Lá e de Volta Outra Vez escrita por Haydée


Capítulo 1
Um retorno inesperado


Notas iniciais do capítulo

Enjoy ;-D



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A vila dos hobbits estava em alvoroço. O dia havia amanhecido e as nuvens desapareceram enquanto todos os preparativos estavam sendo feitos para o leilão da maior e mais luxuosa toca da vila, Bolsão. Seu dono, Bilbo Bolseiro, havia desaparecido há meses atrás e todas as línguas diziam que ele não voltaria, pois devia estar morto. Como não havia deixado testamento, todos os seus pertences, incluindo a toca, seriam leiloados.

Um grande barracão, com assentos e um palanque foi armado em frente à Bolsão. Pessoas de todos os tipos, respeitáveis e não respeitáveis, já estavam sentados em seus lugares esperando impacientemente pela chegada do leiloeiro.

– Uma pena - dizia Ham Gamgi, o Feitor. – Bilbo era um notável vizinho. Sempre fui o jardineiro de sua toca e nunca suspeitei de nada, até que ele sumiu misteriosamente. Uma pena. - Embora ele estivesse falando consigo mesmo, logo apareceu uma platéia.

– Ele teve o que mereceu - disse o Sr. Boffin. – Ouvi dizer que saiu do Condado em busca de um tesouro. É claro que o tesouro não existia. Tomou no nariz.

– O que ouvi foi diferente – disse o Velho Noques de Beirágua. – Me disseram que seres encapuzados levaram-no de sua casa à força.

– Não seja tolo. Ele foi por livre e espontânea vontade. Estava enfeitiçado pela ganância - contestou o Sr. Boffin.

A discussão foi longe e só parou quando um hobbit de meia-idade, barrigudo e careca apareceu na vila. Era o Sr. Everard - o leiloeiro - que vinha de Grã-Cava na Quarta Oeste. Ele pareceu meio perdido no meio de toda aquela multidão, mas logo tomou seu lugar no palanque. Limpou a garganta e disse enfaticamente:

– Hobbits da Vila dos Hobbits. Tenho o prazer de anunciar que hoje será realizado o leilão dos pertences de nosso falecido e ilustríssimo amigo: o Senhor Bilbo Bolseiro. Primeiro leiloaremos Bolsão, que está avaliada em...

– Parem o leilão - gritou Lobélia. – Vocês não podem leiloar algo que já tem dono. Bolsão é meu por direito! – ela disse essas palavras como se estivesse anunciando um veredicto. Otho, seu marido, apoiou-a com um aceno de cabeça. Ele era primo de Bilbo e exigia seus direitos sobre a toca. Everard pareceu confuso, mas logo passou a mão na careca, aparentando ter solucionado o problema:

– Minha Senhora, devo informar-lhe que Bilbo, antes de morrer, não deixou testamento algum. Também não comentou nada sobre a quem legaria Bolsão. Portanto, daremos continuidade ao leilão. Como eu dizia...

Ele parou quando foi atingido em cheio por uma bolsa.

– Mas o quê diabos está acontecendo?

Os hobbits estavam em estardalhaço. Lobélia, indignada, foi caçar briga com uma senhora de idade. Otho entrou no meio e a bolsa da senhora que deveria acertá-lo, desviou de sua rota e foi parar na cabeça de Everard.

– Acalmem-se, por favor.

Era tarde demais, ninguém o estava ouvindo.

– Bolsão é meu - gritava Lobélia, e buscava apoio em seu marido.

Outros, irritados, gritavam:

– Isso nós veremos ao término do leilão.

Tinha também aqueles que só queriam ver o circo pegar fogo e aqueles que não estavam interessados em venda alguma, só queriam mesmo assistir uma boa briga e claro, fumar uma boa erva.

– Cadê a erva-de-fumo? Sem erva-de-fumo não tem leilão.

E no meio do tumulto, as crianças brincavam de pique-pega.

– Peguei você. É a sua vez

– Não, você só relou na manga da minha camiseta.

Everard estava ficando louco.

– Por favor, sentem-se todos. – ninguém deu atenção. – Damas e cavalheiros, peço-lhes gentilmente que voltem aos seus lugares. – disse pomposamente com a mão na careca. Foi ignorado pela segunda vez.

Bufou, encheu o pulmão de ar e estava prestes a gritar quando um súbito silêncio tomou o lugar. Ninguém mais estava gritando, não havia velhos pedindo erva-de-fumo nem senhoras de idade jogando bolsas na cabeça dos outros e até as crianças pararam de brincar e ficaram quietas. Todos olhavam espantados, ou melhor, atordoados para a mesma direção.

A causa disso tudo, era ninguém mais, ninguém menos do que Bilbo Bolseiro, que vinha descendo a colina montado em um pônei, com alguns sacos bem grandes e um baú. A estupefação dos hobbits foi tamanha a ponto de um deles desmaiar. Mas como ninguém se atrevia a falar algo ou a fazer algo, o pobre hobbit foi deixado ali mesmo. Quando Bilbo estava se aproximando mais, alguém tomou a coragem de dizer:

– É ele. O Sr. Bilbo. Ele voltou. Não está morto.

Bilbo percebeu a multidão que estava ajuntada em frente a sua toca e coçou a cabeça.

– Morto? É claro que não estou morto. Mas talvez estivesse se um daqueles trolls comedores de gente tivesse me assado como refeição, ou talvez se um orc tivesse cortado minha cabeça fora por diversão, ou até se eu tivesse sido envenenado pelas aranhas gigantes. Mas não, isso não aconteceu. Eu estou vivo.

À menor menção de trolls comedores de gente, orcs e aranhas gigantes, os hobbits ficaram embasbacados. Eles acreditavam que seres como os mencionados acima só existiam em histórias e contos fantasiosos para as crianças e começaram a achar que o pobre hobbit estava ficando louco. Mas não sabiam explicar a origem de todas aquelas jóias e pedras preciosas que se derramavam do baú. Muitos estavam desconfiados que Bilbo houvesse roubado aquele tesouro e, convenhamos, eles não estavam de todo errados. Ele havia sim roubado aquele tesouro. Havia roubado o tesouro do dragão Smaug, o Magnífico, feito do qual se orgulhava muito.

Bilbo, um preguiçoso hobbit do Condado, juntou-se a comitiva de Thorin, Escudo de Carvalho em uma jornada até Erebor, a Montanha Solitária. Os treze anões, o mago e ele sobreviveram à ameaça de criaturas perigosas, atravessaram a Floresta Negra e roubaram o tesouro de um dragão, além de batalharem contra orcs e wargs e no final saírem vencedores. A parte mais difícil, porém, foi dividir o tesouro.

Após alguns minutos de completo silêncio, os hobbits começaram a falar de novo, todos ao mesmo tempo:

– Não pode ser! Isso é mentira. – diziam alguns.

– Essas coisas não existem. É tudo da cabeça dele.

– Talvez seja verdade, olha todas essas jóias. – diziam outros.

– É mesmo. Ele parece estar falando a verdade.

Enquanto todos estavam discutindo a veracidade dos fatos contados por Bilbo, ele desceu do pônei e amarrou-o junto ao tronco de uma árvore. Depois se encaminhou calmamente à portinhola de sua toca e abriu-a sem cerimônia. Atravessou o gramado, entrou em sua toca e fechou a porta da frente.

A toca estava exatamente como ele havia deixado se não levarmos em conta o fato de que todos os móveis e o chão estavam cobertos de poeira. Mas ele poderia deixar a limpeza para outra hora. Tudo o que ele queria fazer agora era fumar uma boa erva. Largou os sacos de jóias e o baú em um canto e foi atrás de seu longo cachimbo de madeira e da erva-de-fumo, que fora descoberta pela primeira vez por Tobold Corneteiro, lembrou-se Bilbo. Depois sentou-se preguiçosamente em sua poltrona enquanto soprava anéis de fumaça com a boca, tentando imitar as excepcionalidades de Gandalf, que uma vez fizera um barco de fumaça. Acabou cochilando ali mesmo, sem nem se importar com toda a gritaria que os hobbits estavam fazendo lá fora.

A volta de Bilbo causou enorme tumulto e agitação sob a Colina e sobre a Colina, e motivou muitas fofocas que alcançaram Beirágua e até Tuqueburgo na Quarta Sul. Demorou muito tempo até que se admitiu que Bilbo estava vivo novamente, mas desde então, ele passou a ser considerado “esquisito” por todos os hobbits da vizinhança.

Quando ele acordou, o sol já estava se pondo no horizonte, jogando seus últimos raios de luz sobre as colinas verdejantes do Condado. Bilbo não ouviu nada vindo lá de fora e resolveu espreitar pela janela. Não havia um hobbit sequer e até o barracão já tinha sido desmontado.

Bilbo saiu de sua toca tranquilamente com seu cachimbo ainda na boca e ao chegar lá fora, percebeu como o gramado havia crescido durante todo esse tempo que esteve fora. Logo ele precisaria dos trabalhos de jardineiro de seu vizinho, Ham Gamgi, o Feitor.

Ele estava perdido nesses pensamentos quando olhou de relance para uma árvore em frente à Bolsão e reparou que dois pares de olhos estavam espionando-o. Eram Lobélia e Otho. Bilbo resolveu pregar uma peça nos dois. Certificou-se de que o Anel ainda estava em seu bolso, desde que o encontrou nas profundezas das Montanhas Sombrias durante sua jornada até Erebor. Esse Anel era diferente de todos os outros – tinha a capacidade de tornar quem o usasse invisível.

Em um momento em que nenhum dos dois estava olhando, Bilbo colocou o Anel em seu dedo indicador e imediatamente ficou invisível. Quando eles voltaram a olhar seus olhos arregalaram-se tanto que pareciam que iam pular para fora a qualquer momento e suas bocas formaram um “O”. Suas caras de estupefação eram impagáveis.

Otho cutucou Lobélia receosamente e disse baixinho:

– Eu podia jurar que ele estava ali até agora.

Lobélia concordou e ambos começaram a suspeitar que aquele não fosse Bilbo de verdade e sim, seu fantasma. Essa possibilidade arrepiou-os das pontas dos cabelos aos pelos dos pés. Lobélia deu um passo para trás e trombou em Otho, que por sua vez tombou no chão. Lobélia caiu desajeitada por cima dele, mas logo os dois estavam de pé abanando as mãos ao ar em um pedido de socorro e correndo daquele lugar amaldiçoado.

Bilbo tirou o Anel e caiu na gargalhada. Havia visto muitas coisas durante sua jornada para além do Condado, mas hobbits tão assustados quanto aqueles certamente não.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Comentem, por favor. Bye ;-D