Capítulo Vinte: O Segredo

Naruto sabia que precisaria começar a agir imediatamente, por isso assim que a voz de Hinata morreu, após dizer o nome da Kitsune, ele a soltou e se levantou. Por um instante a jovem se assustou, o olhando alarmada, mas percebeu que ele apenas se vestia com um roupão e então saía do quarto. Seu primeiro pensamento foi que ele faria alguma coisa impulsiva, por isso levantou-se da cama rapidamente e puxando o outro roupão, saiu dali o vestindo e indo atrás de Naruto.

Porém, ao chegar na sala onde ele estava, o viu com o celular no ouvido. Imaginou naquele instante que ele estaria ligando para Sasuke e Sakura, afinal, para ela o casal era ainda mais interessado em Tenko do que qualquer outro. Sua surpresa foi grande ao notar com quem Naruto falava ao telefone.

– Não, Neji ela está bem. Apenas fomos pegos de surpresa. - uma pausa - Ei, cala a boa e me ouça, ta certo? Estou ligando porque você a protegeu e a tornou inalcançável esses anos todos, então… existe uma maneira de protegê-la agora? Apenas isso.. pesquise ou sei lá o que você faz nessas horas. - Mais silêncio. - Ela vai ficar comigo. Sim, ela vai. Acha mesmo que vou sair de perto dela agora? Não mesmo? Me ligue quando souber de algo. Claro que não irei deixar ele chegar perto dela!

Hinata por um instante se sensibilizou com o que ele dizia, com a preocupação e o cuidado de Naruto, mas isso se foi ao perceber que na verdade ele queria arrumar um jeito de mantê-la longe e segura, o que significaria ficar longe dele. Aquilo a deixou com raiva, a deixou assustada também… Porque ficar longe de Naruto significava que ele não estava se importando em morrer, e de alguma maneira ela sabia que isso aconteceria caso realmente não estivessem juntos.

Assim que pensou sobre isso, lhe a dúvida de porque Tenko havia fugido de Naruto. Naturalmente o ocorrido não fora normal. Tenko era infinitamente mais forte que qualquer um dos dois e poderia aparecer realmente ali e matar ambos, mas não o fez. Pelo contrário, ao perceber que Naruto estivera se aproximando ele a ameaçou novamente - a única coisa que faria Naruto parar - e logo que possível, foi embora. Sem fazer mais nada.

Hinata poderia estar enganada, mas sentia que havia algo. Muito mais do que apenas interesse em ter seu pupilo, muito mais do que ter alguém igualmente inclinado para as trevas junto dele. E enquanto essas percepções aconteciam, ela se deixava prender por elas enquanto Naruto fazia uma nova ligação.

Desta vez ele ligara para Sasuke e Sakura. Não se importava com que horas deveria ser. Sabia que isso era algo que não tinha horário. Assim como ele, ou mais até, o casal queria sua vingança. Ao contrário dele, o que tinham perdido não pudera ser recuperado e junto com isso, também se fora a melhor parte deles, ficando cacos e ecos que tinham esperanças de calassem quando completassem a sua vingança. Até antes de Hinata aparecer, ele vivia com os mesmos ecos, porém agora seu medo era perder novamente o que tinha de melhor e real. Por isso não pensara duas vezes em se unir ao casal de Kitsune.

Fora posto no viva-voz por Sasuke e imediatamente narrou o que tinha acontecido. Sakura começara a gritar o que tinham que fazer, que não podiam estar parados, que não acreditava que Naruto não tinha descoberto onde Tenko estava ainda. Os dois, Naruto e Sasuke, apenas tentavam se comunicar sem a gritaria de Sakura, que não parava por nada. O loiro tinha certeza que ela apenas não tinha saído ainda por conta de Sasuke.

– Hinata está bem, Naruto? Ela ainda está aí?

– Sim. Está bem na minha frente. - o loiro lançou um olhar para ela, notando que estava presa nos próprios pensamentos. Aquilo o deixou curioso. - Eu não entendo…

– Por que ele não a matou? É nem eu. Ele podia, mas parecia…

– Que queria apenas me atiçar. Sasuke, ele está por aqui. Ele pode até não ter vindo de imediato, mas ele veio…

– O que eu não entendo é como ele soube onde você estava…

– Isso é simples. Eu nunca saí daqui a não ser para procurar os anciãos. Isso ficou muito óbvio, por isso estranhei a demora, mas ainda assim ele parecia…

– Ter certeza de Hinata? É, eu também percebi pelo o que você disse que foi. - ambos ficaram em silêncio por algum tempo até Sasuke o quebrar novamente. - Naruto e se Tenko não apareceu por sua causa? E se a morte de Hinata antes não foi apenas porque ela estava atrapalhando os planos dele…

– Você não acha que… - mas ele parou. Era claro agora. Tão claro que se xingou por não pensar naquilo antes. - Sasuke, eu te ligo assim que resolver algo e descobrir alguma coisa. Enquanto isso, mantenha Sakura na dela ou as coisas vão se complicar. Preciso falar com Hinata…

Assim que ele apertou o botão para desligar o celular, os olhos de Hinata encontraram os dele. Tinha ouvido a parte final do que ele tinha dito, de alguma forma imaginava do que era. Com todos os acontecimentos bons, tinha acabado por se esquecer de contar algo ruim. Não se sentia bem agora, pois acabava parecendo que escondera de propósito. Se sentia envergonhada por isso. Naruto, por outro lado, apenas a encarava, a analisando. Com um pequeno aceno com a cabeça, a chamou para perto e lentamente foi o que a Hyuuga fez, sentando-se ao lado dele.

– Você tem alguma coisa para me dizer, não é mesmo? - ele perguntou em um tom calmo e baixo. Descobrira isso apenas a olhando naqueles segundos.

– Era pra eu ter dito antes. Mas eu queria estar perto de você, queria te dizer pessoalmente. Então tivemos um dia maravilhoso e acabei realmente esquecendo. Não escondi por querer, isso eu juro.

– Eu acredito. - disse logo, pegando a pequena mão de Hinata e deixando seus dedos entrelaçarem-se nos dela. - Mas será que pode me contar agora?

– Você sabe não é mesmo? - ele acenou depois de ouvi-la dizer aquilo.

– Mas eu preciso saber como você soube.

– Neji me disse que era uma suposição sua e me pareceu algo que Tenko faria.

– O que, exatamente Neji supôs?

– Que Tenko não sabia que eu era filha de Shakko. Que usou a minha morte para ganhar poder. - Naruto estremeceu assim que a ouviu dizer aquilo. Era exatamente o que ele pensava também. - E por isso, quando voltei, ele perdeu essa parte de poder. Imagino que ele sinta… mesmo tendo muito mais, deve ser algo que lhe faz falta…

– Tenho certeza que sim. Para Tenko, poder é algo que sempre se precisa ter mais e ele almeja apenas isso. Eu sinto muito por não cuidar dele antes de você voltar.

– Nunca mais diga isso! - ela o cortou rapidamente. Levou o dedo indicador até os lábios de Naruto, pedindo que ele se calasse. Apesar de ainda ter em sua voz aquele mesmo tom doce e gentil, ela tinha um brilho de confiança tanto na voz quanto nos olhos. - Você não estava pronto. Você não sabia como resistir às trevas. Isso você sabe agora. Tudo o que passamos serviu para lhe fortalecer e ambos sabemos disso. Então não diga isso nunca mais, pois se fosse antes… você sucumbiria às trevas. Eu não teria motivos para voltar.

Assim que a ouviu, Naruto a puxou para um abraço. A apertou forte em seus braços, respirando fundo várias vezes, sugando todo o ar e todo o cheiro dela. Aquilo não deveria acontecer agora. Nunca. Ele tinha tido esperanças, apesar de no fundo saber que não poderia correr daquilo.

Quando o telefone tocou, Hinata foi quem se afastou para que ele atendesse, mas em vez de ficar com aquilo apenas para si, atendeu já no viva-voz. Era Neji.

– Descobri algo no diário de Shakko. Desculpe Hinata, eu deu uma olhada… - Hinata rapidamente disse que aquilo não era problema e ele continuou: - Lá fala sobre dedicar um local, ou foi assim que ela chamou. Trata-se de tornar um determinado espaço um segredo e assim, ninguém que não fosse a pessoa que tivesse esse segredo quisesse, não poderia entrar.

– Como podemos fazer isso? Quando? Quem pode ser o dono do segredo ou sei lá o que?

– Pensei em ser a Hinata. Ela é quem estamos querendo proteger. Podemos arrumar um local para todos treinarmos e nos prepararmos. Uma hora Tenko virá e não será para nos assustar mais. - Naruto concordou, pensando imediatamente na floresta, que era onde cabiam todos. - Só tem uma coisa… há um limite e isso não é especificado no diário. Vamos precisar de um espaço que comporte a todos, mas não será muito grande. E apenas você e eu não seremos o suficiente para dedicar o local.

– Tenho mais duas Kitsunes ao nosso lado, isso não será problema. Algo mais?

– Sim… - Neji então parou, calculando suas palavras. Hinata não precisava olhar para ele para saber isso. - A dedicação funciona da seguinte forma. Apenas tem acesso ao local quem o dono do segredo quer. Quem chegar perto não verá nada a não ser o lado oposto, onde o segredo não alcança. Se tentar avançar, acabará lá ou voltando. Não é como se batesse em nada, é mais como se fosse transportado… o mesmo que as Kitsunes que controlam espaço e tempo podem fazer. – Naruto entendia muito bem como aquilo funcionava, pois ele podia fazer exatamente aquilo. - Mas não dura sempre. Se por acaso o penetra descobrir do que se trata tudo isso termina. Ele vê exatamente o que deve ser visto e consegue avançar.

– Tenko não vai demorar então… - disse Hinata, verbalizando tudo o que todos pensavam.

– Por isso temos que começar logo. - completou Naruto. - Sabe onde fica a clareira à leste do bosque, Neji? Pouco depois de uma cabana abandonada. - no que o Hyuuga respondeu que sim, Naruto continuou, conferindo a hora. - Ao nascer do sol nos encontre lá.

– Mas… Hinata não poderá sair de lá.

– Sim, eu imaginei isso. Por isso darei um jeito. Ao nascer do sol, não se atrase.

Foi assim que desligaram. Naruto informou que ligaria para Sasuke e Sakura para explicar o plano e a importância dele, de modo que Sakura não desse outra crise e enquanto isso Hinata foi para o banho. Teria de ficar muito tempo em um bosque, por isso queria aproveitar tal mordomia por muito tempo. Também ganhara um tempo para pensar. Ela tinha que descobrir se havia herdado alguma coisa de sua mãe, além da capacidade de ver a mancha nas pessoas. Tinha se decidido que faria isso enquanto todos também treinavam. Não podia ser apenas protegida, não aceitaria isso.

Quando saiu, Naruto disse que também tomaria um banho e começaria a arrumar as coisas para que pudessem ir. Ela aproveitou e fez um rápido e simples café da manhã para eles. Isso surpreendeu o loiro quando este viu. Hinata deu um pequeno sorriso e o abraçou.

– Pedi Neji que levasse algumas roupas pra mim, tudo bem? - ela estava ainda com a roupa do dia anterior. - E resolvi que se vou ficar por tempo indeterminado naquele lugar, merecemos um pequeno e rápido momento assim. - seu rosto estava avermelhado, mas ela estava confiante e isso agradou Naruto. Mesmo ainda tenso, ele se sentou para comer com ela.

– Sabe que não ficará lá sozinha, não é mesmo? - ele disse, a olhando. Hinata deu um pequeno sorriso, porque tinha esperanças daquilo. - Estou levando uma barraca caso a cabana fique fora de nossos domínios.

– Queria entender como essa dedicação ou sei lá como seja isso funciona.

– Levando em consideração que Shakko tinha seus poderes todos voltados pra Natureza, ela deve ter muito a ver com isso. Vai ser bom você está lá…

– Obrigada por não me deixar de fora…

– Hinata. Eu não poderia lhe deixar de fora, porque você faz parte da minha vida. Quero que entenda uma coisa: você deve estar a meu alcance de agora em diante, porque não posso viver sem você novamente. Entende isso? Pode me prometer isso?

– Apenas me prometa não deixar que eu viva sem você. Eu não suportaria.

– Tenko não vai ganhar, eu prometo. - Hinata quis contra argumentar que aquilo não era a mesma promessa, mas o celular de Naruto tocou, indicando que era hora de irem. Não tinha acabado. Eles ficariam lá, teriam tempo para isso. Ela não deixaria que ele escapasse daquela promessa.

O sol ainda não tinha nascido, mas dava indícios de que a qualquer momento aquilo aconteceria. Os dois corriam para o bosque, deixando tudo mais para trás, não querendo chamar atenção. Não querendo que ninguém mais soubesse onde iam. Porém, os planos nem sempre saem como se deseja.

Kaoru estava parada na janela de seu quarto, o quarto de empregada era voltado para o bosque e com um pequeno sorriso, quase sonhador, ela observava seu patrão e a noiva correrem para lá. Não tinha ideia do motivo daquilo ou de porquê estava olhando, mas não conseguia desviar os olhos dali por mais que tentasse.