Pretty When You Cry escrita por Erulissaë


Capítulo 1
I'm Pretty When I Cry


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa one de Natal que fiz de Meiko x Luka *^*
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/576779/chapter/1

Eu adoro o Natal. É uma época tão boa. É frio. E eu adoro frio.

Só que o Natal nunca muda. E isso é o que mais me irrita. Ah, e tudo fica ao menos uns trezentos por cento mais caro. E eu não ganho muita coisa, ainda mais trabalhando numa cervejaria.

Acho que eu deveria parar de enrolar e ir direto ao ponto.

No caminho de ida e volta do meu pequeno apartamento alugado para a cervejaria onde trabalho, eu sempre passo por uma lojinha de lembrancinhas. Sabe aquelas bem pequeninhas que vendem uma porrada de coisa inútil? Essas mesmo. Nela vende principalmente umas bonequinhas de porcelana russas (matryoshka, acho que é o nome) e umas bebidas alcóolicas baratas. Mas tem algo naquela loja que me faz entrar em transe.

Não, não são as cervejas baratas.

A balconista da loja é incrivelmente bela. Maravilhosa. Ela tem os cabelos compridos e tingidos de rosa, os olhos azuis e uma feição sempre angelical. Essa garota também possui uma voz que parece veludo...

Minha paixão (e minhas fantasias pessoas, mas isso não vem ao caso) utópica já existe há meses. Eu conto nove. Mas eu nunca tive coragem de entrar naquela loja. Não é meio que só coragem, eu também não tenho motivo... Eu vivo sozinha, meus pais já estão mortos e meu irmão mora em outra cidade, com a esposa dele. Agora eu penso que seria bem mais difícil assumir minha sexualidade se meus pais estivessem vivos, mas, bom... Já faz anos que descobri que sou lésbica. Assumi para meu irmão, Kaito, quando eu tinha dezesseis (isso foi há seis anos).

Todos os dias eu passava na frente da loja daquela bela garota; sim, todos os dias desses nove meses que falei. Muitas vezes eu ficava sentada ao banco que tem na praça bem à frente, fingindo ler, escutar música, ou fazer qualquer coisa para poder observar a tal menina de longe. Logo que meus companheiros de trabalho descobriram meu interesse por ela, eles começaram a ir lá frequentemente para descobrir algumas coisas sobre ela.

Foi uma questão de tempo para eu descobrir que a garota dos cabelos rosa se chamada Luka. Luka Megurine. Ela era mais nova do que eu, como eu suspeitava, com apenas vinte anos de idade. Também descobri que ela perseguia o sonho de ser cantora, se voluntariando para cantar em bares à noite ganhando uma miséria por seus talentos. Ao saber disso, me lembrei vagamente de já ter visto uma de suas apresentações, aproximadamente um ano atrás. Sim, todas essas minhas descobertas foram feitas por meio de intermediários. Às vezes, eu notava que ela me olhava, e quando Megurine percebia que eu tinha reparado em seu olhar, ela o desviava com rapidez. Mas, na época, eu não sabia se era por vergonha ou por puro medo de eu achá-la uma lunática, apesar de que (mesmo ela não sabendo) eu nunca poderia pensar tal coisa de uma pessoa como ela.

Eu admito que nunca tinha amado ninguém; nunca me relacionei com muitas pessoas e me contentava com o sexo casual. E o fato de nunca ter caído de amores por alguém me fez ficar obcecada pela garota de olhos azuis. Eu tinha medo de perdê-la. Mas então eu me perguntava, "eu nunca a tive, por que a perderia?", e isso doía mil vezes mais. Com o passar do tempo, eu sentia como se precisasse cada vez mais vê-la todos os dias, descobrir coisas novas, mas toda essa necessidade se baseava no meu simples medo de rejeição. Na minha imaginação ela não me rejeitaria. Ela me amaria igualmente.

Eu demorei cerca de três meses para me decidir. "Ok, vou falar com ela".

Talvez eu não estivesse com tanto medo se ela não tivesse, bem... Tanta cara de heterossexual.

Eu bolei um puta plano, na verdade. Tudo seria romântico e fofo. Não tinha como eu não falhar. Eu ia realizar o planejado e tirar o peso imenso das minhas costas. As hipóteses. As dúvidas. Tudo iria embora e eu levaria um tapa na cara da realidade, seja por um motivo bom ou um ruim. Claro que eu sofri com esse plano e quis desistir dele mais vezes do que se pode contar, mas porra, era difícil. Eu estava viciada numa garota que sabia que eu existia, mas não sabia quem eu era. Eu chorava todas as noites por ela. Ela me fazia sofrer tanto que não sei como o amor pôde permanecer ali, vivo e ardente.

A neve caía do céu com intensidade naquele dia 24 de Dezembro. Estava um frio de lascar, acho que uns zero graus. Eu coloquei uma toca, cachecol que cobria minha boca, um casaco enorme, calças e botas. Saí do meu condomínio miserável com uma garrafa de vidro de 600 ml da Heineken, pra ver se o álcool me esquentaria um pouco naquele frio de inverno. Eu tremia demais. Andei por uma boa quantidade de metros até chegar à loja de Luka Megurine. Respirei fundo. Senti as lágrimas nascerem nos olhos, a visão borrar, e entrei no pequeno estabelecimento.

Eu não tinha treinado um diálogo, e só tinha notado naquele momento.

Eu estava cabisbaixa e a loja estava lotada, e eu, por não ser muito alta, estava sendo esprimida pelas pessoas da fila. Avistei Megurine, e meu coração deu um pulo. Avistei outra garota com ela, loira com os cabelos preso em apenas um rabo de cavalo no lado da cabeça. Parecia ser a dona da lojinha. As pessoas falavam todas ao mesmo tempo, mas me desvencilhei da fila e fingi que estava olhando algo que estava exposto no balcão para ouvir a conversa, ainda cabisbaixa.

"Ela não veio", Luka disse desanimada.

"Quem?", a loira perguntou curiosa, sem olhar para a de cabelos rosa.

"Aquela garota morena de cabelo curto", a outra respondeu. "Ela vem todos os dias e fica lendo ou bebendo sentada no banco da frente aqui da praça, mas hoje ela não apareceu. O que será que aconteceu, Akita?".

Eu quase tive uma crise de tosse. Ela estava falando de mim?!

"Eu sei lá, Megurine!", a tal Akita exclamou. "Eu não fico me preocupando com sua paixonite, a não ser que seja sobre mim. Não ouse cair por mim, sua homo. Continue atrás da sua garota.".

Apesar de eu ter julgado o modo como ela chamou Megurine extremamente pejorativo, a outra riu timidamente. Só então a loira me notou lá e perguntou, como se nada tivesse acontecido, o que eu queria. Quando eu levantei o rosto e a encarei fixamente, Akita arregalou os olhos e notou que eu acabara de ouvir tudo, apenas sussurrou um "Megurine, acho que é melhor você atender essa cliente".

De princípio, Luka não acreditou muito no que via, ou seja, eu. Estava completamente corada e embasbacada, mas não hesitou em me perguntar o que eu tinha em mente para comprar. Eu estava tão nervosa, mais do que ela, então nem pensei ao automaticamente perguntar:

"Eu não sei, do que você gosta?".

A garota ficou completamente corada. Logo que eu notei o que eu havia dito, comecei a balbuciar algumas coisas sem sentido tentando formar alguma palavra que fizesse sentido, e isso fez Megurine rir. Seu rosto estava vermelho como um tomate quando ela disse para eu a encontrar quando saísse do trabalho, às oito da noite.

.x.

Não preciso nem dizer que eu fiquei sentada no banco à frente da loja por quatro horas seguidas, saboreando minha Heineken e lendo um livro de bolso que levava pra lá e pra cá. Quando deu oito em ponto, Luka saiu apressada do trabalho e correu até mim, com um largo sorriso no rosto. Com apenas uma hora de conversa, descobri que ela já sabia o meu nome e até onde eu trabalhava, porque tínhamos amigos em comum (não perguntei mais a fundo, porém imagino que sejam os meus companheiros de trabalho da cervejaria). Nós jantamos em um lugar aleatório, não lembro muito bem, porque eu já estava um pouco sob o efeito de álcool, além de estar bêbada de felicidade por estar passando uma data que eu adorava (ainda adoro) com uma pessoa que era completamente apaixonada.

Depois daquela véspera de Natal, passamos a nos encontrar todos os dias, as duas cientes dos sentimentos que uma nutria pela outra, mas sempre em silêncio. Logicamente, o desejo sempre fala mais alto e pouco mais de um mês nós começamos a namorar. Nosso relacionamento era o melhor de todos: encontros todos os dias, sempre compartilhando o amor e sendo aquele tipo de namorada-amiga, e compartilhávamos todas nossas conquistas, felicidades, tristezas e fracassos uma com a outra.

Porém, foi no aniversário de sete meses de namoro, que eu descobri que conquistas nem sempre são algo bom.

Era sexta-feira e, como combinamos, era o dia em que eu buscava Luka no trabalho para passarmos o finde juntas. Quando saí da cervejaria, me dirigi diretamente à loja de Akita, procurando pela minha namorada. Mas apenas a Neru estava lá, a minha querida de cabelos rosa não estava. Estranhei, mas pensei que talvez ela já estivesse me esperando no meu pequeno apartamento, afinal, ela tinha a cópia da chave, porém quando cheguei lá, me deparei com a cópia da chave de Luka jogada em cima do tapete, e embaixo dela havia um bilhete parecido com uma folha de papel arrancada. O papel continha um texto não muito comprido, porém emotivo e choroso, escrito com a letra de Luka, no qual ela dizia que tinha que ir embora, pois um empresário relativamente popular mostrou interesse nela, mas ele morava em outra cidade. Eu entrei em choque, mas a pequena Megurine insistiu que iria me visitar sempre que possível.

Mas o que aconteceu foi que ela nunca me visitou, e meses se passaram. Nosso contato foi perdido e relacionamento distruído pela distância. Nosso relacionamento foi acabado em Agosto, e por três meses eu vivi uma vida de desgosto. Desgosto de acordar, de comer, de trabalhar, de tudo. Toda vez que eu olhava para a loja de Akita, meus olhos lacrimejavam e eu chorava compulsivamente. A tristeza me tomou pela cabeça e eu sofria demais. Eu me relacionei com outras mulheres, incluindo Akita. Eu era usada por muitas garotas que tinham dúvida de sua sexualidade. Eu me tornei lentamente uma mulher que era usada por mulheres. Eu não sentia orgulho nenhum do que eu estava fazendo. Eu estava me degradando e eu sabia. Eu me sentia imunda, mas eu não via sentido em me cuidar. O que eu era sem Megurine? Sem minha doce garota de cabelos rosados e olhos azuis? Absolutamente nada. Sim, eu realmente agia como uma viciada que tinha sua droga retirada.

Dia primeiro de Dezembro, eu fui para um bar. Nesse dia, eu bebi tanto, tanto, que desmaiei. Acordei no outro dia estirada no chão imundo do estabelecimento. A ressaca batia tão forte que a dor de cabeça latejava parecendo que tinham me dado um soco extremamente violento na cabeça. Eu estava sem calça. Perante meu olhar de dúvida, o barman me disse que conseguiram me fazer parar de beber e evitar um coma alcóolico, e que eu tinha me oferecido para os homens que lá estavam. Bom, acho que você já sabe o que aconteceu, não é?

Depois disso, passei dias e dias trancada em casa, vivendo de água e de uma refeição por dia, além de alguns remédios e de antidepressivos que não serviam absolutamente para nada, só para me causar uma futura overdose em algum momento crítico. Passei a sobreviver, e não a viver, e todos os dias me vinha à cabeça: "o que Luka está fazendo nesse exato momento?".

Eu contei um total de aproximadamente trezentas cartas que enviei que não foram respondidas. Telefonemas ignorados e não retornados. O pensamento de ela estar vivendo e amando outra pessoa não me saía da cabeça e me dava náuseas. Eu vomitava de pensar ela beijando outra pessoa. A repulsa era enorme.

E, mais rápido do que eu imaginava, era Natal.

Fazia um ano que eu havia falado com Luka Megurine de verdade. A memória me fazia sofrer, e eu chorava. Fui até a loja de Akita naquele dia e comprei um champanhe barato. Bebi toda a garrafa em casa. A data que eu tanto amava se transformara no marco de um relacionamento que, no começo tão feliz, me destruiu no fim. Eu não me sentia mais como a Meiko que todos conheciam. Eu não me achava digna de ter um nome. Ou, ao menos, era o que pensava.

Quando o relógio bateu uma da manhã, tocaram a campainha do meu apartamento. Estranhei completamente, afinal, eu não tinha mais amigos e Kaito nem se importava mais comigo, isso sem mencionar Luka em outra cidade, provavelmente nos braços de outra mulher.

Minha porta não tinha um olho mágico, então não pude ver quem era. Destranquei a porta com minha chave e, quando abri, recebi um abraço apertado e senti um rio de lágrimas que não eram minhas molhando meu ombro direito. Quando olhei para o lado e vi os longos fios rosas, jamais desbotados, meus olhos se encharcaram e gordas lágrimas quentes desceram pelo meu rosto. Coloquei a mão esquerda na cintura de Megurine e enfiei meus dedos da mão direita nos longos cabelos dela, sentindo-os entre meus dedos e sentindo-me renascida.

"Eu senti sua falta", ouvi Luka sussurrar.

Nesse momento, eu não senti raiva. Eu estava inalando o doce perfume dela, e eu estava nos céus. Eu senti meu coração bater, coisa que por muito tempo eu não senti, apesar de saber que ele estava lá, mesmo sem se manifestar.

"Por que não retornou minhas ligações, respondeu minhas cartas?", perguntei em meio a soluços e ao choro incessante, apertando-a ainda mais forte em meus braços.

"Meu empresário não permitia. Ele jogava minhas correspondências fora e confiscou meu celular a partir do momento que o encontrei", Megurine murmurou em resposta.

Eu acreditei nela, porque qualquer outra explicação me deixaria deprimida, e eu não queria pensar em mais nada, só no fato de ela estar ao meu lado agora. Luka chorava, mas se afastou de mim e me deu um longo beijo, cheio de carinho e amor. Segurei o seu rosto com minhas duas mãos e encostei minha testa na dela, sussurrando com um sorriso no rosto e lágrimas descendo pelo rosto:

"Você fica linda quando chora.".

"Você também", ela respondeu soluçando.

"Feliz Natal, Luka", falei sorridente.

"Feliz Natal, Meiko.".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse presente!
Até ano que vem, um feliz Natal e próspero ano novo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pretty When You Cry" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.