This world was a lie.

You're the only comfort.

24 de Dezembro – 22:00

O cheiro do peru estava impregnado na sala, misturado com de diversas outras especiarias e pratos. O aroma característico daquela data comemorativa.

As luzes piscavam nas mais diversas cores e iluminavam o cômodo, assim como iluminavam a pequena varanda da casa, causando um efeito extremamente bonito devido a neve ali acumulada.

Sasori estava debruçado sobre o balaústre, sentindo a brisa gélida bagunçar seus fios avermelhados. Apesar do casaco que vestia, sentia frio. Não só pelas temperaturas baixas e características daquele período do ano, mas também por observar a casa da frente apagada, quase se fundindo à escuridão noturna. A única luz provinha da pequena janela, provavelmente da televisão da sala dos Yamanaka.

Um suspiro escapou de seus lábios. Estava preocupado.

Ele sabia o quão problemática era a família de Deidara. A mãe que nunca dava sinal de vida, o pai alcóolatra que trabalhava para manter o vício, e os gêmeos largados à própria sorte.

Quando fora convidar o amigo para passar o Natal na sua casa, como no ano anterior, quem lhe atendeu foi Ino e ela não fez questão de esconder a cena caótica. A sala estava revirada, deixando claro que uma briga tinha ocorrido ali. Havia um pouco de sangue próximo a um vaso de porcelana quebrado.

Além disso foi impossível não reparar no hematoma que ela tinha no lado esquerdo do rosto.

–Ino… O que…?

– Os problemas de sempre. – Ela suspirou – Se veio atrás do Deidara, não vai encontrá-lo. Ele saiu daqui sem dizer para onde iria, dizendo que não voltaria.

Lembrar daquilo fez com que um aperto comprimisse seu peito. Natal era uma data tão linda, especial e iluminada. Era sua época preferida do ano e agora estava sendo, pela primeira vez em toda sua vida, uma data escura.

E ele percebeu que o que o animava e dava cor para suas comemorações natalinas era a presença do melhor amigo. Sem ele, nada tinha o mesmo significado.

Permaneceu parado naquela mesma posição durante longos minutos, até que uma rajada de vento mais forte acordou-o de seus devaneios.

Deidara estava em algum lugar lá fora. E ele sabia onde.

Ele sabia que o amigo não teria coragem de pedir refúgio a ninguém e que estaria em um local conhecido.

Sem olhar para trás, atravessou o portão de madeira. Em passos largos atravessou a rua pacata e logo atingiu a avenida principal. Percorreu, insistentemente, todos os locais que costumavam frequentar juntos e até mesmo os que sabia que o loiro frequentava sozinho.

Nada.

A preocupação assolava seu peito. Seus pensamentos estavam todos tomados pelo amigo e o que ele poderia passar sozinho. Quando pequenos flocos de neve começaram a cair, ele passou a correr, decidido a encontrá-lo antes que a temperatura caísse ainda mais.

Passou a recordar-se de todos os locais que Deidara poderia estar, tentando lembrar de algum que deixara passar.

Foi em um estalo que lembrou-se da pequena viela onde costumavam brincar quando crianças e, posteriormente, onde sentavam para conversas ou fumar narguilé. Era um local parcialmente calmo, onde transitavam apenas as pessoas que ali moravam.

Apressou a corrida, logo atingindo a viela. Diminuiu o passo e adentrou a rua estreia, descendo a escadaria que nela havia e identificando alguém sentado no fim dos degraus.

A pessoa estava encolhida, com um casaco azul marinho fino demais para aquele frio. Os cabelos loiros caíam em cascata por suas costas, um pouco embaraçados pelo vento forte. Em frente do corpo magro havia um bilhete com um pedido de ajuda, ao lado de uma lata de alumínio que possuía algumas moedas.

Um alívio tomou conta de si.

Aproximou-se lentamente, parando em frente ao amigo, que levantou a cabeça e lhe encarou assustado.

–S-Sasori?

O rubor subiu pelas bochechas pálidas pelo frio e ele sabia que o loiro estava envergonhado pela situação. Estendeu as mãos e tocou as dele, puxando-o e o obrigando a ficar de pé.

Toda a magia daquela data pareceu voltar para dentro de si. O calor, a alegria. E ele percebia que Deidara era sua luz e que a beleza e pureza que emanavam dele era o diferencial em qualquer data comemorativa e em qualquer outro dia de sua vida.

– Vamos pra minha casa. Hoje é natal.

Os olhos azuis marejaram.

– E-eu estou sujo e–

Antes que pudesse completar a frase, calou-o com um beijo casto nos lábios. Um selinho simples, que aqueceu-o mais do que as mãos que ainda estavam unidas. O loiro corou e lançou-se nos braços do ruivo, abraçando-o.

– Eu sei que é difícil, mas você já tem 17 anos. Em breve vamos pra faculdade, então alugaremos um lugar pra morarmos.

O “nós” implícito na frase fez com que o rapaz de cabelos longos sorrisse ainda mais.

– Aguente só mais um pouco naquele lugar e não faça mais isso– Fitou o azul-celeste dos olhos que tanto adorava, vendo a pergunta implícita neles – Não suma mais dessa forma, eu realmente fiquei preocupado. Ainda mais em uma data tão bonita como essa – Levou a mão até os fios loiros, colocando-os atrás da orelha do amigo – Não tem graça nenhuma sem você.

O menor sorriu ainda mais corado do que antes e depositou um beijo tímido no canto dos lábios do amigo. Eles subiram a escadaria juntos, rumo a casa do ruivo. Em breve o relógio marcaria meia-noite e seria hora de abrir os presentes.

Não que Sasori se importasse com isso, ele já tinha o que ele mais queria com os dedos entrelaçados aos seus.