Numa manhã de Outono, Niji estava no pátio de sua escolinha, brincando com seus amigos. Na verdade, aquele lugar era uma creche para as crianças que ainda não tinham idade para irem à academia e nem ficarem sozinhas em casa. Porém, como as crianças sempre aprendiam algo quando iam pra lá, a creche da senhorita Haruka mudou de nome para Escolinha Haruka.

— Gente, vamos parar? Já estou cansada de brincar de bola. – Pediu a amiga de Niji. Uma menininha de simples olhos e cabelos castanhos.

— Qual é? Nós começamos agora! – Reclamou um menino, de cabelos castanhos e olhos negros; as marcas vermelhas nas bochechas, típicas do clã Inuzuka, evidenciavam quem era. - Você é muito fresca, Reiko.

— É você quem tem um fôlego grande demais, Kentaro! – Reclamou Reiko. – Eu quero pular corda hoje e vocês disseram que iam comigo!

— Eu não-

— Reiko-chan tem razão, Kentaro-kun. – Niji se meteu entre os amigos. – Além disso, nós já jogamos bola todos esses dias. Ir pular corda hoje pela felicidade de uma amiga não vai te fazer mal.

Kentaro queria rebater, mas com aquele argumento de Niji não tinha como. Era impressionante que, mesmo com aquele jeito tímido, a Uzumaki tivesse um dom para acabar com brigas e intrigas.

— Táaaa legal, vamos logo. – Ele se rendeu. – Ei, Hiro, vamos! – Chamou um outro garoto, que estava abaixado perto de um arbusto e usava um casacão e óculos escuros. Esse se aproximou dos outros três. – Você sabia que eu poderia convencer a Niji e a Reiko se você me ajudasse?

— Hum... – Hiro murmurou, olhando brevemente para o amigo e depois voltando para um pequeno inseto que andava em sua mão. – Eu logo me cansaria de jogar também.

Kentaro arregalou os olhos com aquela resposta, porém apenas bufou, já esperando por algo assim. Mas que belos amigos havia arranjado, heim!

Eles chegaram na corda e enquanto Niji pegou numa ponta, Reiko foi para o meio. Hiro, como sempre, só deu de ombros para a brincadeira e voltou a examinar seus insetos, deixando para Kentaro segurar a outra ponta da corda. Mas mal Reiko deu três pulos:

— Crianças, hora de entrar! – A professora chamou de dentro da sala.

— Já...? – Reiko choramingou.

— Haha! Se deu mal! – Kentaro cantarolou, provocante. Mas foi só até sentir algo passar a centímetros de seu rosto, raspando em seu ombro.

Reiko sorriu vitoriosa ao ver o amigo congelar; e com um convencido dar de ombros, fechou sua bolça de estranho conteúdo: pequenos galhos pontiagudos. Não se provocava a filha da mestra das armas, afinal.

Entrando na sala pela primeira vez do dia, cada uma das crianças sentou em um dos puffs coloridos que ficavam espalhados pelo lugar. Como sempre, era um falatório, até a professora pedir atenção. E hoje não foi diferente.

— Muito bem, crianças. – Haruka chamou e todos lhes deram atenção. – Hoje, antes de começarmos, tenho uma novidade para vocês: Dois coleguinhas vão se juntar a nós. – Os burburinhos foram inevitáveis. Ainda estavam no início do ano letivo e era normal chegarem alunos novos, mas isso não deixava de ser emocionante. – Vocês já podem entrar.

Todos os olhares se voltaram para a porta, esperando que alguém aparecesse... mas ninguém surgiu.

— Vamos logo, Itachi. – Falou uma voz feminina, parecendo se aproximar da porta.

— Tsk, eu não sei porque nós temos que vir pra cá, podemos muito bem ficar em casa sozinhos. – Resmungou o garoto.

— Vamos, vai ser divertido! – Exclamou a outra.

— Vai você se quer tanto.

— Quer deixar de ser chato? – As vozes pararam por um momento. – Itachi, se você não entrar nessa sala agora, eu vou te obrigar a comer uma fornada dos biscoitos da Sarada.

Nenhum segundo a mais se passou e a porta foi aberta, revelando um menino de uns três anos, de olhos e cabelos negros, muito parecidos com os de Sasuke na infância - e feições meio sérias de mais para sua idade. Assim que ele entrou, uma menina apareceu, sorrindo radiante. Ela parecia ter a mesma idade que o garoto, mas diferente deste, suas feições eram bem mais suaves e felizes, e seus cabelos longos e lisos eram de um tom róseo distinto. Na verdade, as únicas coisas que eles deviam ter em comum mesmo eram a idade e os olhos.

— Muito bem, por que não se apresentam? – Sugeriu a professora.

— Ok! – A garota começou, com uma animação evidente. – Oi, pessoal! Meu nome é Uchiha Saori, eu tenho três anos e adoro brincar. Espero que sejamos bons amigos! – E olhou para o irmão, assim como o resto da sala.

— Tsk. Uchiha Itachi. – Foi tudo o que o garoto falou.

Depois dessa rápida apresentação, a professora liberou os alunos. Alguns foram pintar, outros pegar brinquedos, e por fim um grupo de quatro crianças foi até os gêmeos.

— Saori... I-Itachi... – Niji chamou baixinho, mas com um sorriso.

— Niji! – Saori abraçou a amiga. – Nossa, que saudade, faz tanto tempo que a gente não se vê!

— Hoje é quarta e nós jantamos na casa dela no domingo. – Itachi se intrometeu na conversa.

— Tá, e daí? Mesmo assim já faz tempo. – A rosada rebateu.

— Tudo bem, Itachi? – Cumprimentou a Uzumaki. O Uchiha apenas assentiu com a cabeça.

— Niji, não vai nos apresentar os seus amigos? – Reiko questionou, finalmente ganhando a atenção dos outros.

— Ah, sim. Desculpem. – A ruiva pediu. – Pessoal, esses são...

— Saori e Itachi Uchiha, os gêmeos Uchiha. Filhos de Uchiha Sasuke e Haruno Sakura, e irmãos mais novos de Uchiha Sarada. – Hiro falou de repente, como se não fosse nada.

— Uau, você é bem inteligente. – Saori elogiou.

— Hump, você ainda não viu nada, ele é metade Nara. – Kentaro se intrometeu.

— Ah, é? Então me diga, senhor espertinho. – Começou a Uchiha, apontando um dedo na cara de Hiro. – Quantos minutos o Itachi é mais velho que eu?

— Nenhum, porque você é a mais velha. E a diferença é por somente 56 segundos, não chega a ser um minuto.

— Viu, eu não te falei? – Kentaro riu da cara de espanto da garota.

— E quem é você, posso saber? – Questionou Saori para o Inuzuka.

— Saori, Itachi. – Niji recomeçou. – Esses são meus amigos: Inuzuka Kentaro, sobrinho do tio Kiba. – Apontou para o moreno, que apenas sorriu travesso para a Uchiha. – Mitsashi Reiko, irmã do Len. – Indicou a morena, que lhes sorriu. – E Aburame Hiro. – O garoto parou de prestar atenção em seus insetos para olhá-los, o que vindo de Hiro era um caloroso “olá”.

— Espera, mas se você é um Inuzuka, não deveria ter um cachorro? – Saori falou com Kentaro.

— Deveria, mas eu só vou ter quando “estiver preparado”.— Ele entortou a cara na última parte da explicação. – Mas deixa isso pra lá agora, eu vou brincar com os carrinhos.

— Oba, eu vou junto! – Exclamou a Uchiha, seguindo-o e deixando os outros para trás.

— Ano... – Reiko começou, chamando a atenção de Itachi. – Se você quiser, pode vir com a gente.

O Uchiha não respondeu nada, apenas manteve contato visual por mais alguns segundos e deu as costas para a garota.

— Não se preocupe, ele é assim mesmo. – Falou Niji para a amiga, que parecia ofendida com o descaso do garoto. – Você se acostuma.

— Era tudo de que precisávamos, outro Hiro.

A Uzumaki não pôde conter uma risada, mesmo que baixa, com esse comentário. Mas o que nenhuma das duas reparou, nem mesmo quando correram para se juntar aos outros, era que Hiro estava bem ao lado delas.

— É por isso que eu fico com meus insetos, ninguém nunca nota que eu estou aqui. – Falou o Aburame; se para si mesmo ou para os insetos, não se sabia dizer.

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Umas horas depois:

— E... acabei! – Exclamou Reiko, olhando para a folha onde desenhara com orgulho.

— eu também. – Falou Saori.

— Idem. – Kentaro disse.

—Uhum. – Niji apenas murmurou.

— Isso é ridículo... mas eu também já acabei. – Itachi fingiu indiferença.

— Então que o concurso de desenhos comece! – Reiko e Saori anunciaram.

Primeiro elas mostraram seus desenhos, eram coisas simples, visível e literalmente feitas for crianças de três anos. Saori desenhou um punhado de doces; Reiko, algumas armas ninja de sua mãe que gostava; Kentaro, um cachorro; e Itachi, um olho sharingan.

— E o seu, Niji. – Perguntou Saori, vendo que a amiga não mostrou sua folha.

— A-ah... o meu não está muito bom, melhor nem considerar. – A Uzumaki praticamente sussurrou, escondendo o rosto vermelho atrás da folha.

— Que é isso, Niji? Você desenha muito bem. Tanto é que quase sempre ganha. – Reiko incentivou a amiga.

— Vamos lá, mostra. – Kentaro também ajudou.

Com todos pedindo, Niji não teve muita escolha. Mostrou sua folha, fechando os olhos para não ver a reação dos amigos. Porém, esses só queriam saber de onde ela havia tirado que aquele desenho não estava bom. Não era nada de mais, apenas um arco-íris; simples, mas bem desenhado.

— Hum... parece que a competição está acirrada hoje. – Falou Hiro, analisando os desenhos um por um. Ele sempre era o juiz nesse tipo de brincadeira. – Eu já me decidi. – Anunciou, deixando todos apreensivos. – O vencedor é... Itachi.

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— HEEEEE?! – Saori, Reiko e Kentaro exclamaram ao mesmo tempo.

— Como assim o desenho dele está melhor que o meu?! – Gritou Reiko indignada

— Ela tem razão, isso não faz sentido!! – Saori apoiou.

— Olha para o meu desenho e olha pro dele, como pode achar que o dele é melhor?! – Questionou um Kentaro exasperado.

E eles até que tinham razão. Tudo bem que o desenho do Uchiha não estava horrível, mas nem de longe era o melhor ali.

— G-gente, o Hiro é o juiz. Se ele achou o desenho do Itachi melhor, não podemos fazer nada. – Niji tentou acalmar as coisas.

— Isso eu sei, mas eu quero é saber porque! – Exclamou Reiko.

— Porque – Hiro começou. – os pontos que ele desenhou no olho parecem insetos.

Gotas gigantescas brotaram na cabeça de todos. Ninguém acreditou que estava realmente ouvindo algo assim, principalmente Itachi.

— Tá bem, então o olho com pontos de insetos ganhou hoje. – Kentaro resolveu deixar isso pra lá, mas pelo comentário recebeu um olhar mortal de Itachi. – O que vamos fazer agora?

Ninguém respondeu, estavam sem ideias. Isso até Saori falar:

— Por que não vamos explorar?

— Explorar o que, criatura? – Questionou Kentaro.

— Hum... que tal uma floresta?

— Uma floresta? – Niji estranhou.

— A floresta mais próxima daqui é a Floresta da Morte. E acredite, você não vai querer entrar lá. – Disse Hiro.

— Sem falar que nem sair daqui a gente pode. – Lembrou Reiko.

— E quem disse que precisamos sair? – Indagou misteriosamente a Uchiha. – É só irmos... por ali! – Apontou para um monte de almofadas, que formavam uma espécie de túnel. – Vamos lá, gente.

Sem outra opção, os outros a seguiram. Entraram no túnel de almofadas e começaram a engatinhar, já que o espaço não era suficiente para ficarem de pé.

— Até onde vai isso? – Kentaro perguntou.

— Até uma floresta. – Saori respondeu, um sorriso brilhando em sua face. – Uma floresta grande, com várias árvores diferentes.

— Um rio tão limpinho que dá até para beber dele. – Reiko continuou.

— Com muitos animais. – Niji sugeriu.

— E todos os tipos de insetos que você puder imaginar. – Completou Hiro, também entrando na brincadeira.

— E nós vamos ver tudo isso... agora! – Disse Saori por fim. O túnel já tinha acabado e apenas uma almofada cinza os impedia de ver o que tinha do outro lado, até que a rosada tratou de empurrá-la.

A visão do outro lado deixou a todos maravilhados, tudo o que tinham falado estava ali, desde as muitas árvores diferentes até os mais variados tipos de insetos. Todos estavam boquiabertos, até mesmo Saori que foi quem tinha começado com aquela história, de modo que a primeira a se recuperar do choque e dizer algo foi Niji:

— Totó, acho que não estamos mais em Konoha.