Respeitável Público escrita por Polo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Um agradecimento especial para SayakaHarume, a Beta, que me ajudou a contar essa história, muito obrigado.



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- Pudinzinho... – Olhei de relance para Harley que me encarava com seus grandes olhos azuis cheios de preocupação. – Eu não sei... Você poderia tentar falar com o Cobblepot.

- Você não aprendeu nada sobre zoologia quando você era criança, menina tola? – Virei a minha cadeira em sua direção e me aproximei de seu rosto até estarmos a poucos centímetros de distância. – Pinguins não sabem voar. Ele é um homem de negócios, seu cérebro funciona a base de dólares, ele nunca patrocinaria uma mente artística como a minha.

- Sério? – A loira mordeu seus lábios fantasticamente vermelhos e acrescentou com tom desafiador. – Se eu não lhe conhecesse, Sr. C, eu diria que o senhor está assustado.

Levantei-me em uma fração de segundos e olhei para o rosto provocante de Harley. Como ela ousava falar de mim daquela maneira? Ergui a minha mão e logo depois golpeei com toda a força o rosto da garota que se contraiu em dor.

- Eu? Com medo? Ora, por favor, eu sou apenas mais esperto que você – respondi ainda utilizando toda a fúria que ela havia me proporcionado anteriormente. – Eu nunca pediria dinheiro emprestado do Oswald. Tudo o que eu menos preciso é que os capangas do Pinguim comecem a ficar na minha cola.

Arlequina parou de se lamentar pelo meu golpe e me encarou mais uma vez com um sorriso divertido. Dava para ver o contorno da minha mão desenhada em sua face exageradamente maquiada. Uma coisa eu tinha que admitir, aquela garota era forte.

- Ah, Sr. C... – Harley riu por algum tempo. – Quem falou em pedir emprestado?

...

- Toda essa violência foi bastante desnecessária, Coringa – Oswald Cobblepot, um homem pequeno e com traços que faziam jus ao seu apelido, comentou calmamente enquanto era guiado por mim e Arlequina até um beco deserto e aleatório de Gotham. – Ernesto e Leroy eram bons guarda-costas, acho que vou sentir falta deles.

- Pode parar com o papo furado, Pinguim. – A loira apontava uma pistola para a cabeça do homem pássaro. – Nós queremos o seu resgate.

- Oh, Harley... Sempre tão simpática... – O homem nojento usando terno falou em tom nada aceitável. – Sempre tão...

Dirigi-me até Oswald Cobblepot e dei-lhe um soco no rosto com toda a minha força. O chefão da máfia caiu com tudo no chão, o que automaticamente fez com que Arlequina viesse em minha direção e me desse um abraço apertado.

- Pudinzinho, isso foi tão romântico!

- Não é nada pessoal, Pinguim, é só porque eu preciso de financiamento – comentei dando um sorriso enorme –, para o meu próximo trabalho.

- E por que não falou antes? – Oswald abriu um sorriso e me deu um abraço caloroso – Se queria fazer isso, era só ter me pedido. Não precisava de tanto alarde. Sabe, Coringa, a verdade é que a sua... “Arte” é bastante importante para os meus interesses. Quando lunáticos como você ou o Charada, por exemplo, armam um circo para tirar a atenção do Batman, ele realmente perde o seu foco! - Pinguim pegou seu guarda-chuva do chão e continuou em tom cínico. – E é aí que os verdadeiros bandidos entram em cena.

Controlei-me para não disparar no aristocrata gordo. Ele estava dizendo que tudo o que eu já havia feito contra Gotham ou contra o sistema não passava de uma distração para planos realmente mais importantes. Havia algo na visão de um pinguim assado e desmembrado que me parecia bastante atraente naquele momento. Mas eu precisei me controlar, eu dependia do dinheiro. Ossos do ofício.

- E então? – Cobblepot indagou olhando diretamente para mim. – Qual é o plano?

- Controle a emoção, chefinho, você vai adorar a minha ideia – respondi entusiasmado. – Seguinte, há uma ponte que sai de Gotham e se houvesse alguma maneira de derruba-la, principalmente havendo crianças lá, causaria um grande caos em toda a cidade! É genial!

- Sem querer me gabar – Harley abriu um sorriso sincero –, mas só mesmo o meu namorado para pensar em algo tão incrível.

- Obrigado, querida, suas observações sempre acrescentam muito – respondi ao elogio da Arlequina. – De qualquer forma, para explodir a ponte, eu preciso de explosivos. Para conseguir explosivos, eu preciso de dinheiro. E por precisar de dinheiro, eu preciso de você.

- Não.

- O quê?!

- A resposta é não, Coringa, explodir uma ponte não é bom para os negócios – Pinguim respondeu desinteressado. – Eu preciso dela para transportar produtos. E se não for algo benéfico para mim, não posso concordar.

- Mas... Mas...

- Ora, Coringa, não fique tão surpreso. A verdade era que eu estava ciente que você me faria uma proposta – o chefe da máfia explicou. – Eu tenho alguns empregados que são especialistas em captar mensagens telefônicas e eu tenho ouvidos por toda Gotham. Soube que o Duas-Caras, o Senhor Frio e o Chapeleiro Louco se recusaram a fazer parte desse seu esquema. – Eu estava surpreso, e pela expressão de Harley, podia ver que ela também estava. É isso mesmo, eu já sabia do seu plano da ponte, todo esse nosso falatório foi só uma maneira de eu ganhar tempo.

- Ganhar tempo para o quê?

- Para uma emboscada, Arlequina, querida.

No mesmo instante, capangas apareceram de todos os lados. Todos encapuzados e com armas grandes apontadas para nós. Eu sabia que eles não nos matariam, afinal, como Oswald havia feito questão de explicar, eu era uma excelente distração, mas isso não queria dizer que eles não nos machucariam. Olhei para a Arlequina que sorria um sorriso lunático e encantador. Tirei rapidamente da minha manga uma bola que quando a arremessei no chão produziu uma cortina de fumaça densa.

Era impossível enxergar dentro de tanto gás, ao menos que você estivesse munido de óculos especiais. Algo que eu e Harley havíamos trazido, coincidência, não? Todos os capangas pareciam desorientados na fumaça e estavam receosos de atirar, pois tinham medo de atingir um furioso pinguim que gritava sem parar.

Eu e Harley saímos gargalhando do beco de mãos dadas indo direto para uma van que havíamos roubado. Um sorriso verdadeiro estava estampado em nossos rostos.

...

Tudo havia saído exatamente como planejado, era incrível. Oswald foi tolo o suficiente ao convocar boa parte de seus homens para a emboscada. Enquanto isso, uma das pessoas que havia “recusado” o trabalho, Victor Fries, também conhecido como Senhor Frio, aproveitou a ausência de capangas no local para roubar todo o cofre do Pinguim. Claro que era apenas um dos oitocentos que ele tinha espalhado por toda a cidade, mas ainda assim, era muito dinheiro.

- E aqui está a sua parte. – Harley entregou uma bolada de dólares para o homem azul e com roupa robótica. – Obrigada, Fries.

- Eu não fiz isso por vocês, fiz isso para poder custear os meus cuidados médicos – Senhor Frio respondeu, um tanto envergonhado –, mas me prometam algo, todo o dinheiro que vocês conseguiram com isso não vai ser usado para machucar ninguém.

- Ah, fica frio... – respondi de maneira sincera, quase me convenci que eu estava falando a verdade. – Você tem a minha palavra.

Depois de algum tempo, o Senhor Frio saiu do lugar onde estávamos, deixando-me sozinho com Arlequina ao meu lado no telhado do armazém abandonado. Havíamos conseguido todo o dinheiro que precisávamos e ainda mais, para algum futuro esquema. Olhei para Harley que me encarava de uma maneira feroz. A loira deu uma mordida no lábio vermelho, como ela sabia que eu gostava e começou a arrancar a fantasia vermelha e preta que ela vestia me revelando suas curvas brancas e instigantes.

Vai ver que o Cobblepot estava correto, eu era mesmo uma boa distração. Mas acreditem quando eu falo, a Arlequina era uma melhor ainda.

...

O grande dia havia chegado. Dizem que antes de entrar em cena, os atores e os dançarinos sentem certo frio na barriga que é difícil de ser explicado. Talvez essa sensação fosse parecida com a que eu costumo sentir antes de dar início a realização de um espetáculo. E para a minha apresentação, eu só precisava de um distinto espectador. Um senhor de vestes pretas e com um sentimento de justiça antiquado.

O Pinguim havia me dito que eu não passo de uma distração, que tudo o que eu realizava era sem sentido. Pobre homem com cérebro de passarinho. Todas as suas ações são movidas pelo dinheiro. As minhas não, tudo o que eu fazia era movido pela minha própria essência, as coisas que eu fazia eram verdadeiramente vivas.

Eu estava escondido atrás de alguns arbustos com apenas a folhagem e a escuridão para me disfarçar. Em minhas mãos cobertas por uma luva branca estava um dispositivo que, no momento que seu único botão fosse apertado, toda a Ponte Silver Gotham seria feita em pedaços. Eu somente estava esperando o meu expectador para começar o show.

E então, como se fosse uma visão, Batman surge. Em seu veiculo aéreo, o Morcego, o cavaleiro das trevas sobrevoava a ponte. Ele procurava por todos os lados por alguém que pudesse ter um detonador. Eu não conseguia deixar de me surpreender com a esperteza do Cavaleiro das Trevas, como ele havia descoberto a minha apresentação? Bem, isso não era importante, o que interessava era que o meu velho amigo não estava me vendo.

E então, com uma clara visão do Morcego, fechei os meus olhos. Ouvi risos de crianças vindo da ponte e abri um sorriso de satisfação. Há prazeres que o dinheiro não consegue pagar.


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