— Harley?

— Hmn?

— Você acha que, quando o papai morreu, o céu estava tão bonito quanto está hoje?

Os dois garotos estavam sentados no telhado, a cabeça de Peter encostada no ombro de Harley. O céu se estendia infinito acima deles, exibindo milhares de estrelas num céu sem luar, seu brilho sendo o suficiente para iluminar palidamente as feições de Pete. Os olhos dele estavam vazios ao mesmo tempo que transbordando de emoções ao fazer a questão, observando as estrelas como se elas fossem a coisa mais fascinante que ele já tinha visto em sua vida.

Hoje era o aniversário da morte de Aidan, e os irmãos haviam saído para ver as estrelas. Isso tinha se tornado um tipo de tradição, agora. Nas primeiras vezes que fizeram aquilo, Harley tivera de ajudar Pete a subir porque este tinha as pernas muito curtas, tendo dificuldade em escalar ele mesmo. Agora os garotos eram grandes, em plena puberdade. Em vez de responder, Harley apontou para um ponto aparentemente aleatório no céu noturno.

— Canis major. — murmurou, seguindo os traços da constelação com a ponta dos dedos.

Aidan costumava ensinar os meninos as constelações. Acordaria os dois tarde da noite e arrastaria as crianças sonolentas para o telhado, apontando todas as constelações que ele conhecia. A cada vez que um dos irmãos acertava o nome de um dos conjuntos de estrelas, Aidan lhe dava um biscoito de chocolate como recompensa. O prêmio serviu como um incentivador eficiente, e não demorou muito para que os dois aprendessem tudo.

— Centaurus. — Rebateu Pete, desenhando com as estrelas, um monte de pontinhos brilhantes se tornando um desenho elaborado em sua mente de artista.

Fazia mais de seis anos desde a última vez que Aidan havia subido aquele telhado com os dois, mas a morte dele ainda era uma ferida aberta, sangrando a cada vez que lembravam. A dor era quase insuportável, as vezes. Depois de um sonho onde a risada estrondosa ainda ressonava nos ouvidos de Peter, quando alguém citava seu nome, sempre seguido de um “Aidan era um bom homem, com certeza”, o uso do passado deixando um gosto amargo em sua boca. Outras vezes, era quase como se ele tivesse aprendido a viver com a dor, se lembrando do modo como ele contava histórias de dormir e dando um sorriso melancólico, cheio de saudade. Ele nunca poderia esquecer, apesar disso, e era bom vir aqui todo ano. Tornar a lembrança mais forte.

Da primeira vez, ele havia sido acordado por um som quase imperceptível, murmúrios de choro sendo levados pelo vento. Ao subir o telhado com dificuldade, encontrou Harley abraçando os joelhos ao chorar nas telhas de madeira. Peter havia corrido até ele e o abraçado, mas seu irmão não havia dito nada, somente apontando para o céu e murmurando “Andromeda”, e assim o costume de ir ao telhado observar as estrelas se iniciou.

Seus olhos ardiam um pouco, algumas lágrimas fazendo seu caminho para o canto deles. Peter não tinha vergonha de sua tristeza, pura e latente como era, e deixou as lágrimas escaparem, apertando um pouco mais a cintura do irmão. Harley percebeu e, com seus próprios olhos marejados, deu um beijo no topo da cabeça de Pete, dando outro na testa e um no nariz, fazendo Peter sorrir, até chegar em sua boca.

Peter sabia que os dois eram irmãos, mas não podia se importar menos. Os lábios de Harley eram quentes e lhe faziam se sentir seguro, em casa, como quando ele era pequeno e seu pai o colocava em cima de seus ombros, correndo cada vez mais rápido ao seu pedido. Não havia nada de sexual no ato, então porque aquilo devia ser um problema? Pete sorriu em meio ao beijo, se separando para poder abraçar Harley.

— Gemini. — Harley sussurrou em seu ouvido, como que contando um segredo, e sorriu para ele, contente ao ver o irmão feliz mais uma vez.

O resto da noite se passou dessa maneira, construindo memórias boas diante de uma tristeza que ia, aos poucos, cedendo à felicidade.