Lágrimas Peroladas escrita por SBFernanda


Capítulo 11
Capítulo Dez: A Kitsune Branca




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Capítulo Dez: A Kitsune Branca

 

Parece clichê dizer que grandes inimizades nascem de grandes amizades, mas alguns clichês realmente são reais. Esse foi o meu caso com Tenko. Éramos parecidos em quase tudo. Desejávamos ser reconhecidos, que nossa raça fosse reconhecida. Desejávamos ter poder, fazer a diferença. Mas nossa grande diferença sempre foi o fim para o qual queríamos aquilo, eu só demorei a notar isso.

Tenko sempre gostou de mostrar força, desde jovem. Mesmo perdendo alguns duelos com Kitsunes mais velhas, ele as desafiava apenas para observar como elas lutavam. Eu sempre observava meus mestres. Tenko sobrepujava os mais fracos, mas isso eu só fui ver muito tempo depois, quando nossa amizade foi abalada. Eu era exatamente aquela amiga que não via o que não queria ver.

Isso, até ele mexer com quem não deveria. Foi quando eu estava completando meus 900 anos. Treinávamos juntos, vivíamos juntos… Nossas antigas famílias eram amigas de longas eras, como sempre acontecia com as Kitsunes. Mas quando me apaixonei pela Kitsune Azul… Tudo mudou. Eu sinto ter me afastado de Tenko e isso o irou. Ele nunca sentiu tal sentimento por mim, isso posso afirmar com certeza, mas eu era a mais forte que ele tinha ao seu lado e me perder significava perder poder. Ele mesmo dissera isso em um momento de raiva. Momento esse em que ele matou meu noivo.

Este foi o momento que nossa inimizade nasceu. Por mais que eu quisesse perdoá-lo e me esforçasse para aquilo, ele não queria. Estava sempre, cada vez mais, buscando formas de mostrar quem ele realmente era e ficando mais forte. Não havia sequer uma Kitsune que quisesse enfrentá-lo. Não entendia como nem mesmo as mais antigas poderiam temê-lo, pois sabia que o poder de uma Kitsune apenas aumenta e se desenvolve com o passar dos anos.

Tenko mexia com o mais perigoso dos poderes: o poder maligno. Foi a partir dele que as Kitsunes passaram a ser temidas por todo o mundo. Ele não tinha receio algum de mexer com o tempo e com o espaço. Aparecia onde bem queria com apenas um ou meio dia de viagem, correndo. Destruía cidades, matava pessoas, fazia sacrifícios em seu próprio nome. Com o tempo, descobri que esses sacrifícios aumentavam seus poderes. O poder maligno se alimenta da energia vital. Foi assim que decidi que tentaria detê-lo.

Meu treinamento começou quase como o dele, sempre a meditar, a lutar, desmaiar de tanto treinar. Eu desafiava as outras Kitsunes e usava meus poderes com elas, mas nunca as sobrepujava. Nunca lutava contra quem era mais fraco por isso, mas com quem era mais forte sim, pois estas sempre tinham algo para me ensinar. E era sobre isso que se tratava, elas apenas lutavam comigo para me ensinar o que sabiam, para me passar o que achavam que podiam. Só acontecia se elas quisessem.

Enquanto Tenko destruía o mundo humano eu o conhecia e aprendia a apreciá-lo. Os humanos tinham costumes interessantes e por mais que tivessem medo de nossa raça, quando conheciam a mim e meus amigos, pareciam maravilhados. Nós não os atacávamos e, mais do que isso, nós tentávamos transmitir a eles a segurança pelo olhar, além de nossas palavras. Palavras podem ludibriar, eles tinham aprendido isso com Tenko, mas um olhar nunca enganava. Ganhei nova força com aqueles pequenos e frágeis seres humanos. A vida deles era curta demais e, ainda assim, sabiam demonstrar mais do que qualquer um de nós. Isso me maravilhou a ponto de sentir que precisava protegê-los.

Um velho ancião Kitsune, de nome Tsuno, me ensinou a ver a mancha em cada pessoa e Kitsune. Não é algo difícil, mas quando está no início é quase identificável. Começa talvez na mente ou no coração. De fato é uma mancha negra, como uma fumaça de fogo bem escura, que nunca fica parada e sempre, a cada vez que consegue tocar algo, aumenta.

É difícil descrever essa mancha, ela é mais escura que fumaça, mais consistente do que tal, mas se move com a mesma tranquilidade. Como uma ameba, pode criar pseudópodes, e são eles que são capazes de tocar suas ideias (caso esteja em sua cabeça) ou seu coração. Tudo depende do que lhe impulsionou a começar a praticar atos desta forma. Razão ou amor? Fiquei surpresa ao saber que Tenko tinha uma grande massa em ambos os lugares. Ele amava o poder e se sentia rejeitado por mim. Não de uma forma romântica, mas ao decidir o amor, eu rejeitara o poder, era assim que ele via.

Sem cansar passei mais dois séculos treinando, um treinamento árduo em que sempre tentava tirar a mancha de todos aqueles que tinham começado a serem infectados por ela. Por sorte, muitos se deixaram ser curados. Meus amados familiares diziam que esse deveria ser meu poder único, especial. Cada Kitsune tem o seu e esse era o meu. Dar instruções de como o fazer é praticamente impossível, eu apenas desejava o fazer e se esse fosse também o intento de outra Kitsune ou humano, o mesmo acontecia.

O duelo com Tenko era inevitável. Ele perdia seguidores, perdia poder. E novamente era culpa minha. Seu ódio contra mim crescia a cada dia mais por conta disso. Ele realmente me odiava agora. Por isso, em uma madrugada, ele me procurou. Era o fim. Era o fim e ambos estávamos prontos para tudo. Eu estava pronta pra morrer, mesmo que esse não fosse o meu intento. Ele estava pronto para me matar.

Tenko sempre foi a Kitsune negra como a noite. Porém, seus olhos, antes em um prateado aconchegante, se tornaram vermelhos como sangue. Havia tanta maldade nele que não conseguia distinguir o que era ele e o que era a mancha. Tenko era formado por elas. Naquele momento, pensei que ele não tinha nenhuma salvação. Ele se deixara ser tomado por toda a maldade. Ele cheirava a morte.

Nosso duelo não foi marcado pelo combate físico. Eu e ele apenas lançávamos nossos poderes em direção ao outro, fazendo o que podíamos para não nos tocarmos. Fogo, ele sempre usava fogo contra mim. Por mais que isso também fizesse parte de quem eu era, o fogo não era algo que eu apreciava. Preferia a minha especialidade: a natureza. Com tanto treinamento, eu havia aprendido a usá-la para meu auxílio. E se ela percebesse que era para o bem, me ajudava de bom grado. Nós éramos seres naturais, fazíamos parte dela. Mas não Tenko, não mais. A natureza o repudiava.

Mas chegou o momento em que o combate se tornou físico. Nossas caudas nunca se encontravam, mas eu tentava sempre o acertar com cada uma delas e ao mesmo tempo me desviar das dele. Ambos tínhamos as nove caudas prontas para atacar e defender. Nossas garras afiadas tentavam rasgar a garganta um do outro, mesmo que muitas vezes eu hesitasse em o fazer. Foram diversas as vezes que Tenko quase atingiu meu coração.

Neste instante eu vi… uma pequena ponta daquele pseudópode maligno tentar tocar algum ponto já tomado por ele e fechei os olhos, concentrando-me naquele ponto. Senti, ao mesmo tempo, algo se fechar em meu pescoço. As grandes patas de Tenko. Se eu não conseguisse, ele me mataria sem pensar duas vezes. Mas assim que pensei isso, sorri. Aquele pseudópode parou ao sentir minha presença, porque, de alguma forma, era como se eu estivesse o tocando, o puxando para longe. Tenko ficou confuso com aquilo, senti seu aperto afrouxar em meu pescoço. Aproveitei disso para torcer aquela parte do pseudópode e como se tivesse, de repente, mudado sua natureza, ele endureceu. Tenko vibrou de fúria e me empurrou para longe. Eu acabei quebrando aquela parte. Talvez nunca se recuperasse.

Tenko ficou abalado, visivelmente assustado com o que eu tinha feito. Ninguém nunca esperava aquilo. Mas ele não queria ser salvo. Deixou isso bem claro antes de vir para cima de mim novamente. E mais uma vez lutamos fisicamente e com nossos poderes. Seu fogo me queimou, a natureza o machucou, fazendo-o sangrar. Até mesmo seu sangue era negro.

E foi então.

Subi em cima dele, duas de minhas patas em sua barriga, uma em sua cabeça e outra em seu pescoço, pronta pra arrancar sua cabeça. Naquele momento, eu precisava fazer uma escolha. Naquele momento, eu vi o temor nos olhos do meu velho amigo. E decidi deixá-lo viver, contanto que ele parasse de fazer tanto mal às Kitsunes e aos humanos ou eu o mataria. Seu sorriso, ao se afastar, era de quem buscaria vingança. E, naquele momento, eu soube que ele ainda tinha muito a sucumbir à escuridão.

A partir daquele momento eu fiquei conhecida como sou hoje e serei para sempre. A Kitsune Benevolente. A Kitsune Branca. Sempre fui branca, porém, a cada passo que dei em direção a salvar os humanos tanto quanto às Kitsunes, havia algo mudando em mim. Minha aura branca se tornou quase brilhante. Era difícil não me reconhecerem. Talvez, enfrentar Tenko e mantê-lo vivo tenha sido o que faltava para mostrar minha verdadeira essência.

Meu treinamento mais detalhado segue a seguir. Peço perdão se não tiver tantos detalhes quanto gostariam, eu sou apenas uma velha Kitsune e estou me esquecendo das coisas. Mas façam de todo o coração e tenho certeza que tudo dará certo.

— Shakko

Naruto e Hinata estavam, lado a lado, lendo. A voz de Hinata é que enchia o recinto conforme ela lia as palavras escritas no diário. Naruto estava um pouco ofegante ao terminar e, sem perceber, ele colocou a mão na cabeça, suspirando. Hinata não desviava os olhos daquelas palavras. Tinha esperado Naruto chegar para continuar lendo, mas estava imensamente ansiosa para continuar, para ler mais sobre o treinamento.

Fora até mesmo engraçado. Depois de ligar para o loiro, ela saiu da biblioteca e ficou sentada na sala de estar, apenas encarando o lado de fora pela janela, para ver Naruto chegando. Ele não demorara muito, trazendo consigo uma caixa de donuts, não era algo típico de onde moravam, mas a cultura americana já fazia parte da vida de todo mundo, eles não ligavam de comer algo assim. Porém, nenhum dos dois ligara muito para o que comer, apenas se sentaram lado a lado, se encarando em silêncio antes de ele pedir que ela lesse. E assim o fez.

— Então realmente existe a Kitsune Benevolente — ele comentou baixinho. Hinata apenas assentiu. — E ela deixou isso para outras…

— Isso é realmente incrível, mas me pergunto como minha família o achou. — De fato, era algo curioso. — E se não é errado manter. Tantas Kitsunes precisam disso…

— Talvez ninguém mais tenha o poder de Shakko, Hinata. — A menina o olhou, confusa. — Digo, ela conseguia tirar essa… mancha. Não parece ser algo fácil.

— Mas você viu… É preciso querer. Eu acho que ela descobriu outro jeito, cada um podendo fazer. Ou ela não deixaria isso, Naruto.

O loiro apenas afirmou, confirmando, mas parecia um pouco perturbado. Hinata, extremamente curiosa, se segurou para não perguntar o que era, mas passou a observá-lo. Ao notar isso ele sorriu e comeu um donut.

— Fico me perguntando há quanto tempo isso está aí.

— Não estava há poucos dias. Eu me lembraria — ela disse, fechando o caderno, mas o deixando em seu colo. — De algum modo, alguém sabia que eu estava procurando isso e sabia onde estava — dizendo isso, ela mostrou a ele o bilhete.

— Isso é… estranho — disse simplesmente, mas a jovem podia notar a preocupação dele com o fato.

— Alguém está nos ajudando — disse ela em voz baixa, tentando o acalmar e sorrir. Mas não funcionou. — Pode ser Shakko…

— Não acredito que seja ela — ele murmurou. Hinata o olhou, perguntando sem ao menos falar. O loiro sorriu e abriu o caderno. Colocou o bilhete ao lado e apontou. — Letras diferentes. Seja quem for, apenas tome mais cuidado, por favor, por favor… ___ ele sussurrou.

— Não vejo perigo nisto, Naruto. — Ela estava sendo sincera ao dizer aquilo e virar-se de frente para ele.

— Eu sei — ele murmurou, mas então soltou um suspiro exasperado, tirou o caderno do colo dela e colocou sobre a mesa. Se aproximou da jovem e colocou ambas as mãos  em seu rosto. — Você deve me achar louco de mal lhe conhecer e já me preocupar tanto, mas eu gosto de você, Hinata. É como se…

— Se já nos conhecêssemos — ela completou, os olhos fechados e um sorriso no rosto. Naruto a encarou, tentando não mostrar tanta surpresa quando ela o olhou nos olhos. — Eu sinto isso também, Naruto-kun — dessa vez a voz da Hyuuga saiu mais baixa do que o normal.

— Isso é… — Ele não conseguiu completar o que diria. Simplesmente juntou os lábios nos dela em um beijo empolgado, feliz e o máximo carinhoso que podia. Nada, nem mesmo a preocupação que rondava em sua mente, poderia afastá-lo da alegria que sentia ao ouvir isso.

— Bom… - ela sussurrou, assim que ele afastou os lábios dos dela e ambos riram baixo. — Eu acho que…

— Você precisa ir, não é? — disse, lendo o olhar dela. Hinata sempre se surpreendia em como ele conseguia sempre ler o que ela relutava em dizer. Sorriu por isso e afirmou. — Tudo bem, eu estou atrasado também. Posso te pedir uma coisa? — Esperou, mas quase imediatamente ela afirmou. — Posso tirar foto para… dar uma olhada também? — Apontou para o caderno e Hinata sorriu.

— Apenas se você compartilhar o que conseguir descobrir e o que achar interessante comigo, promete?

— Sempre — ele disse com certa intensidade. Ela corou por isso, mas logo Naruto estava entretido tirando as fotos no celular e ela o observando. Não demorou para se despedirem, ela, com a desculpa de que iria terminar de arrumar algo antes de ir, não pegou carona com ele.

Hinata apenas queria entender o que estava sentindo, mas, por mais que pensasse, só conseguia sentir a mesma coisa: que era certo, que não deveria temer aqueles sentimentos.

Naruto, por outro lado, seguiu direto para casa, com um único telefonema para o escritório dizendo que não iria aquele dia. Em seguida, ligou para a casa de Sasuke e Sakura, sabia que ambos estariam lá ainda naquela hora e não se enganou ao pedir para a rosada o colocar no viva-voz.

— Preciso de ajuda. Primeiro, Sakura, preciso que fique de olho em Hinata, alguém a está observando e não acho que seja um bom sinal, mesmo que isso tenha nos ajudado. — Explicou rapidamente sobre o diário de Shakko. — Sasuke, preciso de você. Precisamos treinar. — Aquilo empolgou o amigo, ele percebeu. ­— Mas ainda mais… Preciso de um plano para que Hinata descubra de mim. — Ambos ficaram quietos. Ao que Sasuke perguntou o que tinha mudado, o loiro sorriu abertamente, mesmo sabendo que os amigos não veriam, antes de responder. — Ela sente o mesmo que eu.


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Notas finais do capítulo

Então gente, algo ficou confuso? Se sim, pode dizer e perguntar, vocês sabem que eu sempre respondo aos comentários.
Se não for muito pedir, digam-me o que estão achando...



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