Like A Dream escrita por MCDS Cristal


Capítulo 7
Capítulo 6




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Sexto Capítulo

Conversa

Sentia um líquido quente descer pela minha garganta, doce e azedo ao mesmo tempo. Refrescante. 

A dor que sentia antes havia sumido completamente restando apenas o cansaço da batalha. 

Arregalei os olhos assim que me lembrei do que aconteceu, me sentando rapidamente na grama gelada e passando a mão em minha cintura. 

O vestido estava rasgado e com sangue, mas o ferimento que deveria estar ali não estava. É como se nada tivesse acontecido. 

— Você está bem? - perguntou uma voz doce e preocupada que sabia pertencer à rainha mais nova. 

Levantei o olhar e me vi encarando seus olhos claros. Não só ela, mas todos os outros também pareciam apreensivos. 

— Estou bem sim. Só não sei como. - respondi confusa com a situação. 

Ela suspirou aliviada levantando um frasquinho com um líquido vermelho dentro e o balançando em minha frente. 

— Suco da Flor de fogo - falou – Sara qualquer ferida, como a flechada que você levou. 

Edmundo que estava de pé ao meu lado me estendeu as mãos para me ajudar a levantar, e não hesitei nem um minuto para segura-las me impulsionando para cima. 

Olhei ao redor e pude sentir um clima ruim e reparei que estávamos em um número menor do que quando saímos daqui do forte. 

— O que aconteceu? - perguntei hesitante encarando os olhos escuros do rapaz, já sentindo um bolo se formando em minha garganta. 

Ele apenas balançou a cabeça e olhos para baixo, em resposta muda de que havíamos perdido muito esta noite. 

— Por que estão parados aqui? Os telmarinos logo vão chegar. - falou NCA, o anão que acompanhou os Pevensie, deitado no chão - Obrigado... Minha cara amiga. - agradeceu a Lúcia. 

Apenas seguimos para dentro do forte, tínhamos muito que planejar. 

(...)

Estava no subsolo observando o belo trabalho feito pelo narnianos. A área era toda escavada e bem aberta, com varias colunas de firmamento para que não viesse abaixo. 

Uma ideia já começava a se formar em minha cabeça, principalmente depois que vi às duas rampas que desciam da parte de cima. 

Era perfeito. 

— Por que está aqui sozinha? - uma voz falou atrás de mim, fazendo com que desembainhasse minha espada pelo susto. 

O moreno me olhava com os olhos escuros ligeiramente arregalados por ter uma espada em seu pescoço. 

— Por Aslam! - exclamei assim que me recuperei do susto, logo abaixando e guardando a espada - Desculpe por isso, mas você me assustou. 

— Eu que peço desculpas. Não foi minha intenção assusta-la. - falou enquanto passava a mão no pescoço, talvez conferindo se ainda estava inteiro. 

Ficamos ali nos encarando sem dizer absolutamente nada não sei por quanto tempo. Já estava nervosa por conta de seu olhar, que era um misto de curiosidade e dúvida, que me deixava sem saber o que fazer. 

— Me sinto bem sozinha. É bom para pensar. - respondi um momento depois quando me lembrei da pergunta que ele havia feito. 

— Não é só por isso, não é? - perguntou erguendo uma sobrancelha, como se soubesse que havia mais um motivo para estar sozinha. 

Desviei os olhos sem saber o que responder e me concentrei na coluna ao meu lado. Passei a mão por ela é percebi que com a força certa a colocaria abaixo em questão de segundos, com isso mais uma ideia se formou em minha cabeça. Mas não conseguia me concentrar como queria, não quando sentia certa pessoa ainda me encarando a espera de uma resposta que eu não sabia como dar. Falar sobre o que vem me incomodando talvez ajude, mas não sei como me expressar. 

Voltei a olhar para o rei a minha frente e abri e fechei a boca diversas vezes sem saber o que dizer. 

— São as lembranças. - comecei depois de um tempo em silêncio - Quando estou sozinha elas só parecem um sonho incômodo e que assusta, mas quando estou perto de todos, elas se tornam reais e dolorosas demais para ignorar. 

— Então não tente às ignorar. As encare e viva com elas. Um dia vai parar de doer. - comentou ele como se falasse para si mesmo também. 

— Às suas pararam? - perguntei curiosa, deduzindo que falava por experiência. 

— Não. Mas aprendi a conviver com elas. Um dia não passaram apenas disso, de lembranças. - ele queria acreditar nisso, podia ver em seus olhos, que faziam contraste com a luz das chamas vindas das tochas pregadas nas colunas e lhe davam um brilho esperançoso. 

Mais uma vez ficamos nos encarando, e eu sentia uma vontade de lhe contar tudo o que um dia me aconteceu, das minhas escolhas. Eu sabia que de alguma forma ele me entenderia. 

Dessa vez foi ele que desviou o olhar quando se sentou no chão terroso, batendo as mãos ao seu lado em um convite para que me juntasse a ele. 

— Você e Lúcia tinham razão. Não deveríamos ter ido a Telmar. - falou ele assim que me acomodei ao seu lado. 

— Não podemos mudar isso agora. Já está feito. - era triste pensar nas vidas que perdemos há menos de vinte e quatro horas - Uma vez tive de fazer exatamente essa escolha: esperar por Aslam ou não. 

— E o que escolheu? - seus olhos me analisavam e com certeza ele percebeu o quanto eu precisava conversar com alguém sobre isso. 

Às vezes tinha impressão de que iria enlouquecer se não falasse com alguém, mas havia imaginado ter essa conversa com a pequena Lúcia, que era uma boa ouvinte e, algo que sempre precisei, uma boa amiga. 

— Fui pra guerra. - confessei me deixando ser engolida pelas memórias - Jadis estava ganhando poder e seguidores, não havia como impedi-la sem lutar. Um dia ela ameaçou invadir Cair Paravel, e eu não podia deixar. Reuni a tropa de narnianos mais forte que tinha e segui para o campo de batalha. Esperei durante horas por Aslam, mas Ele não apareceu. Os inimigos estavam a nossa frente e não dava para esperar, então atacamos. Não consegui impedi-la. Só pude ver que mais da metade do meu exército havia caído antes de Aslam aparecer e me levar de volta para casa. 

Brincava com uma pedrinha que estava no chão para não precisar encara-lo e ver seu olhar acusador, mas mesmo assim não me sentia desconfortável por estar lhe contando isso. Acho que precisava disso mais do que imaginava. 

— Fez a escolha certa naquele momento. - falou ele me surpreendendo por não estar me acusando ou me culpando - Além de que, como você mesma havia dito antes, não era sua obrigação derrotar a Feiticeira Branca e sim dos meus irmãos e eu. 

Procurei qualquer índice de julgamento em seu olhar, mas só encontrei compreensão. 

— Obrigada, Majestade. - agradeci sincera e aliviada por falar de ao menos uma coisa de minha história. 

— Ed. Me chame de Ed. - disse ele com um pequeno sorriso nos lábios finos. 

— Então obrigada, Ed. Por me ouvir. Estava precisando disso. - falei retribuindo com um sorriso maior que o dele. 

— Sempre que precisar é só dizer. - comentou baixinho que quase não escutei. 

Nos encaramos mais uma vez e, naquele momento, me deixei ser engolida pela escuridão de seu olhar. 


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