Baby, it's cold outside! escrita por Jones, Samantha Silva, isa


Capítulo 2
The Day Before The Day - Ron/Hermione - Sam


Notas iniciais do capítulo

Coisinha inspirada nessa música: https://www.youtube.com/watch?v=xfP9MFb12VI



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É natal.

Eu checo a comida, a mesa e a arrumação da casa pela centésima vez, enquanto você está parado no meio da sala me pedindo para relaxar e afirmando mais uma vez que tudo vai dar certo.

Eu olho para você e o vejo todo perdido com o nó da gravata. Sua expressão de frustação é engraçada – como sempre – e isso me faz sorrir e relaxar – como sempre, mais uma vez, em todos esses anos.

– Não sei porque insiste nessa gravata, são apenas nossos melhores amigos e as crianças – digo indo até você para ajudá-lo.

– Eu sei, mas sou o anfitrião e quero que me respeitem como tal.

– Oh, meu querido, todos te conhecem bem demais para haver qualquer tipo de respeito.

Você aperta os olhos em uma falsa cara de raiva e me envolve pela cintura, tentando não sorrir. Sobe as mãos pelas minhas costas até colocá-las em meu rosto e erguê-lo para que o olhe.

– O que seria de mim sem você? – você pergunta como se o tivesse vencido.

– Provavelmente, um cara morando sozinho em uma casa tão bagunçada onde as meias secariam as louças, os sapatos decorariam as mesas e a poeira teria sua própria cama.

Você resmunga, mas sorri.

– Seria um senhor bem infeliz também – sentencia enquanto acaricia meu rosto com os polegares e beija minha testa.

Fecho os olhos e absorvo tudo que posso daquele momento. Tive grandes momentos ao seu lado, mas a cada novo, sempre podia jurar que nenhum outro fora melhor. Este é um deles.

A certeza de que te amo e de que nenhuma outra pessoa poderia ter me feito tão feliz me domina por completo e tenho vontade de te abraçar e não soltar nunca mais. E era o que teria feito, se neste instante a campainha não tocasse anunciando a chegada de alguns dos nossos convidados.

Antes de ir até a porta, você me olha – os olhos cheios de ternura – e segura a minha mão para irmos juntos.

Retribuo o olhar e espero que tenha visto nele toda a gratidão que sinto por ter me feito tão feliz, todo o amor que ainda sinto depois de todos esses anos, porque coloquei tudo em palavras pouquíssimas vezes e você sempre foi meio lento para entender as coisas.

Na porta estão Rosie e Hugo com suas famílias. Nossos netos passam correndo por nós, indo até a cozinha atrás de algo para comer e nem tentamos impedi-los, é sempre assim. Os abraços ficam para depois.

Rosie e Hugo nos abraçam ao mesmo tempo e, mais uma vez, tenho a sensação de estar vivendo os melhores minutos da minha vida.

Logo nossos amigos chegam com suas famílias e quando estamos todos a mesa, olho para o rosto de cada um e tenho a certeza de que não existe ninguém no mundo mais completa e feliz do que eu.

Perco um pouco mais de tempo olhando para você, os cabelos ruivos que estão cada vez mais ralos e menos ruivos, as rugas ao redor dos olhos que posso dizer de olhos fechados quantas são, a boca sempre pronta para um sorriso ou para um bico de manha, o vinco entre as sobrancelhas resultado dos muitos momentos de frustração onde as coisas não davam muito certo quando tentava algo novo. O rosto do homem que amo e que me ama muito mais em troca.

O homem que não está mais aqui.

Um ano se passou e, mais uma vez, é natal.

Sempre fora uma época adorada, agora não mais.

Os programas de televisão ensinam receitas para a melhor ceia e como deixar a decoração da sua casa a melhor da rua. E quando os vejo, lembro de você, na verdade, de mim. Do quanto eu insistia que os visse e aprendesse a fazer algumas coisas direito.

Sei que você levava na brincadeira e não ficava chateado, mas, de qualquer forma, me desculpe por isso.

Há tantas coisas em que você é expert, como em ser um bom filho, ótimo pai e excelente marido.

Ou pelo menos era...

As pessoas estão indo e vindo com suas sacolas de compras, sorrisos e expectativas. E eu estou aqui.

Aguardando.

Olhando através da janela, vendo o tempo passar, pedindo por um milagre e ouvindo nossos filhos precisarem de mim, enquanto preciso de você.

O mundo tem batido a minha porta, cobrando que eu viva a vida que me foi dada e que cuide da vida daqueles que ainda dependem de mim, mas é um preço tão alto, não tenho tido como pagar.

A verdade é que o mundo que você deixou para trás é uma grande porcaria, Ronald Weasley.

E eu me odeio por não ter como continuar sem você e ainda mais por não saber como lhe trazer de volta.

Do que me adiantou ser a sabichona e ter passado mais da metade da vida com a cara nos livros se nada que eu conjure, misture ou invente pode te trazer de volta e consertar o meu mundo?

Eu estava sempre correndo tentando melhorar ainda mais a nossa vida e perdi a coisa mais importante que já tentou me dizer.

Isso me mata todas as noites e me persegue durante todo o dia.

E se eu pudesse voltar no tempo e consertar as coisas...

Tenho vivido a minha vida sem arrependimento, até agora.

Nunca mais viagens longas até o topo de montanhas para ver estrelas.

Nunca mais brigar por motivos estúpidos, enquanto todos riem a nossa volta.

Nunca mais você esperando por mim na janela.

Nunca mais dizer bom dia no início de cada manhã.

Nunca mais ir até a casa dos seus pais, onde eu também me sentia em casa.

Nunca mais paz ao segurar sua mão na cama, depois de um longo dia.

Nunca mais abraços desengonçados, enquanto tento cozinhar.

Nunca mais ligações no meio do dia apenas para dizer um “eu te amo”.

E nunca mais dizer adeus pela última vez.


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