A música escrita por Ayshi


Capítulo 1
A música


Notas iniciais do capítulo

Bem, outra oneshot bem curtinha!! Divirtam-se.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/578014/chapter/1

Duas semanas admirando ela e nunca tive coragem de me sentar ao seu lado.
Em clima de festa, olheiras, eu entrei pela primeira vez no ônibus que me levaria à faculdade. Jamais iria esquecer as lágrimas correndo os olhos de minha "bisabuela" ao verificar minha nota no vestibular. Primeiro lugar para arquitetura e urbanismo. Sentei em um dos primeiros assentos e tirei os fones do bolso. Liguei a música, que tinha um ritmo intenso e alegre. Exatamente como eu me sentia naquele instante. Meus dedos tamborilavam na janela e meu pé direito batia sequencialmente no chão. Era automático. Colocar os fones e os movimentos vinham como em um baile.

Ao olhar para trás, me surpreendi com uma mulher. Ela era totalmente diferente de mim. Os cabelos acobreados desciam como uma cascata pelos ombros, totalmente o oposto aos meus cabelos pretos, justos e aparados. Os olhos amarelados estavam voltados para algum ponto no horizonte, mais uma vez adverso às minhas íris castanhas. A pele pálida chegava a brilhar sob a luz, enquanto minha pele bronzeada, herdada de meu pai que era de origem colombiana, parecia expulsar o sol. Tudo diferente, nunca daria certo.

Mas o que me chamou a atenção, foram os movimentos dela. Os dedos tamborilavam exatamente no mesmo ritmo que o meu. O sapato, ainda que desajeitadamente fora da sequência, batia alegre no chão.

Tive vontade de me sentar ao lado dela, mas não sabia o que fazer. Ela aparentava os seus trinta anos, e eu nos meus vinte e dois não tinha experiência o bastante. Foram assim por duas semanas. Imagino que ela tem medo de mim, já que eu a olho constantemente durante nossas viagens matutinas. Eu estava cansado de não ter atitude e então comecei a me levantar, porém sentei novamente olhando para ela. Haviam olheiras abaixo de seus olhos e o batom vermelho intenso não residia em seu lábio. Ela olhou na minha direção e lançou um aceno. Ótimo! Agora estarei mais acanhado ainda ao falar com ela!

Fiquei de pé e caminhei até o assento ao lado dela. A música estava incrivelmente alta e identifiquei de vez a cantora: Pitty. Eu a adorava, mas mesmo assim estava me incomodando e a algumas pessoas ao redor também.

– Você poderia, por favor, baixar o volume? - cutuquei o ombro dela.

Ela tirou o fone e me olhou - Você poderia, por favor, voltar ao seu lugar? - ela zombou.

Sustentei o seu olhar e após um tempo ela bufou e colocou os fones novamente, dessa vez mais baixos. Agora que ela não vai falar mesmo comigo. Virei o rosto para o outro lado e senti um peso pousar em meu ombro. A mulher havia adormecido. Mexi o ombro discretamente e ela se levantou num sobressalto. Os fones caíram sobre seu colo e ela me olhou, com as bochechas rubras.

– Desculpa! - ela falou, aparentemente assustada e envergonhada - Estou realmente cansada.

Ela abaixou a cabeça, evitando os meus olhos e pediu desculpas mais uma vez.

– Tudo bem - eu apenas sorri colocando novamente o fone. Voltei a bater o pé no chão até que ela me chamou.

– É Pitty? - ela apontou para os fones - Adoro ela! As letras, melodia, ritmo! Tudo!

– É sim - eu me sentei sobre as pernas, fazendo meu corpo se virar para ela - Eu também a adoro!

– Laura, prazer - ela estendeu a mão e eu a apertei.

– Leo.

Depois disso, ela se virou novamente para a janela, porém, agora com um pequeno sorriso no rosto. Eu continuava em uma péssima situação. Minha mente não conseguia pensar em nenhum assunto, então eu apenas continuei esperando chegar o meu ponto.

Depois de dez minutos, uma chuva torrencial começou a cair. Cada gota que batia no teto do ônibus, parecia uma bomba explodindo à distância. "Que droga! Vou me molhar todo."

O ônibus parou e eu me levantei. Antes de descer, observei atentamente o ponto de ônibus, procurando alguma varanda que poderia me oferecer proteção. A calçada era pavimentada e tinha uma cor que se aproximava do bege. A cada alguns metros, haviam quadrados onde eram plantadas algumas árvores e moitas de pequeno porte. Os prédios, com suas fachadas coloridas estavam movimentados pelo entra e sai da correria, mesmo com a chuva torrencial. Somente o ponto de ônibus poderia me oferecer abrigo contra a chuva.

Suspirei mais uma vez e, antes de descer, coloquei a mochila por sobre a cabeça. Corri até o ponto e respirei fundo. Quando fui correr para chegar à faculdade, uma mão segurou meu ombro.

– Quer ajuda? - ao olhar para o lado, vi a mulher que conheci no ônibus. Ela estava com a pasta embaixo do braço e com a mão segurava um guarda-chuva - Leo, não é? Estou indo para a faculdade, estou atrasada pra minha aula. Os alunos devem estar esperando - ela lançou um pequeno sorriso.

– Que sorte. Eu estudo lá - tomei a liberdade de dividir o guarda-chuva com ela e continuamos andando.

Conversei com ela e percebi, durante o diálogo, que um daqueles romances casuais estava pra nascer. Uma pequena coincidência. Duas, na verdade. Quem sabe onde isso vai parar? Afinal, estou aqui ao lado dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Andei escrevendo bastante :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A música" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.