Replay escrita por O Viajante


Capítulo 1
Replay


Notas iniciais do capítulo

Essa história provavelmente não terá muito sentido, mas espero que gostem.Ela pode lembrar muito o filme Matrix. Talvez eu tenha me inspirado nele quando a escrevi. Mas garanto que o pano de fundo é bem diferente.



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Marco acordou de manhã com o despertador tocando, e ao levantar-se, a primeira coisa que fez foi ir até a parede. Lá havia um calendário. Na data do dia anterior, ele fez uma anotação. Desde o começo do mês, ele havia feito essas anotações curtas. Como se pensasse em algo. E durante longos minutos, continuou ali, com a mão no queixo.

Enquanto tomava banho, deixava seus pensamentos se expandirem o máximo possível. Sentia algo no ar. Não apenas no ar, mas na atmosfera. Algo no mundo. Algo nessa camada da existência. E desde que havia sentido isso, se esforçava todos os dias para não ficar paranoico. Muito menos desenvolver alguma psicose.

Mas era difícil. Depois que você vê algo... não ver ao certo, mas sentir. Depois que você sente que tem algo fora do lugar, mas não sabe o que é, não há mais sossego até que tudo seja revelado. Ou até que alguém acabe dentro de uma camisa de força.

E Marco era um dos infelizes que haviam percebido isso. Após se arrumar, ele encarava a cidade pela janela do quarto. Pessoas, casas, carros. Observando bem, a lógica era que quase ninguém ali se conhecesse. Que cada um tivesse sua vida, seus planos e pensamentos.

Mas algo se conectava. Algo que ele não sabia dizer o que era, mas estava bem ali, diante dos olhos dele. O carro que atravessava a rua tinha alguma ligação com a arquitetura do prédio mais antigo da avenida. Aquela criança que ia para a escola tinha algo a ver com a senhora que esperava um ônibus.

Loucura, não? Assim ele pensava. Mas quem disse que a loucura não podia ser realidade? Mas a dúvida só durou até o primeiro dia. E Marco tinha certeza que até o final do dia, veria as respostas novamente.

Tomou café com os pais. Não morava sozinho, afinal, tinha apenas dezessete anos. Conversas já pensadas. Ele havia aprendido a pensar. Havia se dado ao trabalho de tentar adivinhar as coisas. Ele sabia que podia. Não tinha ideia de como, mas ele conseguia.

Como se sua mente tivesse mudado a frequência, e ele estivesse alguns números acima.

Havia passado no quarto do pai, que já tinha ido trabalhar. O que ele pegou estava bem escondido, na última gaveta do guarda roupa.

Na escola, seus sentidos estavam mais aguçados. Como se esperasse por algo. Um movimento sutil. Um bote de um predador extremamente rápido. Os pelos da nuca se eriçavam. O tic tac do relógio da parede chegava aos ouvidos dele.

08: 46: 39

O tic tac do relógio de pulso também era ouvido.

8: 46: 43

Por que os horários nunca eram iguais? O tempo de uma pessoa era diferente do tempo de outra pessoa? Se tivesse um relógio adiantado, estaria no futuro? Já teria vivido o que outra pessoa viveu?

Conclusões absurdas, que na mente dele faziam todo o sentido, e a lógica era clara como a água.

Muitas vezes nós só vemos aquilo que queremos ver. E se quiséssemos ver o mundo como ele realmente é? Se deixássemos para trás todo nosso preconceito, e pré-conceitos? Se apenas observássemos, sem julgamentos, o que veríamos?

Veríamos a verdade.

A inquietante, perturbadora, e toda poderosa verdade.

Com o canto dos olhos, ele viu o que ninguém mais viu. Homens com cabeça de gato, de terno e gravata. Andavam pelos corredores. Procuravam alguém que via o que ninguém mais via.

Sem perder tempo, Marco colocou a mochila nas costas e se jogou pela janela da sala, quebrando o vidro. Rolou ao cair no chão, e recuperando o equilíbrio, correu.

Correu como nunca.

Logo, os homens-gatos corriam atrás dele. Tinham um olhar felino seco, arregalado, vazio e imparcial. Como se fossem máquinas. Até a forma de correrem era padronizada e sem falhas.

Marco pulou o muro e atravessou a rua movimentada. Os perseguidores fizeram o mesmo, pulando por cima dos carros. Durante longos minutos, assim se sucedeu. O garoto entrou no terreno de um prédio que ainda estava sendo construído, e subiu as escadas, atravessando as lonas penduradas.

Lá em cima, foi até a ponta do prédio. O vento balançando sua roupa e cabelo. Em segundos, os homens-gatos estavam logo atrás dele.

— Não pode fugir, humano. Sabe disso.

— Vocês não me pegaram antes, por que acham que conseguirão agora? – retrucou o rapaz, com o coração a mil.

–Você está no sistema. Não pode fugir dele. Você nos pertence, garoto. Todos nos pertencem.

Marco sorri e põe a bolsa no chão. O estranho continua.

— O que vai fazer? Pular novamente? Sabe que é inútil. Nem na morte poderá fugir de nós. Tudo isso já está programado. E pode ser editado sempre que quisermos.

— Nada, uma hora eu consigo. Prefiro continuar fugindo, até ter a chance de descobrir a verdade.

Marco então puxa uma arma da cintura.

— Eu vou me livrar de vocês. É só encontrar o jeito certo para isso.

A arma que ele havia achado no guarda roupa do pai. Prateada, brilhante, pensada. Mortal. Apontou para a cabeça do homem-gato mais próximo e deu um tiro.

A bala atravessou a cabeça da criatura, espalhando sangue e pedaços de cérebros por todos os lados, e o corpo caiu no chão.

Silêncio.

Poucos segundos, o sangue e os miolos voltaram para a cabeça estourada, que como mágica, se refez. O homem-gato se levantou e ajeitou a gravata.

Marco apontou a arma para a própria cabeça, sorriu, e atirou.

No dia seguinte, Marco acorda de manhã e a primeira coisa que ele faz é ir anotar no calendário algo sobre a data do dia anterior.

"Dia 23.

18° morte. Tiro na cabeça.

Tentarei inovar hoje. Correr menos e pesquisar mais. Tem de haver uma falha."


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Notas finais do capítulo

Comentários? Críticas? Indicações para eu ir para o psicólogo? Nos vemos nos comentários!