Acordei ao lado de Eric. Tentei muito pensar, como eu havia acordado lá, enrolada nos lençóis. Não me lembro de ele ter vindo dormir no meu quarto ontem. Bem, eu não lembro qual o nome da minha mãe, então isso deve ser comum. Eu tenho que aceitar. Tenho quase certeza que as lembranças que perdi nunca irão voltar.

Deixei o lençol de seda no chão do banheiro, enquanto enchia a banheira quente. Tranquei a porta do banheiro para que Eric não entre.

Entrei na banheira me sentindo suja. Esperei que de alguma forma, aquela água pudesse me lavar. Provavelmente não. Me sinto mais que suja. Eu dormi com Eric. Eu não amo Eric. Não quero passar os dias a seu lado. Não gosto de acordar junto com ele. Então porque eu ainda me prendo em tudo isso?

Bem, daqui a duas semanas é o grande dia. Sabe. Eu nunca quis isso. Nem sequer lembro do meu pedido de casamento. Mesmo que Alina tente me assegurar que foi o maior ato de amor que ela já viu, não acredito. Não acredito que Eric, nem um pouco de Eric, possa ser romântico.

Me vesti, colocando um vestido preto e chinelos. Eu parecia uma dona de casa. E logo eu viraria uma dona de casa. Não importa que eu só tenha 20 anos.

Desde minha conversa com Elija, consigo lembrar de algumas coisas. Mais não muitas. Sim. Minha cor favorita é bege. Quando eu ia no starbucks, dizia que meu nome era Prim, e quando chamavam eu gritava: ''Eu me voluntário como tributo.'' Eu me lembro disso. E lembro das gargalhadas que dava. Lembro de ser chamada de princesa. Lembro o porque da flor. Só não consigo juntar tudo, sabe? Alguma coisa ainda me diz, que essas memórias são de outra Esther. Da garota ruiva que amava ler. Que adorava os filmes da disney. A garota que tinha uma tatuagem sexy. A garota que não era mais eu.

Não sei se os anos me mudaram. Ou se foi o acidente. Só sei que não sou a mesma de 5 anos atrás. Não sou a mesma pessoa de ontem. Agora eu começo a formar minha identidade.

Tomo os comprimidos de Eric. Não sei para que eles servem. Nunca perguntei. Talvez sejam para a minha perna. Ou para as sequelas. Enfim, não preciso mais deles. Não vou tomar mais. Fim de papo.

Jogo todos os comprimidos na privada, e os substituo por balas. Assim Eric acha que eu estou tomando, e eu me livro das dores de cabeça que eles trazem.

___________________________________________________________________________