Flocos de neve caiam do céu, dançando pelo ar frio na noite de dezembro. O gelo dominava todos os telhados e vielas da grande vila, de um branco tão claro como algodão. Luzes, enfeites e guirlandas se destacavam no neutro e iluminavam todo o lugar. A visão dava uma sensação de paz ao mais novo Hokage que olhava com paciência do pico de seu rosto esculpido na enorme rocha de frente a vila todo aquele mundo que havia conquistado. Era assim que Naruto via seu lar, um mundo só seu. Ria sozinho ao ver as crianças brincarem de guerra de neve, correndo de um lado para o outro sem qualquer preocupação com a friagem. Aquilo lhe trouxe lembranças de quando era garoto, aprontando todas pela vila, com seus tutores tentando impedir suas "artes". Eram lembranças divertidas de um tempo que nunca voltaria. Revirando suas memórias lembrou-se de seu falecido sensei Jiraya, dos momentos na grande viagem de treinamento que haviam feito juntos.

Uma dor começou a pontar em seu peito quando se lembrou do dia em que recebeu a notícia da morte dele e de quando deixou as lágrimas correrem junto ao sorvete que tomavam juntos ao sentar naquele banco solitário à noite. Lembrou de seus pais que não mais se encontravam naqueles planos terrenos, da dor do sacrifício que eles passaram, da preocupação e desespero que sua mãe carregava em seu peito até o leito de morte, da dor de seu pai ao ver sua mulher passar por tudo aquilo e não conseguir salvá-la, de todos os momentos em que se viu sozinho naquela casa, da rejeição daqueles que habitavam Konoha e das noites viradas em choros constantes. A dor era gritante em seu coração, sendo insuportável segurar o que sentia naquele momento. As lágrimas corriam sem parar pela face do loiro que parecia uma criança perdida dos pais na multidão. Ele se perguntava o que estava acontecendo e porque sofria agora que havia conquistado tudo que queria quando sentiu alguém tocar gentilmente seu rosto e levantá-lo. Era Hinata quem chegava ali, agachada a sua frente, com seu olhar preocupado e cabelos ainda pairando nos ombros quando se abaixou.

– Meu amor, porque está aqui no frio chorando?

– Chorando? Eu não estou chorando. Só quis dar uma olhada na vila antes de voltar pra casa. - Ele secava as lágrimas inutilmente, tentando disfarçar o óbvio.

– Só porque nos casamos agora não quer dizer que não sei quando está sofrendo. Conte-me, o que aconteceu?

– Eu não quero te preocupar com bobagens, não é nada.

– Se for bobagem não vejo o porquê não me contar.

Naruto se manteve calado, olhando para os lados não querendo tocar no assunto enquanto Hinata o encarava séria, dando tempo para que ele se sentisse a vontade e contasse o que o deixava em conflito naquela hora.

– Eu... Comecei a lembrar de algumas coisas que passei. Lembrei dos meus pais, do Jiraya-sensei, de quando era garoto sabe?

– E qual é o mau em lembrar-se das pessoas que você ama e da sua infância?

– Não foram às lembranças agradáveis de quando eu estava com eles ou os encontrei, mas do sofrimento e sacrifício que eles passaram, do que eu passei... - As lágrimas corriam novamente. - Eu fico pensando que se não fosse por mim, talvez eles estivessem vivos agora, talvez a vila não tivesse passado por tantos problemas, o Neji estaria entre nós, os pais do Shikamaru e da Ino também, toda aquela gente que lutou ao meu lado estaria com suas famílias e-

– Naruto, olha pra mim. - Hinata agora tinha os olhos pesados em lágrimas quando interrompia o amado. - Nada disso foi sua culpa. A melhor coisa que poderia ter acontecido foi você estar aqui agora. Eu sinto a sua dor, eu sinto a falta do meu primo, eu fico triste pela morte de tantas pessoas e por tudo que essa vila passou, mas eu não quero que se culpe por nada disso. Nós somos ninjas, nos sacrificamos por aqueles que amamos, lutamos para defender nossa família e companheiros. Seus pais, sensei e amigos que morreram tinham esse pensamento em mente e sei que de onde eles estiverem estão olhando por nós, querendo que a nossa geração deixe a mensagem do que eles fizeram na história do mundo ninja, que mantenhamos na mente e no coração os seus legados.

Naruto cessou suas lágrimas, refletindo no que sua esposa dizia. Ela se acomodou ao seu lado, pairando o olhar além dos muros que protegiam seu lar.

– Olhe esse lugar... Olhe as pessoas felizes, as crianças que serão nossa futura geração vivendo dignamente. E sabe por que isso acontece hoje? Porque você está aqui Naruto. Porque as pessoas que você amou e protegeu até o fim fizeram isso junto a você. Você mudou o mundo ninja, uniu as vilas, conquistou o seu sonho... Conquistou a mim desde a primeira vez...

O loiro corou com o que a morena disse.

– Se eu sou assim foi graças a você, que me deu forças, me incentivou a me manter firme e forte, a nunca desistir e manter minha palavra. O seu jeito e seu sorriso me salvaram da solidão em que eu vivia. O seu amor me fez ser a mulher que está ao seu lado, te apoiando em todos os momentos. O propósito da minha vida é você. E se você não existisse, eu não teria razão para estar aqui. - Ela deixou uma ligeira lágrima correr na face delicada ao dizer a última frase.

– Hina-

Os lábios trêmulos e tímidos da linda morena se encontraram aos do loiro que ficou surpreso com a atitude de sua amada. Um beijo doce e calmo aquecia o coração de ambos naquele momento. Naruto tocava seu rosto gentilmente, sorrindo entre os beijos.

– Eu te amo. - Ele disse por fim.

– Eu também te amo.

– Você tem toda razão. Eu tenho que ser forte e dedicado para proteger aqueles que eu amo. Lamentar e chorar não os trará de volta, mas manter aquilo pelo que eles lutaram é o certo a fazer.

– Você já é forte e dedicado! Eu quero que você continue sendo sempre assim. Não pense mais nos momentos tristes e sim nos momentos felizes em que viveu com essas pessoas. Mantenha essas memórias em seu coração. Vamos para casa agora? Daqui a pouco será meia-noite e não quero você no Natal aqui fora.

– Tudo bem, vamos voltar.

Antes da volta ao lar, Hinata enrolou no pescoço do loiro o cachecol vermelho que ela mesma havia tricotado o que fez o rapaz sorrir alegremente e assim voltarem para casa.

A meia noite todas as famílias se abraçavam, comiam e trocavam presentes e mensagem de amor entre si em suas residências na vila. O espírito natalino estava no ar. Hinata e Naruto também comemoravam e na troca de presentes, a morena tirou uma pequena caixa debaixo da árvore iluminada na sala.

– É um presente simples, mas acho que você vai gostar.

– É claro que eu vou gostar meu amor, sabe que não faço questão de presentes extravagantes.

Naruto abria a caixa animado e para sua surpresa era um pequeno par de sapatinhos de bebê. Hinata se manteve tensa e nervosa, esperando a reação do marido.

– Hinata...

– Sim...?

– Você não acha que eles são muito pequenos pra mim? - Ele perguntava inocente.

Ela não acreditava no que ele acabara de dizer, era a cara do Naruto fazer esse tipo de coisa. Ela tentou disfarçar a cara de desmotivação e logo se pronunciou.

– Porque talvez eles não sejam para você...

– Mas como não são pra- A ficha finalmente caiu e ele conseguiu entender o que aquilo significava. Imediatamente abaixou a cabeça e seu corpo começava a tremer.

– Amor, o que foi? - Hinata se preocupava com a reação dele.

– Eu vou ser papai! - Ele chorava de alegria abraçando e rodando a esposa. - O melhor presente que eu poderia receber na minha vida, obrigada meu anjo!

Hinata se apertou ainda mais em seus braços, sorrindo satisfeita por ter dado tamanha alegria a ele naquela noite. O natal nunca foi tão mágico para o jovem casal que compartilhava a maior felicidade de suas vidas com a chegada de seu primeiro filho.