Meus olhos a avistam de longe. Não ela, só seus cabelos vermelhos. Os cabelos que eu pensei que jamais veria novamente. Então seus olhos ambar encontram os meus, e por um segundo que seja, revivi todas nossas conversas durante a noite, todos os nossos sonhos para o futuro, o nomes dos nossos futuros filhos... Ela continuava linda. Ainda tinha leves covinhas ao rir, e uma boca com formato de coração.

Ela havia perdido muito peso, o que inicialmente eu achei estranho, até ver como lhe fez bem. Ela parecia ainda sorrir para a vida, como fazia quando namorávamos. Então percebi a maneira como arrastava a perna direita, como se ela não quisesse cooperar. Então soube que algo havia acontecido a ela, durante os anos de minha ausência.

Tentei me aproximar, e oferecer minha ajuda com as compras, mas sabia que orgulhosa do jeito que era, Esther, jamais deixaria. E também não iria querer falar comigo tão cedo. Mais então vi ela acenando para mim, e tomei coragem para ir falar com ela.

Ela segurava algumas sacolas se supermercado, e então após dar um leve sorriso, me perguntou:

– Você se importaria de me ajudar com as compras?

Eu fechei os olhos para ver se tudo aquilo era real, se ela realmente não estava nem um pouco ressentida. Então ao perceber que era real, me limitei a sorrir.

– Não, não - tentei falar. - , não me importaria de forma alguma em te ajudar. - Meu Deus, por que diabos eu tinha falado 'não' tantas vezes?, agora ela vai pensar que fiquei louco.

– Você está bem? - ela perguntou, encostando-se no capô de seu carro. - Parece meio...tenso. - vi que ela tentou encontrar a palavra certa. - Esqueça, eu carregarei as sacolas sozinha. - disse ela, por fim. Algo estava errado. Eu não sei o que. Só sei que estava.

– Não, Esther, estou bem. - então a vi ficar assustada. Ela recolocou as compras no banco do passageiro e me olhou com uma expressão estranha. -

– Como sabe meu nome? - ela me encarava. Como eu sabia seu nome? Aquele tinha sido o nome que esteve em minha mente durante 5 anos! - Eu não te conheço nem nada, não é? - ela fitou me rosto, como se tentasse lembrar. -

– Esther! - gritou um homem, de dentro da casa. Deveria ter uns 20 e poucos anos, talvez uns 2 anos mais velho que ela. - Amor, deixe que eu te ajudo a carregar essas sacolas. Você não está podendo fazer força desde o acidente. - ele sorria, mais ao me ver, fechou a cara. - E você...é?

– E...- ia dizer meu nome, mais então olhei para Esther. - Pergunte a ela, ela me conhece melhor que qualquer um aqui. - disse, e vi que foi um erro, pois vi seu rosto se fechar. -

– Não. Não sei quem você é. - disse ela. - E nem sei de onde me conhece. - aquelas palavras ardiam. Ela sabia quem eu era. Melhor que eu mesmo, ás vezes.

– Es, entre. Vou ter uma conversa, com esse ai. - disse o homem forte, secamente.

Então vi Esther entrar. Arrastando a perna.

– Não sei se sabe, mais ela sofreu um acidente há 1 ano atrás. - disse ele. - Ela estava dirigindo. Bateu o carro. E o carro, por sua vez, caiu na água. - falou o homem. - Ela praticamente não lembra de nada. - ele sussurrava, como se não quisesse que Esther soubesse disso. - Os pais, e o irmão dela morreram no acidente. Ela não se lembra deles. Nem de ninguém.

– Me explique essa história direito. - pedi. Nada fazia sentido algum. - Quer dizer que ela não se lembra de mim?

– Não. Ela ficou muito tempo em baixo d' água. Perdeu grande parte da memória. - disse ele. - Nós somos noivos. Você deve ser...Elija? - ele perguntou, debochadamente. - Pois bem. Antes do acidente ela me contou de você. Você fez ela sofrer muito. Não quero que volte a falar com ela.

– Ela te ama? - perguntei. Então ele disse:

– Ela nunca disse o contrário.