Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 20
O Mapa


Notas iniciais do capítulo

"Por mais que vivamos intensas aventuras, sempre haverá algo a mais a ser descoberto. Sempre haverá uma terra para desenharmos, uma cidade para conhecermos, mares para navegarmos. Resta-nos deixar um legado de tudo o que conseguimos construir para que as próximas gerações os acessem e adquiram as experiências e conhecimentos."
— Elliot Trannyth / Wolfric Luckov



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Wolfric

Wolfric tinha pouco tempo disponível para visitar os amados parentes, pois passava a maior parte dos dias na companhia da amiga Susan. A princesa desejava cada vez mais que se aventurassem juntos, tirando seu espaço livre e os únicos momentos em que o garoto poderia voltar a se sentir como Elliot e largar um pouco o disfarce de sulista que havia criado vida própria.

Em uma bela noite, Susan o conduziu por um caminho que ele ainda não conhecia. Eram corredores escuros, sem tochas e velas capazes de mostrar o que havia ali dentro. Áreas nas quais as pessoas do castelo dificilmente circulavam ou perambulavam, parecendo completamente esquecidas do restante do palácio. Subiram uma escada em formato de caracol que parecia interminável e, conforme os degraus passavam, Wolfric perdia o fôlego. Sentia cada vez mais vontade de chegar logo ao topo e dar fim àquele pesadelo. Chegava a tropeçar em alguns destes, pois não os enxergava com a falta de iluminação do ambiente.

— Aqui estamos. — Susan estendeu os braços, mostrando a Wolfric a razão de ter levado o amigo a um local tão distante, mesmo que o menino ainda não a compreendesse. — É minha parte favorita de todo o castelo, sabia?

— Por qual motivo?

— Venha comigo. — Estavam em um hall pequeno e passaram por um arco circular que os levou a um recinto maior. Estantes de madeira foram colocadas encostadas às paredes. Grande parte delas sem objetos. Mesas de vidro ficavam no centro, acompanhadas de assentos rústicos repletos de poeira. — Era a antiga biblioteca, antes de ser construída uma maior e de mais fácil acesso. Ainda temos alguns livros aqui, mas não é nada disso que quero lhe mostrar.

Aproximando-se da amiga, Wolfric compreendeu a magnificência daquela torre. Havia uma parte sem teto a céu aberto, com fortes superfícies que impediam a queda das pessoas que desejavam observar os territórios de Horgeon e de todo o sul.

— Hoje viemos para contemplar as estrelas, mas em outro dia chegaremos mais cedo para avistar de longe as cidades que fazem parte de nosso continente.

— É incrível! — Wolfric estava admirado com tamanha perfeição que, sempre que pudesse, enfrentaria todo aquele longo caminho apenas para ficar ali. — Quais livros faltam ser levados?

— Não faltam. Estes ficaram escondidos aqui por causa de uma decisão tomada por não serem considerados recomendados para a época que vivemos. — Susan não parava de andar, ansiosa para compartilhar com o garoto sobre a história do reino. Andou até a prateleira e pegou dois exemplares, colocando-os sobre o vidro da mesa mais próxima e fazendo um gesto com a mão para Wolfric se sentar em um dos bancos. — Veja, aqui está um mapa de Grimwerd que foi desenhado há muito tempo.

Susan retirou de um dos livros uma folha de pergaminho, repleta de marcas escuras que mostravam o quão antiga era. No mapa, havia todos os quatro continentes e as ilhas em grande destaque. Foi feito em uma época onde havia vida em Whyrio e Danthor, o que deixou Wolfric ainda mais curioso para compreender os antepassados.

— Estas são as terras aterrorizantes de Fauth. — A princesa sulista indicou com o dedo um canto repleto de florestas e árvores altas, um pouco distante da entrada em que Wolfric e Peter seguiram quando vieram para Hastryn do Sul. — Todos dizem que Fauth é muito perigosa e difícil de ser encontrada. As árvores do território mudam de lugar e confundem os viajantes, deixando-os perdidos, com riscos de serem atacados por quaisquer monstros que habitavam e ainda habitam ali, como trolls e ogros.

— Ainda é mal assombrada nos dias de hoje?

— Sim, algumas coisas permanecem iguais. — O dedo deslizou um pouco mais para a direita, onde as terras acabavam e chegava a região dos oceanos. — Essa é a enseada das sereias e continua do mesmo jeito. Elas odeiam que qualquer humano se aproxime e, quando isso acontece, seus cantos são mágicos e os atraem para o mar.

“Agora compreendo o motivo de Peter dizer que corríamos riscos ao seguir pelas florestas. Suas viagens devem tê-lo tornado experiente e feito o rapaz descobrir os caminhos corretos para despistar os inimigos.”

— Mesmo assim, ainda existem pessoas que moram na cidade de Fauth tranquilamente? Não parece um local muito... seguro, com todos esses problemas ao redor.

— Por incrível que pareça, sim. É uma cidade não muito populosa em comparação às outras e as pessoas no geral vivem de uma forma que não possuem necessidade de sair de seus arredores para nada.

— E quando possuem?

— Isso é um grande mistério. As pessoas que ousarem deixar as muralhas de Fauth sem autorização enfrentarão um grande perigo e podem não retornar vivos para contar histórias.

Ao ouvir aquilo, Wolfric se lembrou da cicatriz de Peter. Por quais perigos mortais o rapaz já havia passado? Precisava reencontrá-lo e descobrir mais sobre seu passado. Quando tivesse chance de viajar e procurar as gêmeas, passaria pela aldeia de Jane e teria notícias de ambos.

Depois de alguns minutos, ouviu passos no piso de madeira que não pertenciam a nenhum dos dois. Sentiu um arrepio desagradável ao imaginar qual seria a misteriosa pessoa que os seguira. Não tardou muito a descobrir de quem se tratava.

— Quem está ai?

Ninguém frequentava aquela torre a não ser Susan. Hesitante, a princesa foi se aproximando do arco que dava acesso à escada quando o Rei Vincent surgiu por detrás das paredes.

— Finalmente a encontrei! — Exclamou, expondo falsa seriedade. — Mocinha, está na hora de jantarmos e logo em seguida será o toque de recolher. — Foi somente então que reparou a presença de Wolfric próximo à filha. — Olá, rapaz. Como está?

Vincent tinha uma postura rígida e simpática ao mesmo tempo. Evitava sorrir quando se encontrava diante de um aglomerado de pessoas, mas agia como outra pessoa estando perto de cidadãos próximos dos filhos e parentes. Ainda assim, não deixava para trás a posição de rei. Seus cabelos ruivos caíam até os ombros e a barba era curta, enquanto seus olhos, amarelados, mudavam de cor conforme a iluminação do ambiente em que estava. A tonalidade agora era próxima do esverdeado.

— Estou bem, Majestade. — Wolfric controlava as palavras na frente dos reis, pois temia que Vincent pudesse se tornar alguém como Lothar e o castigasse de alguma forma. — Estávamos estudando um pouco de história.

— Estudar é sempre bom, mas temo que já atingimos o limite por hoje, certo? Amanhã ou quando houver tempo, retomem os estudos e venham para cá quando vocês sentirem vontade.

O garoto assentiu e se prontificou a colocar o livro de volta à estante, sem deixar que o vissem guardar o mapa de Grimwerd em suas vestimentas. Tinha planos para passar a noite em claro enquanto imaginava as aventuras ocorrendo em cada cenário daqueles continentes.

E foi o que aconteceu.

Dentro de seu quarto, onde ninguém poderia atrapalhá-lo, ficou diante da mesinha de madeira e encarando a antiga imagem. Enquanto isso, Arianna dormia tranquilamente, sem suspeitar de nada. Por causa da mãe adotiva, precisou apagar quase todas as luzes e utilizar um pouco da iluminação próxima da mesa para tentar compreender um pouco da geografia grimwerdiana.

No continente nortenho de Hastryn, observou atentamente a região de Arroway, encontrando uma linha contínua que seguia até onde havia a ponte e continuava até os territórios do sul, tendo Horgeon como destino final. Aquelas certamente eram as estradas que interligavam os reinos e cidades. Estradas que foram evitadas por Peter e Elliot para não serem encontrados pelos homens de Lothar.

Voltando os olhos para o reino do norte, olhou um pouco mais ao leste, onde se situava uma região nomeada como Montanhas Sombrias. Wolfric já tinha ouvido falar daquilo, pois era onde os mitos diziam haver a existência de monstros alados como dragões e serpes. Monstros que se alimentavam de outros animais que habitavam nas matas que circundavam aquelas montanhas. Contudo, ninguém ousava viajar até o local para descobrir.

Um pouco abaixo dali, o mapa mostrava áreas arborizadas, sem nenhum indício de vida urbana. Entretanto, Wolfric sabia que havia sido construída a cidade de Siedronus, conhecida por ser a de maior condições socioeconômicas depois de Arroway.

Sua atenção foi tirada quando ouviu um barulho vindo do canto do aposento, onde ficava a cama de Arianna. A mãe agora estava inquieta, trocando de posição a todo momento e aparentando passar por um terrível pesadelo. Com medo de que a mulher acordasse e o flagrasse com aquilo nas mãos, decidiu guardar o mapa em baixo de sua própria cama e adormeceu com rapidez.

...

Não aconteceu nada de diferente na aula de esgrima daquele dia. Os movimentos de Wolfric estavam se tornando mais ágeis e seus reflexos também, o que impedia os adversários de o acertarem facilmente e trazia a necessidade de golpes mais experientes para conseguirem derrubá-lo. Wolfric acreditava que, se Gregory Muirden estivesse vivo, se orgulharia de seus avanços. O falecido homem era uma grande inspiração que permaneceria intacta e sendo motivo para seu grande crescimento como pessoa.

Almoçou com a mãe adotiva e procurou por Susan, mas não a encontrou. Deveria estar com o pai em algum aposento ou canto do grande castelo. Resolveu esperar pela amiga na torre abandonada, acreditando que ela saberia onde estaria e o procuraria por lá.

O céu estava claro, portanto, foi possível ter uma vista melhor e mais aberta de praticamente todo o continente de Hastryn do Sul. Lindo como nunca, tinha uma coloração azul bebê que chamava a atenção de qualquer um que o visse.

Ao leste das terras onde se encontrava, havia algumas colinas e morros que podiam ser vistos de longe. Atrás dessas formas de relevo e um pouco escondida, ficava a cidade de Sarenth, que um dia foi uma pequena aldeia e recebeu investimentos e reformas do governo para que a população fosse mais dividida entre as vizinhanças. Um pouco mais à frente, onde as florestas eram o destaque da região, o que parecia ser a cidade de Fauth estava cercado pelas árvores altas. Uma cidade que era praticamente um mito, pois somente aqueles que conseguissem pisar em seus territórios eram capazes de constatar a veridicidade de sua existência. Usando o mapa como referência, Wolfric percebeu que aquelas eram as construções do sul do continente.

A paisagem não terminava por ali. No norte do continente, próxima a uma lagoa gigante, ficava Allaren, cidade bastante conhecida pelos moradores, a segunda com maior riquezas após Horgeon. Era como Siedronus em Hastryn do Norte, com boas condições para manter os habitantes e suas respectivas atividades comerciais.

— Vejo que não aguentou esperar por mim e já se precipitou a vir para cá. — Susan apareceu, com um sorriso estampado no rosto. — Pelo menos não se perdeu no caminho.

— Eu nunca me perco — brincou.

— Mas como é convencido... Na próxima o deixarei se situar e não explicarei como chegar às alas misteriosas daqui. Ainda há muitos lugares para você conhecer.

— Que princesa adorável. — O menino provocou, se preparando para receber um soco de brincadeira da amiga, que não chegou a ser desferido. — Estava perdido nessas visões. Não consigo entender o motivo desse lugar não ser um ponto turístico pelas pessoas da corte.

— Elas pensam em coisas demais e não possuem simplicidade. Não ligam para a beleza da natureza ou de nosso rico continente. Querem apenas lucrar em cima umas das outras, em vários jogos do reino que detesto ter que fazer parte um dia.

— Talvez você não precise... As coisas podem ser diferentes.

— Nunca serão. Sou a única herdeira de Vincent Prince.

Ele tentava se convencer de que Susan estava errada, mas, no fundo, reconhecia que não. A princesa vivia em um ninho de cobras, onde uns armavam para os outros com a intenção de conseguirem se sair melhores nas situações e realizar seus objetivos com sucesso. A ambição sempre falava mais alto. Não importava como fosse a situação.

— Tive uma ideia. — O menino disse, de sobressalto. — Por que não redesenhamos o mapa de Hastryn com as características que conhecemos? Com o tempo, teremos algo feito por nós mesmos que poderá nos guiar em muitas viagens e missões de aventura.

— Fazer as alterações e deixá-lo mais parecido com o mundo atual. — Susan parecia refletir sobre a proposta. — Já existem outros mapas mais recentes em diferentes cantos do castelo, mas gostei de termos o nosso. Será divertido!

Wolfric sorriu, pensando nas viagens que faria com a amiga. Desejava ser como os heróis dos contos, que enfrentavam e derrotavam monstros utilizando suas espadas e mostrando o espírito de liderança diante de uma equipe. Para que tivesse um futuro como aquele, precisaria praticar bastante esgrima e manejamento de arcos e flechas. Dominaria a arte da guerra por completo e traria orgulho aos Trannyth e à Arianna Luckov. Talvez até mesmo se tornasse o autor de um livro, relatando fato por fato de toda sua vida, para que os filhos e os descendentes das próximas gerações pudessem conhecer a história da família.

Nessas viagens, aproveitaria para tentar encontrar as irmãs Muirden. Ir para os territórios nortenhos seria arriscado, mas era algo que Wolfric devia ao falecido Gregory. Manteria sua promessa.

— Vamos começar!


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Notas finais do capítulo

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