Sabedoria (知恵 )

Um guerreiro corajoso e sem estratégia falhará imediatamente. Manter a espada sempre afiada. – As 7 virtudes do Bushido

Uma vez me disseram que a verdadeira espada de um samurai está em sua alma. É preciso enfrentar as lutas com sabedoria e estar sempre preparado. A verdadeira lâmina é nossa essência, nosso caminho, nossos ideais. E ainda uma alma amaldiçoada como a minha deve se manter afiada.

– Porque eu sou minha própria espada.

Senti meu sangue amaldiçoado ferver naquele dia gelado. Aquela herança maldita, liberando meu instinto e ansiando por luta. Shurikens e kunais eram lançadas sem descanso em minha direção. E como eu imaginava eles eram muito ágeis. Senti uma presença se aproximar por minha esquerda, de dentro da neve surgiu o espadachin de cabelos brancos. Ele direcionou sua espada em minha direção, ergui minha própria espada criando um bloqueio. A garota de cabelos ruivos jogou algumas shurikens contra mim e o ninja de cabelos brancos se afastou.

– Não estaríamos nessa situação se não viesse se meter onde não é chamado. – ele disse com escarnio, idiota. Eu odeio pessoas arrogantes.

Desviei para trás, mas senti lâminas rasgarem minha pele. Tinha linhas finas de metal presas a shuriken, eram quase inservíveis. Usei minha espada para cortá-las e evitar ferimentos mais graves que alguns arranhões.

– Sasuke-kun! – Ouvi alguém me chamando. Era a voz de Sakura, ela estava desesperada, repleta de medo. Porque se preocupar com um estranho como eu? E desde quando há tanta intimidade em pronunciar o meu nome? Porque Sakura?

– Suigetsu agora! – A ruiva gritou de forma estridente. Aquilo fez meus ouvidos doerem, mas esse ato impensado me deixou alerta. O shinobi de cabelos brancos veio novamente em minha direção, a espada que portava era maior que o próprio corpo. Dei um pulo para trás, minhas feridas ainda estavam ardendo como se queimasse. Era como se eu estivesse... Ficando lento! Droga!

Senti meu corpo cada vez mais dormente. Olhei na direção da garota ruiva, ela deu um sorriso satisfeito. Provavelmente aqueles fios estavam envenenados. Um chute foi desferido contra mim, com os movimentos lerdos só tive tempo de bloqueá-los com meus braços. O impacto me jogou para trás, felizmente um monte de neve adormeceu minha queda.

Tudo seria muito mais simples se não tivesse aquela garota pra me distrair. – Sasuke-kun! – Ouvi sua voz novamente. Mais próxima, mais perto! Um vulto surgiu a minha frente, os cabelos róseos ainda eram nítidos pra mim. Sakura tinha se prostrado a minha frente usando o próprio corpo como um escudo. Garota idiota porque continua fazendo coisas estupidas?

– Eu pensei que tivesse mandado você ir embora! – Gritei irritado Meu sangue fervia a cada segundo que passava. Eu podia ver claramente aquela lâmina vindo na direção de Sakura, pronta para cortar seu pescoço. Droga! Desse jeito eu não conseguiria protegê-la.

“Ela tem que ir embora. Você sabe.” – Porque será que ela não escutou minhas palavras. Porque diabos Kakashi não escutou minhas palavras? Aquele velhote insistente. Nada seria dessa forma se tivessem me ouvido.

Ela parecia não ter medo, não hesitava, eu também não deveria. Só tinha um jeito de evitar aquilo tudo. Alcancei uma pedra ao meu lado e lancei na direção do espadachin, ele perdeu o equilíbrio e parou deixando a espada cair. Me levantei com dificuldade e desferi um golpe no pescoço de Sakura fazendo-a desmaiar. Desacordada ela dava menos trabalho.

– É impressionante que ainda consiga se mover mesmo com o veneno paralisante. – O espachin manteve seu olhar sobre mim. Peguei minha Katana no chão, a garota ruiva não interferia na luta. Meu palpite é que ela não servia para combates físicos, então por isso o veneno. Eles estavam prontos para qualquer perigo, e isso era estranho. Ninjas tão habilidosos não são contratados a menos que seja algo realmente importante.

– Isso é porque eu não sou uma pessoa comum. – Embora minha voz tenha saído com pura frieza, eu sentia o ódio correr por meu corpo como meu próprio veneno. Estava com um ódio insano e terrivelmente forte. Eu queria matar aquele pequeno verme.

“Se existem aqueles vivem há aqueles que morrem. Aceite sua existência”

– Parece que o seu semblante mudou. – Ele disse meio preocupado. Por acaso estava com medo? Isso pra mim é perfeito.

A noite já se aproximava. Uma energia sombria correu por meu corpo, estava me sentindo mais forte. – Você logo vai descobrir que é impossível me matar. – A grande maldição amarrada ao meu clã. Nós Uchihas não podemos morrer tão facilmente... Porque eu sou...

– Um Tengu! – A garota ruiva gritou desesperada.

Asas como as de um falcão saiam de minhas costas, minhas unhas transformaram-se em garras. Meus olhos negros tornaram-se rubros como sangue, agora capazes de enxergar até mesmo um rato a quilômetros de distancia. Eu sentia cheiro de ratos. Um rato medroso e prestes a ser abatido.

– Vocês vão se arrepender de entrar na minha vila.

– Se está me mostrando essa forma suponho que não pretenda nos deixar vivos. – O shinobi estava certo. Segurei minha espada firme em minhas mãos e avancei na direção dele. Desferi meus golpes com raiva, rápidos, sem hesitar. Eu estava com muita raiva, por ter que virar um monstro.

Voando com minhas asas eu já não deixava mais rastros na neve, estava ficando muito escuro e não tinha muita iluminação. Tinha que acabar com aquilo logo.

Percebi que aquele shinobi estava mais preocupado em desviar dos golpes do que atacar, pois quando ele se abaixou minha lâmina quebrou e derrubou uma árvore. A força devastadora da natureza, assim como existe a criação há a destruição. Nós Uchihas somos a destruição e por isso odeio minha existência.

– Suigetsu seu idiota o que pensa que está fazendo? – Logo ouvi a voz da garota ruiva. Como pude me esquecer dela? Era tarde, bombas com gás de pimenta tinham sido lançadas na minha direção. Aquilo fazia meus olhos arderem. Queimarem como fogo. Usei minhas asas para criar uma onda de vento e dissipar a fumaça, mas quando abri meus olhos os dois já tinham sumido. Provavelmente fugido como dois covardes, porque assim são os ninjas. Eles fogem quando a situação não está favorável.

Logo senti uma presença familiar se aproximando. Pude perceber Kakashi segurando uma lanterna de papel nas mãos, ele parecia surpreso e impressionado. Sakura ainda permanecia no chão desacordada.

– Vejo que você teve muito trabalho por aqui. – Ele disse naquele tom irritantemente calmo. As coisas não deveriam terminar daquela forma. – Quando disse pra garota ir embora suspeitei que estivesse tramando algo.

– Você usou ela como isca não foi? – Falei irritado.

– Sabia que a estava vigiando. Eu te conheço Sasuke, afinal foi eu quem treinou você. –Kakashi era um mestre irresponsável, pois não era muito adepto de seguir regras. Estava sempre com seus joguinhos e enigmas, sempre se metendo nos assuntos alheios. Foi por isso que encontrei meu caminho.

...

Kakashi era o melhor amigo de um membro do meu clã, nos tempos de ouro ambos lutaram juntos durante a guerra. Ele era um samurai temido por todo o território do fogo, seus cabelos prateados eram reconhecíveis em qualquer lugar e foi assim durante muito tempo. Numa época quando as espadas ainda tinham algum valor, antes dos samurais serem enxotados como lixo.

“O valor de um samurai é sua própria espada. E esta ele guarda na própria alma.”

Eu tinha apenas doze anos quando descobri a maldição, uma crise se instalou no meu clã e logo eu vi a natureza a qual estava condenado. Descobri a existência cruel para a qual nasci. Como se já não bastasse essa maldição que mancha nosso sangue e nossa honra; como se não fosse suficiente se transformar numa besta sanguinária e movida pelo ódio; eu também descobri para que nós existíamos. Destruição. Eu deveria ir contra tudo o que eu acreditava. Eu fugi quando descobri que tinha de matar meu irmão, porque nosso único pecado foi nascer.

...

As horas se passaram desde que Kakashi levou Sakura até sua casa, eu fiquei para conseguir rastros dos ninjas que estavam atrás dela. Infelizmente não consegui nenhuma pista sobre eles. Teria sido muito mais simples se ela tivesse deixado à cidade em segurança, mas graças a relutância do sensei isso acabou se tornando um problema nosso.

Quando cheguei em casa Sakura já tinha acordado, ela tomava um tipo de sopa que eu não conseguia distinguir qual era. Eu estava muito cansado, meus ferimentos se curavam lentamente e o efeito do veneno demorou a passar. Kakashi logo me olhou como se me interrogasse a respeito do que aconteceu mais cedo.

– Isso tudo é culpa sua. – Logo respondi tentando manter a paciência, eu já estava em meu estado normal.

– Porque não nos contou sobre aqueles ninjas? – Ele indagou curioso. Retirei minha espada do cinto onde a prendia, precisava limpar aquela lâmina cheia de sangue. – Te fiz uma pergunta Sasuke.

Aquela tensão ruim permaneceu no ar por alguns longos minutos, até ser quebrada por Sakura que até então estava alheia a conversa.

– Eu sinto muito se estou causando problemas a vocês. – Ela se pronunciou com a voz baixa e triste. Olha-la e ver aquela feição desanimada era irritante. Ela parecia uma pessoa bastante desgostosa da vida. E porque não se cada ato impensado parecia um suicídio?

– Eu não entendo porque se desculpa se faz tanta besteira. – O que eu disse podia parecer rude. Aqueles orbes verdes brilhavam como se fossem lacrimejar, eu nunca entendi o que realmente me motivou a ajuda-la. Talvez, monstros como eu sejam atraídos por aquilo que é belo, mas até mesmo eu tenho um coração. Ainda que eu me questione o tempo inteiro sobre isto... Porque a ajudei? Eu nem mesmo sabia.

– Sinto muito.

– Se eu estou lutando para salvá-la o mínimo que pode fazer é viver.

Depois daquilo sai para o outro cômodo, mas dali ainda pude ouvir uma ultima frase partindo de Kakashi.

– Não ligue para as palavras do Sasuke. Ele é sempre rude com as pessoas, mas ele não odeia você.

O que esse velhote poderia saber sobre mim realmente? Viver. Eu tinha que viver... Era obrigado a isso.

“Fuja e viva como a vergonha da família.” – Porque nós Tengus não podemos morrer.

“Irmãozinho tolo.”– A menos que outro Uchiha nos mate. Viver pelo nosso sangue e morrer pelo nosso sangue, essa é a maldição do meu clã. O castigo insano e cruel dado pelos deuses.