O REVERSO DA MEDALHA - Fanfic Express escrita por Serena Bin


Capítulo 2
O Plano


Notas iniciais do capítulo

Oi lindezas, aqui está mais um capítulo.
Quero agradecer à Geanesb e ao Amauri Filho pelos comentários no cap. anterior.
Esse é pra voces.
:)
Boa Leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/579323/chapter/2

Não demora muito até que eu esteja em meu pequeno quarto. As palavras de Snow ainda percorrem minha mente e eu sinto pela primeira vez o peso de estar vivo, porque me sinto totalmente responsável por manter Katniss viva.

Os Jogos ainda não acabaram, na verdade eles nunca têm um fim.

Estou deitado em minha cama preparando algo para dizer a Caesar Flickermann. Me concentro na possibilidade de defende-la a todo custo, de dizer que ela, assim como eu, esteve no escuro durante toda a programação rebelde.

Não sei exatamente até que ponto posso acreditar em Snow, mas depois do que vi acontecendo com o meu distrito, tenho a certeza de que Katniss esta viva em algum lugar, pode ser no 13 como o próprio Snow citou, embora eu acredite que tudo não passe de um pretexto para ele não admitir que não faz a mínima ideia de onde ela e a trupe revolucionaria possam estar escondidos. De qualquer forma, tudo o que tenho são as informações dadas pela Capital, terei de trabalhar a proposta de que Katniss não estava em seu juízo perfeito no momento em que explodiu a arena, e eu também posso jogar o lance da gravidez, isso com certeza será um bom álibi, mas Caesar certamente me fará perguntas polêmicas sobre a revolução ou sobre ela ter me abandonado, contudo já sei como agir.

Quando me acho vagando em meus pensamentos ouço as batidas na porta, quando a mesma se abre tenho uma surpresa tão grande quanto ver imagens do 12 incendiando.

Ali, de pé entre a porta e a parede está Portia.

Um semblante triste e perdido está em seu rosto, talvez pelo desaparecimento repentino de Cinna.

Junto à minha estilista estão os outros dois: Kara e Pearl, minha equipe de preparação. Ainda estão vivos afinal, mas quando estendo os braços para abraça-los, noto os hematomas e cortes na pele escura de Portia, um olho levemente arroxeado em Pearl e as queimaduras nos braços de Kara.

Torturados.

Imagino que a Capital esteja levantando todos os suspeitos de conspiração, porque todos que mantinham algum convívio com Katniss e eu estão na berlinda; o sumiço de Cinna, a tortura de meus preparadores, o mandato de prisão para Plutarch, isso me faz pensar na situação de Effie Trinket, talvez tenha sido capturada e esteja sendo torturada nesse momento.

Não existem palavras entre minha equipe e eu. Apenas me observam com dúvida, como se procurassem algum sinal de tortura ou alguma mudança em mim.

– Portia! - digo quebrando o silencio - Estou feliz em te ver.

Não há resposta, então eu continuo:
– Voces tem sabido de tudo não é mesmo?

O silencio persiste. Nem Portia nem os outros pronunciam uma só palavra e é então que percebo o que há. O modo como engolem, os cortes e cicatrizes nos lábios, os grunhidos baixos.

Avoxes.

Em algum lugar, minha mente cria uma cena em que Portia, Pearl e Kara são interrogados pela Capital que, sem respostas satisfatórias os fazem calados para sempre. Uma imagem tão cruel que faz com que eu bata minha cabeça na tentativa de dissipar o pensamento. Então eu os abraço e sinto a desconfiança de Kara quando eu me aproximo, mas logo o medo dá lugar a um suspiro de alívio, não sei se por me verem vivo ou por saber que ainda podem confiar em mim.

– Voces estão seguros agora - digo na tentativa de amenizar a situação - Eu prometo.

Eu prometo. Devo isso a eles porque não importa o quão fúteis sejam, a verdade é que eles fazem parte de alguma especie de família a qual Katniss e eu pertencemos.

– Sei que estão aqui para me fazer decente para as câmeras, então vamos ao trabalho! - disparo com ar engraçado, arrancando um sorriso tímidos de minha estilista, e quando ela escreve com batom vermelho a frase "Sentimos sua falta." – tenho certeza de eles ainda são os mesmos.

Quarenta minutos são necessários para que eu esteja novamente na condição de vencedor e noivo. Dessa vez não há maquiagem reluzente, só algo a que Portia se referia como beleza base zero.

Estou em um elegante terno branco, semelhante ao que usei em minha última entrevista com Caesar, no entanto este é mais sedutor, talvez essa seja a proposta: me fazer parecer belo e forte, para mais uma vez provar a generosidade da capital para comigo. Patético.

Portia acerta os últimos detalhes. Uma bainha em minhas calças, um ajuste em meu paletó, um lenço em meu bolso e estou pronto para mais uma vez enfrentar o furor de uma nação sedenta por diversão.

Que comecem os 76º Jogos Vorazes - Penso - e que a sorte esteja sempre ao meu favor.

–--

O estúdio de onde Caesar Flickermann fala para toda Panem ainda continua o mesmo. Um grande palco, uma plateia gigantesca e o mesmo apresentador extravagante e simpático de sempre. Porém dessa vez, nosso encontro será em local diferente: a mansão presidencial.

Caminho pelos corredores dos bastidores enquanto tento formular respostas rápidas.

" Seus passos dependem dos dela"

A frase de Snow volta em minha mente. Não é preciso muito esforço para perceber que ele está me ameaçando, caso as atitudes de Katniss não sejam contidas, as consequências podem ser desastrosas para nós dois. Francamente, não dou a mínima para minha condição, espero apenas que todos engulam minha história e a deixem em paz.

Quando chego próximo a entrada do cômodo onde ocorrerá a entrevista, ouço a voz inconfundível de Caesar. Uma vinheta toca e sou inserido. Tudo exatamente como da última vez; luzes, refletores e câmeras que captam minhas expressões de todos os ângulos possíveis. Só há uma coisa diferente; no canto direito da sala, sentado em uma confortável poltrona está ele, me observando, me dizendo com o olhar que estou em suas mãos. Snow olhos de serpente.

No momento em que o vejo, sinto-me mais empolgado em falar, em dizer o quanto tudo é cruel, em colocar Katniss como a vítima dessa história toda, em me levantar como um noivo orgulhoso de sua amada. Me sinto no vapor de ser um revolucionário, entretanto sei que qualquer deslize pode ser fatal, então eu faço o que sei fazer: trabalho com as palavras.

– Peeta Mellark! Como é bom te ver novamente. - Caesar me cumprimenta com sua habitual cordialidade.

Eu respondo com um aperto de mão e ele faz um gesto para que nos acomodemos nas cadeiras.

– Imagino que voce pensou que havia feito sua ultima entrevista comigo certo? - Digo sorrindo.

– Sim, - ele responde, - Confesso que foi exatamente isso que passou pela minha cabeça. Na noite do Massacre Quaternario, quem poderia imaginar que nos veríamos novamente?

– Isso não fazia parte dos meus planos também. - Respondo.

Diferente das outras vezes, não há risos ou cumplicidade entre Caesar e eu. O apresentador não é mau, tampouco me parece comprado pela Capital, mas sua inegável imparcialidade não me é bem vinda nesse momento.

Caesar se aproxima um pouco quebrando nossa distancia:

– Acho que ficou bem claro para todos nós qual era o seu plano para o Massacre Quaternário - o apresentador mantém uma expressão ligeiramente espirituosa - Sacrificar-se na arena para que Katniss Everdeen e o filho de voces pudessem sobreviver.

Bingo. Era disso que eu precisava, um gancho para poder puxar a defesa de Katniss, para poder apresenta-la com inofensiva, e Caesar faz isso com tanta rapidez que no minuto seguinte estou colocando todo o meu discurso em prática.

– Foi isso. Claro e simples. - tateio o tecido do sofá para dissipar a tensão então olho para Snow, tenho a nítida visão de seus lábios formando uma frase. Algo como um lembrete de que manter o status de Katniss tem um preço que precisa ser pago. A rebelião nos distritos, lembro a mim mesmo. Em algum momento dessa conversa tenho que mostrar que a Capital está aberta a negociações - Mas outras pessoas também tinham seus planos...

Me pergunto se Katniss pode me ver agora, e se pode, tento imaginar o que se passa em sua mente nesse exato momento. Talvez esteja se sentindo uma peça de um enorme quebra cabeças o que é bem provável, ou então simplesmente tenha abraçado a loucura da causa o que é bem remoto. Provavelmente está se odiando por ter acreditado nas pessoas erradas e quem sabe se desculpando por me deixar na arena. Mas admito ser impossível saber o que se passa com ela, simplesmente porque Katniss é um poço tão fundo que é absurdamente causticante tentar alcança-la.

– Porque voce não nos conta como foi aquela ultima noite na arena? - Diz Caesar passando o microfone em minhas mãos.

Acomodo o aparelho em meus dedos, e olhando diretamente para Snow inicio uma especie de documentário sobre a arena, ditando detalhes e mais detalhes:

– A ultima noite, pra falar a verdade foi a mais terrível. Primeiro voce precisa entender como é estar de fato na arena. Era como ser um inseto preso em um pote enfumaçado, - minha expressão permanece firme em direção a Snow, e no momento ele levanta os olhos sei que ele entende o que quero dizer.

– E por todos os lados selva, verde e vívida...

O rosto de Caesar reflete as expressões da platéia, porque ele mantém um tom espantado como se nada do que eu falo fosse verdade. Eu continuo meu discurso.

– E além disso voce tem que fazer escolhas que custam muito caro.

– Custam a sua vida - Caesar comenta reflexivo, mas eu o interrompo corrigindo-o.

– Matar pessoas inocentes? Custa muito mais do que sua vida. - digo firmemente - Custa tudo o que você é.

Minhas palavras caem como uma bomba sobre o set, porque posso contemplar todos os presentes, exceto Snow, é claro - ficarem pensativos.

– Tudo o que voce é - repete Caesar refletindo sobre a frase - Ok, Peeta, mas pode nos dizer qual era o seu plano naquela noite?

– Na última noite meu único plano era proteger a Katniss, mas eu estava ocupado demais para poder salva-la.

– Com o plano de Beetee. - Caesar acrescenta.

– Não - eu o corrijo - Eu estava ocupado demais em bancar o aliado, porque eu não podia deixa-los notar que Katniss e eu estávamos prestes a quebrar a aliança. E quando Beetee pôs finalmente o plano em prática, eles nos separaram. Então a arena explodiu. Foi aí que eu perdi a Katniss.

– Mas Peeta - diz o apresentador -A arena não explodiu sozinha, Katniss o fez, voce viu o vídeo. Isso tudo faz parecer que ela não estava sozinha. Que de alguma forma ela fazia parte do plano rebelde.

Eu me irrito com o rumo que essa conversa está tomando. Eu já esperava tais questionamentos, mas acredito que as perguntas contidas nas fichas de Caesar foram escolhidas especialmente para causarem intrigas, para de alguma forma fazer com que eu caia em contradição comigo mesmo e passe a duvidar da inocência de Katniss.

– Será que fazia parte do plano dela quase ser morta pela Johanna? Ou ficar paralisada pelo choque? - minha voz sai alterada - Ela não sabia o que estava fazendo quando explodiu a arena, e voce mesmo pôde ver como ela passou algum tempo analisando o fio antes de finalmente mandá-lo para as núvens. Nem eu nem Katniss sabíamos que existia outro plano rolando, estávamos completamente no escuro!

– Tudo bem, Peeta - Caesar diz colocando-me de volta em minha poltrona - Podemos terminar por aqui se voce preferir.

– Tinha mais alguma coisa a ser discutida? - pergunto.

– Eu ia perguntar sua opinião a respeito da guerra, mas se voce está tão irritado... - começa Caesar.

– Oh, não! - digo. Essa é a oportunidade para falar o que Snow quer que eu fale. É repugnante a ideia de defender a Capital e falar que a guerra é desnecessária, mas que escolha tenho?

Posso prever as pessoas me chamando de traidor, mas eu sinceramente não me importo com as opiniões alheias. A unica coisa que me importa é a sobrevivência dela. Então quando Caesar lança a deixa, eu respondo com fervor.

– Quero que todos vejam isso - inicio focando o olhar em uma câmera a minha frente - Estejam voces na Capital ou nos distritos. Parem por um momento e reflitam nos efeitos que uma guerra pode causar. Não haverá vencedores, somente vidas perdidas, fome e destruição. É isso mesmo o que queremos para o futuro? Nós quase nos extinguimos uma vez e tudo só piorou. Quero que todos, todos, baixem suas armas, pois a Capital não quer uma guerra e está disposta a negociar. Lembrem-se, Panem funciona como um relógio. Precisamos de todas as peças envolvidas em total sintonia, entendem?

– Então quer dizer que voce está conclamando um cessar fogo? - pergunta Caesar.

– Sim - respondo secamente - E isso é para ontem!

– Tudo bem, Peeta. Acho que terminamos por hoje, obrigado por sua presença.

Caesar se despede do público e encerra as gravações em seguida dá um leve aceno em minha direção e sai apressado da sala, como se tivesse sido impedido de falar comigo fora das câmeras. Isso não faz a menor importancia para mim, entretanto. Afinal, a última coisa que quero nesse momento é conversar.

Do canto da sala, Snow ainda me observa e embora não diga nada, sei que ele não está feliz com minha entrevista, mas eu cumpri com minha parte no acordo. Apresentei a Capital como digna e conciliadora.

Depois sou removido da sala e lançado novamente em minha cela, as luzes se apagam e nenhuma palavra é dirigida a mim.

Meu único pensamento está em Katniss. Em como ela deve estar, onde ela pode estar. Me pergunto se ela já sabe o que Snow fez com o doze mas tais perguntas permanecem sem respostas.

Me recordo das palavras de Snow, dizendo que eu tenho de conter os atos delas, então me coloco a tentar antecipar suas ações, para quem sabe tentar protegê-la, mas é cansativo calcular os passos dela, de modo que quando o sono chega eu o abraço e caio numa noite profunda e sem sonhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso amores, obrigada por ler. Isso me deixou feliz. Agora se voce quiser me deixar muito feliz, deixe um comentário...é de graça. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O REVERSO DA MEDALHA - Fanfic Express" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.