Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 7
06


Notas iniciais do capítulo

Olá gente,
Foi mal eu ter faltado esses dias, é porque eu tinha muita coisa pra fazer e nem tinha imaginação para escrever mais capítulos. Mas a maioria eu tenho em mente e ainda faço questão de escrever a trilogia toda.

Ah, e dedico esse capitulo a Natália Romanova, que sempre comentou nos capítulo das duas fics. Valeu Natália!!

Mais um capitulo!

Bjos da Cat ❤



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Antes de partirmos, deixei o vagão e desci do trem, com a Anne me acompanhando. Saí para me despedir de Elise, que me abraçou de imediato.

– Vai durar muito tempo? - ela perguntou, com a voz abafada no abraço.

– Não tanto tempo assim, Elise - respondo, procurando confortá-la com a minha ausência. - Logo, logo, estarei de volta.

Elise me beijou na bochecha esquerda. Pelo menos está tranqüila. Assim como a minha mãe e o meu pai. Eles também sabem que não é mais uma edição do reality. Os três acenaram para Anne, que retribuiu com um aceno baixo e um sorriso escancarado. Regressei ao vagão com um sorriso escancarado e voltei para o lugar onde estava. Anne pegou um falafel e o mordeu pela metade. Ela se sentou depois de mim. O bolinho de cereja da Floresta Negra, onde houve a última edição do reality, foi feito nas vilas próximas da cordilheira dos Alpes e transferidos para as diversas cidades do país. Está uma delícia!

A tela em LED em cima da esquadria da porta do outro vagão mostra o nome de uma cidade. Enruguei o cenho. Está escrito em letras maiúsculas:

FRANKFURT AM MAIN

Fiquei boquiaberto ao tentar descobrir o que era aquilo. Frankfurt am Main. Otto, Lewis e Hannah, a garota dos olhos heterocromáticos, vieram de lá. O nome propriamente dito me fez lembrar dos seus pais, enlutados pelos filhos que os deixaram. Espera, se na tela Frankfurt está aparecendo, eu começo a suspeitar alguma coisa, até a Anne falar do nada:

– Frankfurt é a nossa próxima parada.

Viro de supetão para ela, ainda boquiaberto.

– Como você sabe? - perguntei, incrédulo. Ela deu de ombros.

– Perguntei ao condutor. - ela me olhou de relance, dando uma piscadela para mim.

Ouvi um ruído que me impulsionou para a frente. O trem começou a andar. Fui até a janela e vi a minha família ficar para trás. Em vez de acenar, como qualquer um faz, Elise estende o dedo mindinho direito e o encurva um pouco. Eu faço o mesmo com o meu da esquerda. A mesma coisa que nós fizemos, na ida às salas de aula ou em ocasiões especiais, como daquela vez em que eu estava no corredor da morte ao vivo.

A estação ferroviária ficava aos poucos para trás, revelando a vista do centro de Munique. A cidade fronteiriça aos Alpes ao sul. Sempre apreciei a vista dos Alpes, quando morávamos na antiga casa. Às vezes sinto falta da minha antiga vida, sempre gostei de ter tudo para aproveitar, por mais que sejamos oprimidos. Sempre gostei do inverno nos Alpes. Sempre quis escalar. Até o Everest eu escalaria, se pudesse. Assim como Munique propriamente dita dista aos poucos de nós.

Voltei para o meu lugar. Peguei um falafel e sentei para comer. Anne lê a revista, cuja capa tem a imagem de Hitler II como o centro da Alemanha. Para os defensores do nacionalismo, Hitler é o Sol; o povo alemão são os planetas do Sistema Solar. Já os inferiores são os asteróides e os judeus são planetas-anões. Anne e eu somos o Plutão revertido - o Plutão deixou de ser um planeta, enquanto nós passamos a ser "planetas".

– Não acredito - Anne falou subitamente, surpresa com uma matéria da revista.

– Que foi? - perguntei, me levantando e pegando um cupcake de chocolate com Chantilly salpicado de granulados. Fui ter com ela.

– Olhe só isso - ela me mostra a matéria, cuja a imagem de entrada tinha a nossa foto, quando da entrevista de ontem.

Soltei uma gargalhada de leve. Eu estava todo recolhido e ainda por cima, rechonchudo, embora eu seja magro. Mas tive uma reação de estar todo encolhido feito um presente embrulhado em um enchimento, ou talvez uma almofada. Tá legal, eu sou uma almofada na fotografia!

– Qual é a graça? - pergunta ela, franzindo o cenho.

– Estou rindo é da minha observação na foto - retruco, tentando pegar leve. - veja só isso, eu meio que pareço um balão aí.

Anne riu. Mas a graça acabou morrendo aqui. Foi feita uma pausa e quando dei mais uma olhada pela janela, não tinha mais nada a não ser vales, colinas de coníferas cobertas de neve. A tela da tv de LED continua imutável; ainda aparece o nome do destino: Frankfurt.

Fiquei com os olhos fixos na janela. Ainda penso na Floresta Negra sobrevivendo ao inverno rigoroso. Só de pensar nisso me causa um embrulho no estômago. Depois de tudo que passei no reality, depois de tudo que nós passamos lá, eu só quero pensar no futuro. Em como vamos ser recebidos nas cidades leais ao reality.

***

Durmi a viagem inteira. Hoje não teve sonho. Mas foi até bom, pois nos últimos dias eu não tive um sonho melhor. Desde o reality para cá, eu tive noites ínsones, muitas coisas assustadoras começaram a entrar na minha vida. Passei noites em claro vendo o amanhecer na cidade. Às vezes saía de casa no meio da madrugada para ver o amanhecer nas montanhas alpinas. Eu começava a sentir falta da antiga casa, da antiga vida.

Assim que abri os olhos, já aparecia os prédios e arranha-céus empresariais de Frankfurt. Anne também dormia no sofá. O céu estava parcialmente nublado com algumas nuvens e o céu aparecia róseo.

– Chegamos - deixo minha voz escapar, me espreguiçando.

– Aonde? - Anne interroga, zonza na hora de acordar, sendo que continua com os olhos fechados.

– FRANKFURT SOBRE O MENO - alardeia Marni, escorada à porta do vagão vizinho, saltitante.

Anne se levanta, com os seus cabelos arrepiados. Franzo o nariz para manter acordado e me recosto no sofá.

– O que nós vamos fazer por aqui? - pergunto, com ar de suspeita.

Anne dá de ombros. Ela se espreguiça e responde, com o tom normal da sua voz:

– Vamos "bancar" os bonzinhos - brinca ela, ao fazer o gesto das aspas com os dois primeiros dedos de cada mão. Isso me fez rir.

A cidade era uma exuberância moderna e financeira. Me deixei levar pela beleza de Frankfurt. Com toda certeza, começamos a "ganhar o mundo", mas a vitória pode ser temporária, não se sabe o que pode acontecer.

Umedeci os lábios secos, peguei o meu casaco e o vesti. Anne penteava os cabelos com os dedos, para que nenhum fio arrepiado apareça fazendo um vexame danado na hora de desembarcar. Eu só dei uma ajeitadinha no meu cabelo. A Cruz do Sol passou a ser imperceptível ao tato, devido ao uso prolongado no meu pescoço.

Marni entrou no nosso vagão, acompanhada de Margot. E a equipe de preparação veio fazer alguns reparos em nós dois. O cabelo da Anne foram arrumados, mas continuam soltos. O meu foi apenas a franja para o lado.

– Lembrem-se - Marni falava, enquanto somos reparados pela equipe. - postura ereta, quando forem recebidos e recepcionados pela prefeitura local. E cuidado com o assédio dos fãs e dos paparazzis, pois tudo que eles querem é nos estressar. Mantenham a postura ereta e ignore-os, como se nada tivesse acontecendo. Ah, sorriem e acenem para eles. Alguma dúvida?

Só faltou falar só não vale criticar, mas Marni sempre foi cordial com a gente. Sempre quer o bem de todos nós, mesmo na hora de morrermos ao vivo. Um pretexto para levantar o astral de todos nós, assim como o do público em geral. Me arrisquei a expor a minha dúvida.

– Por acaso você já sentiu um friozinho na barriga? - pergunto, obviamente, pois eu já estou começando a sentir.

– Bom - Marni dá de ombros. - sinceramente, já senti nas primeiras vezes, quando fui apresentar. Mas isso já passou, mais ou menos.

Dei de ombros e voltei para a janela, em que o trem está quase parando na estação ferroviária, por conta dos outros trens parados, alguns sem o reboque. Volto diretamente para o sofá, no momento em que o trem entra na parte coberta, no terminal, onde uma multidão de fãs, cercada por cada lado pelos guardas, gritava histericamente. Quase não dava para ouvir, mas sinto pelo comportamento delas.

– Está na hora - diz Margot, suavemente. - e mantenham calma, viu? Todo mundo já passou pela mesma experiência.

Assenti com a cabeça. Anne continua estática. Postura ereta, acenar e ignorar o assédio de fãs e paparazzis, as instruções martelam na minha cabeça. Respiro fundo e aproximo a minha mão da de Anne, que veio ficar lado a lado de mim.

Minhas mãos soam frio e tremelicam ao segurar a mão da Anne. Ponho a mochila por sobre o ombro com uma mão, sem soltar a outra, em hipótese alguma. O trem para de vez e eu fico cada vez mais nervoso. Anne continua estática, com os olhos fixos para a frente, enquanto a porta se abria.

– Pronto, lá vem o sermão - sibilo, olhando de soslaio para a Anne.

– Como assim? - pergunta, arqueando uma das sobrancelhas.

– Fiquei matutando sobre como vamos ser recebidos pelos pais daqueles que matamos no reality. - desabafo.

Anne assente, todavia insegura. Ela morde o lábio inferior.

– Eu também. Mas fizemos alianças no reality, logo de cara. Eu só bolei a minha estratagema.

– Estratagema? - estranhei, ao virar o rosto para ela.

– Pelo que eu vi, você conseguiu entender que eu fiz aquilo para salvar você. - à medida que ela falava, a lembrança do nosso inesperado encontro perto do corpo deformado de Stella formava na minha cabeça. - Eu lhe disse isso, lembra?

Naquele momento, quando encontrei a Anne aturdida daquele jeito, eu até desconfiava de que ela havia se aliado ao bando da Frieda, mas aquilo meio que deu certo, se não fosse pela chegada dela e de Lorne, que descobriram o plano da Anne. Qualquer um poderia ter bolado aquele plano, mas o outro iria descobrir de qualquer forma.

A porta se abriu e eu aperto a mão da Anne com tanta força que posso. Caminhamos para fora do trem, quando a multidão de fãs grita histérica para nós. Mas fomos escoltados por Margot, que estava ao nosso lado, Marni estava lá na frente, acompanhada da equipe. Os guardas que cercavam a nossa passagem nos escoltavam com o olhar, mas isso praticamente não impedia de sermos abordados pelos fãs.

Sorria e acene, a mente sussurrava para mim. E acatei o pedido, quando uma garota baixinha, de cabelos longos, ruivos e lisos, olhos azuis, me abordou através de um leve puxão de braço. Ela segurava um bloquinho de notas e uma caneta enfeitada (típica de escrever em diário).

– Me dá um autografo - ela gritou, em meio à histeria geral.

Seus olhos azuis brilhavam com a luz do dia. Ela era da altura do meu queixo. Eu não sabia o que dizer. Sorri para ela, enquanto pegava a caneta e o bloquinho e escrevi o meu nome nele.

– Obrigada - ela sorriu, ao levar o bloquinho de volta para si. - Adorei o beijo de vocês dois.

– Ah, valeu - agradeço e me dou conta de que me distanciei da Anne e dos outros. Fui correndo até o Gol Vermelho.

Até a garota ruiva gostou do nosso beijo aquático. A porta é fechada ao meu lado e o chofer pisa fundo.

– É o chofer da prefeitura - Margot explica, enquanto tento recuperar o fôlego.

– Dá para acreditar? - Anne pergunta, ofegante, mas eufórica. - Ganhamos simpatia do público.

– Ô, nem brinca - disse, ao recuperar o fôlego. - Até me pediram autógrafos.

Anne e Margot se surpreenderam. Marni e a equipe estão noutro carro.

– Hum... Parece que alguém alcançou o auge. - brincou Margot, que se sentava no assento da carona.

Sorri semicerrado. Vi pela janela, quando a multidão de fãs corria ao lado do carro em pleno movimento. Imagino como é difícil ser famoso, ter que enfrentar o assedio dos paparazzis e dos fãs, aparecer nas revistas, nos jornais, na mídia em geral... De deu uma saudade de casa, às vezes da antiga vida que levei, quando vivíamos em quarentena. Queria ter uma vida tranquila, minha vida de volta. Isso me fez lembrar de Johann Lunhoff, o vencedor do reality passado, do qual ganhei um autógrafo. Ele esteve no Oktoberfest desse ano, entretanto, a partir daí, nunca mais foi visto. Desapareceu da noite para o dia. Ouvi gente perguntar se ele desapareceu ou foi seqüestrado. Ou até assassinado. Deve surgir um boato de que os judeus deram um sumiço nele, por não agüentarem a repressão na qual têm sofrido e pela fama do ex-judeu.

Fiquei com um nó na garganta, ao pensar nisso. Temi que algo ruim fosse acontecer comigo, assim como com a Anne, sendo que ela viveu anos desolada com a morte dos pais. Todos esses anos fui excêntrico e até agora preservo a minha excentricidade. Senti um leve cutucão no meu braço esquerdo.

– Heinrich? - Anne disse, logo que me virei. - No mundo da lua?

Eu estava meio desligadão da realidade. Eu estava pensando no Oktoberfest desse ano, quando pedi autógrafo para Johann Lunhoff.

– Não - menti, mas tive que pensar em uma outra coisa. - Saudades de casa.

– Eu entendo - Anne assentiu. - Eu também. Saudades principalmente dos meus pais.

Devo imaginar a tamanha tristeza que ela tem sentido, quando ela recebeu a triste noticia. Mas dessa vez, ela pôde se conter.

***

Chegamos à prefeitura de Frankfurt. Trata-se de um edifício enorme, cuja estrutura arquitetônica era germânica e moderna, simultaneamente. No terraço do prédio, há duas colunas em cada lado, ambas com a bandeira da Alemanha Nazista. E em cima delas, há um arco, cujas extremidades se fixam no alto da viga de cada coluna.

O motorista abre a porta do carro no meu lado. Anne segura a minha mão e sinto apertar com tanta força, que ao me virar, vejo as juntas brancas. Margot já estava fora do carro, esperando a gente descer dele. Os guardas que delimitavam o nosso caminho até o terraço, nos escoltaram até a porta. Que saco, já estou farto de ser escoltado pelos guardas, imagina ser assediado todo dia pelos fãs, resmunguei dentro de mim.

Ao entrarmos na prefeitura, o prefeito Gies, um homem na casa dos cinqüenta anos, cabelos grisalhos arrumados e com topete bem definido, esguio e alto, além de sóbrio e educado, nos recebeu de braços abertos, prontos para nos cumprimentar. Ele conversava com a Marni, cujos olhos azuis correram até a mim.

– Pelos bigodes do Kaiser do II Reich, vocês devem ser os vencedores da 64ª edição de Survival Game - ele disse, nos cumprimentando, primeiro a Anne, depois eu (para não ser machista, a meu ver) - Srta. Zimmer e o sr. Holger.

– Ao seu dispor, vossa Excelência - digo, ao retribuir o cumprimento.

– É um prazer em vê-lo, vossa Excelência - sorri Anne.

– O prazer é todo meu, senhorita - se contenta o prefeito.

Ele fez um gesto para nos acompanhar até a sala de jantar. Todos se sentam ao redor da mesa retangular, onde na frente, onde seria o lugar do prefeito, estava o gigantesco retrato do rei Frederico II da Prússia, o patrono do Iluminismo. Jogos de pratos, de taças e de talheres foram postos sobre a mesa de modo que ficassem bem organizados para receber os convidados. A primeira-dama, d. Doroteia Gies, se recompunha ao lado do marido para nos receber. Ela tinha uma silhueta violão e seus cabelos ruivos escuros eram presos à base de coque estiloso e um topete fixo à base de spray fixador.

Depois de dez minutos à espera dos garçons particulares da prefeitura, os cinco aparecem com uma infinidade de iguarias: aspargo ao molho holandês com presunto (Spargel mit sosse hollandaise) , lombo recheado de legumes ao molho de laranja, batata assada com lingüiça, goulash (típico guisado de carne), spältze (macarrão alemão "cortado em pedaços) e para completar, cuca Romeu e Julieta.

Tenho que admitir que o aspargo ao molho holandês com presunto foi o meu prato preferido e eu o repeti várias vezes até me espanturrar. Em seguida, o prefeito Gies, sua primeira-dama e os secretários nos escoltaram para o terraço da prefeitura, onde paramos na porta. Inclinei o tronco para a direita, onde o povo estava reunido diante do prédio para ouvir o nosso discurso, inclusive judeus.


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Notas finais do capítulo

P.s.: as comidas mencionadas no texto, tirei de um site de culinária alemã. Se quiserem visitar, basta entrar no link abaixo:
https://heikograbolle.wordpress.com/receitas-alemas/

Bjos da Cat ❤