Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 22
O Grande Presente


Notas iniciais do capítulo

"Ver alguém que sofre por sua causa crescer e não possuir uma aproximação maior com você é mais doloroso do que uma faca fincada no peito."
— Lothar Wildshade



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Lothar

Lothar, por pouco, não perdia a noção do passar do tempo.

Os dias no palácio eram sempre repetitivos, sem nada de importante que pudesse ser feito durante aqueles meses. Não havia nenhuma luta, nenhum conflito. Apenas ladrões tentando roubar estabelecimentos comerciais e provocando brigas com quaisquer cidadãos no meio das ruas. Ladrões que tinha o grande prazer de incendiar ou decapitar, um por um.

A gravidez de Katherine estava próxima do estágio final. O único fator que mostrava a rapidez do tempo, além do assustador crescimento da barriga da rainha, era a mudança das estações climáticas. Estavam outra vez no inverno, um péssimo período para a realização de partos.

Quando foi descoberta a gravidez, a notícia se espalhou rapidamente pro todo o reino, abalando a toda Arroway. Circulavam boatos de que a maldição perseguia todas aquelas que se casassem com o maldito rei e as mataria durante o nascimento de seus respectivos bebês. Katherine e Lothar não acreditavam em maldições, mas nutriam certo temor diante de toda aquela pressão. O rei temia que a esposa não sobrevivesse, se a criança nasceria saudável e, dessa vez, um garoto.

Estavam sozinhos no quarto, após o atendimento de Charlotte.

— Nunca pensei que fosse dizer isso a alguém, mas... — Lothar segurou carinhosamente a mão da jovem, surpreso com o próprio gesto. — Não quero perdê-la. Não desse jeito.

O olhar de Katherine encontrou o seu, demonstrando que ela não esperava ouvir tudo aquilo. Nenhum dos dois acreditava que pudesse haver um sentimento verdadeiro por trás de todo aquele misto de atração e possessão que Lothar costumava sentir por todas aquelas que tinha o hábito de levar para a cama.

— Você... tem certeza do que está me dizendo? Não é apenas o medo de que a criança morra em meu ventre e não chegue a nascer viva que está lhe afetando?

— É claro que isso também faz parte, mas Kath... Estamos casados, é como se agora precisássemos mesmo nos unir, em todos os aspectos. Sinto essa necessidade, como nunca mais senti depois... dela.

Naquele ano, as demonstrações de afeto aumentaram, mas nenhuma palavra de amor fora dita por nenhum dos dois. Lothar e Katherine eram mais um casal unido pelos jogos do que pelo resto, como era comum naquela época. Entretanto, estavam cada vez mais próximos e adquirindo sentimentos inesperados um pelo outro.

— Confesso que estou surpresa. — disse ela, antes de relaxar o corpo e fechar os olhos, descansando a cabeça sobre um dos muitos travesseiros que foram colocados no colchão.

Lothar apagou as luzes e deixou o aposento, para que Katherine recuperasse as energias perdidas e ficasse forte. Aquela aflição acabaria em poucos dias, pois era a data estimada para o bebê vir ao mundo.

Viu Charlotte em um dos corredores, fitando distraidamente o céu, que se manteve fechado por quase toda a semana, mas agora mostrava sua beleza, pois as nuvens finalmente pararam de esconder o azul. Lothar ficou na janela ao lado, tentando iniciar um diálogo.

A filha percebeu sua presença, mas o ignorou. Lothar tinha dificuldades para se aproximar de Charlie desde que esta era apenas um bebê de colo, pois se lembrava do corpo da esposa morta e não conseguia parar de culpá-la por tudo. Em muitos momentos, acabava por consentir que estava sendo cruel demais com a garota e que não tinha sido sua responsabilidade, mas eram sempre momentos em que se encontrava distante dela ou o orgulho falava mais alto. Entristecia-lhe o fato de que Charlotte crescia e ele não conseguia pedir perdão e um melhor relacionamento entre os dois.

— Como ela está? — A jovem tomou a iniciativa e quebrou o silêncio constrangedor que havia se formado ali. — Algum problema com o qual devemos nos preocupar?

— Conseguiu adormecer... Deixei que descansasse por um tempo.

— Katherine não pode ficar sozinha por muito tempo, pois a criança corre risco de chegar a qualquer instante. — Lothar admirava Charlie em silêncio, sem demonstrar qualquer reação. Tinha crescido tão rápido e estava adquirindo tanta experiência e responsabilidade como médica. Talvez fosse mais responsável que o próprio governante do reino, o que o envergonhava profundamente. — Deve ser vigiada constantemente.

Um guarda responsável pela vigília do aposento real veio correndo de encontro ao rei e à princesa. Estava sem o elmo, com uma expressão preocupada estampada em seu rosto.

— A rainha acordou e está gritando sem parar.

Charlotte e Lothar se entreolharam.

— Parece que chegou a hora. — A princesa se posicionou de frente para o rei, encarando-o com os olhos também castanhos. — Pai, precisaremos de reforços, então procure por Hazel e Diana e peça para que corram até lá. São as que eu mais confio! Vou cuidar de Katherine enquanto isso.

Lothar assentiu e foi atrás das duas.

...

Obedecendo ao pedido de seu pai, um príncipe adolescente montou em um cavalo e deixou o castelo, procurando pela cidade o melhor mercado, onde normalmente eram compradas os objetos necessários. Estava acompanhado de Horace, seu irmão mais velho, pois não gostava de sair sozinho e sem nenhuma proteção. Aquelas eram atividades comuns para ambos, que eram unidos na medida do possível.

Chegando ao local desejado, Lothar Wildshade desceu da montaria e a amarrou numa cerca próxima, evitando que fugisse. Seria rápido lá dentro, pois o animal corria risco de ser roubado por algum insolente que não fazia ideia de que estava atacando a cria de um membro da família real.

Adentrando uma das tendas do mercado, olhou ao redor, à procura do produto que o Rei Phillip tanto queria. Quando costumavam frequentar aquele ambiente, normalmente eram atendidos por uma senhora de meia idade, proprietária do estabelecimento. Mas, daquela vez, não foi ela.

De trás das grandes cortinas verdes, saiu uma garota que deveria ser um pouco mais nova do que ele. Através de seu sorriso, Lothar percebeu que a menina o tinha reconhecido, mesmo que por detrás das roupas utilizadas para montar. Aquela era, provavelmente, parenta da senhora que trabalhava ali. As vestimentas da menina eram simples, como a de qualquer pessoa pobre que habitasse a região, mas não afetavam em nada a grande beleza que chamara a atenção de Lothar. Os olhos verdes pareciam brilhar mais a cada instante, provocando no príncipe uma sensação diferente de tudo. Os cabelos louros eram presos em um rabo de cavalo com o auxílio de uma fita branca. As feições eram delicadas e bonitas, fazendo com que Lothar se comovesse com sua situação financeira. Em breve, ficaria feia como todas as outras mulheres que trabalhavam muito. Lothar não queria que isso acontecesse. 

— Boa tarde, Vossa Alteza. — A jovem vendedora se abaixou, realizando uma reverência formal certamente ensinada por seus responsáveis. — No que posso ajudar?

Lothar abriu o pedaço de papel guardado no bolso e pediu o conteúdo encontrado ali, que consistia em apenas algumas frutas. Ao fazer isso, concluiu que era tudo um plano do pai para que criasse o hábito de sair mais vezes pelo território de Arroway e se divertir um pouco, fazer algumas tarefas e não passar a juventude preso no castelo. Em breve, estaria adulto como Phillip e não teria aproveitado o melhor que a vida lhe proporcionava, pois não encontrava ânimo para absolutamente nada. Lothar não sentia vontade de vadiar como os garotos faziam, e o pai não compreendia a dificuldade que tinha de olhar para aquelas pessoas fora de seu convívio diário.

— Muito obrigado. — Lothar estendeu a mão para cumprimentar a moça. — Poderia me dizer seu nome?

— Lucy.

O príncipe, no entanto, não sabia que aquele dia mudaria para sempre seu destino e sua vida. Aquela simples ida ao mercado havia escrito toda a sua história como Lothar Wildshade.

...

Hazel foi encontrada enquanto perambulava por um dos pátios, deixando o rei aliviado ao saber que Diana também estava por perto. Enquanto a ama ia pelos atalhos indicados por Lothar, o rei conduzia a moça pelo mesmo caminho, seguindo as escadarias e os atalhos mais rápidos para chegar lá.

Contudo, quando abriram a porta, Charlotte se aproximou do pai, séria.

— Ela está muito nervosa. — Teve dificuldades para falar, secando o suor da testa com a manga do vestido. — Acredito que seu estado ficará pior e o bebê correrá risco se mais pessoas além do necessário forem lá dentro.

— Mas eu sou necessário! Não é justo me deixar aqui fora e me deixar afastado de minha esposa outra vez!

Era sua obrigação estar ao lado da esposa caso aqueles fossem seus últimos instantes de vida. Não cometeria o mesmo erro de ficar sem se despedir da mulher, como já havia acontecido com a primeira. Charlotte não poderia proibi-lo disso.

— Por favor, é para o bem dela!

Se aquela situação fosse outra, Lothar puxaria a filha pelos cabelos e a arrastaria pelos degraus até a torre onde dormia, castigando-a com um chicote que mantinha escondido em um armário trancado. Mas, como a vida de seus familiares corria perigo, não viu outra solução a não ser seguir as regras da médica. Talvez ela realmente estivesse certa.

O quarto foi trancado por dentro, para não ocorrerem interrupções durante o parto. Lothar se sentou no chão de pedra, colocando a cabeça sobre os ombros. Começou a chorar sem parar, ignorando a presença dos guardas à frente. Estes não demonstraram quaisquer reações diante da fraqueza do rei e permaneceram neutros, preferindo proteger suas próprias cabeças. Lothar não queria cometer assassinatos no dia do nascimento do filho.

Por estar tão próximo da porta, conseguiu ouvir os gritos de Katherine e as palavras que proferia enquanto conversava com as três mulheres. Arregalou os olhos, sentindo vontade de arrombar aquela entrada e confortá-la de alguma maneira.

— Gostaria de fazer um pedido...

— Faremos de tudo para realizá-lo. — respondeu Diana, tentando expor qualquer reação otimista possível em sua voz, diante de uma situação complicada como aquela.

— Se algo acontecer a mim, por favor, faça o bebê crescer sem sofrer nenhuma acusação. Não haveria nada pior do que ele ser punido por algo que não é responsável.

Lothar tremeu ao ouvir aquelas palavras.

Katherine era muito jovem. Enquanto ele tinha trinta e quatro anos, a esposa completara dezesseis, sendo apenas três anos mais velha do que Charlotte. Teria um longo tempo para viver ainda.

— Nada acontecerá a você! — Charlie gritou, mostrando uma segurança que surpreenderia a todos que, assim como Lothar, a ouvissem. — Meu irmão não crescerá da mesma forma que eu, desorientado e sem a mãe em seu lado!

Aquilo foi tão forte quanto uma navalhada profunda em seu peito. Ele não costumava se importar com a opinião de ninguém a seu respeito. Não compreendia aquela mistura de sensações que teve naquele momento. Acreditou em cada palavra dita pela filha e reconhecia que era verdadeiramente culpado por todo o inferno vivenciado pela princesa por treze anos.

Depois de muito esforço realizado pelas três, Lothar finalmente conseguiu ouvir um choro de criança. Arregalou os olhos, imaginando como deveria ser a nova criaturinha nos braços das médicas. Subitamente, optou por desobedecer o pedido de Charlotte e chutou a porta, adentrando o recinto.

Hazel tinha o bebê em suas mãos. Quando Lothar chegou perto, encontrou um sorriso em seu rosto. A criança estava viva e Katherine também, o que era motivo para grandes comemorações futuras.

— É um lindo menino. — A ama chorava e soluçava, balançando o garotinho enquanto este não parava de espernear. — Um príncipe abençoado pelas divindades!

— Diana, ainda não acabou... Ajude-me!! — Charlotte gritou, assustando a todos os presentes, inclusive o recém-nascido. — Há outra criança no ventre de Katherine.

Lothar, incrédulo, ficou paralisado com a notícia.

Muitos no reino queriam filhos gêmeos. Poucos conseguiam. Era realmente um presente divino, sonho de qualquer pai, dificilmente realizado ou bem sucedido, e normalmente gêmeos tinham mais facilidade de terem gêmeos em Grimwerd. Mais tarde, Lothar se certificaria de agradecer aos deuses por tamanha generosidade. Normalmente, não fazia isso, mas seria crucial que o fizesse naquela vez.

Observou atentamente enquanto Charlie e Diana retiravam o segundo filho, que também revelou ser um menino. Lothar foi encarregado de segurar o mais velho enquanto Hazel auxiliava com a criança caçula. Ter aquele pequeno ser vivo em seu colo era uma novidade, pois as criadas foram contratadas para cuidar de Charlotte por um tempo até a chegada de Hazel.

“Não cometerei o mesmo erro com você, meu querido. Terei você perto de mim em todos os dias que forem possíveis. Serei um verdadeiro pai para você. Eu prometo!”

Lothar olhou para a jovem mãe, colocando o bebê num espaço vazio da cama. Segurou a mão da esposa com as suas e a beijou carinhosamente, mostrando que estaria ao seu lado.

— Charlotte, como ela está?

— Katherine sofreu bastante, mas foi muito forte e suportou os dois nascimentos. Se os deuses permitirem, será capaz de resistir às dores e continuar viva.

...

Os pequenos foram batizados, respectivamente, como Cedric e Daevon. Nomes escolhidos pelo pai. Lothar havia combinado a Rainha Lucy anos atrás que o primogênito daquela geração dos Wildshade se chamaria Cedric, mas Charlotte nasceu em seu lugar. Dessa vez, finalmente surgiu a oportunidade de dar nome a um garoto, prestando uma homenagem à amada falecida.

Katherine se recuperou e foi feito um banquete no reino em comemoração a isso. Lothar estava extremamente generoso naquela noite, convidando até mesmo alguns pobres selecionados a dedo para se sentarem à mesa e se deliciarem com as guloseimas servidas. Chamaria toda a população de Arroway se fosse possível, mas não teria espaço para todos no salão. Permitiu até mesmo a entrada de alguns músicos para tornarem o ambiente ainda mais agradável com suas inúmeras e diversificadas canções. Uma delas permaneceu em sua memória por anos.

Amei uma donzela de muitos prazeres

Linda ela era, como o fogo brilhava,

A ela, tantas vezes, declarei dizeres

Cantei canções, ah, minha amada

Como a adorei, seus cachos formosos

Se estendiam até o infinito em meus olhos

Cheia de amor, sem lacuna para o ódio

Tão típico no coração dos homens sólidos,

Rígidos como o mármore das tumbas

Onde enterramos homens bons no gelo

Mas nada de pânico, nem lamúria

É chegado o tempo de realizar desejos

A donzela caminha por nós mais uma vez:

Sorria, a paz, o doce verão a fez.

As decorações eram muitas. Bandeiras amarelas, brancas e laranjas foram penduradas para simbolizar a felicidade e a paz do reino. As mesas retangulares e longas feitas à base de madeira tinham bordados das mesmas cores e algumas velas traziam luz ao local. As janelas estavam abertas para que o ar passasse por ali.

A animação do rei acabou quando este encontrou Charlotte encolhida em um dos cantos do salão, encostada na parede de pedra e tomando uma taça de suco de uvas que lhe foi servida gentilmente por uma das criadas. Sabendo que aquele era um momento de união e confraternização, Lothar considerava crucial a presença da filha na mesa real, realizando um esforço para chegar perto dela. Passou pelos convidados que estavam de pé, pedindo licença e abrindo caminho entre eles.

Quando o viu, Charlie revirou os olhos e ingeriu todo o líquido restante.

— Deixe-me em paz, por favor.

— Hoje é um dia para comemorarmos juntos! — Lothar colocou a mão sobre o ombro da garota, que demonstrou repulsa e nojo, se esquivando do gesto. — Arroway passará por uma nova época.

— Depois de tudo o que fez comigo, consegue ter a coragem de falar como se nada tivesse acontecido? Como se todo meu sofrimento pudesse simplesmente desaparecer e fingíssemos que somos a família mais unida do século?

— Pensei que pudesse ser uma forma de mudar tudo. Uma chance de mudarmos nossa história daqui pra frente. Estou muito arrependido de meus atos, minha filha. Por favor, me diga o que devo fazer para receber seu perdão.

— Ser realmente digno. Do que adianta se arrepender e voltar a me maltratar pouco tempo depois? Não acredito em suas palavras. — Charlotte foi rápida com sua resposta e se afastou do pai. Deixou o salão, impedindo que continuasse a ser perturbada, já que o rei não poderia sair dali enquanto a cerimônia durasse.

Lothar caminhou até sua mesa, ordenando aos criados que lhe servissem vinho. Tomou todo o líquido da taça com extrema rapidez, apontando com o dedo para que voltassem a enchê-la.

Katherine percebeu que havia algo errado com o marido e deitou sobre seu ombro. Em seguida, levou suas mãos ao couro cabeludo do homem e o acariciou.

— Está tudo bem? Parece triste...

— Cometi muitos erros em minha vida, Kath. — Lothar desabafou, passando o braço direito por trás da esposa e a trazendo para mais perto. Beijou sua testa e tornou a falar. — Estou enfrentando as consequências de minhas atitudes no passado. Charlotte está sofrendo por minha causa.

— Sofrendo? Por qual motivo?

— Eu deveria ter sido um bom pai. Cresceu sozinha, sem ter ninguém mais além daquela ama, e agora se sente jogada no lixo por causa do nascimento de Cedric e Daevon. Estava completamente cego e não tentei ver as coisas pelo lado dela, obcecado apenas em ter um príncipe que não deixasse o nome dos Wildshade morrer no esquecimento.

— Isso ainda pode ser mudado...

— Duvido que possa... Principalmente depois da conversa que tivemos. Está decidida a me odiar para sempre, pois é algo que mereço e nada pode mudar o que fiz. Não tiro sua razão.

— A diferença é que estou aqui para ajudar.

...

Nem mesmo a ajuda de Katherine havia sido o suficiente para a resolução daquele problema. Dias depois, a situação permanecia a mesma, ou até pior do que antes, já que Lothar se encontrava em um estado completamente antagônico ao do dia do banquete. Sentia desesperadamente a falta da filha em sua vida, como se pela primeira vez dependesse daquele laço perdido.

Passou treze anos sentindo nada mais do que ódio e repugnância pela criança, mas agora o jogo tinha se virado contra ele. Os deuses lhe trouxeram dois filhos novos, mas lhe tiraram uma. Era o preço a ser pago para que os seus desejos fossem realizados.

Acreditava que seria feliz apenas quando tivesse herdeiros homens, mas percebeu que poderia ter tido bons momentos com a garotinha que estava crescendo. Graças a seu egoísmo, estragou uma infância que tinha tudo para ser pura e alegre. Agora, estava pagando por seus próprios pecados.

Lothar e Katherine colocaram os bebês para dormir e foram se deitar logo depois. A noite era o único momento que tiveram para interagir um com o outro sem interrupções, já que a rainha se certificou de passar o dia ao lado da princesa, na tentativa de reaproximar pai e filha.

— Não consegui muita coisa, mas descobri algo importante. Charlie permanece sendo minha amiga normalmente, deixando claro que o problema é somente com você. Devemos tirar proveito disso, pois não podemos desistir depois de tanto esforço.

— Afetar a amizade de vocês está longe do que desejo. Mas acho que, visto tudo o que tentamos, só há uma maneira de fazê-la se sentir inclusa em uma família novamente.

— Do que exatamente está falando?

— Para Charlotte voltar a se sentir bem, precisará se casar. Existem duas pessoas, na verdade duas crianças, que se apegaram a ela desde o falecimento da mãe. São os filhos de Ulrick Yorkan.

— Richard e Elizabeth... Compreendo.

— Sim! Ulrick é, de longe, o homem mais confiável desse reino para que Arroway fosse deixado em suas mãos caso eu não conseguisse ter filhos homens. Assim como foi com a primeira mulher, certamente seria um bom marido para a princesa, se lhe fosse ordenado. Também a protegeria das criaturas cruéis que habitam o reino e tentam maldades contra os membros da família real. — Lothar respirou fundo, pensando em suas próprias palavras. Era um caminho sem volta. — Concorda com meu pensamento?

Katherine ficou relutante em responder, pensando por longos minutos. Lothar não a apressou, pois compreendia a seriedade e importância do que estavam prestes a fazer. Charlotte o odiaria ainda mais, mas aprenderia com o tempo a fortalecer os lados parentais e até mesmo seria feliz, na medida do possível.

Quando finalmente se sentiu pronta, a rainha se pronunciou.

— Concordo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do comportamento de Lothar? Contraditório? Surpreendente?



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