Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 25
Conspirações


Notas iniciais do capítulo

Olá novamente, amigos! Como prometido, mais um capítulo. Essa parte dois vai bombar e espero que vocês curtam, assim como eu, que me diverti demais produzindo cada capítulo!



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Katherine

As crianças completaram cinco anos e Katherine vinte e um.

Lembrava-se como se fosse ontem do dia em que subiu socialmente e se tornou a grande rainha de Arroway. Durante o tempo que se passou, teve oportunidades de auxiliar a população da melhor maneira que pôde. Contratou reformas nas moradias que estavam prestes a desabar, visitou orfanatos e cuidou das crianças, contando histórias sobre os reinos e heróis nacionais, fortificando seus corações e trazendo um pouco de esperança a eles.

Essas atitudes eram feitas quando Lothar era tomado por um surto de bondade ou simplesmente viajava para lugares misteriosos, fazendo questão de não contar sobre eles. A última viagem estava demorando demais, e Lothar havia levado Ulrick consigo. Charlotte se isolou na casa que dividia com o marido e os enteados, sem querer ninguém do reino por perto.

Enquanto o rei permanecia desaparecido, um mensageiro desconhecido chegou a Arroway e alegou que havia uma entrega para a rainha. Katherine, extremamente curiosa, ordenou que os guardas o escoltassem até o castelo para entregar o misterioso objeto. Um pequeno pergaminho preso com uma fita vermelha. Katherine ordenou que se sentasse e esperasse quieto até que terminasse de ler o conteúdo escrito.

Abriu a carta.

Excelentíssima rainha de Arroway,

Quem vos fala é um habitante de Horgeon, cidade-mãe de Hastryn do Sul. É com imenso prazer que afirmo conhecê-la desde a sua infância, quando ainda residia naquele simples e esquecido arraial, localizado nas áreas mais pobres da região. Tenho plena consciência do que realmente houve com o seu pai e quero dizer que sinto muito pelo ocorrido, mesmo depois de ter demorado muito tempo para isso. Gregory Muirden também era muito importante para mim.

Creio que saiba quem é a verdadeira pessoa por trás desse nome que utilizo. Katherine, sinto muito a sua falta.


Grato pela atenção,
Wolfric Luckov.

Arregalou os olhos.

Wolfric era alguém que certamente a conhecia muito e agora estava morando no sul com uma falsa identidade. Parou para pensar em quais foram os garotos mais importantes que passaram por sua vida durante todos os vinte e um anos. Não apenas pela sua, mas também pela de Gregory, já que o guerreiro foi citado na carta. Houve uma paixonite por um rapaz do arraial, mas este permanecia no reino e utilizando seu próprio nome.

Katherine chegou a uma única conclusão.

 “Elliot.”

Pensou também na hipótese de ser alguém se passando por seu amigo. Mas quem iria tão longe a ponto de fazer isso? Alguém que conhecia sua vida antes do torneio sangrento. Decidiu arriscar e acreditar que era seu amigo.

— Então, é disso que se trata...

Katherine se apressou a escrever a resposta, temendo que Lothar pudesse chegar à cidade antes que o mensageiro fosse embora com a carta. O rei tinha o costume de surgir nos momentos mais inoportunos, onde a jovem não esperava por sua presença e precisava se esforçar muito para enganá-lo e criar uma mentira plausível. Conseguiu terminar a escrita com letra legível.

Prezado Wolfric Luckov,

Compartilho do mesmo prazer em retornarmos o contato antigo. Tenho quase certeza de que sei de quem se trata. Espero que não seja uma armadilha contra mim, pois enfrentaria sérias consequências por seus atos. Não gostará de saber do que sou capaz de fazer com aqueles que ousam se revelar meus inimigos.

Aguardo por mais notícias.

 

Atenciosamente,

Katherine Wildshade, Rainha de Arroway.

 

Uma resposta rápida a uma mensagem rápida.

Katherine havia sido alfabetizada por Gregory quando pequena. As  irmãs eram ensinadas a ler histórias simples e sem uma escrita muito complicada de se compreender. O pai sempre dizia que as duas teriam um grande destino pela frente e que aquilo seria necessário. Kath teve dificuldades para acreditar em suas palavras naquela época, mas agora via que o homem tinha razão e agradecia ao falecido em silêncio.

Suspirou de alívio quando o mensageiro se despediu. Poderia descansar tranquilamente e aguardar a chegada do marido sem sentir medo de ser flagrada. Teria problemas em receber as cartas restantes sem que ele soubesse, mas daria um jeito de descobrir o que Elliot queria.

...

Poucos dias depois, Lothar retornou com algumas queimaduras e feridas no corpo. Teve dificuldades para se locomover por um tempo devido ao grande cansaço, precisando ser hospedado nas enfermarias. Ulrick não se machucou gravemente e, portanto, não precisou ser atendido.

— Estive muito preocupada com você... — Katherine se sentou sobre uma cadeira colocada ao lado da cama. Acariciou o cabelo do esposo, que evitava retribuir o olhar. — Pensei que estivesse morto.

— Como se você realmente se importasse... Os deuses estariam lhe concedendo uma benção caso minha morte ocorresse. Governaria Arroway sozinha, até que Cedric tivesse idade o suficiente para assumir o trono.

— Está sendo injusto! Mesmo depois de tudo, ainda duvida de meus sentimentos? Por que não dá uma chance a si mesmo e não passa a valorizar aqueles que se importam?

— Você nunca vai compreender. — Lothar cerrou os punhos, como se fosse bater nela. Katherine sabia que não faria nada disso. — Felicidade não existe mais para mim.

 “Não adianta... É inútil.”

Katherine se sentia confusa. Estava apaixonada pelo homem que assassinou seu pai e destruiu sua família. Graças a suas maldades, foi obrigada a se prostituir junto com Evelyn para não morrer de fome. Entretanto, agora nutria um profundo sentimento que a impedia de colocar um travesseiro sobre o rosto do assassino e fazê-lo parar de respirar para sempre. Jamais compreenderia o sentido daquilo.

No início do casamento, tinha esperanças de que Lothar estivesse se tornando um homem bom. Parecia confiar na mulher, fazendo revelações íntimas sobre seu passado e seus sonhos, mas seu coração se tornou duro e praticamente impossível de se regenerar. Nem mesmo o sentimento dele por Katherine era capaz de torná-lo melhor.

Quando se recuperou e deixou as enfermarias, Lothar trocou as vestimentas e colocou uma armadura. Foi atrás dos pequenos gêmeos e os obrigou a se vestirem de forma adequada.

— Precisamos ir para os campos de treinamento. Quero ver o que aprenderam durante esse tempo. Estejam prontos para se enfrentarem daqui a uma hora.

Katherine tremeu.  A simples possibilidade de ver seus filhos como pessoas que poderiam participar de uma futura guerra e serem mortos a apavorava, mas sabia que não poderia impedir Lothar de fazer o que queria.

— Mamãe, eu não quero! — Daevon implorava, abraçando a jovem. Era o mais sensível dos dois irmãs, e o que Katherine era mais apegada também. Cedric era mais parecido com o pai, mantendo seus sentimentos guardados para si mesmo. Daevon era mais emotivo e sincero com o que pensava. — Nunca tive prazer em participar de nada disso. Por favor, me ajude.

— Oh, eu sei, meu querido. — Katherine colocou o pequeno em seu colo, beijando seu rosto e o apertando em um abraço protetor. Cedric não gostava de abraços. — Mas, infelizmente, vocês tem que obedecer às ordens de seu pai.

“Estão crescendo tão rápido... Em breve, serão grandes homens que representarão o reino em que vivem.”

— Ele é mau. Gosta de nos fazer matar animais por diversão, ensinando que não devemos ter pena deles. Diz também que as pessoas que nos cercam não são diferentes dos animais e precisam ser tratadas assim.

— Seu pai teve um passado difícil. — Tomava cuidado com tudo o que dizia, pois as paredes tinham ouvidos. Fofocas circulavam facilmente naquele castelo. — Mas ele ama todos os filhos.

— Não consigo acreditar nisso.

— Estarei observando vocês de longe. Seja forte.

...

Opostos em personalidades e quase idênticos em aparência, os gêmeos tinham os cabelos lisos de coloração castanha escura herdados geneticamente do pai. Cedric tinha os olhos verdes de Katherine e Daevon, os castanhos de Lothar. Eram garotos belos e a rainha tinha orgulho de tê-los como filhos. Sentia medo de perdê-los para a morte ou que se tornassem assassinos destruidores como o pai.

Via à distância os gêmeos sendo obrigados a lutar um contra o outro. Cedric se empolgava com a ideia e já estava se posicionando, aguardando o aviso de que poderiam começar. Por outro lado, Daevon era mais atrapalhado e tentava imitar a postura do irmão mais velho, sem muito sucesso. Tinham espadas e escudos de madeira em mãos.

— Você já é um homem! — Lothar gritava, sem paciência. Ergueu o braço do menor e o colocou em posição de guerra. Daevon fazia esforços para impressionar o pai, mas não conseguia. Tinha medo da proximidade do homem e tentava não chorar quando ele gritava. — Deve se comportar como tal, assim como Cedric.

Sempre comparava os dois quando havia oportunidade, vangloriando o mais velho e desprezando o mais novo. Daevon se sentia exatamente como a irmã Charlotte no passado. Katherine se entristecia ao ver que a situação de Lothar como pai não mudava por nada, mas estava realizando sua parte como mãe, fazendo de tudo para criá-los da melhor maneira possível.

“Essas crianças nunca serão iguais e ele não percebe isso... São pessoas diferentes com habilidades diferentes. Quando será capaz de raciocinar e mudar a forma de tratá-los?”

Daevon tinha um fascinante e admirável hábito de ler, assim como a mãe adquirira naqueles anos. Juntos, passavam as horas livres na biblioteca contando histórias e formulando teorias sobre o passado de Grimwerd registrado nas obras literárias. Pensavam também no que poderia ter acontecido e não anotado pelos autores antigos, formulando inúmeras teorias em base do que liam. Cedric não gostava de ler e afastava qualquer tentativa da mãe em se manter próxima. Desse modo, Katherine construiu com Daevon uma forte ligação que não conseguia ter com o outro filho, mesmo que o amasse da mesma forma.

Quando o sinal foi dado, Cedric correu para atacá-lo. O gêmeo caçula desviava com dificuldade e erguia o escudo na tentativa de impedir os ataques selvagens, mas o outro garoto era ágil, de modo que nem mesmo a madeira resistente fosse capaz de atrapalhá-lo.

A espada acertou o rosto de Daevon, abrindo uma pequena ferida na bochecha. Nesse momento, Daevon parou para respirar e, tomado por uma súbita fúria, os dois foram envolvidos em uma briga maior. Ambos se esforçavam para machucar de verdade um ao outro, largando suas armas e utilizando os próprios punhos. Os olhos de Lothar brilhavam com o resultado daquilo, pois seu objetivo estava começando a ser atingido.

Katherine tremeu de nervoso, pedindo aos deuses para acabarem com aquilo. Implorou para que Daevon se acalmasse e saísse logo dali, correndo para seus braços e pedindo para suas feridas serem curadas.

A visão de Cedric caindo ferido no chão foi o suficiente para a mulher, que se ergueu do assento onde estava e correu até o campo, ficando ao lado do marido.

— Basta!

Lothar a olhou surpreso, admirando a ousadia da esposa em enfrentá-lo e encerrar a atividade. Aproximando-se dos filhos, ordenou em silêncio que se afastassem e fossem descansar, deixando apenas os pais no ambiente.

— Como ousa me desafiar assim?

— São meus filhos também. — Kath precisava se erguer e mostrar que não estava com medo. Sabia o que acontecia com aqueles que temiam e respeitavam o rei. — Está enganado se pensa que vou desistir de protegê-los por sua causa.

Lothar a esbofeteou, fazendo com que calasse.

— Deixe de ser insolente, mulher! Sabe que posso matá-la a qualquer momento na frente deles, mostrando como é necessário me obedecer! Não tem amor pela própria vida?

Katherine não se deixou abater pelas palavras duras, decidindo se retirar do campo e abandonar o marido sozinho em seus pensamentos. Por sorte, ele não a seguiu.

Enquanto retornava para a varanda onde anteriormente assistia à luta, encontrou os gêmeos sentados sobre um banco de pedra, provavelmente esperando por sua chegada. Estavam um pouco afastados, ainda tomados por uma raiva mútua.

— Agora expliquem para mim o que foi aquilo! Vocês são do mesmo sangue e não devem se odiar daquele jeito que vi. Possuem noção do que acabou de acontecer lá?

As crianças, sem coragem para pronunciar uma sequer palavra, balançaram a cabeça positivamente. Katherine era a pessoa responsável por educá-los, já que Lothar era desprovido dessa função.

— Perdão, mamãe. — disse Daevon, cabisbaixo. Reagia daquele jeito em todas as vezes que alguém discutia com ele. Cedric permaneceu emburrado, olhando para o chão e sem demonstrar tristeza ou sensibilidade.

— Vou tratar dos machucados de vocês.

...

Depois de realizar os curativos, Katherine liberou os meninos para irem para onde quisessem. Cedric correu para se encontrar com o pai, mas Daevon permaneceu ao lado da mãe. Caso Lothar os visse ali, tão unidos, faria de tudo para constrangê-los ou magoá-los, pois não gostava da forte ligação deles. Era como se fosse incapaz de tê-la com seus três descendentes sanguíneos, sentindo vontade de acabar com as relações e incentivar o ódio.

Consciente de que o rei ainda estava furioso por conta do ocorrido mais cedo, Katherine ordenou em segredo que uma liteira a conduzisse na companhia do filho até a grande residência da Princesa Charlotte, com o intuito de se explicar para o marido mais tarde. Já havia passado da hora de matar as saudades da enteada, mesmo sabendo que seu esposo tinha acabado de retornar. Precisava ficar algumas horas longe de Lothar e respirar fundo, senão poderiam iniciar uma briga mais violenta.

— Fique comportado quando chegarmos, está bem? Poderá brincar com Richard e Elizabeth, se estiverem em casa e for da vontade de vocês, mas não seja muito levado! Charlotte pode estar passando por problemas.

— Sim. — Era um garoto obediente, sempre respeitando as ordens dos superiores. Uma criança pura e desprovida de qualquer maldade. Uma parte de Katherine se sentia amedrontada com tamanha inocência, mas admirava o coração bondoso do filho. — A irmã sumiu... O que aconteceu com ela?

— Isso é algo que você só será capaz de entender quando for mais velho, meu amor. Por enquanto, fique contente em saber que iremos visitá-la e matar as saudades.

A liteira, depois de percorrer algumas das ruas e estradas principais da cidade, parou em frente a uma subida que seguia rumo a uma casa grande, construída pelos Yorkan há aproximadamente três ou quatro anos. Katherine não sabia ao certo a época em que Charlotte pediu ao rei para morar em um lugar um pouco longe e distante dos assuntos políticos.

O cocheiro abriu a pequena porta para que saíssem. De mãos dadas com Daevon, Katherine seguiu pela trilha de pedrinhas que conduza até a entrada da moradia. Contemplava a paisagem, formada por um lado ao lado direito com um enorme chafariz em formato de sereia. Era uma casa dos sonhos, que qualquer mulher desejaria ter.

 Havia muitas árvores ao redor, repletas de frutas como maçãs, laranjas e mangas. Katherine se sentia no paraíso, um lugar tão pacífico e calmo que jamais parecia fazer parte da conflituosa Arroway. Compreendia o motivo de Charlotte não querer contato com as pessoas da cidade. Era um local perfeito, calmo e sem o alvoroço de sempre.

Insegura, deu mais um passo e bateu à porta.


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Notas finais do capítulo

Gostaram das cartas? O que acham que vai surgir dessa ~possível~ aliança?



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