Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 11
Horgeon


Notas iniciais do capítulo

Observação: O ponto de vista do Elliot é simultâneo com o dos outros três narradores, Lothar, Charlotte e Katherine. Às vezes algo pode acontecer antes ou depois do que eles estão narrando lá, pois a localização deles é diferente.

Idades:
Arianna = 34 anos.

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"Foi o meu refúgio. O lugar onde senti que, felizmente, poderia recomeçar."
— Elliot Trannyth



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Elliot

Corpos cansados se sentindo pesados e com dores foram os motivos para que passassem mais de uma noite na hospedagem de Jane. Todavia, como ambos descansaram por bastante tempo, os dois dias terminaram com muita rapidez e já havia chegado o momento de levantarem e partirem na direção de Horgeon.

De volta à estrada, os problemas durante o caminho se reduziram. Não eram tantos como nos dias anteriores. As preces de Elliot finalmente foram ouvidas, sendo garantida uma viagem o mais segura possível para o seu novo lar.

Passaram por um desfiladeiro cuja vista era direcionada às Terras Desérticas de Durwin, o local em que, de acordo com os mitos, uma civilização mágica havia habitado em épocas anteriores. Uma região atualmente assustadora, causando arrepios naqueles que ousavam passar por perto. Se àquela distância Elliot já sentia aquilo, imaginava quem atravessasse por áreas próximas.

Conforme seguiam para o sul, o frio diminuía cada vez mais. Em certos instantes, o garoto não sentia necessidade de utilizar o manto, mas, por ordens de Peter Howard, permaneceu sendo aquecido pelo agasalho.

— Qualquer prevenção é mínima. — O jovem estava com um péssimo humor desde que saíram da aldeia, e Elliot compreendia o motivo, porém, não iria tocar nas feridas do guarda-costas. — Não se deve correr o risco de contrair uma doença por motivos ridículos.

— Tudo bem... Não repetirei o mesmo erro.

— É bom mesmo que me obedeça. — Peter, apesar do corpo musculoso e forte, era como uma versão crescida de Elliot. Isso facilitava nas viagens, pois aqueles que não os conheciam certamente acreditariam que eram irmãos ou parentes distantes, mesmo que não fossem muito parecidos.

Elliot sentia vontade de quebrar o clima ruim existente entre eles, mas não sabia o que dizer, e não queria ter a inconveniência de irritá-lo ainda mais. Portanto, seguiu Howard em silêncio pelas matas.

— A grande ponte se aproxima. — Ele disse, de súbito. A ponte consistia em uma extensa faixa de terra que interligava os continentes Hastryn do Norte e Hastryn do Sul, servindo como alternativa de passagem entre eles, além dos acessos pelos portos e navios. A única parte central que restara do desastre natural que separou Grimwerd em quatro continentes, servindo para unir aqueles dois em um só. — Descansaremos bem menos, para que cheguemos a nosso destino final mais rápido. Esteja preparado para o restante da viagem.

Quando saíram da aldeia, Jane ofereceu gentilmente dois dos cavalos para facilitar a viagem. Daquela maneira, a velocidade até Horgeon seria dobrada, pois os animais galopavam com extrema rapidez, que chegava a assustar o menino em algumas horas.

— As florestas de Hastryn do Sul são perigosas?

— Sim. Tentaremos evitar as áreas de maior risco, pois acredito que finalmente despistamos os nortenhos. Estamos muito à frente para que saibam nossa exata localização.

— Espero que esteja certo. Não quero ser caçado e morto por um lobo.

— Não fique amedrontado. — Peter possuía uma determinação contagiante, que fazia as pessoas ao seu redor serem tomadas por um pouco desse sentimento. — Conseguimos sobreviver até agora, e permaneceremos vivos. Confie em mim.

Tentado deixar o medo e a insegurança de lado, Elliot Trannyth suspirou, seus passos ficando mais firmes conforme andava. Era um desafio que precisava ser enfrentado.

...

Muitos dias depois, quando Elliot já havia perdido a noção do tempo, estavam em terrenos próximos ao castelo. Podiam ver, à distância, um pouco de movimento. Algumas pessoas caminhavam pelas áreas arborizadas e por pequenas e amontadas cabanas de palha. A princípio, parecia um local alegre, tendo uma energia completamente oposta à de Arroway.

Foram atrás dos rastro deixados por aqueles indivíduos, acreditando na possibilidade de levá-los diretamente à cidade principal do reino. Naquela mesma noite, conseguiram avistar as torres mais altas do palácio.

— Vamos! Estamos bem perto!

— Não se pudermos evitar. — A voz veio de trás das árvores.

Virando-se, encontraram um grupo pequeno de homens cujas armaduras tinham a insígnia do reino principal do norte esculpida em suas prateadas e enferrujadas armaduras, feitas com detalhes amarelos e escarlates. Suas espadas estavam erguidas e, em questão de segundos, foram capazes de cercá-los com agilidade. Peter e Elliot ficaram de costas um para o outro, com suas respectivas armas nas mãos, prontos para rebater o bote inesperado.

O primeiro golpe deles foi lançado, fazendo com que o guarda-costas desviasse e tirasse o garoto da direção da lâmina. Peter derrubou o guarda com uma rasteira e lançou a espada em sua garganta, tirando sua vida em segundos. Ao mesmo tempo, Elliot se esquivava dos ataques de dois, quando conseguiu passar por baixo do que se encontrava à sua frente e o derrubou.

Todavia, eles tinham a vantagem. Mesmo com um deles morto, os três sobreviventes estavam em maior número e com mais resistência.

— Elliot, você precisa fugir. Vou tentar contê-los e impedir que te ataquem! — gritou Peter, lutando com dois ao mesmo tempo e tentando evitar que o terceiro chegasse perto do menino.

— De jeito nenhum! Não posso deixá-lo sozinho! — Elliot encarou o homem, fazendo um gesto para que este chegasse mais perto. O capanga puxou seu braço e o torceu, tirando a arma de suas mãos, deixando-o vulnerável.

— Agora eu vou cumprir as ordens do rei e entregar sua cabeça. Prepare-se para morrer.

Dito isso, porém, olhou para baixo, na região do peito. Fez uma expressão assustada e somente após isso Elliot reparou o que aconteceu. A espada de Peter Howard atravessou seu corpo, jorrando sangue para todos os lados. Quando foi retirada, o atingido caiu sobre a poça, se contorcendo de dor.

— Vá! — Ele gritava, suplicando para que o menino fugisse antes que fosse tarde demais. — Cuidarei desses dois e te alcançarei! Diga que se chama Wolfric e procure por Arianna Luckov. Estarão prontos para recebê-lo de braços abertos.

Sem saber o que fazer, Elliot acabou obedecendo à ordem. Montou em seu cavalo e foi pela direção das torres, aflito. Quando olhou para trás, viu Peter reagindo na luta contra os dois guardas que sobraram.

“Um verdadeiro guerreiro nunca abandona seus aliados numa batalha.”

Ele estava fazendo isso.

Respeitando o que havia sido mandado, prosseguiu com a trajetória e o deixou para trás. Sentia-se um covarde, alguém que merecia total desprezo. Desejou fortemente que ele conseguisse sobreviver à luta e o encontrasse mais tarde em Horgeon.

Decidido a continuar, não olhou para trás.

...

As muralhas eram maiores e mais fortificadas, como se aquela arquitetura fosse erguida muito mais recentemente do que a de Arroway. Entretanto, Elliot sabia que as construções tinham sido feitas em períodos próximos, pois fora algo mencionado por Peter durante o trajeto.

Era impressionante a conservação do local depois de séculos de existência. Os relatos sobre a sociedade de Horgeon ser pacífica começava a fazer sentido para ele, mas ainda não sabia como o povo conseguia viver bem. As pessoas tinham opiniões e ideias divergentes, sempre criando conflitos para conseguirem realizar o que acreditavam ser justo e correto para as próprias ambições e desejos.

Após dizer o nome falso aos guardas, descobriu que realmente estavam preparados para recebê-lo. Permitiram que entrasse e informaram por Elliot deveria seguir até chegar à tal Arianna. Não compreendia absolutamente nada, mas não fazia perguntas que pudessem comprometê-lo.

“Quem será essa mulher? Irá me proteger?”

Horgeon era uma bela cidade. O cavalo passou lentamente por uma ponte de pedra pequena. Olhando para o rio, o jovem pescador viu que a água limpa brilhava e refletia o azul do céu. Seu fundo tinha algumas moedas brilhantes, trazendo lembranças de um lugar do passado.

Um lugar que deveria ser esquecido.

Percorrendo as ruas, viu casas parecidas organizadas em fileiras, onde uma população perambulava alegremente. Uma senhora carregava um cesto de frutas, acompanhada de uma menina com um jarro cheio de água nas mãos. Garotos com roupas sujas brincavam se enrolando no solo nevado e as sujando ainda mais. Elliot sorriu ao imaginar seus dias perto daqueles cidadãos. Era o que sempre queria, sem a ameaça de Lothar por perto para infernizá-lo.

Chegando ao local dito pelos guardas, fez o cavalo parar e saltou da montaria. Estava de frente para o Grande Palácio de Horgeon. Congelou, temendo conhecer o novo rei, mesmo que seu subconsciente dissesse que deveria permanecer tranquilo e sem medo.

Repetiu seu nome aos responsáveis pela portaria.

— Aguarde um pouco. Chamaremos sua mãe.

“Mãe?”

Agora tudo estava fazendo sentido. Arianna seria sua mãe falsa na cidade, para que pudesse se passar por um garoto chamado Wolfric. Mas onde estaria o verdadeiro Wolfric e porque tamanha generosidade de uma senhora que nem ao menos o conhecia?

Esperou por alguns minutos, quando uma senhora com expressão simpática foi para o lado de fora e o encontrou. Tinha os cabelos curtos e pretos presos em um lenço e utilizava um avental branco. Suas bochechas eram grandes, tornando engraçado seu aspecto. Enquanto os olhos do garoto eram castanhos claros, os seus eram escuros. A mulher o olhou como se estivesse ordenando algo e seu rosto se abriu num largo sorriso em seguida.

— Meu garoto, que saudade! Vamos para dentro!

Foram pelos pátios, em silêncio. Elliot não faria nenhuma pergunta, sentindo que deveria permanecer calado até o momento em que Arianna explicasse a situação. Através de uma porta de ferro, acessaram um corredor escuro que parecia uma masmorra, mas os raios solares impediam que fosse assustador aos que andassem por ali.

— Aqui será onde dormiremos.

Arianna retirou do bolso de suas vestimentas um molho de chaves, selecionando a menor para abrir a porta do aposento. Era um ambiente pequeno, porém maior do que seu quarto no arraial.

— Sente-se. Temos que conversar. — Elliot se sentou na cama desocupada, concluindo que seria a sua. — Sou uma velha amiga de Gregory e recebi um bilhete informando que você estava em apuros e sem abrigo. Tive um filho chamado Wolfric que desapareceu junto de meu marido a uma viagem para as ilhas há anos. Ele era um pouco mais velho que você, mas ninguém irá reparar.

— Seremos como mãe e filho?

— Sim, garoto, e ninguém no reino deverá saber disso. A partir de hoje, deverá abandonar sua antiga identidade e agir como se fosse o verdadeiro Wolfric Luckov. É a único jeito de sobreviver.

— Tudo bem. — Elliot gaguejava, se sentindo extremamente deslocado naquele local e com alguém que jamais havia visto antes. — Farei o que for necessário. Agradeço por ter me acolhido, senhora.

— Não fique assustado. Falei assim para alertá-lo e deixá-lo ciente de como tudo funcionará. Mas quero que se sinta à vontade e possa contar comigo com o que for necessário. Será meu amigo assim como Gregory foi, está bem?

— Sim... Senhora, sinto muito pela sua família. Queria tanto que não tivéssemos que sofrer perdas dolorosas em nossa vida.

— Eu também.

Arianna Luckov era uma das inúmeras funcionárias da cozinha do castelo. Falou sobre como o trabalho se tornou uma importante distração e como nutria amor às atividades culinárias. Elliot ouviu tudo com atenção, valorizando a importância daquilo para ela, assim como um dia gostaria que os outros o valorizassem e o reconhecessem.

Com o fim da conversa, a mãe adotiva o deixou e retornou a seus afazeres. Solitário, pegou-se de súbito pensando em Peter. Será que tinha sido morto pelos guardas? Rezou aos deuses para terem misericórdia do rapaz.

Afinal, tudo tinha sido sua culpa.

Mais tarde, o expediente foi encerrado e Arianna retornou exausta ao quarto, carregando uma bandeja larga um pouco de cada alimento preparado durante o dia. Quando a abriu, os olhos de Elliot brilharam. Somente então ele percebeu que estava faminto.

— Às noites, trarei nosso jantar para cá e comeremos juntos. Pegue, querido. Deve ficar bem nutrido.

Ela separou um prato com metade da refeição composta de torta de frango, ensopado de javali, lebre com grão e nabos e açorda de perdiz. Uma refeição deliciosa, a melhor que ele já tinha provado. Ficou impressionado com as excelentes habilidades da cozinheira.

— A comida está maravilhosa!

— Obrigada. — Arianna sorriu, fazendo o menino se sentir um pouco mais à vontade em sua presença. — Diga-me como foi sua tarde. Passeou um pouco?

— Hoje não, estava cansado e resolvi ficar descansando até a senhora voltar. Não é arriscado que eu saia e interaja com os outros?

— Depende... Para Elliot seria um risco, mas para Wolfric não. Com esse nome, poderá brincar com os outros meninos e até praticar esgrima. Deseja aprender a lutar como um soldado?

— Sim! É um dos meus maiores sonhos!

— Amanhã mesmo irei prepará-lo, então. De manhã, poderá ir até o campo onde os alunos frequentam as aulas. Se preferir, posso separar um tempinho e levá-lo.

Elliot iria respondê-la, mas foi interrompido por fortes barulhos vindos do lado de fora. Alguém batia na porta e tinha impaciência. Silenciosamente, Arianna se levantou, espionando por uma pequena fenda. Ao ver quem era a pessoa, permitiu acesso.

Peter tinha sobrevivido.

— Consegui detê-los. Estão mortos e seus corpos foram enterrados.

Lutou para dizer aquelas palavras e desabou no chão, sem forças. Seu estado era grave. O olho direito estava inchado e escuro, certamente por causa de socos lançados pelos inimigos, e as mãos sangravam. Arianna o deitou sobre uma das camas.

— O que faremos?

— Dentro do armário, há uma bolsa branca com ferramentas medicinais. Ferramentas de primeiros-socorros. Chamarei um guarda e iremos à enfermaria agora mesmo.

Elliot não demorou a achar o objeto. Quando apanhou a bolsa, correu à procura de homens que fossem fortes o suficiente para carregar Peter Howard. A vida dele precisava ser salva...

Assim como ele salvara a sua.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Gente, me passem os facebooks de vocês (se quiserem) pra eu adicionar quem ainda não me tem. Me mandem uma mensagem privada por aqui, porque, se adicionarem lá, posso não saber que são vocês! ♥