Entre dúvidas e Certezas escrita por Dandy Brandão


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

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não sei dar nomes a capítulos
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Naquela mesma noite, passei no quarto do Usagi-san, para deseja-lo um boa noite. Percebi que ele estava bastante sério em seu trabalho, talvez por que faltasse pouco tempo para entregar. Ele me respondeu com sua voz suave de sempre, e não insistiu para que eu ficasse em seu quarto, com certeza, passaria a noite trabalhando.

O dia amanheceu, bastante nublado e frio. Olhei para a janela do meu quarto, procurando alguma solução para meu mais novo – ou antigo? – dilema. Tentei pensar em falar algo com meu irmão, imaginando-me cheio de coragem a conta-lo sobre minha relação com o Usagi, porém eu logo recuava, sabendo que nunca faria aquilo. Meus pensamentos se dispersaram rapidamente, e comecei a tentar burlar qualquer coisa que ousasse me perturbar.

Arrumei-me, preparei o café, e esperei o Usagi descer para tomarmos o desjejum juntos. Assim como no jantar da noite passada, comemos calados. Sai para a universidade e deixei o Usagi a descansar após sua longa noite acordado.

A rua parecia tão tranquila, contrastando com o ‘espírito’ perturbado que eu estava. Eu pensava em conversar com meu irmão, em segredo, e tentar convencê-lo que eu deveria permanecer por mais algum tempo no apartamento, tinha que dar uma desculpa muito satisfatória para ele, algo que não sabia muito bem como fazer. Talvez o Usagi conseguisse isso, com sua argumentação afiada e contundente, porém eu precisava tomar a MINHA decisão, ou me arrependeria pelo resto da vida. Usagi-san sempre fez tanto por mim. Resolvendo tudo à sua maneira, mesmo por mais insano ou inconsequente que fosse. Eu queria tomar uma atitude, mas tudo me travava e diminuo, diminuo....

De repente, meu celular tocou.

Acordei dos meus devaneios e olhei a chamada. Era o Takahiro.

Recebi a chamada, hesitando em levar o celular à orelha. Mas, com um pouco de esforço, consegui atender.

– Onii-chan?

– Ohayo, Misaki!

– Ér... Como vai? – Falei, um pouco inseguro.

– Vou bem, e você? Usagi conversou contigo ontem?

– Tudo bem, onii-chan...Ér.. Sim, ele conversou comigo. – Tentei ser o mais direto possível, porém sabia que ele insistiria no assunto, quer dizer, acho que ele só me ligou para falar sobre isso.

– Ah sim! Que ótimo. Então, eu estava pensando sobre isso. Afinal, será ótimo para você ter novas experiências, sozinho. Usagi também precisa ter a vida dele, não? Pensei também em te ajudar no aluguel do seu apartamento, por enquanto você começa a se estabilizar... Estou em Tokyoe...

A partir de então não consegui assimilar mais nada do que Takahiro dizia, minha mente flutuou tentando fugir de todo o falatório dele. Até que percebi que ele havia terminado e tentava me trazer de volta à realidade..

– Misaki?!

– Sim?

– Que tal nos encontramos para conversar? Tem alguns pormenores que pretendo conversar com você.

– Que horas? Onde? – Respondi, ansioso.

– Hoje à tarde você trabalha, não é? Então...

– Não, não, hoje estou de folga.

Ele se animou com a notícia e marcamos em um café próximo à minha universidade. Ele até sugeriu que fôssemos para o apartamento do Usagi-san, mas eu insisti que não, pois ele estaria muito ‘ocupado’ trabalhando. Senti-me mais seguro, pois estávamos longe das vistas de águia do Usagi,mesmo que ele sempre conseguisse me encontrar, onde quer que eu estivesse.

Passei o dia inteiro imaginando como seria minha conversa com o Takahiro. Apesar de sermos bastante próximos, tinham certas coisas que eu nunca conseguiria falar ao meu irmão. E, toda aquela situação era uma delas. Meu irmão não era um homem imprevisível como o Usagi, aliás, as reações dele eram muito fáceis de adivinhar. Porém, eu não conseguia imaginar como ele reagiria se eu dissesse o que acontece entre eu e o Usagi-san. Talvez ele ficasse surpreso, depois com muita raiva de mim, e depois não quisesse me ver nem pintado... Ou apoiasse nossa relação. É, não. Meus pensamentos foram longe demais.

Pelos planos dele – apartamento, emprego, casamento, filhos... – Meu irmão se mostrava alguém muito tradicional. Ele se casou, tem um emprego estável, uma bela e dedicada esposa, a Manami, conseguiu seu primeiro filho e quer que eu siga o seu mesmo caminho. Se eu contasse, é como se todo o seus sonhos para mim se quebrassem em um instante. E, eu me sentiria o pior irmão do mundo. Seria bom se realizasse os desejos do meu irmão, mas, algo aqui grita para que eu continue ao lado do Usagi..

Fiquei feliz de ter meu dia de folga, e pude ir em algumas livrarias depois da universidade. Ia ver as novidades sobre o The☆Kan!, apesar de que, agora eu trabalhava na editora que publicava o mangá, a Emerald.. Fiquei vagando por algumas livrarias, esperando o horário para ir ao café combinado com meu irmão. Não queria ir para casa, evitaria os questionamentos do Usagi-san. Ele sabia que era meu dia de folga, e o bombardeio de perguntas era certo. Ficar na rua e vasculhar as livrarias era a melhor opção.

A todo momento eu conferia o relógio, ansioso e amedrontado com a hora que se aproximava. Não sabia muito bem o que dizer ao meu irmão e nem como faria para driblar as suas vontades. Gostaria de ter o Usagi-san ao meu lado no momento... Ele me guiaria. Às vezes me condeno por ser tão confuso e cheio de dúvidas. Tantas coisas passam pela minha cabeça e eu, simplesmente, perco-me em pensamentos.

Eu já me encaminhava para o café, olhando para meu relógio. Já estava na hora marcada, meu irmão com certeza já estaria lá. Entrei no local um pouco desconfiado, espichando meu pescoço à procura dele. O café estava cheio, eu o encontrei após bastante esforço. Estava sentado, em uma mesa lá no fundo, de cabeça baixa, mexendo em seu celular. Aproximei-me, discreto, e o cumprimentei.

– Boa tarde, onii-chan.

– Misaki! Senta aí.

Procurei obedecê-lo rapidamente, colocando minha bolsa sobre o sofá acolchoado e sentando-me logo depois.

– Estava olhando aqui algumas fotos do Mahiro, olha como está crescido. – Ele estendeu o braço para mim, com seu celular em mãos. Olhei os brilhantes olhos do Mahiro na foto e seus cabelos castanhos escuro; sorria, feliz, brincando no jardim da sua casa. Direcionei meu olhar para o Takahiro, do outro lado da mesa.Ele sorria como um bobo, orgulhoso do filho que tinha.

– O Mahiro fica mais parecido com você a cada dia que passa. Como vai ele e a Manami?

– Estamos bem... Mas, viemos aqui para falar de você...

Assustei-me com suas palavras, mas tentei disfarçar olhando para grande janela do nosso lado. Queria fazer de tudo para fugir daquela conversa, porém era tarde demais. Agarrei minha calça com força e olhei novamente para ele, esperando continuar.

– Vamos lá... Já que Usagi conversou com você, deve ter pensado na proposta, não?

– Sim, onii-chan... Andei pensando e acho que..

– Estamos falando do seu futuro. Então, você deve estar disposto a ponderar muitas coisas... Mas, o meios mais tradicionais são assim, Misaki... Deve ter em mente que não vai poder viver para sempre lá... Usagi também precisa ter um pouco mais de privacidade... Não me sinto mais bem em te deixar lá, eu vou te ajudar, sabe disso e...

– Takahiro? – Eu o interrompi, apreensivo.

– Sim?

– Você acha que eu atrapalho o Usagi? – Não consegui encarar seus olhos.

– Bom, ele é um homem cheio de mistérios. Zela bastante pela privacidade, e acredito que queira alguma hora ter relacionamentos ou algo do tipo...

Meu irmão sequer imaginava que o relacionamento que seu amigo tinha era comigo...

– Desde que moro lá, ele nunca me reclamou... Vivemos muito bem...

– Achei estranho você ter conseguido se acostumar tão rápido ao Usagi, a personalidade dele é bem difícil. Mas, daqui há algum tempo não poderá mais ficar por lá. Ter seu emprego, seu apartamento, é muito bom... Será mais independente. Não precisará mais prestar mimos a ele. – Ele sorriu ao dizer esta última frase.

Eu não mais me incomodava com os mimos, estava tão acostumado. Claro que, muitas coisas me aborreciam, porém... Era melhor do que ficar longe dele.

– Irmão, eu sei que pensa no meu futuro, mas... – Engoli seco. Olhei para minhas mãos suadas a apertarem a calça com força, quase alcançando minha pele, trêmula. – Eu acho que...

– Está tudo bem, Misaki? – Ele me interrompeu, olhando-me cuidadosamente, como um pai.

Tentei relaxar, retesando meus músculos. Senti algo vibrar dentro de mim, como se uma coragem súbita me invadisse. Os olhos negros do Takahiro eram doces, mas, de algum modo, pareciam me ameaçar. Nunca senti isso ao encarar o meu irmão.

– Eu estou bem. Só acredito que preciso pensar mais no meu futuro. Eu tenho que decidi-lo.

Ele pareceu surpreso ao ouvir minhas palavras. Eu também estava surpreso comigo mesmo.

– Mas, você não...

– Takahiro... Eu já completei 21 anos... Eu posso decidir. Eu sei que se preocupa comigo, meu irmão. E também com a integridade do Usagi-san, que é o um homem ocupado, famoso... – Respirei fundo. Porém, consegui continuar. – Mas, eu acho que isso deve ser decidido entre eu e o Usagi. E... Sobre meu emprego, família, filhos... Eu quero pensar mais sobre o assunto.

– Eu acho que você está interpretando errado, Misaki... – Ele estava mais sério – Eu só quero o melhor para você...

– Eu sei disso, onii-chan... – Eu sorri, tentando quebrar o clima tenso que tentava se instalar em nossa conversa. – Mas, eu preciso decidir meu futuro, sozinho. É a independência que eu preciso, não?

Eu sempre me deixei levar demais pelo que meu irmão dizia, mas, alguma hora eu precisaria recorrer a mim mesmo. Estava convicto do seu zelo por mim, mas não queria que se apropriasse do meu futuro. Eu só precisava de coragem e consegui, tirando de algum lugar aqui no fundo, dizer algumas coisas que pensava. Não conseguia acreditar.

Takahiro olhou para baixo por alguns instantes, talvez pensando em alguma resposta, ou absorvendo o que eu disse. De repente, ele levantou a cabeça, e me olhou de modo estranho.

– Tudo bem.Então... Eu... Vou deixar isso com você. – Sua fala parecia de um pai deixando o filho voar sozinho, para longe do ninho.

Eu sorri, um pouco feliz com sua resposta, mas preocupado se havia machucado os sentimentos do meu irmão. Eu acreditava que estava certo, não conseguia entender como eu falara aquilo, mas já estava feito e não havia mais volta.

– Takahiro... Está tudo bem mesmo? – Perguntei, com cuidado.

– Claro... Você já está tão crescido... – Ele me analisou de cima a baixo, como se tentasse me ver como um homem e não como o seu “irmãozinho” – Eu acho que não vi o tempo passar.

Meu irmão parecia triste e ao mesmo tempo feliz no momento, não consegui interpretar sua expressão. De algum modo, eu me sentia estranho por dentro, mas... Um pouco realizado ao dizer tudo aquilo. Peguei o meu celular, e olhei rapidamente as horas... Já passava das dezessete horas, precisava ir para casa, começar a aprontar o jantar...

– Irmão... Sinto muito, mas agora tenho que ir... – Eu peguei minha bolsa e comecei a me levantar, vagarosamente.

– Certo, mande lembranças ao Usagi. Até mais, Misaki. – Ele acenou, um jogando um sorriso fraco para mim, enquanto eu me afastava, deixando-o para trás.

Saí do café, e olhei para o céu, aos poucos encobrindo-se de pontos luminosos. Aquele momento parecia algo como uma passagem...

Dei alguns passos, distraído, e com uma vontade imensa de ver aquele mimado escritor, o mais rápido possível.


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