Namorado "Inventado" escrita por Luh Marino


Capítulo 12
Capítulo onze


Notas iniciais do capítulo

GENTEEEE! O último capítulo postado foi o do beijo! O primeiro beijo deles! E teve pouquíssimos comentários, eu fiquei bem chateada. ): Não desanimem, por favor, continuem dando feedback!



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Achei estranho que a porta da casa estivesse aberta, mas não questionei e entrei. A sala estava vazia e nenhuma voz vinha da cozinha. Parecia não ter ninguém na casa, e eu me perguntei se mamãe e George lembravam que eu apareceria por lá, já que era meu aniversário.

Resolvi não chamar ninguém e apenas os procurei. Ninguém na sala, ninguém na cozinha. Já estava enchendo meu pulmão de ar pra gritar os nomes deles quando ouvi uma voz vinda do corredor.

Duh, mas é claro.

O escritório.

Me aproximei da porta ao lado da escada e estava com a mão na maçaneta quando resolvi parar para ouvir o que eles falavam.

Podem me chamar de enxerida, se quiserem.

Não sei, não, Agatha. Achei isso muito repentino.

Mas eu tenho certeza que não é mentira. Por que ela mentiria sobre isso?

Ué, ela ficou assustada com a ideia. Inventou na emoção do momento.

Ah, George, não sei. Ela parece bem com Ashton.

Eita porra, é disso que eles tão falando?

Não duvido disso, eles são melhores amigos desde sempre. Mas duvido desse namoro.

George, eu conheço minha filha. Ela nunca inventaria algo do tipo só pra se safar de algo. Ela enfrenta os problemas dela, não foge deles. E também tenho certeza que ela nunca fingiria estar apaixonada se não estivesse.

Ih, mãe, então tu não me conhece tão bem assim. Sinto lhe informar.

Devo dizer que me senti mal por aquilo. Minha mãe tinha ficado, de alguma forma, orgulhosa pelo meu namoro com Ashton. E ele não passava de uma mentira. Apesar de termos nos beijado.

Porque mal nos falamos depois do beijo. Ashton ficou estranho. Eu não ligava, não mesmo. Se continuaríamos apenas amigos ou se viraríamos namorados de verdade, pra mim não fedia nem cheirava. Mas, quando acordei no dia seguinte, ele não estava mais lá. E não foi me buscar na faculdade nenhum dos dias seguintes. E não me ligou, não me mandou mensagem. Não deu sinal de vida. E eu resolvi deixar como estava e dar um tempo pra ele pensar.

Me afastei do corredor e da porta do escritório, me sentindo um pouco culpada. Fui para a cozinha e me sentei no balcão. Busquei meu celular de dentro da bolsa e fiquei o encarando. Tudo bem não ter ligado antes. Mas era meu aniversário, e Ash estava sumido.

Era normal eu ficar chateada com isso.

Mas talvez eu estivesse de TPM, porque a falta de contato com Ashton estava me dando vontade de chorar.

Chorar muito.

–x-x-x-

— Emy! Desde quando está aqui, querida? — Me assustei quando minha mãe entrou na cozinha. Eu já estava ali há uns bons minutos.
Ashton não ligara.

Não mandara mensagem.

Nada.

— Não faz muito tempo. Não achei vocês, então decidi ficar aqui esperando. — Respondi, e me levantei do balcão.

Mamãe e George vieram em minha direção, me abraçaram e me encheram de beijinhos e carinhos e palavras de amor e desejos de felicidade. Típico aniversário.

— Abby voltou pra Londres. — Meu padrasto disse.

DEUS EXISTE!

— Sério? Que pena. — Respondi com o máximo de sarcasmo que podia, e ele riu enquanto Agatha apenas revirava os olhos.

— Quanto amor. — Ela se pronunciou. — Mas ela deixou um presentinho. — Tirou um pequeno embrulho do bolso do avental.

— Tem certeza que não é uma bomba? — Perguntei e, dessa vez, os dois riram.

Abri a embalagem e achei um colar, parecia de prata. O pingente era em formato de coração, daqueles que abrem. Custou um pouco pra que eu conseguisse abrir, mas finalmente o fiz. Dentro, em um dos lados, tinha uma foto de família. Eu, ela, mamãe e George; um ano depois deles se casarem. Tínhamos uns 16 anos, acho. Do outro lado, um papelzinho escrito “Ur a lil bitch (você é uma putinha)” em letra de mão.

Soltei uma gargalhada, e os dois adultos, curiosos, enfiaram a cara pra tentar ver o pingente. George riu comigo, e mamãe soltou um “Credo!” antes de também dar uma risadinha.

Até que a desgraçada tinha um bom senso de humor.

E eu to falando da Abby, pra deixar claro.

— Bom, isso foi divertido. — Meu padrasto disse, limpando as lágrimas que escorriam dos cantos dos olhos. — Mas eu tenho que trabalhar. Vai ficar aqui o dia inteiro, querida?

— Vou sim.

— Então te vejo de noite, tudo bem?

— Aham. Espero você antes de ir pra faculdade. Bom trabalho, G. - O abracei com força, e ele retribuiu.

Minha mãe disse que iria ao seu quarto rapidinho, e enquanto isso, eu fui para a sala. Sentei no sofá e busquei o controle remoto com os olhos, mas desisti de assistir TV quando vi que o infeliz estava no outro sofá.

Preguiça mata, viu?

— Bom, como estão as novidades? — Mamãe perguntou assim que chegou na sala, se sentando ao meu lado.

— Ah, tudo normal. Tobby ficou de bom humor esses dias e aumentou o salário de todo mundo. Acho que ele ganhou na loteria, não sei. — Minha velha riu.

— E os amigos? E Ash?

Engoli em seco.

— Ah, a mesma coisa de sempre… Sabe como é.

— Você ainda é socialmente desajeitada, Emy? — Perguntou, um pouco decepcionada.

Sinceramente, não sei por que minha mãe tem esse desejo absurdo de que eu seja popular e tenha vários amigos e sei lá o que mais. Acho que, de vez em quando, o lado burguesa dela fala mais alto.

— Felizmente, pra mim; infelizmente, pra você.

— Bom, pelo menos está namorando.

Ai, mamãe.

Você é uma fofura de tão ingênua.

— Com certeza. Eu e Ash estamos às mil maravilhas.

— Tenho certeza disso. — Ela piscou e sorriu, animada. — Mas talvez você deva ficar um pouco mais reconhecida. Talvez deva trabalhar em mais alguma coisa, ou fazer algum tipo de caridade… — Colocou uma das mãos no queixo e fez cara de pensadora. Me segurei pra não rir dela.

— Posso pensar na ideia de dar aulas particulares pra galerinha da escola. — Sugeri apenas pra que Agatha me deixasse um pouco em paz.

Eu amo muito minha mãe, mas fala sério! Às vezes a velha é insuportável.

— Ótima ideia, Emily! Fale com um professor seu.

— Pode deixar. - Menti, sorrindo falso.

–x-x-x-

A ideia ficou presa na minha cabeça. Não era tão ruim, afinal. Eu gostava de explicar, e aquilo poderia me render uma graninha extra. Por isso, depois que fomos dispensados da última aula do dia, eu continuei na sala, esperando meu professor favorito terminar de arrumar suas coisas. Quando ele finalmente o fez, praticamente corri até ele.

— Professor Henning! — Chamei, quando ele estava quase na porta. Parabéns, Emily, vai sentar no fundo da sala, mesmo.

— Srta. Sanders. No que posso ajudar?

— Sabe se tem alguma escola ou algum lugar que oferece estágio? Estava pensando em descolar uma graninha extra. - Respondi, e ele me olhou um pouco estranho antes de soltar um risinho.

— Conheço uma escola perto de Albrighton que está procurando alguns turores particulares. — Murmurou pensativo, e eu soltei um grunhido um pouco baixo pelo fato de Albrighton não ser exatamente próximo de casa. — É a Codsall, não sei se você conhece.

— Conheço, sim! Vou entrar em contato com eles. Muitíssimo obrigada, Professor Henning! — Ele sorriu pra mim e eu corri pra fora da sala. Já estava tarde, e eu ainda tinha que ir pra casa, o que demoraria um pouco.

Já do lado de fora da universidade, andando em direção a um ponto de ônibus próximo, senti o celular vibrar na bolsa. Estava um pouco frio, então eu fiquei com preguiça de tirar as mãos do bolso do moletom só pra pegar o aparelho. Mas ele vibrou novamente, e mais duas vezes logo após. Soltei um bufo, me sentando no banquinho do ponto e buscando o telefone infeliz. Quando o achei, vi na tela que tinha quatro novas mensagens.

sinto muito

muito mesmo

porra, sinto muito pra caralho

Entendi o que Ash queria dizer com aquilo. E me deixou feliz saber que ele estava triste (oi?). Mas o que me deixou realmente animada e quase me fez saltitar pela rua cantando “Singing In The Rain” (sendo que nem estava chovendo) foi a quarta mensagem. Era algo que costumávamos dizer ainda quando éramos pequenos, e eu não ouvia aquilo há mais de uma década.

feliz aniversário, emy. eu amo você bastantão e você é, tipo, a melhor pessoa da face do universo inteiro

–x-x-x-

A quietude de bibliotecas sempre foi algo que me deixava um pouco nervosa. Eu odiava lugares quietos demais. Por isso, mesmo que eu esteja estudando, coloco uma música pra tocar - nem que seja bem baixinho. Mas o silêncio me incomoda.
Eu esperava meu primeiro aluno. Ele estava com problemas em entender o básico de vegetais, e apesar de não ser minha matéria favorita, eu ajudaria a pobre criatura. Eu já sabia que era um garoto, e que estava no último ano do colegial, mas só isso. Nem seu nome eu sabia.
O professor de biologia do colégio havia me dito que marcara com o garoto às duas da tarde. Já eram quase três e meia e o infeliz ainda não tinha chego. Atrasos eram outra coisa que me irritavam.

Estava levantando para ir pegar um livro para me distrair quando vi uma pilha deles se posicionando na mesa. Tomei um sustinho, e quando levantei os olhos, dei de cara com um garoto que eu poderia considerar “aparenta ter muito mais do que sua idade”. E com um detalhe a mais: ele era lindo.

É nesses momentos que eu fico agradecida por ninguém poder ler meus pensamentos. Porque, se alguém conseguisse, eu provavelmente teria sido presa por pedofilia.

A não ser que o garoto fosse maior de idade.

Aí é outro caso. Mais interessante, na verdade.

Enfim.

— Você é a Emily? — Ele perguntou, sorrindo de lado, e eu levantei da cadeira e estiquei minha mão para que ele apertasse.

— Sou, sim. E você é o…?

— Cameron. Muito prazer. — Se apresentou, e eu quis morrer com a cara linda dele.

Por que só aparece homem bonito na minha vida?

— Bom, Cameron, ouvi dizer que você está com dificuldade em vegetais, é isso? — Perguntei, pra ter certeza, e ele assentiu com a cabeça enquanto nos sentávamos, ele do meu lado. Pegou um dos livros e abriu em uma página qualquer, logo depois pegando um caderno e um estojo da mochila (que eu não tinha visto). — Comecemos pelas classes. A briófita…

–x-x-x-

Meu primeiro dia como tutora foi interessante. Cameron era bem sincero, e me falava quando continuava com alguma dúvida - o que dizia se eu havia explicado de um bom modo ou não. De vez em quando dávamos um tempo em plantas e falávamos sobre nós mesmos. Ele era um garoto… Interessante.

Estava indo para a república de Ash. Não falava com ele desde o meu aniversário, alguns dias antes. Liguei pra ele quando cheguei em casa e conversamos um pouco, mas sem nunca tocarmos no assunto do beijo. Inclusive, acho que ainda havia uma tensão entre nós pela falta de comunicação.

Mas, no fundo, aquilo não me importava nem um pouco.

Por isso, estava indo para a república dele para lhe fazer uma surpresa.

Quando cheguei lá, uma garota que me parecia familiar abriu a porta. Me olhou com certa admiração, e eu achei estranho. Falou que eu podia entrar, e que Ashton estava no seu quarto. Acenei pra um garoto que fazia algumas aulas comigo antes de subir correndo.

A porta de Ash estava cheia de adesivos. Eu não lembrava de tê-los visto antes, então imaginei que fossem novos. Um deles dizia “If you want me, sorry. I’m taken!”¹ e eu ri antes de abrir a porta cuidadosamente.

Do lado de dentro, ele estava sentado na cama, de costas pra mim, de frente para um notebook. Estava com um violão na mão e, ao mover um pouco a cabeça, vi que estava com uma página de cifras aberta. Começou a tocar, e eu não consegui identificar a música até que ele começasse a cantar pelo refrão.

See the flames inside my eyes? It burns so bright I wanna feel your love, no. Easy, baby, maybe I'm a liar. But for tonight I wanna fall in love. And put your faith in my stomach² — Ele cantou I’m A Mess, do Ed Sheeran, e eu nem sabia que Ashton sabia cantar.

Dei mais passos para dentro do quarto, e percebi que ele me viu pelo reflexo na tela do notebook, porque parou de tocar na hora, virando-se para me encarar.

— Quer se apaixonar por quem, Ash? - Perguntei, provocando, apesar de ter um pouco de medo da resposta.

— Só porque estou cantando essa música não quer dizer que… Eu quero dizer o que ela diz. — Ele se enrolou todo, e eu ri antes de parar na frente da cama. Ele se ajoelhou e me abraçou com força pela cintura. — Senti saudades. Sinto muito por não ter ido te ver no seu aniversário.

— Tudo bem. — Sorri amarelo.

Não, não estava tudo bem. Ashton nunca deixara de me ver em sequer um aniversário meu, e por algum motivo ele ter feito isso logo naquele ano me deixou mais triste do que deveria.

— Bom, vamos colocar o papo em dia. Você disse que ia começar a dar aulas particulares para colegiais, não foi? Já começou?

— Sim! — Respondi, animada. — Comecei hoje. Estou ajudando esse garoto do último ano que tem problema com vegetais.

— Hm, ele é do último ano? — Perguntou, se remexendo na cama. Parecia desconfortável. Acenei que sim com a cabeça. — É maior de idade?

Oxe.

— Não sei, por quê?

— Curiosidade. — Respondeu, dando de ombros.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos. Ash pegou o notebook e colocou em seu colo, fechando a aba com a página de cifras e começando a fuçar o facebook. Desviei o olhar - não sou dessas que invade a privacidade dos outros - e passei a observar todo o quarto. Percebi que, em cima da escrivaninha, tinha um porta-retratos e, nele, uma foto nossa. Não contive o sorriso.

— Por que veio aqui, mesmo? — A voz dele me assustou um pouco e eu voltei a olhá-lo. — Não que eu esteja te expulsando, é só pra saber, mesmo. Não avisou, nem nada. — Justificou.

— Sei lá, queria te ver. Não te via desde… Aquele outro dia. — Tentei não mencionar em detalhes o dia em que ele dormiu em casa, porque aquele assunto me deixava desconfortável. E a ele também, já que, novamente, ele se remexeu e olhou pra outro canto do quarto.

— Bom, fico feliz que veio. — Falou depois de mais alguns segundos em silêncio, voltando a olhar pra mim e sorrindo. Sorri de volta. - Mas, então, sobre o seu aluno…

Me perguntei por que ele ficara tão interessado no meu aluno, mas não falei nada em voz alta.

— Bom, ele é bem educado, simpático, sincero. Quando não entendia alguma coisa, me dizia e isso me ajudava a explicar de um jeito melhor. - Respondi, sorrindo, e Ash também sorriu. — E devo admitir que ele era bem bonitinho. — Soltei uma risadinha, e Ford fechou a cara.

Ri mais alto e ele corou, virando o rosto pra outro lado. Ashton Ford com ciúmes. Tá aí algo que eu nunca pensei que veria na vida.

— Ciuminhos da namorada, Ford? — Perguntei, e ele me deu um peteleco no braço.

— Me recuso a falar algo. - Respondeu, dando língua como uma criança de dez anos, e eu ri mais ainda.

Apesar de ter rido, aquilo ficou meio que impregnado na minha cabeça. Eu não estava brincando quando disse que ver Ashton Ford com ciúmes não era normal. Quero dizer, acho que isso nunca tinha acontecido. E com toda essa coisa de beijo e sei lá o que mais, é minha obrigação dizer que eu estava confusa.

Se é que já não estava óbvio.

Ashton era meu amigo há mais de uma década, e nunca havia passado pela minha cabeça ter algo além da amizade com ele. Eu nunca sequer havia me sentido atraída por ele na vida. Ele era exatamente como o primo feio (porém legal) que ninguém pega. Aliás, mais que isso. Ele era um irmão. E não um meio irmão, tipo a Abby - que, se fosse um homem, seria pegável (mas ignorem isso). Um irmão mesmo. De sangue. De alma. Irmão, sabe?

E eu não sei se gosto de incesto.


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Notas finais do capítulo

¹ “Se você me quer, desculpe. Tenho dona!” em tradução livre.
² “Estás vendo as chamas dentro dos meus olhos? Estão queimando tanto; eu quero sentir seu amor. Calma, baby, talvez eu seja um mentiroso. Mas, por hoje, eu só quero me apaixonar. Então ponha sua fé em mim…” em tradução livre.
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E aí, o que acharam? Quero muitos reviews u.u
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Qualquer erro, é só comentar ou me mandar uma MP que eu corrijo na hora!
Críticas construtivas são sempre bem-vindas, mas não deixe a educação de lado.
Beijos e até a próxima!



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