas mãos e a leu com pressa, ansiosa para descobrir do que se tratava. Em seguida, ao terminar a última frase, levou uma das mãos à boca, surpresa.

— Se antes tínhamos dúvidas, agora nos resta a certeza: Elliot está mesmo vivo e quer nos procurar. Eu sempre reconheceria essa caligrafia, pois é a mesma de quando me mandava bilhetes. Como não tive a outra em mãos, não seria capaz de afirmar isso.

— O pior é que ele foi alfabetizado por meu pai, juntamente comigo e com Evelyn. Entretanto, não nos recordávamos de sua forma de escrever. O que deveremos enviar em resposta a essa mensagem?

— Desta vez, serei eu a escrever.

Katherine não se opôs.

— Wolfric deseja conhecer meu verdadeiro posicionamento. Estaria ele falando do meu ponto de vista em relação a Lothar e se seria capaz de me rebelar contra o rei?

— É uma hipótese considerável. Elliot odiava o modo como meu pai torturava as pessoas inocentes, algumas delas extremamente próximas de sua família. Talvez esteja elaborando planos de vingança.

A rainha refletiu sobre o pensamento da princesa. Poderia estar certa, mas também existia a chance de estarem seguindo por um caminho sem volta. E se Wolfric Luckov fosse um impostor que havia roubado informações do verdadeiro Elliot e estivesse tentando se passar pelo amigo das duas, sabendo que seria um ponto fraco? Alguém que, de alguma forma, desejasse roubar a coroa dos Wildshade?

Um lado de Katherine se sentia mal por se voltar contra um homem que a abrigara e a amara, apesar das maldades que cometera na vida de outros indivíduos. O mesmo homem que, em contraste a essas atitudes bondosas, assassinara seu pai em praça pública sem a mínima piedade.

— É perigoso... — Tremia de nervoso, imaginando um conflito de vingança entre Elliot e Lothar. A memória de Gregory seria honrada e o pai das gêmeas finalmente poderia ter sua verdadeira história contada aos outros. Todavia, não podia deixar que suas emoções falassem mais alto, optando pelo lado racional. — Esperaremos até termos a certeza de qual é a razão de Wolfric estar nos procurando agora e qual seu real plano.

Charlotte concordou e subiu as escadas, retornando com um tinteiro para juntas decidirem o que seria inserido na mensagem. Depois de bastante conversa e um acordo entre as duas, a princesa começou a redigir a pequena carta.

 

Prezado Wolfric Luckov,

Quando estiver interessado em saber informações sobre minha pessoa, procure-me diretamente, sem que outros sejam envolvidos nisso.

Esclarecendo sua dúvida: dependendo de quem for a pessoa por trás dessa máscara, é possível que o nosso posicionamento seja exatamente o mesmo que o seu. Para que suas perguntas sejam respondidas, nos diga, antes, o seu nome verdadeiro.

Atenciosamente,

Charlotte Yorkan, Princesa de Arroway.

 

Katherine releu tudo, palavra por palavra, certificando-se de que foram as melhores utilizadas. Wolfric não teria nenhuma outra solução a não ser revelar a verdade completa às duas. Somente assim obteria êxito em seus interesses.

— Está ótimo... Mesmo que diga o que esperamos, ainda devemos tomar muito cuidado. A pessoa com a qual estamos lidando pode não ser a mesma que conhecíamos antes.

— É verdade... Mas não consigo pensar em Elliot traindo nossa confiança e tentando roubar a coroa de Arroway. Seu desejo deve ser apenas atacar Lothar. Esperei tanto pelo dia em que o rei sofreria as consequências pelos seus atos.

— Você seria capaz de matá-lo?

— Faria pior ainda, se possuísse alguma chance. Participarei do plano de Wolfric, se seus objetivos forem realmente esses. Com uma única condição: quero Lothar Wildshade vivo para que eu mesma o faça pagar por tudo.


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Notas finais do capítulo

Foi um capítulo de "ligação" entre os personagens, mas espero que tenha ficado bom!



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