Like a Robot escrita por Anasofi Sakura


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai um casal um pouco estranho... A IA com o Kaito :3 Sim, eu realmente amo este casal, é um dos meus favoritos em Vocaloid *w*
Desde que vi a IA pela primeira vez, achei-a mt fofa, e pensei logo nela como uma pequena robôzinha kawaii *--* por isso pensei: "Porque não fazer uma fic dela com o Kaito?" :V E foi assim que desenvolvi a história xD
Espero que gostem :D Boa leitura ~(=w=)~



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Um robô não se pode apaixonar. Um robô não pode chorar, rir, sentir dor, ou gostar de alguma coisa. Um robô não pode ter quaisquer sentimentos.

O meu mundo é muito diferente do das outras pessoas. Enquanto as pessoas lá fora riem, choram, sofrem, ou têm os seus próprios gostos, eu não posso fazer ou ter nada disso. Sou uma coisa fria e vazia, sem qualquer sentido de vida. Apenas uma lata velha criada por puro divertimento e curiosidade.

Mesmo assim, por vezes sinto alguma coisa. Uma coisa muito diferente. Uma espécie de... Dor? Não o sei descrever, pois nunca senti dor alguma, por isso não sei exatamente o que sinto cada vez que o vejo.

“IA, chega aqui.” – mais uma vez, ele mostra-me o seu carinhoso sorriso, acenando com a mão para que eu me aproximasse da cadeira onde ele se encontrava sentado.

“Sim, Mestre.” – caminho lentamente até ao seu encontro, e viro-me de costas para que ele pudesse abrir a pequena manivela que se situava nas minhas costas. Ele abre-a com cuidado, espreitando todos os meus fuzivéis para ver se eu tinha algum problema no meu funcionamento. Começa a tocar nalguns fios, o que me fez estremecer. Que sentimento é este?

Shion Kaito. 25 anos de idade, mas mesmo com esta pouca idade é considerado um dos maiores génios da humanidade na matemática e na robótica. O seu QI tem o valor de 200, e também é um dos homens mais ricos do mundo. Ele é o meu criador. Para mim, Kaito-sama é como se fosse um Deus, já que foi ele que me “trouxe à vida”, como dizem os humanos. Acho que é por esse motivo que lhe devo a minha vida, e cuido dele todos os dias.

Mas, para falar a verdade, eu ainda não o entendo muito bem, nem aos os humanos em geral. Eles magoam-se uns aos outros, sem quaisquer piedade. Mas depois arrependem-se, e voltam sempre a pedir desculpa, apesar de saberem que depois voltarão a cometer o mesmo erro. Como não tenho opinião pessoal por ser uma simples robô, não posso comentar nada sobre isto. Mas acho que se as pessoas se magoam, deviam clicar nos seus botões de reset, e reconstruirem a sua vida.

“Mestre?” – chamei-o.

“Sim, IA?” – a sua voz gentil soou em todo o laboratório.

“As pessoas... Os humanos... Têm um botão de reset? Assim como o meu?” – perguntei delicadamente, enquanto lhe mostrava o meu próprio botão, que se situava um pouco acima do meu seio direito.

“IA, é claro que não!” – riu-se da minha burrice – “Se tivessemos todos esse botão, as pessoas teriam sempre a mudar a sua vida a cada coisinha insignificante que acontecesse.” – ele suspira, e olha para mim com um ar sério – “As pessoas são criaturas egoístas, IA. Nunca se sabe o que é que farão a seguir.” – um longo sorriso percorreu todo o seu rosto, fazendo com que os meus fuzivéis funcionassem mais rapidamente – “E é isso que deixa a vida mais emocionante e divertida.”

Eu sou uma robô de aprendizagem. No dia em que fui criada, à 4 anos atrás, chovia intensamente lá fora. As minhas memórias desse dia são somente estas: acordei numa maca branca, rodeada de fios elétricos e coloridos. Ao principio não consegui ver bem a figura que estava à minha frente, mas quando me acostumei finalmente à minha visão, um rapaz jovem de cabelos azuis e olhos intensos da mesma cor encarava-me com um ar totalmente feliz e satisfeito. Ele sorria, mostrando todos os seus dentes perfeitamente brancos e alinhados. Depois da minha visão, o que veio a seguir foi a minha audição, fazendo com que eu conseguisse escutar o que o desconhecido rapaz me dizia, e a chova que continuava a cair torrencialmente lá fora.

“Consegues ouvir-me? E perceber-me?” – perguntava, um pouco aflito, enquanto segurava firmamente na minha mão.

“Sim.” – respondi, levantando-me lentamente daquela maca – “Nome?” – perguntei.

“N-Nome?” – gaguejou, não percebendo os meus objetivos.

“Sim, nome. Qual é o meu nome?” – voltei a perguntar, enquanto olhava diretamente para os seus olhos, à espera de uma resposta.

“Ah!” – finalmente tinha percebido o que eu queria – “O teu nome é...” – parou por uns momentos, baixando o olhar. Mas depois levantou-o novamente, com um enorme sorriso de orelha a orelha – “... IA! Sim, o teu nome é IA!” – exclamou todo contente.

“IA.” – repeti, guardando o meu novo nome nos meus dados – “E o teu?”

“Eu?” – apontou para si mesmo – “O meu nome é Kaito. Shion Kaito. Sou a pessoa que te criou, IA-chan.”

“Que... Me criaste?” – movimentei a cabeça um pouco para o lado, como se não tivesse percebido o que ele me tinha dito.

“Hum.” – assentiu – “Fui eu que te criei, IA. Sou o teu criador. A partir de agora, vais ter que viver comigo. Vou ensinar-te tudo o que sei.” – e com uma das suas mãos, fez uma festinha na minha cabeça, num sinal de pura simpatia. Guardei aquela imagem na minha cabeça (nos meus dados), e ainda hoje a posso ver claramente. O sorriso do Kaito-sama parecia preencher aquele escuro e vazio laboratório, como se estivesse a transformar um cemitério num parque de diversões.

Depois daquelas doces palavras, os anos passaram, e o Mestre ensinava-me muitas coisas todos os dias. Ensinou-me sobre matemática, geografia, línguas, e muitas outras matérias. Todos os dias eram dias de aprendizagem.

Todos os sábados, o Kaito-sama saia para me ir comprar roupa, e também comida para si mesmo. Trazia-me sempre roupas claras, como em tons de rosas claros e brancos. Um dia, quando me entregou um longo vestido de verão rosa-claro com um padrão de pequenas flores de cerejeira, quis tentar perguntar-lhe uma coisa que estava na minha cabeça à muito tempo.

“Mestre?” – chamei-o como sempre fazia quando tinha alguma questão em mente.

“Diz, IA. Alguma pergunta? Achas o vestido feio?” – riu-se.

“Não é isso.” – peguei no vestido, e virei-me para o Kaito-sama, olhando-o diretamente nos olhos – “Qual é a razão da minha existência? Porque é que eu fui criada?” - ele arregalou os olhos de surpresa – “Porque é que o Mestre nunca me deixa sair deste laboratório, e não me deixa ir ver o mundo lá fora?” – encolhi-me na minha pequena cama, pondo os joelhos ao peito – “Porque é que eu não posso ir ver o mundo lá fora com os meus próprios olhos?”

Ele não me respondeu, e apenas abaixou a cabeça, fazendo um longo silêncio. Ele abria a boca para me dizer alguma coisa, mas depois voltava a fechá-la, inseguro. Mas eu continuava a querer uma resposta, e insisti.

“Mestre, porque é que eu nunca fui consigo às compras?” – peguei-lhe no seu rosto, fazendo-o olhar para mim – “Porque é que só posso ver as pessoas na televisão, e não na vida real?” – apontei para uma pequena televisão que se situava na ponta da assustadora sala.

“IA...” – começou – “Gommen, mas essa é a única questão a qual eu nunca te vou poder responder.”

“Porquê?” – continuei – “Eu quero saber mais.”

“IA!” – gritou, mas depois acalmou-se – “IA... Eu já disse que não te posso responder. Não me voltes a perguntar isso, onegai.” – e foi-se embora dali, com passos apressados, fechando a porta atrás de si.

Depois dessa conversa, ele não foi ter comigo por 3 dias. Como eu não precisava de comer ou de beber, ele não necessitava de me alimentar. A única coisa que eu necessitava para sobreviver era ligar-me a uma tomada antes das minhas 24horas de funcionamento. Se não me ligasse a uma tomada depois de 24horas em pleno funcionamento, eu simplesmente delisgava-me, e tornava-me numa lata de metal vazia e fria. Um objeto sem valor algum.

Mas, como eu já sabia ligar-me sozinha à tomada que se situava ao lado da minha cama, não houve problemas nenhuns nesses 3 dias repletos de solidão. Solidão? Como sou uma robô, eu não sabia o que era a solidão. Não me senti sozinha, ou triste. Mas havia algo que me deixou... Digamos que, incomodada. Não ter podido ouvir a doce voz do Mestre durante 3 dias deixou-me muito em baixo. As minhas baterias não carregavam como deve ser, e o meu interior bombeava muito mais rapidamente que o normal. Mas não sei se senti algum tipo de tristeza, porque afinal... Sou uma robô.

Passados 3 longos dias, o Kaito-sama voltou a entrar pela porta do laboratório, como se nada se tivesse passado desde a nossa última conversa. Decidi não falar nada sobre o assunto, pois sabia que isso iria pôr o Mestre infeliz.

A nossa vida continuou, e os dias decorriam normalmente. Eu passava os dias a aprender com o Kaito-sama, a olhar pela minha pequena e estreita janela, a ver televisão e a recarregar as minhas baterias.

Todo o tempo em que o Mestre esteve comigo, sempre me cuidou com cuidado, como se eu fosse uma peça muito valiosa, ou algo muito importante na vida dele. Nunca entendi o porquê, mas também nunca lhe resolvi perguntar algo pessoal novamente, pois temia de não o voltar a ver por outros 3 dias.

Como já tinha dito, passaram-se 4 anos desde que ele me criou, e nós nos conhecemos. Estar com ele tornou-se praticamente um hábito, ou até um... Vício? Ainda não sei muito sobre esse assunto dos vícios, pois como sou uma robô, não tenho esse tipo de sentimentos possessivos. Mas acho que se eu fosse humana, eu estaria muito feliz por poder estar com o Mestre. Estaria... Lisonjeada?

Mas eu não sabia que essa suposta felicidade ia acabar tão facilmente, como num piscar de olhos.

Era um dia normal, como todos os outros. Quando tinha acabado de recarregar as minhas baterias, já eram 06:47h da manhã, por isso desliguei-me da tomada, e voltei o meu olhar para o que acontecia fora da minha janela. Como o meu Mestre era rico, nós morávamos numa casa que me parecia enorme pelo tamanho da sombra que fazia lá fora. À volta da casa só existiam árvores e mais árvores, o que deduzi que morássemos no meio de uma floresta. As únicas coisas que eu sabia sobre a nossa casa eram estas, pois desde eu tinha “nascido” que nunca tinha saido daquele quarto. As coisas que já mais estava familiarizada eram a pequena televisão que se situava a uns metros da minha cama, os fios coloridos que se encontravam ao lado da minha cama pois por vezes o Kaito-sama tinha de me ligar a eles para reparar os meus erros, um velho computador que estava do outro lado da sala, e a minha “cama” que na verdade era a maca de onde eu tinha nascido. Eu... Não conhecia ou tinha visto mais nada para além daquilo. Pela primeira vez na minha vida, mesmo sendo uma robô, naquela manhã senti-me burra e aborrecida. Tive um sentimento novo de querer saber mais e mais. Queria sair dali, e poder ver novas coisas. Senti a curiosidade.

Eu nunca tinha desobedecido as ordens do Mestre. Sempre que ele se ia embora do laboratório, punha-me sempre a ordem de não poder sair de modo algum, e eu sempre cumpria o que ele dizia, pois não tinha motivos para isso.

Levantei-me da minha cama, e dirigi-me à pequena porta branca e macia. Parei, encarando a pequena superfície branca à minha frente. Como não sentia frio, estava descalça, vestida apenas com uma t-shirt enorme e branca e com umas cuecas também da mesma cor. O meu cabelo estava com o mesmo penteado de sempre, com a sua mesma cor creme, duas pequenas tranças na parte da frente presas por elásticos, e com o resto do cabelo solto atrás das minhas costas.

No momento em que entre-abri a porta, um pequeno vento percorreu entre as minhas pernas, fazendo os meus olhos brilharem de espanto e curiosidade. Por fim, abri toda a porta, e pude encarar finalmente o que estava do outro lado da mesma.

A única coisa que lá havia eram umas pequenas escadas que se dirigiam para cima, onde se encontrava outra porta, e esta fechada. Subi os degraus feitos de pedra até chegar à outra porta. Tentei abri-la, mas esta estava mesmo fechada. Trancada, aliás. Eu não podia ir explorar o mundo.

Senti alguma coisa dentro de mim pulsar, e um sentimento estranho percorreu a minha cabeça. Algo parecido com o que os humanos chamavam de desilusão. Mesmo eu querendo ir ver o mundo lá fora, havia uma pessoa que me impedia de o fazer: o meu próprio Mestre. As suas ordens eram absolutas, e ali estava eu a desobedecê-las. Como sou uma robô horrível! Eu tinha de obedecer! Fora ele que me trouxe a este mundo, e aquilo era a mínima coisa que eu podia fazer!

Voltei para trás, e fechei a porta branca atrás de mim. Sentei-me na minha cama dura, e peguei no comando da televisão, ligando a mesma.

Hoje vamos falar de amor! – gritava uma apresentadora com cabelos azuis de um programa diário – O amor é uma coisa linda! Não é, Luka-chan? – outra apresentadora com cabelo rosa assentiu e também começou a falar – Claro que é, Miku-chan! Afinal, o amor faz-nos sentir quentes,... – quentes? Eu acho que me sentia assim de vez em quando – ...Faz o nosso coração acelerar, e principalmente, faz-nos parar de raciocinar como deve ser! – fiquei a olhar para a televisão, com os olhos muito abertos. Eu tinha todos aqueles síntomas, e tudo indicava que eu me sentia... Apaixonada? Mas... Como? Eu era uma simples robô, como é que eu podia ter sentimentos?! Continuei a ver o programa com mais atenção – Mas o pior é quando a pessoa que amamos não nos corresponde, não é...? – suspira a apresentadora de nome Miku. Uma nova apresentadora com cabelos castanhos aparece – Não fiques assim, Miku-chan! É tudo uma questão de esforço! – as três apresentadoras começaram a rir-se, e eu resolvo desligar a televisão.

Amor. Eu nunca tinha pensado sobre esse assunto. O Mestre nunca me tinha falado sobre isso, ou me explicado como era sentir tal coisa. Será que amar dói? Será que eu estou mesmo apaixonada? Por quem? Será que... O Mestre também é apaixonado por alguém? Mas antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa, ele aparece todo sorridente como sempre.

“Bom dia, IA.” – cumprimenta-me, sentando-se na ponta da minha cama.

“Bom dia, Mestre.” – cumprimento-o de volta, sentando-me formalmente.

“Ei, IA... Hoje vamos fazer uma coisa diferente.” – o seu sorriso desaparece, dando lugar a uma expressão séria.

“Como assim, Mestre?”

“Hoje... Vamos passear.” – pega na minha mão, segurando-a delicadamente – “Lá fora, IA. Como sempre quiseste.”

Não consegui dizer mais nada. Estava a desenvolver mais um sentimento humano: o espanto. Fiquei muitissimo espantada pelas suas palavras, pois era a primeira vez que iria sair daquele laboratório, desde o ínicio dos meus 4 anos de existência. Tapei a boca com uma das mãos, tal como as pessoas nos doramas que eu via faziam quando estavam espantadas. Era divertido imitar as ações que as pessoas na televisão faziam.

“Mas Mestre... Porquê?” – pensei que talvez ele tivesse enlouquecido, ou que talvez não fosse o meu verdadeiro Mestre, mas sim um impostor. Isso acontece muito nos doramas que vejo na televisão.

“Simplesmente porque me apeteceu.” - aquelas palavras fizeram alguns motores dentro de mim piscarem e acelerarem mais que o normal, deixando-me um pouco quente – “Depois com o tempo saberás. Agora veste-te, que temos de nos despachar. Temos o dia inteiro pela frente!”

Permiti-me fazer um longo sorriso, igual ao do meu Mestre, para lhe mostrar que estava disposta a ir passear o dia inteiro com ele. Ele retirou-se do laboratório por uns minutos, para deixar-me vestir com uma roupa mais decente. Coloquei o vestido rosa-claro estampado com flores de cerejeira que ele me tinha dado no dia da nossa briga, e penteei delicadamente os meus próprios cabelos. Calcei umas sandálias da mesma cor do vestido, que possuiam pequenos lacinhos na parte da frente. Depois de pronta, chamei o meu Mestre para poder-mos finalmente ir.

Sair de um quarto onde se esteve a vida toda, era realmente muito diferente e emocionante. Subi os degraus que ainda à uns momentos atrás já tinha pisado, e o Kaito-sama abriu a porta que antes estava trancada à chave. Entrámos logo numa sala muito espaçosa, e as minhas espectativas de a casa do Mestre ser enorme eram mesmo verdadeiras. Não tive tempo de ver o resto da casa, pois fomos logo diretos para a porta da rua.

Sentir o sol na minha “pele” era realmente algo inexplicável. Parecia que me queimava, e era muito incômodo! Mas mesmo assim gostei daquela sensação, pois trazia-me um pouco de conforto. Olhei à minha volta, e outra das minhas suspeitas estava confirmada: morávamos mesmo à volta de uma floresta! Não, esperem. Analisei melhor aquela área com os meus sensores, e vi que a uns 10km de distância se situava uma cidade, ou seja, afinal morávamos num bosque, que é tecnicamente mais pequeno que uma floresta. Fiquei um pouco desiludida comigo mesma, mas mesmo assim segui o Kaito-sama para um dos seus carros. Sentei-me no lugar ao lado do condutor, e olhava para cada detalhe do que via. O Mestre riu-se da minha tremenda curiosidade, e dobrou-se para a frente com o objetivo de me colocar o cinto de segurança, já que eu nunca o tinha feito. Ao sentir o cheiro do seu cabelo tão perto da minha cara, o meu reator tremeu, fazendo com que o meu rosto ganhásse um tom avermelhado. Que sentimento novo e estranho era aquele?

O Mestre começou a ligar o motor do carro, dando a partida em direção à cidade. Andámos por uma estrada feita de cimento, e eu tecnicamente ia colada com a cara ao vidro do carro, olhando para tudo o que fosse novo para mim. É claro que o Kaito-sama respondia claramente a tudo o que eu lhe perguntava, sem me deixar com qualquer dúvida.

Chegámos à cidade em mais ou menos 20 minutos, e ele estacionou o carro num pequeno parque-de-estacionamento mesmo no meio da cidade. Para falar a verdade, a cidade era muito diferente do que eu imaginava. Não tinha assim tantos prédios, como aqueles que eu via na televisão, nem tantas pessoas sorridentes. Bem, havia muitas pessoas, mas a maior parte não fazia sequer um pequeno sorriso. Fiquei ainda mais um pouco desiludida. Pensei que o mundo lá fora fosse um pouco mais alegre.

“Aonde queres ir?” – perguntou-me, indiferente, enquanto me agarrava numa das mãos para que eu não me perdesse no meio da multidão.

“Quero ir a um parque de diversões!” – exclamei, lembrando-me de alguns programas que mostravam locais desse tipo. E parecia muito divertido.

Ele riu-se um pouco da minha escolha, e então arrastou-me no meio da multidão, sem me largar a mão. Caminhámos por cerca de 5 minutos, e chegámos de imediato a uma enorme entrada colorida e cheia de bonequinhos muito fofos. Sorri, pensado em toda a curiosidade que estava a matar naquele momento. Depois foi a minha vez de arrastar o Mestre até à entrada, para que ele nos pagásse os bilhetes. Eu estava desejosa de entrar e... Esperem lá. Desde quando é que eu estava a ter tantos sentimentos humanos? Sempre fui uma robô fria, sem sentimentos e inexpressiva, por isso o que é que me estava a acontecer naquele momento? Porque é que estava tão... Humana? Sinceramente, não liguei muito a esses pequenos detalhes, já que estava completamente encantada com aqueles novos lugares.

Fomos a vários brinquedos, e divertimo-nos muito. Andámos em vários carroséis, em casas assombradas, em montanhas-russas e até fomos a uma sala onde só tinha jogos de vídeo. Tudo isto ainda de mãos dadas.

No fim do dia, quando já se via o pôr-do-sol, fomos embora dali, para o meu desagrado. Caminhámos lentamente até ao carro, e entrámos em silêncio no mesmo. Mas, mal entrámos lá dentro, o Mestre olha diretamente para mim, e começa a acariciar-me o cabelo delicadamente.

“Ainda há um local que te quero mostrar, IA-chan.” – sorriu, fazendo um ar reconfortante. Assenti com a cabeça, sentindo o meu rosto ficar quente novamente. Já fazia muito tempo que o Mestre não me chamava de “IA-chan”. Aquilo fazia realmente o meu reator trabalhar mais depressa.

Não demorámos muito a chegar ao suposto local do qual o Kaito-sama me queria mostrar. Ele estacionou num passeio da rua, e foi-me abrir a porta como um belo “cavalheiro”. (é como dizem nos doramas) O dia já estava completamente escuro, dando ao céu escuras tonalidades de preto e azul, deixando-nos ver um pouco das brilhantes estrelas que viajavam pelo espaço.

O local que o Mestre tinha para me mostrar era um enorme parque, rodeado de árvores, que na verdade eram cerejeiras, mas ainda com folhas em vez de flores. No meio do parque, situava-se uma enorme fonte cheia de água, que à volta era rodeada de luzes de várias cores, deixando a água que era repelida ter a junção destas várias cores. Era uma visão completamente maravilhosa e espantosa. Eu nem queria acreditar no que via, tal era a beleza daquela situação. Também para o meu espanto, apesar de ainda serem 23:27h, ninguém se encontrava lá. Era somente eu e o Kaito-sama. Só de ter pensado nisso, senti-me toda arrepiada, e cheia de calor. Outra sensação nova.

“IA.” – chamou-me, apontando para um pequeno banco feito de pedra que se encontrava à frente da grande fonte – “Vamos sentar-nos ali. Preciso de falar contigo.”

“Claro, Mestre.” – respondi, acenando com a cabeça positivamente. Dirigimo-nos em passos lentos até ao banco, e sentámo-nos. Ele olhou para mim com um ar um pouco estranho, deixando-me um pouco nervosa. O que é que ele tinha para me dizer? Será que fiz algo que o chateasse ou magoasse?

“IA.” – começou – “Eu vim-te mostrar como é que é o mundo real por várias razões.” – pára de me encarar, e começa a olhar para as próprias mãos, que estavam apoiadas nos seus joelhos – “Há algo... Não. Há alguém que vai desaparecer hoje.”

“Desaparecer, Mestre?” – perguntei, curiosa.

“Hum.” – assentiu, ainda com a cabeça baixa, mas como a sua voz estava enfraquecida, dáva para se notar que ele estava claramente muito triste com algo – “IA... Eu vou morrer ainda hoje. Se os diagnósticos tiverem certos, tenho apenas mais algumas horas de vida.”

Mesmo depois de anos a colectar informação, aquelas últimas duas frases que ele tinha dito não queriam entrar na minha cabeça, como se tivessem alguma espécie de vírus. Uma espécie de coisa fria começou a descer-me pelo rosto abaixo, e toquei para ver o que era. Lágrimas. Lágrimas saiam dos meus olhos, como se eu fosse uma pessoa completamente normal. Olhei para o meu criador, incrédula. A minha vida estava a dar uma volta na direção contrária. Vi o mundo do lado de fora, comecei a ter sentimentos humanos, e o meu Mestre ia morrer depois de algumas horas. O que é que se estava ali a passar? Comecei a sentir o meu peito doer muito.

“Eu queria realizar o teu maior desejo, antes de morrer.” – continuou – “Porque na verdade... Eu sempre te amei.” – limpou as minhas lágrimas com o polegar – “Eu criei-te com a intuição de voltar a ver a pessoa que eu mais amava na minha vida. Essa pessoa morreu jovem num acidente de carro.” – voltou a encarar o chão – “Mas eu programei-te para que, no dia em que eu fosse morrer, começasses a ter sentimentos e emoções. Sentimentos que apenas os humanos podem sentir, como o ódio, a felicidade e... A tristeza.”

Agora tudo fazia sentido. O porquê dele nunca me ter dito a razão da minha existência. O porquê de eu estar a começar a ter sentimentos humanos. O porquê... De todas as dúvidas que permaneciam na minha cabeça. Mas, mesmo já tendo todas as minhas dúvidas tiradas, senti-me... Traída. Magoada. Triste. Morta.

Lembrei-me de quando fiquei durante anos fechada naquele escuro laboratório. Dei graças a Deus por todos este tempo não ter tido quaisquer sentimento, porque se não teria me sentido muito solitária e sozinha. Se não fosse a companhia do Kaito-sama, eu de certeza que já teria "morrido".

Eu não queria que o Kaito-sama morresse. Era a coisa que eu menos queria que acontecesse, e se pudesse arriscaria a minha própria “vida”. Eu tinha... Me apaixonado por ele. Todos estes anos a cuidar de mim, todos estes anos a tratar-me com cuidado e carinho, todos estes anos ao meu lado. Eu já estava apaixonada por ele mesmo antes de já ter sentimentos humanos. Todas as vezes que o via, o meu reator movia-se mais rapidamente, como se eu estivesse a morrer de felicidade. Eu apenas não me tinha apercebido disso. Como fui burra! Como não me apercebi disso antes?!

Abracei o meu amor, pondo os meus braços em volta do seu pescoço. Algumas das minhas lágrimas escorreram pelo seu ombro abaixo, deixando pequenas marcas molhadas e frias.

“Eu não quero! Eu não quero que morras, Mestre!” – gritei com todas as minhas forças – “Eu quero ver-te vivo! Quero continuar a ver o teu sorriso todos os dias! Quero que continues a cuidar de mim! Eu quero... Q-Quero que continues ao meu lado!” – a minha voz começava a fraquejar por causa do choro – “Eu amo-te!”

“IA...” – era a sua vez de chorar no meu ombro, correspondendo ao abraço – “Não sentes nojo de mim, agora que tens sentimentos? Eu criei-te apenas para me relembrar de outra pessoa.”

“Não interessa.” – separei-nos, para poder encarar a sua face corada – “Eu amo-te mesmo assim. Se eu puder estar contigo até ao fim, para te poderes relembrar dessa pessoa, eu não me importo. Afinal, não é essa a minha função?”

Ele fez um sorriso carinhoso e melancólico ao mesmo tempo, enquanto se aproximava, colando os nossos lábios. Uma sensação completamente nova e especial percorreu todo o meu corpo. Nunca tinha sentido os lábios de outra pessoa em contacto com qualquer superfície da minha pele. Senti-me totalmente feliz e realizada. Estava com todos os meus desejos realizados. Senti que já podia morrer feliz.

Depois do beijo, encarámo-nos por uns segundos, e sorrimos um para o outro.

“Sabes IA. Na verdade, já faz algum tempo desde que deixei de amar a pessoa que morreu no acidente.” – desabafou.

“E-E... Quem é que amas agora?” – hesitei, com medo de ser rejeitada.

“Eu amo-te a ti.” – colocou as minhas mãos no seu rosto, uma em cada lado – “Adoro a forma de como te sentas a ver televisão. A maneira de como me perguntas sobre tudo e todos. O teu interesse por tudo. Adoro tudo o que há em ti.” – concluiu.

“Então vamos ficar juntos.” – pedi-lhe – “Prometes?” – mostrei-lhe o meu dedo mindinho, para que ele jurásse.

“Prometo.” – repondeu, correspondendo também com o seu mindinho – “Eu prometo. Prometo que ficaremos juntos, por toda a eternidade.”

Olhei para o pequeno relógio que trazia no meu pulso. 00:07h. Não, eu realmente não queria que o Kaito-sama morresse! Mas... O que é que eu podia fazer?

Sem que eu desse por mim, a pessoa mais importante na minha vida começou a queixar-se duma dor que sentia no peito, e lançou-se ao chão por causa das dores. Contorceu-se todo, pondo a mão onde lhe doia: mesmo no sítio onde se localizava o seu coração.

Lágrimas começaram a brotar novamente nos meus olhos, e apressei-me a colocar-me ao seu lado, pondo a sua cabeça no meu ombro. O desespero em conjunto com o medo já entravam na minha mente, mas eu naquele momento já não queria saber. Só queria salvar o Kaito-sama, e não deixá-lo morrer!

“Não! Não vás! Mestre!” – gritei, com enormes lágrimas a sairem-me dos olhos – “Sem ti, o que é que vai ser de mim?!”

“IA...” – gemeu de dor – “Não... T-Te quero v-ver sofrer...” – acaricia o meu rosto com uma das suas mãos, sendo que esta tremia imenso – “S-Sorri...”

“Não! Eu não consigo sorrir! Por muito que eu queira, não consigo sorrir!” – solucei, aumentando cada vez mais o meu tom de voz – “Não consigo sorrir, porque estás a morrer!”

“E-Eu vou morrer f-feliz... Por te ter c-criado, IA...” – continuou.

“NÃO! Ainda há tanta coisa que eu tenho para te contar! Ainda há tantos sítios onde eu quero ir contigo! AINDA HÁ TANTAS COISAS PARA FAZER-MOS JUNTOS!” – eu já começava a perder cada vez mais as esperanças que ainda possuia, e o desespero tomava totalmente conta de mim – “KAITO!” – chamei-o pela primeira vez pelo seu primeiro nome, mesmo estando completamente aflita.

“G-Gommen... I-IA...” – suspirou – “E-Eu... Amo-te.” – os seus olhos fecharam lentamente, e a mão com que ele me acariciava o rosto caiu pesadamente no seu colo.

Senti uma parte de mim partir-se ao meio, e só me lembro de perder a consiência.

Não voltei a acordar.

Passadas algumas horas, houve alguém que nos encontrou ali estendidos no chão, e chamou uma ambulância. Mas, quando viram que o Kaito-sama estava morto por causa de um AVC, viram que não havia esperanças de o salvar. Já eu, toda a gente ficou espantadissima ao descobrirem que afinal eu era uma rôbo. Chamaram muitas das pessoas mais inteligentes do mundo para me acordarem, mas nunca houve ninguém que conseguiu voltar a pôr-me a funcionar.

É claro que ninguém o conseguia fazer. Na verdade, logo depois do Kaito-sama morrer, eu cliquei no meu botão de “auto-destruição”, que se situava um pouco cima do meu seio direito. Eu não iria viver num mundo onde não houvesse o meu Mestre para cuidar de mim. Eu queria ir para o mesmo lugar onde ele tinha ido, por isso suicidei-me.

Morri feliz. Mesmo que eu fosse uma robô, pude ter a felicidade de ter verdadeiros sentimentos, e de ter tido um verdadeiro amor. E tive também a felicidade de ter conhecido o Kaito-sama. Tenho a certeza que ele também morreu feliz, ao meu lado.

Ei, talvez eu e ele nos encontrarémos nas nossas próximas vidas! Mas dessa vez, eu sendo uma verdadeira humana, e ele sendo um rôbo criado por mim. Seria perfeito.

Espero... Poder voltar a viver uma vida ao seu lado, mesmo que um de nós seja um rôbo, e o outro humano. Pois isso realmente não importa, nem nunca importou.

Fim.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? ;-; Não ficou assim muito triste como eu queria que ficasse, mas acho que até ficou razoável ^-^' ficou apenas um pouco lamechas xD
Mas tmb é só uma simples história entre uma robô e um humano :P
Comentários são mt bem-vindos *----* Bjs e até à minha próxima fic :3



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