Namorado "Inventado" escrita por Luh Marino


Capítulo 11
Capítulo dez


Notas iniciais do capítulo

QUERO MUITOS COMENTÁRIOS, HEIN? Esse capítulo merece!!!
Assista ao trailer da fanfic aqui: https://www.youtube.com/watch?v=mbHeLpQKFMQ&feature=youtu.be
E ouça a playlist inspiradora aqui: http://open.spotify.com/user/callmeluh/playlist/2MMzq8V7Ay58rxSviNFn1s



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— Mãe! To aqui! — Berrei assim que abri a porta da minha antiga casa.

Seis meses.

Já haviam se passado seis meses desde que eu tive a ideia revolucionária de inventar um namoro. Cinco desde que eu havia me mudado para o apartamento de Tay. Quatro desde que ela conheceu o noivo.

Quatro meses.

Quatro meses desde que eu tinha dado um beijo em Ash.

Tudo bem, não foi realmente um beijo. Foi um selinho. Apenas encostamos nossos lábios. Mas já foi alguma coisa! Afinal, eu era amiga dele há, sei lá, quinze anos, e mal nos tocávamos! Um selinho foi algo surpreendente. Pelo menos ele voltou a falar comigo normalmente.

E passamos a ter uma intimidade um pouco... Diferente, digamos.

Não estávamos nos agarrando pelos quatro cantos, mas Ashton parecia aceitar qualquer desculpa pra me tocar. Apoiava a mão nas minhas costas, ou o braço nos meus ombros, o tempo todo. selinhos e abraços demorados, então, nem se fala.

E estava na casa de mamãe e George para pedir um vestido emprestado de dona Agatha, já que eu não tinha um realmente adequado à situação. A situação, no caso, é a festa de noivado de Tay e Eric. Eu nunca me conformaria com o fato de que ela é mais nova que eu e já está casando. Forçadamente, ainda por cima! Tudo bem que eu muito provavelmente teria que fazer a mesma coisa, mas eu estava adiando o máximo possível. Tay não podia fazer isso. Ela não tomava decisão nenhuma ali. Estava fora de suas mãos.

Sua própria vida estava fora de suas mãos.

— Oh, querida, como você está linda! — Minha mãe apareceu, vindo da cozinha, limpando as mãos no avental que usava por cima das roupas. — Essa tal Taylor fez muito bem ao seu guarda-roupa, posso ver! - Ela brincou, e eu não deixei de rir junto enquanto a abraçava e lhe dava um beijo estalado na bochecha.

Minha velha estava certa, afinal. Tay me integrou à sociedade. Não vou mentir e dizer que agora era a garota mais popular do campus e minha agenda mal tinha espaço devido às diversas baladas que eu frequentava. Muito pelo contrário, eu ainda era a mesma freak de antes. Só usava roupas melhores.

Inclusive aprendi a andar de salto alto, olha que bonito. Estava virando mocinha.

— Eu não teria vindo aqui te encher o saco, normalmente Tay é quem me ajuda na arrumação. Mas hoje o dia é dela, e ela não passou nem meio minuto em casa. De manhã cedinho já estava saindo.

— Ah, mas eu não me importo nem um pouco! Fico muito feliz em te ajudar, querida. Só me dê um minuto que vou tirar o bolo do forno. Quer alguma coisa? - Perguntou, voltando para a cozinha.

— Não, obrigada! Já vou tomar um banho, tudo bem? — Perguntei e só ouvi seu “Ok!” gritado do cômodo ao lado.

Ri sozinha e subi as escadas em direção ao meu antigo quarto.

Que saudades eu sentia daquela perua.

–x-x-x-

— Querida, você está absurdamente incrível! — Minha mãe soltou, animada. Sorri pra ela e me virei para o espelho, encarando meu reflexo.

O vestido que eu usava era longo, chegava ao chão, o tecido era preto e meio transparente. O busto era um pouco mais justo, e tinha um decote significativo, mas a saia era soltinha. Um tipo de cinto separava a parte de cima da parte de baixo. A sandália era de Tay, eu já queria usá-la fazia um tempo, e essa foi a oportunidade perfeita. Minha amiga tinha feito minhas unhas no dia anterior, era um dom dela como manicure. A bolsa eu já tinha há anos, e usava para ir a lugares como a padaria, e não uma festa de noivado. Aliás, eu sentia que estava usando preto demais e que isso me deixava um pouco fúnebre, mas minha mãe fez de tudo pra dispersar esse pensamento da minha mente. Os acessórios - colar, brincos e pulseira - eram todos prateados, e eu fiz a única maquiagem que conseguia fazer: olhos de gatinho e batom vermelho, só pra chamar atenção.

— Sra. Sanders, você fez um ótimo trabalho. — George falou, encostando-se na porta e sorrindo. Sorri junto e minha mãe foi correndo se juntar ao marido.

— Acho que isso merece uma foto! — Ela disse animada e eu soltei uma gargalhada, levantando a saia do vestido e passando correndo entre eles para ir ao corredor.

— Mas é nunca! — Exclamei enquanto me afastava.

Ash me ligara pouco tempo depois, dizendo que já estava do lado de fora. Peguei as coisas básicas e enfiei na bolsa a tiracolo, dando um beijo em mamãe e George, saindo da casa em seguida. Ash estava encostado no carro, como de costume, mexendo no celular. Estava com uma camisa social e um blazer por cima, calça também social e um tênis esportivo.

Repito: tênis esportivo.

Ri dele e ouvi minha mãe me dizendo para voltar no meu aniversário, que seria em breve, dali a poucos dias. Virei para trás, sorrindo e acenando para o casal parado na porta, em seguida voltando a olhar para frente. Ash levantou os olhos da telinha do celular e eu ri mais um pouco ao vê-lo abrir a boca em surpresa. Eu estava mesmo bem arrumada.

— Caralho… Quem é você e o que você fez com a minha melhor amiga? — Ele soltou e eu ri mais alto, batendo de leve em seu braço. Ele me pegou pela cintura, me levando para mais perto de seu corpo. — Me beija, seus pais tão olhando. — Ele murmurou, tentando não mexer muito a boca.

Eu rolei os olhos e olhei por cima dos ombros, confirmando que Agatha e George estavam mesmo nos olhando, George parecendo saber de algo a mais. Voltei a olhar pra Ash, e, ignorando o fato de que aquilo era apenas uma desculpa para se aproveitar da minha “inocência”, coloquei a mão em seu pescoço e lhe dei um selinho bem demorado. Senti sua mão apertar minha cintura com mais força e logo me separei dele, pedindo licença para entrar no carro. Sem poupar esforços, ele deu uma de cavalheiro e abriu a porta pra mim - como se eu não soubesse entrar sozinha-, fechando-a em seguida e correndo para o lado do motorista. Abri a janela apenas o suficiente para colocar a mão pra fora e acenar para o casal de tiozinhos parados na frente da casa, babando como se fosse o dia da minha formatura do colegial.

Logo partimos.

–x-x-x-

A festa era na casa do prefeito. Assim que chegamos, Ash reclamou que estava se sentindo muito pobre no meio daquele bando de milionários. Eu ri, e poucos segundos depois, Ford estava estacionando na frente da porta da mansão. Dois homens se aproximaram, cada um de um lado do carro. Um me ajudou a sair do carro - como se eu não soubesse sair sozinha - e o outro pegou a chave e foi estacionar o carro. Ash me deu o braço, que eu enlacei com o meu, e fomos em direção à casa. A porta estava aberta, então entramos. Fomos recepcionados por uma moça que usava um tipo de terno feminino, que nos deu boas vindas e disse para que ficássemos à vontade. Ash me ofereceu a mão, que eu peguei com a minha própria, entrelaçando nossos dedos.

Passamos pelo hall de entrada, indo para onde um barulho de conversas surgia. Diversas pessoas passaram por nós, indo e vindo pela casa, em seus melhores trajes a rigor. Ash tinha razão. Eu me sentia pobre no meio daquele povo. Já na sala, onde se encontrava a maioria das pessoas, eu demorei a achar minha amiga. No final, ela estava numa poltrona bem no centro do enorme cômodo, rodeada de mulheres que pareciam mais velhas até do que eu mesma. Ash olhava em volta, e eu chamei sua atenção ao apertar sua mão entre a minha. Ele olhou pra mim, e eu fiz um gesto com a cabeça, apontando para onde Tay estava. Fomos até ela, recebendo alguns olhares quando chegamos lá.

— Emy! Finalmente você está aqui, estava começando a achar que você não vinha. — Ela exclamou, feliz, me olhando como se eu tivesse acabado de salvar sua vida. E eu não duvido que eu tivesse, mesmo.

— Não perderia isso por nada no mundo. — Sorri, a abraçando sem soltar a mão de Ashton. Tay o cumprimentou logo em seguida, e virou para encarar as mulheres atrás de si, que ainda nos olhavam estranhamente.

— Moças, essa é Emily. É minha colega de trabalho e casa, eu a mencionei antes.

As mulheres fizeram barulhos de concordância, como se finalmente tivessem entendido. Talvez o fato de que eu e Ash não éramos da mesma classe social delas estivesse óbvio, porque elas nos olharam com tanto desdém que eu tive vontade de vomitar.

Tay se desculpou com elas antes de nos puxar para longe dali, alegando que nós tínhamos que conhecer Eric. Nos levou através do hall e da cozinha, parando para falar algo com um cara aleatório. Continuou nos puxando pela casa até o jardim dos fundos, - que era lindo, por sinal - onde se encontravam mais algumas pessoas. Eu não sabia como o tal Eric era, então não me preocupei em procurá-lo.

Tay parou na frente de dois homens, que conversavam. Um deles eu reconheci imediatamente como o prefeito, enquanto o outro supus que era Eric, até porque ele era bem parecido com o Sr. Kutcher.

— Tay, olá! — O prefeito falou, antes de olhar para mim e Ashton, ainda parados atrás de Taylor. — Vou deixar vocês, jovens, conversarem. Me procure depois, Eric. Ainda temos que terminar essa conversa. — Mandou um olhar rígido ao filho que me fez engolir em seco, antes de sair sem nos dirigir outro olhar.

Eu não gostei muito dele, não. Talvez George tenha razão em xingar o governo de Wolverhampton.

Eric nos olhou como se pedisse desculpas antes de tomar Tay em seus braços e lhe dar um selinho. Tive vontade de soltar um "awn", mas me segurei. O casal 20 ficou de frente pra mim e Ash, sorrindo como bobocas.

Até que eles são bonitinhos juntos.

— Oi! Vocês devem ser Emy e Ash. É um prazer finalmente conhecê-los, vocês são o assunto favorito da Tay. — Eu dei risada e percebi que Ashton sorriu sem graça.

Ashton Ford sem graça?

Há!

Essa é nova.

— Oi, Eric! O prazer é nosso. E eu tenho que discordar, você é o assunto favorito da Taylor. — Falei, e dessa vez minha amiga quem ficou com vergonha.

Eric beijou as costas da minha mão e trocou um aperto firme com Ash. Então, os dois entraram numa conversa profunda sobre faculdade e administração e relacionamentos inventados enquanto Tay me puxou, para que ficássemos um pouco distante deles.

— Ele não é uma delicinha? — Ela soltou, e eu não consegui impedir uma gargalhada monstra de sair. Tay riu comigo.

— Devo admitir que, sim, ele é um pedaço de mal caminho.

— E é um amor de pessoa. Sabe, ainda não estamos lá, no mesmo nível que deveríamos estar, mas acho que manter um relacionamento com ele não vai ser difícil. Ele é tão despreocupado com tudo que consegue me deixar confortável em quase todas as situações.

— Fico muitíssimo feliz com isso, Tay. É bom saber que você vai conseguir aproveitar isso tudo e levar numa boa. Porque eu não sei se eu vou. - Respondi, abaixando a cabeça e coçando um ponto aleatório no braço.

— Ah, Emy... Eu realmente queria conseguir te ajudar, mas eu também não sei o que faria no seu caso. Quero dizer, vocês se conhecem há eras, né? Acho que se fosse pra acontecer alguma coisa entre vocês, já teria acontecido. — Ela disse, parecendo realmente preocupada. — Talvez você devesse tentar com Edmund. Ele é um cara legal! E seríamos da mesma família, olha só! — Exclamou animada e eu ri, recebendo um sorriso como resposta.

— É, talvez.

–x-x-x-

— Você acha que isso vai a algum lugar? — Perguntei, e Ash me olhou confuso.

Estávamos sentados em um banco no quintal. Uma música romântica e lenta tocava dentro da casa. Tay e Eric estavam conversando com um grupo qualquer de pessoas mais velhas que nós. Provavelmente políticos.

Ash continuou me encarando de forma confusa e eu soube que ele não tinha entendido a pergunta.

— O relacionamento, quero dizer. Nosso relacionamento. Nossa… Mentira. — Ele desfez a feição confusa, soltando um suspiro.

— Não faço ideia, Emy.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos. Ash batucava os dedos na perna; parecia incomodado. Talvez eu não devesse ter feito a pergunta.

— Por que perguntou? Não foi você quem inventou tudo isso? — Se virou pra mim, o tom de voz um pouco rude, e eu me assustei. Era difícil Ash perder a calma.

— Sim! Sim, eu sei, eu só… Quis saber o que você achava.

Voltamos ao silêncio. Ashton suspirou mais uma vez antes de se levantar e me deixar ali. Vi que ele entrou na casa, e soltei um bufo. Não queria ficar ali sozinha, mas não queria incomodá-lo - ou a Tay. Então continuei sentada no banco, xingando até minha vigésima geração por me ter colocado nessa situação absurdamente desconfortável.

Achei que ele tinha ido passear, mas logo Ash voltou, com uma bebida em uma das mãos. Sentou-se novamente ao meu lado, passando a mão livre pelos cabelos antes de soltar mais um suspiro.

— Desculpa, Emy. Eu fui um pouco idiota. Acho que essa festa me deu um pouco nos nervos. Pensar que logo pode ser a gente… Acho que não estou pronto.

— Ah, Ashton… Sinto muito! Eu não… Não quis que você pensasse nisso agora, não sei nem por que comecei essa conversa. — Bufei novamente, irritada com a minha própria estupidez. - Sabe que eu não vou te forçar a isso, né? — Ele suspirou.

Estávamos suspirando bastante naquela noite.

— Se quiser desistir disso, Ash, eu vou entender. Não quero que você faça só pra me agradar, ou sei lá.

— Tudo bem, Emy. Eu prefiro namorar e casar com você do que com uma desconhecida. — Sorriu e eu senti o peso de cima dos meus ombros sair. Sorri de volta e ele pegou minha mão, apertando-a levemente. — Além do mais, é claro que eu faria isso só pra te agradar. Você sabe que eu sou todo seu, Emily.

Ai, que maldade.

Sorriu mais abertamente e se inclinou pra me dar um selinho. Ficamos daquele jeito por alguns segundos, sem nos movermos. Eu achava minha pseudo-relação romântica com Ash uma coisa muitíssimo interessante. Mesmo que nunca tivéssemos nos beijado, propriamente dizendo, eu não tinha vontade. Parecia que só o encostar de nossos lábios era o suficiente pra me deixar feliz e satisfeita. E ele parecia sentir o mesmo.

— Eu faria tudo por você, Sanders. Tudo mesmo.

–x-x-x-

A garota no espelho parecia feliz. Não sei se confiava nela, até porque ela estava no espelho. E o espelho me engana muito. Na maioria das vezes, ele me faz parecer linda - eu confio nele, vou tirar uma selfie e BUM! Estou horrorosa.

Mas a garota no espelho parecia feliz. Ela me encarava de volta com um pequeno sorriso nos lábios. O penteado já estava se desmanchando e a maquiagem não estava mais impecável. Mas ela estava bonita.

Eu estava bonita.

Deixei de ser otária e pensar em mim na terceira pessoa e destranquei a porta do banheiro, pronta pra voltar para a sala. Tudo naquela casa era luxuoso, até o banheiro. Acho que a maçaneta era de ouro.

Já do lado de fora do cômodo, rapidamente encontrei Ash, Tay e Eric conversando em um canto. Olhei para o resto da sala, e vi que o pai de Eric estava abraçado com uma mulher, que imaginei ser a mãe do garoto; e eles conversavam com outro casal - que assumi serem os pais de Taylor. Já começava a ficar tarde, mas as pessoas na festa não pareciam ir embora. A ostentação que aquela mansão exalava parecia hipnotizar a todos, e ninguém queria deixar o lugar.

Comecei a andar em direção ao meu grupo de amigos quando ouvi uns gritinhos obviamente infantis. Antes de localizar as crianças que gritavam, porém, elas me localizaram. Não só me localizaram como correram em minha direção e trombaram comigo. Olhei pra baixo e tive tempo de reconhecer dois garotos de uns sete ou oito anos, antes que um deles se desequilibrasse e cambaleasse para trás. Eu vi minha vida passando diante dos meus olhos quando percebi que a mesa de bebidas estava logo ali, atrás do garotinho. Tentei chegar até ele e impedi-lo de cair, mas foi em vão. Ele tropeçou no pé do outro garoto e bateu contra a mesa.

No princípio, Deus criou os céus e a terra.

No segundo dia, Deus disse “Faça-se a luz!” E a luz foi feita.

No oitavo dia, Deus disse “Faça-se a tragédia”. E a desgraça caiu sobre a Terra.

Naquele momento, eu desconfiei que estava no oitavo dia.

O garotinho bateu com o tronco e a cabeça na mesa. Alguns copos se quebraram automaticamente, outros caíram no chão. Uma bacia cheia de ponche ou sei lá que bebida era aquela virou-se quando o menino apoiou o cotovelo nela, e sujou toda a blusinha dele.

Eu tinha certeza que minha cara estava mais vermelha que as cortinas de veludo que cobriam as janelas da casa. Já poderia ser apelidada de “cara-de-tomate”, ou “50 Tons de Vermelho”. Não olhei em volta, me recusando a encarar os olhares de (muito provavelmente) reprovação da elite de Wolverhampton, e fui em direção ao garotinho, que parecia perdido. Por sorte, nenhum caco de vidro o atingiu forte o suficiente para causar um corte, apenas alguns arranhões. O ajudei a ficar de pé e ele estava se contorcendo para tentar ver sua blusa manchada quando uma mulher, que supus ser a mãe dele, apareceu.

— O que aconteceu, Leo? — Ela perguntou, parecendo preocupada.

— Eu estava brincando quando bati nessa moça e me desequilibrei. — Ele apontou pra mim, e a mulher me olhou. Não notei nenhum desdém por parte dela, e aquilo me fez relaxar um pouco. — Desculpe, moça. Não vi você na minha frente.

Meu. Deus.

Que gracinha.

Conti minha vontade de apertá-lo e mordê-lo até ele explodir e apenas sorri, respondendo:

— Que isso, não foi nada. Eu que deveria pedir desculpas por causar essa cena toda. — Cocei meu braço, como sempre fazia quando estava embaraçada, e senti um aperto firme no meu ombro. Virei para trás, encontrando o Sr. Kutcher.

— Não peça desculpas, Srta. Sanders. Tenho certeza que você não merece ser culpada por isso. — Ele sorriu, e apesar de educado, eu ainda o achava um pouco assustador. Me lembrava aquele tal Snow de Jogos Vorazes.

— Vamos, Leo. Temos que te achar roupas novas e ter certeza que não se machucou de verdade. — A mãe do garotinho se pronunciou novamente, dando a mão para que o filho segurasse. — Sinto muito, querida. E não se preocupe, a culpa não foi sua. — Ela sorriu docemente e fez uma reverência ao prefeito antes de se retirar.

— Vou pedir a alguns empregados para que arrumem isso. - Sr. Kutcher avisou. - Podem voltar a festejar, queridos convidados. Sinto pelo inconveniente.

Trocamos mais algumas palavras antes de eu sair praticamente correndo para longe dali. Finalmente fui em direção a Ashton, Tay e Eric, e vi que eles se acabavam de rir. Fiz uma cara ofendida e dei um tapa no ombro de Ash.

— Não riam de mim!

Eles só gargalharam mais ainda.

— Acho que essa foi a pior situação da minha vida. E olha que eu já passei por muitas situações horríveis. — Olhei para meu namorado, tentando lembrá-lo do nosso primeiro beijo, alguns meses atrás. — Aliás, motorista particular, me leve pra casa. Antes que eu quebre mais alguma coisa. — Olhei pra Ashton, sendo o mais sarcástica que podia.

E eles novamente morreram de rir da minha cara.

Mereço.

–x-x-x-

— Aqui estamos. — Ashton diz, assim que estaciona o carro na frente do meu edifício. Olho pra ele, que esta sorrindo, e sorrio de volta. Estou abrindo a porta para sair quando vejo as horas no relógio do painel.

— Nossa! Já é tão tarde? Achei que fosse mais cedo. — Exclamo um pouco espantada, e vejo que Ash segue meu olhar, também percebendo que já passou da meia noite. — Ash, quer dormir aqui? Sua república é um pouco longe, pode ser perigoso voltar a essa hora.

— Tem certeza? — Ele pergunta, e antes de eu responder, parece perceber algo, e continua. — Quer saber? Você tem razão. Vamos entrar.

Ele desliga o carro e sai, e logo eu faço o mesmo. Passamos pelo porteiro, que nos deseja uma boa noite, e entramos no hall, logo pegando o elevador e apertando o botão com o número 18. No tempo da pequena viagem, tento achar meu molho de chaves naquela bolsa minúscula. Quando finalmente encontro, já chegamos ao meu andar. Saímos do cubículo, paramos em frente à porta do meu apartamento e eu a destranquei. A casa estava toda escura, e só então eu me lembrei que Tay ficaria na casa do prefeito.

Isso significava que eu e Ashton estávamos sozinhos.

— Quer alguma coisa? — Perguntei, e ele negou rapidamente com a cabeça. Foi em direção ao banheiro e eu soltei a respiração que nem lembrava de estar prendendo.

Fui para a cozinha e me servi um copo d’água, bebendo mais dois em seguida. O pensamento de estar na mesma casa que Ashton, só eu e ele, por uma noite inteira, me deixava nervosa. E eu não conseguia pensar em um motivo para isso.

— Ei. — O dito cujo surgiu no balcão que separava a cozinha da sala, e eu tomei um susto. — Nossa, tava pensando na morte da bezerra? — Ele riu.

— Algo do tipo.

Sim, eu estava pensando na morte da bezerra.

A bezerra, no caso, sendo eu.

Causa da morte: hiperventilação.

— Bom, eu vou dormir no seu quarto, certo? — Ele perguntou, e eu quase cuspi a água que estava bebendo (sim, eu já estava no quarto copo). — Nossa, calma!

— Por que você dormiria no meu quarto? — Perguntei, e minha voz devia estar umas duas oitavas mais alta.

— Ué, porque eu sou seu namorado.

— Meu namorado falso, Ashton. Não se esqueça disso. — O olhei como se dissesse uma coisa óbvia. O que, na verdade, eu estava fazendo.

— Aham, vai nessa. - Ele piscou e eu quis quebrar seu pescoço. — Não sei, vai que seus pais aparecem aqui do nada no meio da noite ou amanhã de manhã.

— Como eles vão entrar, Ashton?

— E eu lá sei? Coisas de pais, ué.

— Eles sequer têm a chave.

— Isso não os impede de subir até aqui. E então Tay pode já ter chego e abre a porta pra eles.

— O porteiro tem que interfonar pra avisar que eles estão aqui!

— Mas… — Ele ia continuar dando desculpas idiotas, mas eu o bati levemente.

— Chega, Ashton. Já entendi, você quer dormir comigo. Vamos logo antes que eu mude de ideia.

Ele me olhou confuso, e então sorriu empolgado. Segurei uma risada e rolei os olhos, bufando e indo em direção ao meu quarto. Ash me seguiu e logo eu estava no banheiro, colocando uma flanela qualquer depois de escovar os dentes, e ele estava no quarto. Tive que ir ao quarto de Tay para retirar a maquiagem com um dos produtos dela e, quando voltei, Ash estava na cama, deitado, olhando para o teto.

Detalhe: Sem camisa.

E que delícia de corpo.

— Que é isso? Tá tentando me seduzir? — Perguntei, e ele olhou pra mim rindo.

— Talvez.

— Bom, não está dando certo. — Menti e me sentei na cama de casal, ao lado dele— - Depois de mais de uma década de amizade, você é que nem um primo feio pra mim. Primos bonitos, todo mundo pega. Mas primo feio é, tipo, a aberração da família.

Ash soltou uma gargalhada, que eu acompanhei enquanto me ajeitava deitada ao seu lado. Ele se deitou lateralmente, me encarando, enquanto eu continuei olhando para o teto.

— Foi uma noite divertida.

— Foi mesmo.

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos e então eu apaguei a luz com o interruptor que se encontrava estrategicamente ao lado da cabeceira da cama. Me deitei na mesma posição que Ashton, o encarando de volta. Na verdade, eu nem o enxergava, mas eu sabia que ele estava ali, então dava na mesma.

— Boa noite, Emy. — Ele disse, e eu percebi que ele parecia mais próximo. Colocou uma mão em minha cintura e me puxou pra perto dele.

— Boa noite, Ash. — Respondi, e ele me abraçou forte.

Eu nunca tinha dormido abraçada com um cara. Como já falei, a única vez em que fiz sexo, eu estava em uma das poucas festas a qual eu compareci na minha adolescência, e estava bêbada. Sequer lembro direito como eu e o cara chegamos ao ponto de transar, mas lembro que foi no banheiro, com uma camisinha que estava demasiadamente desproporcional ao membro do cara - e isso não quer dizer que o piu-piu dele era grande. Na verdade, a camisinha que era. Enfim, eu não me arrependo porque devo assumir que não foi ruim, apesar de ter sido minha primeira vez e toda aquela frescura. Mas, obviamente, não deu pra gente dormir abraçadinho depois.

Toda essa asneira pra explicar que eu estava nervosa por estar tão perto de Ashton.

Ashton sem camisa.

Enfiei minha cabeça em um espaço entre seu ombro e pescoço, e senti ele beijando meus cabelos. Fiquei com vontade de olhar pra ele, mas continuei do jeito que estava. Sua respiração estava calma, mas eu podia ouvir que seu coração estava descompassado.

Ash também estava nervoso por estar tão perto de mim, e isso me trazia um estranho prazer.

Atendi à minha vontade e levantei a cabeça, o encontrando de olhos fechados. Me inclinei pra cima e selei nossos lábios, rapidamente levando minhas mãos ao seu rosto. Pude perceber que ele se surpreendeu, mas correspondeu ao meu beijo. E eu não digo meu selinho, porque foi um beijo de verdade.

Eu e Ash nos beijamos.

Tipo, um beijo mesmo.

E, por mais que eu achasse que seria o contrário, não foi nem um pouco estranho. Foi… Diferente e interessante. Foi bom.

Beijar meu melhor amigo foi bom. Muito bom.


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Notas finais do capítulo

ACONTECEEEUU! Finalmente aconteceu um beijinho nessa desgraça de história UHAEUHA Desculpa a falta de detalhes. Mas romance realmente não é meu forte (e nem o foco da fic).
Espero que tenham gostado!
Qualquer erro, é só comentar ou me mandar uma MP que eu corrijo na hora!
Críticas construtivas são sempre bem-vindas, mas não deixe a educação de lado.
Beijos e até a próxima!