Dilema escrita por Mizuhina, Utakata Bad Boy


Capítulo 12
Capítulo XI - Lealdade.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo por Utakata.

Confesso que fiquei satisfeito com esse capítulo, espero que vocês gostem, e me desculpem pela minha ausência bastante frequência. -rs.



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Lealdade (忠)

 

Um samurai é imensamente leal a aqueles que estão sob seus cuidados. Para aquele por quem é responsável, ele permanece ardentemente fiel. — As 7 virtudes do Bushido.



“Quando dei-me conta, caminhava por uma terra árida, tingida de vermelho do sangue, caminhando sob incontáveis corpos. Não me lembro do rosto de nenhum deles, e nem de onde vinham. Minhas mãos tremiam a medida com que minha perspectiva tornou-se confusa, e quando finalmente pude contemplar o céu incontáveis corvos planavam em círculos enquanto a chuva molhava o campo de batalha. Todos eles pareciam olhar para mim esperando para devorar-me quando meu corpo finalmente cedesse, pois aquela aura seria capaz de me matar”

 

Quando abri os meus olhos uma leve sombra cobria minha face e pude finalmente contemplar olhos verdes focados em mim. – O que pensa que está fazendo Sakura? - Fiquei curioso para saber a razão pela qual ela estava ali. Os lábios permaneciam trêmulos, levemente ofegantes como se tivesse corrido vários quilômetros em pouco tempo.

— Você desapareceu por uma semana! - Ela me repreendeu irritada. – Fiquei preocupada.

— Não precisa se preocupar. Eu não vou morrer, se é o que pensa. Seria bom se eu pudesse.

— Não diga besteiras. - Ela ainda estava irritada. Encontrá-la na montanha era uma das últimas coisas que eu esperava.

Me levantei com um pouco de preguiça, e inclinei minha cabeça para o lado percebendo que havia mais alguém ali. De pé encostado a uma árvore estava Naruto, um pouco afastado. Ele olhava para mim com um certo ar de desprezo, e eu não fazia questão de retribuir, para mim não tinha a menor importância. Aquela raposa era apenas um incômodo.

— Entendi como você me achou. Obviamente essa maldita raposa não tem nada melhor para fazer.

— Eu não passaria dois dias rastreando o seu cheiro fedido se não fosse um pedido do sensei. -Respondeu com desdém. Sensei? Nunca imaginei que aquela criatura se tornaria tão apegada ao Kakashi, mas dava para entender, ele o acolheu logo depois do incidente e desde então aquele lugar tornou-se insuportável e cheio.

 

Basicamente alguns meses tinham passado desde o incidente com a raposa, e apesar de estar terrivelmente incomodado com a presença daquele ser completamente irritante, confesso que aprendi a me acostumar. Apesar disso o clima -quase sempre apaziguado por Sakura- permanecia tenso e Kakashi se divertia com aquela rixa pessoal.  Em todo caso, não era por causa da maldita Kitsune que eu fugia, era algo muito maior.

 

Sempre que eu sentia que poderia estar prestes a perder o controle de minhas emoções, era um costume ir até as montanhas  fazer um retiro e treinar para controlar meus conflitos interiores. Estar só era a maneira mais eficaz de pôr a cabeça no lugar, embora todo esse esforço tenha se tornado inútil com o tempo e eu tenha me tornado incapaz de esquecer tudo o que vinha acontecendo. Meus problemas tinham apenas um nome: Sakura.

[...]

 

Lembro-me que tudo começou numa tarde de primavera e naquele dia um perfume diferente impregnava o ar, ainda assim com os tempos de paz algo no meu interior incomodava. Kakashi certa vez me contou o tipo de pessoa que Orochimaru era: “Um homem cruel, sádico e sem limites. Que é capaz de mover uma guerra por qualquer motivo fútil.” Foi a descrição dada. E quanto mais o tempo de paz se estendia mais me fazia pensar que o que estava por vir seria algo catastrófico.

— Sasuke-kun! - A voz de Sakura tirou-me de meus pensamentos negativos. Ela acenava com uma das mãos, um sorriso radiante tomava-lhe os lábios. E as pétalas de cerejeira voavam com o vento contrastando com os fios de cabelo. Ela se aproximou correndo até onde eu estava com uma cesta.

Nela tinha alguns bolinhos de arroz e alguns vegetais preparados por ela, assim com alguns peixes. Era terrivelmente incômodo a maneira como ela interrompia meu treinamento todos os dias para fazer-me comer, pois na realidade me alimentar algo era algo completamente inútil, pois meu corpo se recuperava de quaisquer coisas que o danificassem, inclusive a ausência de comida.  Quase sempre eu permanecia em silêncio durante a refeição, mas sabia que isso não duraria muito tempo.  

— Eu amo a primavera. Tudo fica tão verde e o sol mais quentinho. -Ela se sentou ao meu lado perto de um lago que antes era congelado.

—  Você fala demais. - Sakura era o tipo de pessoa que não sabia se calar, até certo ponto eu já tinha me acostumado. Essa era a raiz do problema, eu estava simplesmente… Me acostumando a tê-la ao meu lado. A ter algo que nunca poderia ser meu.

 

— Não seja chato. - Sakura protestou  e fez uma careta. Quando me dei conta aqueles  enormes olhos verdes me fitavam cheios de expectativa.

Eu queria apenas correr.

De certo modo aquilo era meio invasivo, e ela parecia deter certa curiosidade no olhar. Imediatamente o silêncio dissipou-se e ela me interrogou de imediato.

— Sasuke-kun… Eu gostaria de saber. Se quando eu te abraço você vira um falcão, como conseguiu me salvar?

— Não nos transformamos quando somos tengus. - Expliquei. – Você deveria parar de se intrometer nos problemas dos outros. Aquele dia… Poderia ter acontecido coisas horríveis. Poderia ter se machucado.

Ela corou por um instante e quando me dei conta me arrependi do que tinha dito. Sakura mantinha a cabeça um pouco baixa, os olhar era direcionado a água como quisesse escapar do meu alcance, ela parecia envergonhada em responder.

—  Desculpe. Mas quando eu vejo que uma pessoa precisa da minha ajuda meu corpo age sozinho. Eu nunca poderia deixar você se machucar.

— Eu não… - Ela interrompeu meu pensamento.

— Não falo do seu corpo físico. De algum modo eu sinto que você está sempre se machucando, por dentro. E não consegue parar, porque essa dor é tudo o que tem.

Cada frase que ela dizia, parecia como uma análise de si mesma.  E de algum modo eu podia sentir aquilo, Sakura quase nunca estava falando de mim, e sim de algo intangível que ela sem ter certeza do que era tentava proteger.  

Meu corpo também agiu sozinho todas as vezes em que eu me recusei a entregá-la para a morte. Eu conhecia aquela sensação. Era o que ocorria todas as vezes, dia após dia, incansavelmente. E consequentemente eu sabia, o destino de todos os tengus, essa nossa insistência iria nos machucar. – Você devia ir embora e ficar longe de mim.

— Eu não posso. - Ela disse com a voz baixa. – E nós dois sabemos bem o porquê.

— Porque você é imprudente. - Falei tentando evitá-la, mas todos os meus esforços tornaram-se inúteis diante dos olhos suplicantes dela. Sakura mantinha o olhar fixo sobre mim, ambas as mãos repousaram em meu rosto enquanto eu tentava me afastar.

— Eu não posso ficar longe de você. Sasuke-kun… Eu não vou.

— Você deve. - Tentei ser firme e tirar as mãos dela do meu rosto de maneira sutil, mas infelizmente elas foram persistentes e as minhas pararam sobre as dela. Sakura tinha tomado uma proximidade perigosa, de modo que seus lábios levemente rosados tornaram-se convidativos a medida com que a respiração dela se mesclava a minha com poucos e desesperadores centímetros entre nós. Eu sentia algo muito mais poderoso do que o instinto que me acompanhou durante toda a vida. Meus desejos mais profundos brigavam com a minha razão tentando levar-me a insanidade e infelizmente eu estava perdendo para eles.

Meu corpo se movia sozinho. A sensação dos meus lábios tocando levemente os dela, e aos poucos tornando-se um beijo quase desesperado. Aquilo me causava uma sensação indescritível, e por meros segundos eu podia sentir como se todas as minhas amarras tivessem sumido e eu fosse alguém completamente livre. Eu sentia como se minhas asas me permitissem voar em liberdade e não fossem como pesos que atam a terra.

 

Infelizmente, no segundo em que eu me separei dela,  cruelmente meu corpo que ansiava por mais, me trouxe dolorosamente a realidade. Tão  simples quanto ela era capaz de me levar ao céu era a realidade me arrastando para a terra firme, e lembrando-me da minha maldição.

— Não diga mais nada. Não insista Sakura.

— Eu não vou deixar que você se isole e carregue tudo isso sozinho. Você me devolveu a vida, então deixe-me usá-la como eu quiser.

[...]

Olhar para ela logo quando acordei era como se ainda estivesse sonhando. E embora houvesse confusão por causa do sono, meu coração tornou-se eufórico. Não importava o quanto eu tentasse fugir, ela sempre me encontrava, e sinceramente isso era o que eu mais temia. Obviamente Sakura, assim como eu, cedia facilmente a seus impulsos, mas algo muito importante parecia não ter sido compreendido por ela. O primeiro que, eu viveria para sempre, e o segundo que eu jamais poderia dar ela o que provavelmente almejava. Afinal, o que poderia realmente haver entre nós?

Quando me levantei do chão onde repousava evitei olhá-la demais, e fingi que simplesmente não me lembrava do que aconteceu. Não era tão difícil quanto parecia, embora a determinação nos olhos dela me dissesse que Sakura não desistiria tão facilmente. Ainda assim aquele não era o momento apropriado para isso.

— O sensei quer que você volte. - Naruto disse com um ar preocupado. – A cidade está diferente.

— Como assim diferente? - Indaguei tentando imaginar a causa, embora eu suspeitasse do que poderia ser.

— O Shinsegumi chegou na cidade.

Quando ouvi aquele nome senti como se o chão debaixo do meus pés desaparecesse. Shinsegumi nada mais era do que a polícia civil responsável por manter a ordem no império, os únicos samurais com permissão para brandir uma espada. No entanto, pessoas como eles jamais se mobilizariam e pisariam num vilarejo tão miserável e esquecido  como Konoha por nada. Havia apenas uma pessoa ali com poder suficiente para chamá-los, e não restava dúvidas de que este alguém era Orochimaru.

 

Olhei para Sakura e o olhar dela confirmou minhas preocupações, Naruto estendeu um cartaz com um retrato pintado de Sakura onde tinha bem destacado “Desaparecida”.

Imediatamente me direcionei até a cidade, sem fazer perguntas ou esperar por eles. Minhas asas garantiriam que eu pudesse chegar em questão de minutos, já que a montanha onde eu estava não era longe. Quando cheguei, discretamente pousei em cima de um telhado numa casa velha. A rua principal estava bastante movimentada, uma comitiva andava por ela. Ao centro, em um cavalo branco, estava Lorde Orochimaru, escoltado por toda a polícia do shinsegumi enquanto se direcionava a algum lugar. Analisei cada um deles,  e num instante meu coração gelou.

 

Quando olhei para aquela comitiva com um grande número de pessoas, o destino tornou-se tão claro quanto a água. E diante daquele momento, senti meu corpo paralisar-se com um temor que vinha do fundo da alma. Num instante todos os fantasmas da minha vida vieram a tona.  Caminhando bem a frente, estava naquela tropa o único homem ali, ou melhor monstro, com poder para me matar. O vice-comandante do Shinsegumi, Uchiha Itachi, meu irmão.

O olhar afiado dele direcionou-se a mim como se pudesse farejar de longe a minha presença se localizava, embora permanecesse andando e cumprindo o papel que empregava ali. Aquilo nada mais era um sinal de um presságio do que estava por vir.

 

Meu corpo quase não se moveu. Questionei-me durante vários minutos, se em meu interior ainda existia alguma parte que se sentia um Uchiha, ou talvez eu já fosse um rounnin tão manchado que minha identidade não existia mais a muito tempo. Será que eu seria capaz de manchar minhas mãos com o irmão de meu próprio sangue e direcionar minha espada a ele? Será que ainda me restava, nesse ser sem dignidade, alguma lealdade?

 

O que significa ser leal a alguém? Desde que abandonei meu clã, a palavra para mim tornou-se indecifrável pelo meu coração obscuro. Era um impulso muito maior do que a minha natureza poderia compreender, e ao menos, o mais próximo para mim era saber que lealdade tratava-se do desejo de proteger coisas importantes, ainda que esse algo fosse incerto.


Honestamente talvez eu tenha perdido o sentido da palavra, não me interessava servir ao país, ao meu clã e mais ninguém. Eu era senhor de mim mesmo, e lutava pelos meus motivos egoístas, muito embora tenha questionando-me se o tempo todo estive pensamento inteiramente em mim. E porque eu queria tanto proteger Sakura de mim mesmo? Ainda tento entender…


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Notas finais do capítulo

Boa leitura. :)



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