Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 13
12


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Finalmente consegui tempo para postar mais um capítulo. é que agora passei a me preocupar com o Enem. Mas se der, eu vou postar mais um, porque vou ter menos tempo.

Cat ❤️️



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Faz dois dias que retornamos de Berlim. A partir daí, não saía de casa, tampouco ia para a escola. Pra quê? Para ser ignorado pelos ex-amigos e idolatrado pelos fãs? Nesse momento queria ficar sozinho.

Perdi muitas atividades escolares por conta disso. A minha mãe ficava horas batendo na minha porta, falando para eu sair do quarto, mas eu ficava na minha. Na noite em que cheguei da turnê, tive mais um pesadelo. Dessa vez eu estava na Floresta Negra. Sonhei que eu não tinha conseguido degolar a Frieda, que logo pegou no meu pulso cortado e me jogou no chão. Lorne e Anne gritavam apavorados e Frieda, com tamanha sede de vingança e matança, sacou a faca que eu havia usado, que estava jogada no chão e se preparou para encrava-la no meu peito. Senti o coração pulsar e abri os olhos instantaneamente. Minha testa e o meu pescoço estavam empapados de suor. Estava ofegante, apavorado. Desde que entrei no reality, as más lembranças me afetavam. Mortes, torturas, mutilações, assassinatos... Fiquei sensibilizado com isso, à medida que isso me faz lembrar.

Acordei pela manhã com dor de cabeça. Uma dorzinha, nada mais. Por outro lado não doía. Mas eu não queria ir para escola, de jeito nenhum. Meu pai foi para a livraria bem mais cedo do que de costume e Elise estava resfriada. A minha mãe fez uma cara de quem duvida. Arqueou uma das sobrancelhas.

– Há algum problema na escola? - perguntou, enquanto se servia.

– As pessoas - desabafo, enquanto roço o indicador sobre a borda da caneca de chocolate quente, que esfumaçava. - Na boa, antes do reality, tudo foi tranquilo, apesar das repressões que sofríamos. Agora tudo ficou conturbado - suspiro. - Sinto falta da vida antiga que levei.

Minha mãe se sentou na cadeira e pôs a mão delicadamente sobre a minha.

– Eu entendo você, filho - disse. - Os seus antigos amigos vão entender com o tempo. Tem pessoas que se preocupam consigo mesmas, sem ao menos se importar com as outras, principalmente as que foram suas amigas outrora. Embora a pessoa não seja mais aquela, as outras que ainda estão ao seu lado, são suas verdadeiras irmãs. Leve em conta a Edith. Ela sempre contou as horas para te ver novamente.

Ah, Edith. Sempre se preocupou comigo. Assim como o Moe. Assinto com a cabeça, mas ainda estou com uma certa relutância em ir.

– Portanto, haja o que houver, aja com naturalidade - e se inclina para perto de mim, segurando na minha nuca. - e seja você mesmo.

– Obrigado, mãe - sussurro, com um sorriso torto.

– Esse é o meu garoto - orgulha-se, ao alisar as madeixas do meu cabelo.

Em seguida, tratei logo de beber o chocolate, embora esteja quente, mas o suficiente para acalmar o meu receio. Em seguida, ajudei a minha mãe a tirar a mesa e, ao olhar no meu relógio de pulso, eu já estava atrasado.

– Tenho que ir - falei, enquanto saía da cozinha em direção ao cabide pegar o meu agasalho e o gorro e a minha mochila que jazia encostada à parede. - Estou atrasado.

Minha mãe veio até a mim e me beijou na cabeça.

– Boa sorte, Richie - disse ela. - Lembre-se do que eu lhe disse, seja você mesmo.

Assenti e a abracei. Em seguida, pus a mochila por sobre o ombro e sai pela porta. Tive que encarar a dura realidade. Embora eu tenha a mordomia e a fama, uma parte de mim foi embora. Praticamente a maioria. Os meus amigos, a nossa velha casa e a bela vista das montanhas dos Alpes.

***

Vinte minutos depois, escancarei a porta principal da escola e encarei o corredor vazio. Seja você mesmo, seja você mesmo... Essa mantra sussurrava sucessivamente na minha cabeça, o suficiente para voltar a mim, quando uma voz grossa e feminina me paralisou.

– Está atrasado, sr. Holger!

Me virei para trás e vi a inspetora escolar escorada à esquina do corredor com o outro, ambos tendo como referência a porta principal. A inspetora era osso duro de roer; ela era rígida com quem passava percebido por ela. Por mais que fosse um pequeno estrago, tipo, desenhos no caderno, ela não quis nem saber. O seu corpo robusto e o rosto sem maquiagem, aparentava ser um homem autoritário.

– Eu posso explicar - balbuciei, mas a inspetora foi bruta comigo, o que me fez pelar de susto.

– Você sabe que são às oito horas em ponto que começam as aulas, portanto, já se passaram dez minutos que a aula começou - e fez um gesto para eu sentar na cadeira de espera, bem ao lado da sala onde eu estudo.

Palhaçada, resmungo. Sempre tive maus olhos para a inspetora, desde que eu levei a detenção pela primeira vez, no dia em que defendi Moe da discriminação do grupinho de Desmond.

***

Tudo mudou, desde que cheguei do reality.

Os rapazes passaram a ter maus olhos, quando passavam por mim, enquanto as garotas apenas me ignoravam ou apenas dão um "oi" frio, quando eu aceno. Bem, na escola, apenas a Anne e o Moe me dão atenção, mas nada adianta. Fiquei a aula toda cabisbaixo, apenas divagando. Afinal, o que é que eu fiz para merecer isso? Perdi quase todas as explicações das aulas.

Durante o intervalo, fui até o meu armário, quando me dei de cara com o Moe, que vinha andando apressadamente. Por pouco não colidimos nossas caras.

– E aí, Moe, algum problema? - perguntei, ao estudar o semblante do meu companheiro.

– Nenhum, cara - balbuciou, enquanto coçava a nuca, protegida pela gola alta do agasalho. - eu sou ia para o meu armário, quando vi a inspetora fazendo a vistoria dos armários, daí percebi que o meu estava bagunçado e...

– Está explicado a razão da pressa - deduzi na hora. Cada vez que a inspetora visava um armário bagunçado, chamava o aluno para arrumá-lo, nem que seja um chiclete grudado na porta ou um retrato do amor colado nela. Todos os armários deveriam estar bem arrumados, sem adereços, nem enfeites. - A bagunça é pouca ou muita, digamos pouco bagunçado ou uma zona completa? - brinquei.

– Nem me fale, é pouca coisa - retrucou Moe, com o tom brincalhão. - Eu até sei onde está uma das minhas canetas.

– Vamos lá, então - me ofereci e o acompanhei até o seu armário, a sete armários de distância do meu. Na hora em que Moe o abriu, não era bagunça nem aqui, nem nos países Aliados. Só apenas alguns adereços da Seleção Alemã aderidos à porta. - Reparos não precisam, mas os adereços vão ter que sair daí.

Moe arqueou uma das sobrancelhas.

– São da Seleção Alemã - Moe afirmou. - Procurou ver os papéis aí?

Foi aí que notei que o problema eram os papéis dobrados em quatro partes, espalhados como se alguém os tivesse jogado no armário. Peguei todos eles, enquanto Moe sacava sua pasta do armário e a abria. Juntei os papéis e os enfiei dentro da pasta, quando uma voz grossa feminina chama pelo meu nome:

– Sr. Holger - me viro e vejo a inspetora plantada ao lado do meu armário aberto. Esqueci de fechar. Fui até lá, onde a inspetora me encarava fixamente, enquanto fechava o armário. Corei de vergonha, mas mesmo assim, a inspetora continuava a me encarar. Depois se retirou do local.

Respirei profundamente e voltei para o Moe, que colocava a pasta de volta no armário, quando virou os olhos para mim.

– Essa foi por pouco - suspirei de alívio. Moe esboçou um sorriso torto.

– Ainda bem que ela se esqueceu de fazer a vistoria do meu armário - completou rindo.

– Vamos lá para o pátio? - o convidei, mas Moe relutou.

– Pra quê? Para relembrar os Dias da Seleção e o temor invadir a mente de qualquer um? - replicou, mas deixei escapar uma risada. E ironicamente e subitamente, duas vozes femininas ressoaram atrás de nós.

– Heinrich Holger - me virei para trás e me dei de cara com as gêmeas Linz, Helga e Hellen, ambas com cabelos longos e ruivos. Demonstraram-se frias, quando me chamaram pelo nome. - se você quer saber o motivo da ignorância e da hostilidade dos seus amigos, talvez seja uma boa hora para conversarmos - disse Helga.

Fiquei com um nó na garganta.

– O que está rolando aqui, agora? - indagou Moe.

– Isso é entre ele e nós, Moe - interveio Helen, olhando de relance para ele. Depois virou de volta para mim. - E a hora é agora.

– Mas é claro que quero saber o motivo - arquejei, quase fazendo as duas pularem de susto.

– Então vem cá - as gêmeas me puxaram pelo braço em cada lado e me levaram pelo corredor.

Viro o rosto para trás e gesticulo para Moe, contraindo uma das maçãs do rosto e ele fez um sinal de "ok". Revirei o rosto para frente.

Viramos à esquerda, passamos pelo refeitório cheio de alunos lanchando em suas mesas, com um vai-e-vem de bandejas, enfim, chegamos a uma escadaria que levava para a nossa sala, mas tivemos que passar direto e nos fixamos debaixo dela. Creio que isso será um bom lugar para fofocar, namorar e, indubitavelmente, matar a aula de matemática.

Helga se posiciona diante de mim, enquanto Helen do meu lado direito. À essa altura, já começo a ficar preocupado com o que uma delas dizer. Mordisco o lábio inferior e cruzo os dedos para conter o nervosismo e sento em um banco.

– Heinrich - Helga começa a dizer, se encostado na parede. - Você deve saber o porquê da frieza que sentimos por você e pela Anne, não é? Pois a hora chegou.

Respirei fundo.

– Vão direto ao ponto - falei. - Vocês estão me assustando.

– Mas é para o seu bem, Heinrich - retrucou Helga. - Desde que você, a Anne e Desmond partiram de Munique, ficamos muito apreensivos com o que vai acontecer com vocês.

– Acompanhamos cada detalhe do reality pela televisão e da tela do pátio - acrescentou Helen.

– Mas uma coisa meio que saiu do sério e do normal - Helga deu uma diminuta pausa, me assustando cada vez mais. - O beijo de vocês.

– Cara, você e a Anne deram um espetáculo tão grande, que fez a Alemanha inteira parar - surpreendeu Helen. - Isso nunca havia acontecido desde o início.

O início do reality me deixou encucado. Nem Hollharf, nem Hitler II mencionaram a origem do Survival Game.

– Peraí - contestei, arqueando uma das sobrancelhas. - Vocês são contra o nosso romance?

– Nem dizemos que somos, Heinrich - respondeu Helga, na surdina. - Mas isso foi um pretexto para a piora das desigualdades étnicas.

– Vocês devem saber que eu sempre fui apaixonado por ela - insisti. - e aquele beijo foi acidental. Eu já sabia que o beijo seria o pretexto principal para essa confusão.

– E você deve imaginar como o Karl reagiu ao assistir aquela cena - replicou Helen.

– Ele ficou irado com aquilo - acrescentou Helga. - Você sabe que ele se engaja perfeitamente, quando o assunto é a política e o reality.

Karl Hensel é o primo da Anne, um ano mais velho que ela. Sempre a protegeu em circunstâncias sérias e a tem como uma irmã de verdade. Nunca nos falamos, antes do reality, mas agora vive me criticando pelo que rolou por lá. Mas nunca chegou a falar isso na minha cara.

– Dane-se ele - desdenhei, me levantando. - Eu amo a Anne e não será ele uma pedra no meu sapato para atrapalhar o nosso namoro!

Mas as meninas me interceptaram, quando eu ia saindo.

– Você está sendo avisado, Heinrich Holger - Helga me advertiu, sombria. - Quanto menos espera, você e a Anne estarão correndo perigo muito grande. Desde a 63ª edição, nunca mais se ouviu falar de Johann Lunhoff e dos demais vencedores do reality. Aproveite os seus dias de glória, pois nem tudo são flores na vida.

Sinto o sangue borbulhar e a paciência está chegando no limiar.

– Podem me dar licença, irmãs Linz?

Sem contestar, elas se retiraram da minha frente e as ignorei. Segui rumo ao pátio, passando pelo corredor principal, ignorando as pessoas em minha volta. Precisava ficar sozinho no momento. Não me interessava os comentários que faziam ao meu respeito e ao da Anne.


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