Namorado "Inventado" escrita por Luh Marino


Capítulo 23
Capítulo extra: Os 18 Anos da Emily


Notas iniciais do capítulo

Esse aqui se passa no aniversário de 18 anos da Emily. Não é realmente romântico, até porque o Ash tinha namorada (que não é mencionada aqui, mas é mencionada na fanfic - a garota que foi embora depois do colegial), mas já era o começo de um sentimento que ele viria a sentir por ela. Ele já sente um ciúmes e uma preocupação acima do normal, mas pra ele ainda é amor de amigo.
Espero que gostem! :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/578932/chapter/23

Ashton entrou na sala de aula e suspirou ao colocar a mochila do lado da carteira em que costumava sentar. Algumas pessoas passavam ao seu lado e o cumprimentavam, e ele devolvia com sorrisos ou acenos. Mas ele estava terrivelmente cansado. Ficara acordado até tarde na noite anterior, simplesmente porque achava que estava se esquecendo de algo, mas não conseguia pensar no que.

O último ano do colegial estava sendo pesado. Havia pressão de todos os lados para que ele passasse direto e entrasse em uma boa faculdade. Ash podia jurar que ele ouvia a palavra “universidade” pelo menos umas sete vezes ao dia quando estava na escola. Bom, pelo menos havia esse lado “bom”: a pressão era apenas da parte da escola. Sr. e Sra. Ford eram tranquilos em relação àquilo tudo, apesar de ter um motivo. Eles sabiam que o filho iria seguir a profissão que eles queriam, mas só porque Ashton gostava. Se ele fosse contra as tradições da família e não escolhesse cursar Administração, sabia que os pais iriam pegar tanto no pé dele que ele iria ter que amputá-lo.

Ele estava cansado, é verdade. Mas estava bem, até mesmo feliz. A única coisa que lhe incomodava naquele momento era a crescente sensação de estar se esquecendo de alguma coisa. Por um momento, desejou que o universo de Harry Potter fosse real, assim, ele poderia ter um lembrol* que o ajudaria.

O professor de biologia entrou na classe e Ashton bufou. Não gostava muito do cara. Ele era jovem, todo bonitão e com pose de galã. Parecia aqueles professores da televisão. E o pior de tudo, o real motivo de ele não ir com a cara do homem, era o fato de que todo seu charme parecia causar algo em todas as garotas da classe, principalmente em Emily.

E, ah, como ele odiava aquilo!

Além do rosto e do corpo de modelo da Calvin Klein, ele ainda ensinava biologia! A matéria que Emy mais amava. Então, além da atração básica, Sanders ainda tinha uma paixonite extra pelo homem, porque ele “gostava das coisas boas da vida”, como dizia a própria garota.

Como em um tapa, Ashton se lembrou do que estava esquecendo. Olhou para a carteira ao seu lado, que estava vazia, e entendeu o porquê daquela sensação horrível de amnésia. Emily! Como pode se esquecer? Bateu na própria testa em um sinal de auto-desaprovação, e uma vontade súbita de sair correndo daquela escola tomou conta de todo seu ser.

Ele sempre desejava feliz aniversário pra ela no momento em que ela nasceu, que era às três e sete da madrugada (segundo tia Agatha). Mas, dessa vez, ele se esqueceu! Será que ela não havia ido à escola por estar chateada, ou pior, decepcionada com ele? Ashton não aguentaria se sua melhor amiga estivesse decepcionada com ele. Ah, não, seria dor demais para suportar.

De repente, parecia que sua bunda ficara infestada de formigas. Ashton ficou inquieto e não conseguia parar de balançar algo, ora uma mão, ora um pé, ora os dois. Ele precisava saber como Emily estava, era uma necessidade praticamente física! Ele conhecia a garota, sabia que ela ficaria triste se não recebesse uma mensagem de aniversário.

Por que ele escolhera sentar numa das primeiras carteiras, mesmo? Se ele sentasse um pouco mais atrás, poderia pegar o celular e mandar, discretamente, uma mensagem para Sanders. Ah, mas é verdade! A própria dita cuja o convencera a sentar na frente, para que ficasse mais “atento às aulas”. Como se adiantasse em alguma coisa! Ash não conseguia prestar atenção na aula, sempre tinha que correr atrás de tarefas e tirar dúvidas com os professores. Não entendia bulhufas das aulas com aquela garota ao seu lado. Nunca!

Grunhiu o mais baixo que conseguiu, querendo berrar pela frustração. Ele teria que aguentar mais cinquenta minutos daquela agonia antes que pudesse finalmente falar com a amiga. Será que aguentaria?

–x-x-x-

Enfim o sinal tocara! A última aula estava acabada. Ford mal conseguia acreditar; finalmente após horas e horas de desespero, ele poderia ir até a casa de Emily e ver como ela estava pessoalmente.

Veja bem, assim que a primeira aula com aquele professor insuportável terminou, ele mandou uma mensagem de texto para a garota. Parabenizou-a, disse tudo aquilo que se fala nos aniversários. “Tudo de bom, muita paz, saúde, felicidade… E sexo!” Afinal, ele ainda era um garoto de dezoito anos e precisava tirar uma com a cara da amiga, não é?

Mas ela não respondeu.

É claro que havia a possibilidade de ela simplesmente não ter visto a mensagem, mas Ash estava tão encucado com a ideia de que Emy estava, na verdade, chateada com ele, que sequer pensou nessa chance. Apenas assumiu que ela estava o ignorando. Simples, rápido e absurdamente doloroso. Como tirar um bandaid.

Correu para o lado de fora da escola, vendo todos os colegas olharem para ele como se fosse doido. Uma garota chegou a chamar sua atenção, querendo entender o porquê dele estar tão esbaforido, mas não havia tempo para explicar. Ele tinha que se apressar ao máximo.

Pegou a bicicleta que lhe pertencia e montou na mesma, pedalando com agilidade portões afora, para o meio da rua. Desviou entre os carros dos alunos (ou pais dos alunos), do transporte escolar, outras bicicletas e de carros que transitavam por ali simplesmente por transitar. Ele tinha que chegar à casa dos Sander Houston o mais rápido que podia.

Pareceram segundos, mas na verdade foram uns bons vinte minutos pedalando naquela bicicleta velha até que Ashton conseguira chegar na casa da melhor amiga. Sequer desceu do veículo direito, apenas o jogou no gramado e correu em direção à porta com um sorriso na cara. Finalmente, pensou. Finalmente posso abraçá-la e desejar um feliz aniversário digno!

Após tocar a campainha, quem atendeu foi a meia-irmã de Emily, Abby. Ford sabia que a garota sentia algo por ele, e chegou a ter algumas coisas com ela. Mas ela não era muito o tipo dele. Era simpática e tudo mais, porém ele ainda assim tinha um pé atrás com ela. Um pulga atrás da orelha.

— Ei, Ash! — Ela sorriu, e Ashton devolveu o gesto. — Emy não está. Ela sumiu pela manhã. Não sei o que aconteceu. — Abigail parecia legitimamente confusa, e ele arriscaria dizer até mesmo preocupada. — Mas você provavelmente sabe onde ela está. Você sempre sabe onde ela está.

Ashton sorriu.

Era verdade.

— Tudo bem, Gail. Obrigada de qualquer jeito!

— Não há de que. E mande um feliz aniversário pra ela por mim! — Respondeu, e assim fechou a porta.

Ford suspirou e foi de encontro à bike. Ele já tinha em mente o lugar onde a garota deveria estar. E era longe. Ele tinha que correr ainda mais.

–x-x-x-

O Hickman Park ficava relativamente próximo à Universidade de Wolverhampton, onde Ashton queria cursar Administração e Emily, Biologia. Era perto do centro da cidade, e por isso tinha certa movimentação de pessoas por ali. O Parque sempre estava cheio em todas as vezes que Ash fora até ele. E não foram poucas.

Emy gostava de parques. Talvez por causa de seu amor por biologia, apesar das alegações da garota, que dizia que a parte dos vegetais era a que ela menos gostava de aprender. Ainda assim, apreciava a natureza e gostava de ficar em meio dela, indo a parques sempre que podia.

Sanders preferia os parques com lagos ou algo do tipo, mas mesmo que o Hickman não tivesse nada assim, ela adorava passar um tempo nele quando estava triste. Ele tinha um pequeno gazebo rodeado de árvores onde a garota gostava de ir para pensar. E lá estava ela, sentadinha em uma mureta, cutucando os cantos das unhas e pensando sobre a prova de física que teria na semana seguinte.

Sequer viu quando Ford se aproximou, lenta e silenciosamente, e adentrou o gazebo com um ar de quem havia corrido vinte maratonas. Ou melhor, a falta de ar. Ele respirava fundo, vez ou outra soltando resmungos, e foi só em um desses, mais alto que os outros, que Emily notou sua presença. Levantou o olhar das mãos e o levou na direção do amigo, se surpreendendo e ficando de pé na mesma hora. Ash sorriu e se aproximou:

— Ei.

— Oi. — Respondeu, parecendo meio tímida.

Ficaram em silêncio, um encarando o outro. A feição de Emy estava neutra, mas por dentro ela estava chateada. Claro que Ash tinha seus motivos. Ela tinha certeza que ele tinha. Mas nem por isso o aperto em seu coração se aliviava. Ele era tudo para ela, e tinha deixado-a mal-acostumada ao mandar mensagens todos os anos. Emily tinha uma ideia de que aquilo não era muito saudável, mas não conseguia parar de sentir por Ashton tudo aquilo que sentia. A importância do garoto em sua vida já havia ultrapassado os limites do aceitável e ela não poderia ligar menor para aquilo.

— Emy, eu sinto tanto! — Ele se aproximou ainda mais e a puxou com força, colando seus corpos em um abraço apertado. A garota estava tensa, mas assim que sentiu os braços do melhor amigo à sua volta, tudo pareceu ficar bem. — O último ano da escola está fritando meus neurônios, e eu acho um absurdo ter esquecido seu aniversário. Mas eu fiz essa mancada e sinto muito de verdade.

— Tudo bem, Ash, eu não estou chateada! — Mentiu. Suspirou e se afastou apenas o suficiente para que pudesse olhá-lo. — Na verdade, eu vim pensar pelo mesmo motivo que você esqueceu. Estou preocupada com o colégio.

Eles sentaram-se lado a lado na mureta, Ashton com o braço sobre o ombro da amiga. Ela descansou a cabeça no ombro dele, e ele fez o mesmo na cabeça dela.

— Semana que vem tem uma prova de física, e você sabe como eu sou com física. — Ford fez que sim com a cabeça. — Estou severamente preocupada, eu não posso tirar menos de cinco ou fico de recuperação. E eu não posso ficar de recuperação!

Ela parecia realmente chateada, mas isso se dava às habilidades que adquiriu com o curso de teatro que fez dos dez aos doze anos. Emily não estava nem um pouco preocupada com a prova, ela havia estudado por semanas e estava mais que preparada. Mas não queria afligir Ashton, seria melhor se ele achasse que ela estava no mesmo estado que ele.

Ford afagou o cabelo da amiga e suspirou. Puxou-a para mais perto e abraçou-a com força. Ela retribuiu com a mesma intensidade, enfiando o rosto no espaço entre o pescoço e o ombro do garoto, fazendo com que ele ficasse arrepiado. Essa proximidade era perigosa. Ele não queria forçar Emily a nada, mas se ela continuasse tão perto dele, ele seria obrigado a puxá-la para um beijo.

Foram uns bons minutos assim. O cabelo dela tinha cheiro de xampu e o pescoço dele tinha cheiro de perfume da Calvin Klein. Ela ficou com vontade de espirrar e seu nariz coçou levemente, mas logo passou. Seu subconsciente entendeu que, se ela espirrasse, teria que se afastar de Ashton. E aquilo não era algo que ela queria que acontecesse.

Ford se levantou, esticando a mão e ajudando a garota a ficar de pé também. Não precisavam saber nada, sabiam o que cada um queria. Apenas ir para casa. O garoto recolheu sua bicicleta e guiou-a ao lado da amiga, que caminhava calmamente. Foram até o lado de fora do parque e Ash montou na bicicleta, deixando Emy acompanhá-lo a pé, do seu lado. Foram conversando sobre banalidades o caminho todo até o ponto do ônibus que Sanders precisa pegar para voltar para casa.

Ao pararem no local, Emy fez questão de sentar-se para aguardar o ônibus, mas antes que fizesse, Ashton puxou-a para mais um abraço. Beijou sua testa e fez carinho em seu cabelo enquanto a garota mantinha os braços ao redor da cintura dele.

— Feliz aniversário, Emyzinha. Eu amo você pra caralho.

Emily riu do amigo e levantou o rosto para olhá-lo. Ele devolveu a encarada com intensidade e ela se esgueirou toda, ficando nas pontas dos pés para que pudesse dar um beijo na bochecha dele. Ashton sorriu e fechou os olhos com o contato, apreciando o momento de carinho. Em seguida, separaram-se, e Ash apontou para o ônibus que a amiga precisava pegar, e que vinha correndo do final da rua.

Sanders correu para a ponta da calçada, esticando o braço e fazendo sinal para o transporte. Ela estava muito mais animada após ter passado um tempo com Ash, por mais que o tempo tenha sido curto. O ônibus ligou a seta e parou próximo aos dois, e Emy acenou em despedida.

— Ah! Abby mandou um feliz aniversário pra você! — Ford berrou, assim que conseguiu se lembrar, quando a mais nova já subia os degraus do transporte.

— Quando ela não tá babando em cima de você, eu até que gosto da garota! — Foi o que ela respondeu, antes que a porta se fechasse e ela terminasse de entrar no ônibus.

Ashton riu e acenou para a amiga, que devolveu o gesto mais uma vez, soprando um beijinho em seguida. Ford sorriu doce, pegando sua bicicleta e voltando a montar nela, pronto para pedalar loucamente até sua casa. Seria um longo caminho, e no dia seguinte suas pernas estariam doendo que nem o inferno, tudo porque ele praticamente foi de um lado ao outro de Wolverhampton.

Mas tudo valeu à pena, porque foi para ver sua melhor amiga.

Sua Emily.

Meu deus, como ele amava aquela garota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Lembrol é um objeto mágico que “acende” uma fumaça vermelha que “ajuda” a pessoa a se lembrar de algo que está esquecendo.

Aí está, gente. Já tem algumas pessoas me pedindo uma short desse final, e eu vou ver o que posso fazer. Por isso ainda não vou concluir a história. Só vou concluir se tiver certeza que não vou escrever short nenhuma.
Espero que tenham gostado. Eu amo muito vocês.
Até a próxima! õ/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Namorado "Inventado"" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.