Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 16
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Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Devem estar achando que eu abandonei a fic, não é? É porque eu estive estudando e as aulas e os isolados me deixaram exausta. Mas hoje aproveitei a oportunidade de postar mais um capítulo.
Bjos
Cat ❤️️



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Depois que o sinal tocou, a aula de geografia política terminou e fui o primeiro a sair da sala. Afinal, pra que andar de cabeça erguida se muitos tormentos lhe assombram? Mal posso esperar para chegar em casa o mais rápido possível, pois a primeira coisa que eu vou fazer é ficar no quarto vendo o tempo passar.

Vejo o Moe conversando com um grupo de rapazes em um dos armários do corredor principal. Ele me devolve o olhar, mas eu prossigo no caminho, quando o ouço chamar o meu nome, na hora em que eu chegava perto da porta principal.

–Heinrich - ele veio correndo em minha direção. - Quer que eu vá com você?

Hesitei, mas cedi na hora. Sacudi a cabeça e nós dois fomos para a rua.

Mais murmúrios soavam nos meus ouvidos, por onde quer que eu passasse. Isso me dava nos nervos, capaz de me enlouquecer. Não seria mais fácil os meus pais me matricularem em escolas de arianos? Pensei. Mas mesmo assim, a situação seria constrangedora.

– Me desculpe perguntar, Moe - puxei um papo. - mas os caras se tocaram no assunto da minha briga com o Karl?

Moe deu de ombros.

– A maioria sim - respondeu, indiferente. - Disseram que as garotas postaram a gravação nas redes sociais e nem bem bombou com mais de 90 visualizações.

Fiquei pasmo e ao mesmo tempo, chocado.

– Esse mundo está perdido mesmo - desdenhou Moe. - Os seus antigos amigos lhe deram a maior força durante o dia da Seleção e agora simplesmente o ignoram.

– Principalmente os "militantes radicais" - desdenhei, fazendo o sinal de aspas com os dedos.

– Como assim?

– Me refiro ao Karl.

– Ah, não conheço muito bem, mas de cara dá para perceber o quanto é enjoado. Mas quando o assunto é política, ele se engaja sem dúvidas - e se virou para mim. - E deu para sentir o impacto dos punhos de ferro que ele tem. Quase quebrou o dorso do seu nariz.

Toco delicadamente no dorso inchado do meu nariz e sinto uma dor lenta. Já dói menos do que antes, na hora de respirar.

– Está doendo? - Moe se preocupou.

– Não - balanço a cabeça. - Mais ou menos.

Moe suspira.

– Por pouco - disse ele. - Prefiro o edema à fratura.

– Fratura e edema, particularmente dão no mesmo - explico. - No meu caso, foi só o dorso do meu nariz e...

Fui interrompido do uma buzina de um carro que diminuía a velocidade, à proporção que se aproximava da gente. Uma mulher de pele escura, segurando o volante, chama o Moe. A sra. Zimmermann.

– Mãe - grita Moe, ao abrir a porta da carona e virar o rosto para mim. - Nós vemos amanhã, então.

Dou de ombros e esboço um sorriso sem vontade. A sra. Zimmermann me oferece uma carona.

– Não, obrigado - agradeço. - Estou acostumado a caminhar.

– Mas você não mora mais lá - retrucou a sra. Zimmermann. É mesmo, eu não moro, mas preciso caminhar para acalmar os nervos.

– Agradeço o convite, mas preciso dar uma passeiozinho para desopilar um pouco - menti, mas foi sorte minha em ter pensado em uma mentira convincente.

– Algum problema, Heinrich? - a Sra. Zimmermann parecia preocupada comigo.

– Mais um dos problemas na escola - Moe interveio. - A coisa tem sido muito tensa desde que ele chegou.

Meu sangue ferve e o dorso do meu nariz dói. Maldito Moe!

– Está explicado a cara de poucos amigos - concluiu a mãe de Moe. Esboço um sorriso cerrado, enquanto pressiono a alça da minha mochila.

– Bom - balbuciei, com a ânsia em querer ir embora crescendo dentro de mim. - Sendo assim, fica para a próxima, então.

– Como quiser, Heinrich - disse a Sra. Zimmermann, engatando a marcha para a primeira. - Nada melhor que uma boa caminhada para esfriar a tensão.

– Beleza, então - e acenei para a os dois, enquanto o carro saía devagar do meio-fio. - Até mais ver.

– Até amanhã, Heinrich - gritou Moe, do banco da carona. - E cuide desse nariz, falou?

– Pode deixar - e vi o carro seguir rumo em linha reta.

Encosto de leve no dorso do nariz e sinto uma dorzinha aguda. Faço uma careta de dor e atravesso a rua praticamente deserta. As tensões na escola, na guerra, martelam a minha cabeça a todo momento. A guerra, nem tanto assim, mas a aparente hostilidade dos colegas me atormenta a cada dia, desde que eu cheguei de Berlim.

Cruzo o centro da cidade, rodeado de cervejarias, lojas de souvenires, e muitos fregueses curtiam a bebida, como se não houvesse amanhã. Afinal, curtir o presente era tudo para mim. Agora só penso no passado, quando ainda era cercado de amigos. Paro em frente a uma banca de jornais e fixo o olhar em uma foto de uma manchete de jornal. Um grupo de três soldados nazistas posavam para a foto, sendo que um deles, no meio, segurava a bandeira. Li o título que estava à direita da foto:

"As tropas nazistas ocupam a Bélgica"

Mais uma notícia da guerra. Se brincar, Hitler II vai ocupar a Europa toda, até a Rússia, se a guerra não acabar. Olho para mais uma manchete que dizia assim:

"Os submarinos neoiugoslavos atacam navios britânicos no oeste Mediterrâneo, próximo à costa da Provença francesa"

Um dos aliados da Alemanha. A Tríplice Eixo está cada vez mais forte. Mais um equilíbrio entre as forças e a Europa se torna um gigantesco campo minado. De supetão, vejo duas meninas arianas, uma loira cochichando no ouvido da outra, morena, e viraram o rosto para mim nesse mesmo instante.

– É ele - uma delas disse, eufórica.

Ah, não. Como se não bastasse o que aconteceu na escola, vou ter que aturar o assédio mais uma vez. As duas chegam perto de mim, com gritinhos e risos melosos.

– Podemos tirar uma selfie com você? - uma delas perguntou.

Reluto, mas fui forçado a aceitar. De acordo com o regime. Balanço a cabeça e as duas roçam as minhas bochechas de cada lado e se aprontam num instante para tirar uma selfie comigo. Forço um sorriso cerrado e me esforço da melhor maneira para não sair feio e ter que repetir a foto.

– Sorria... - gorjeou a morena. Comprimi entre as duas e continuei a forçar o sorriso. As duas eram pouco baixinhas que eu e mesmo assim dava para roçar as bochechas nas minhas.

A morena tirou a foto. Ufa, digo a mim mesmo. Tanto a morena como a loira guincharam de tamanha felicidade que me mostraram a foto no visor. Nem sai, digamos, esquisito, mas deu pro gasto. Mas ainda há tormentos me perturbando dentro de mim.

– Obrigada, Sr. Holger - agradeceu a loira.

– Você e a Anne formam um par perfeito - exaltou a morena. Fiquei encabulado.

– Ah, muito obrigado - agradeço, sem jeito. Contudo disfarço o nervosismo que teimava me perturbar.

– Tchau - as duas gritaram eufóricas e tomaram o rumo oposto ao meu.

Retomo o rumo para a casa. Quero voltar o mais depressa possível, a fim de evitar mais assédios dos fãs e mais ameaças dos judeus. Posso até enlouquecer se isso continuar. Eu não nasci para ser famoso e nunca quis ser. Mas o Survival Game me forçou a isto e me afastou dos meus amigos. Desmond poderia estar vivo, se isso não acontecesse, mas eu amava a Anne é sempre fui apaixonado por ela. Tenho em mente de que ela precisa muito de mim. E não vou mentir, sempre precisou.

Passo por Englisher Garten, onde Edith e eu nos encontramos da última vez, quando vejo uma garota de cabelos loiros naturais e longos, de gorro marrom e casacão, fitando o rio congelado. Ela me parecia familiar. Me impulsiono a chegar mais perto dela só para confirmar.

Anne.

Seu olhar fitava a superfície congelada do rio. Mordiscou o lábio inferior. Também olhei para o rio. Nem sequer lembrei da primeira vez que vim para o jardim.

– Eu tinha sete anos - Anne começou a falar, de supetão. - quando vim para cá com o meu pai na manhã da véspera de natal. Me trazia para patinar no gelo. Cada vez que caía, ele me segurava pelas mãos e me guiava pelo percurso do rio congelado.

Ouvi atentamente o seu depoimento.

– A partir daí, peguei jeito nos patins - continuou, ao virar o rosto para mim. Sorri de leve. Anne mudou a expressão rapidamente. - Mas depois que ele morreu, parei de vir para cá. Só de lembrar da primeira vez, fico ciente que ele nunca mais vai voltar.

Suspiro profundamente.

– Eu saco - deixei a voz escapar da boca. - Aprendi a patinar com a minha mãe. Fiquei com muito medo de cair no começo. Cheguei até chorar de pavor - completei rindo.

– Que medroso - Anne brincou.

– Na hora em que pus os patins no gelo, aprendi a superar o medo.

– Que medroso e corajoso - brincou. - Mas se eu puser os pés novamente, provavelmente vou ter que aprender tudo de novo.

– Isso me deu uma ideia agora - digo, astuciosamente.

– De quê? - Anne indagou, suspeitando.

– De fazer você se esquecer da morte dos seus pais e poder recordar apenas o lado bom ao qual eles viveram com você... - dei mais um passo, quando nem percebi que pus os pés no gelo e desabei de bruços.

Anne se inclinou preocupada.

– Você está bem? - indagou.

– Estou - falo, me recompondo e apoiando sobre os cotovelos. - Como eu disse, eu tenho uma ideia que vai acabar com os seus problemas.

– Que ideia?

Anne ficou de cócoras e estendeu a mão direita para mim. Peguei com a esquerda, mas a minha intenção não era sair do gelo. A puxei de supetão e ela caiu de bruços em cima de mim. Não era tão pesada como pensei.

– Heinrich - brigou Anne. - Que ideia maluca é essa?

– Você vai ver - digo, ao tentar levantá-la comigo. Segurei seus braços e tratei de ficar de cócoras, apoiado sobre os pés, para não escorregar no gelo. Ajudei a Anne a fazer o mesmo e ficamos da mesma altura. Esperei mais um minuto e nos erguemos aos poucos até ficarmos em pé.

– O que você está fazendo? - Anne murmurou, estranhando o meu comportamento.

– Você vai saber - sussurro.

Desloco um dos pés para trás com cuidado e a puxo devagar.

– Não movimente os pés - sibilo. Anne sacudiu a cabeça, sem entender o que se passava.

Caminho para trás vagarosamente e a puxo consigo, procurando o ponto de equilíbrio favorável para nos locomover. Olho nos olhos dela, sem desviar, com o objetivo de fazê-la controlar as emoções e lhe mostrar o que a vida tem de melhor. Nem notei que encostei o calcanhar na margem e acabei caindo de costas na neve. Anne caiu em cima de mim.

– Era isso que eu quero fazer com você - finalmente falo.

– Queria me fazer patinar no gelo? - Anne questionou, incrédula. - Mas eu não tenho mais patins.

– Pensei numa coisa mais prática - disse, enquanto ela me dava passagem para eu me levantar. - Queria fazer você esquecer do que aconteceu aos seus pais.

Ela sorriu. Ao que parece, ela finalmente entendeu o que eu quis dizer. Imediatamente nos levantamos ao nos apoiarmos sobre a beira nevada e repetimos a mesma diversão, patinando sem os patins e ao mesmo tempo, escorregando no gelo. Nada parecia doer em mim, graças ao agasalho ao qual uso. Ouço uma voz feminina nos interromper.

– Foi mal atrapalhar o romance de vocês dois, mas tem gente que está planejando fazer uma greve lá no fundo do beco do outro lado desta área - Edith parecia meio aflita ao relatar o que virá acontecer. Em seguida, vira a cara para a Anne, que estava de barriga para baixo diante de mim. - Pelo que eu vi, o seu primo pode estar envolvido nessa rebelião.

Anne e eu empalidecemos. Nos entreolhamos.

– Não é possível - disse a Anne, ao rastejar para a beira do rio congelado. - Karl estará se metendo em mais uma roubada.

– Mais uma? - indaguei, ao me rastejar.

– Conheço o meu primo, ele já participou de várias rebeliões contra o governo e em todas elas, teve um saldo incontrolável de repressões.

Saímos correndo do Englisher Garten em direção ao outro lado da rua, viramos à esquerda pelas cervejarias, depois à direita, daí para o beco do qual Edith falara. Na hora em que entramos, não havia mais ninguém por lá. Senti um calafrio na espinha. Anne empalideceu-se.

– Eles estavam aqui - Edith verbalizou. - Os rebeldes estavam discutindo um objetivo para fazer o movimento.

Foi aí que o lance daquela discussão entre Karl e eu veio à minha mente. Bem que Moe também suspeitava.

– O reality - sibilo. - Eles estão planejando pôr o fim no reality.

– Como você sabe? - Edith questionou, virando o rosto para mim.

– Karl me disse umas coisas sobre o reality e o desaparecimento dos vencedores das últimas edições - comento, recordando a discussão que nos levou à briga corpo a corpo.

– Karl sempre foi contra a isso - afirmou Anne. - No dia em que fui sorteada, ele quase surta em casa, dizendo que o programa vai destruir o país inteiro.

Edith e eu assentimos, quando um coro de protestos atravessa os nossos tímpanos à distância. Poderia ser os manifestantes? Só de pensar, fico com um nó na garganta.

– Estão escutando isso? - perguntei e as duas assentiram.

O coro os manifestantes se aproximam de nós. Podemos ouvi-lo com clareza, à medida que os passos se aproximam de nós. Vem da rua ao lado.

– São eles - Edith sussurrou. Anne e eu ruborizamos.


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