Segredo Shinobi escrita por Dani Cavalcante


Capítulo 1
Capítulo único




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Havia melancolia naqueles olhos azuis, e Gaara se repreendeu por achar que ela ficava mais bela assim. Eram raros os momentos em que Ino deixava sentimentos distraí-la.

Concentre-se.

Ino se assustou. Olhou para o chão disfarçando o rubor. Treinar seus movimentos com o Kazekage não era uma tarefa simples. Além de não pegar leve, ele tinha o dom de intimidá-la, mesmo após alguns meses em que o relacionamento entre os dois já avançava consideravelmente.

O objetivo era simples. Ao menos era o que Ino pensou quando Gaara sugeriu aquele treino. Tudo o que ela deveria fazer era tocar um boneco de madeira deitado no chão. O problema era que o Kazekage utilizava seus jutsus com areia para impedi-la.

É mais fácil acertá-la do que a um poste.

Normalmente aqueles comentários irritavam, assim como aquela postura esnobe dele. Ficava apenas de braços cruzados, às vezes parecia que nem olhava para ela.

Seu companheiro de missão está perdendo sangue. É bom chegar logo até ele.

Eu sei!

Ino saltava entre os braços de areia investidos contra ela. Pulou, apoiando-se no tronco de uma árvore e dele mergulhou no ar, visando o boneco. Foi atingida em cheio por um chute no rosto. Quando foi que ele se movera tão rápido?

Com a mão no rosto, esforçou-se para segurar as lágrimas. Não de dor, ao menos não a física. Gaara estendeu a mão.

Desculpe, mas não podemos pegar leve, não agora. Você tem certeza que pode fazer isso? Não é como se não houvesse outros capacitados para essa missão.

Não seja ridículo. Precisarão de mim.

Sim. Você será necessária para rastrear os chakras e se comunicar com ela, e saber tudo sobre os inimigos, e ainda utilizar o toque para curar algum ferido. – Gaara se aproximou, tocando-lhe o braço – Eu sei que não é fácil para você. Mas pense que para Sasuke e Naruto deve ser ainda mais difícil, estando tão longe, indo atrás do líder inimigo.

Mais uma vez, Ino achou que deveria irritar-se por alguém lhe dizer o que já sabia. Porém o que ele não poderia saber era o quanto aquilo era difícil para ela. Desviou o olhar. Ele jamais saberia. Ninguém saberia.

A missão para resgatar Sakura estava revirando suas emoções e atirando-as ao alto, como uma criança faz ao descobrir como abrir uma gaveta cheia de roupas.

Gaara acariciou seu cabelo e deu-lhe um beijo na testa. Ela sorriu, pensando como o poderoso Kazekage poderia ser tão fofo.

A noite era clara em Konoha. As pessoas caminhavam pela rua como raramente faziam. Havia um clima de agitação, daqueles que ninguém sabe o porquê. Não era a ausência do Hokage, muito menos os ataques recentes. Havia uma sensação de que todos estavam mais próximos, visíveis uns aos outros, como uma noite quente de fim de ano.

Aqueles pensamentos a levaram a se lembrar daquela noite, tantos anos atrás. Ino e Sakura ainda eram crianças quando tiveram a virada de ano mais divertida de que podia se lembrar. Brigaram o tempo todo, é claro, e as ofensas naquela ocasião ganharam novos palavreados que Ino achava muito engraçados, na verdade. Mas o que a marcou realmente naquela noite foi observar a forma que Sakura realmente amava Sasuke. E pela primeira vez, não sentiu raiva, não a viu como uma rival. Sentiu ciúmes.

Sempre dividida”, pegou-se falando em voz alta. Ino gostara de vários meninos desde então, e realmente amava Gaara, e sonhava com sua futura vida ao seu lado, cuidando de filhos e de suas responsabilidades como esposa do Kazekage. Mas durante toda sua vida, enquanto gostava de um garoto, dividia seus sentimentos com seu amor secreto.

Abriu seu pequeno baú e retirou uma foto antiga. Chouji havia fotografado uma briga entre as duas rivais, só para provocá-la mais tarde. Ino fingia ter raiva daquilo, mas a verdade era que achava a foto encantadora. Sakura estava por cima dela, nervos a mil, segurando suas mãos contra o chão ao lado da cabeça. Claro que ninguém perceberia seus sentimentos ao observar aquela cena, mas Ino fez questão de pegar a foto de Chouji em troca de alguns pratos de comida, pois o retrato lhe fazia lembrar exatamente o cheiro do perfume que Sakura usava naquela ocasião. Era uma garota vaidosa, realmente, e Ino jamais conseguiria vencê-la em uma luta ainda que levasse a sério, pois em todas as vezes se via perdida entre os cabelos cor de cerejeira, os olhos verdes – como ficava linda com o olhar irritado –, os movimentos de seu corpo a cada golpe, suas mãos executando os jutsus da maneira mais perfeita possível. E principalmente seu chakra, tão equilibrado, controlado e suave...

Concentre-se. – ouviu a voz de Gaara e de seu pai, ao mesmo tempo, em sua mente. Lembrou-se o quanto a missão dependeria de sua concentração. Qualquer distração poderia romper a ligação com os companheiros durante a técnica de transmissão da mente.

Não sabia como se concentrar, não sabia nem mesmo porque aqueles pensamentos estavam lhe invadindo a mente agora. Já aprendera a conviver com a ideia de que nunca a teria, jamais poderia se aproximar demais, jamais poderia tocá-la... por isso era melhor brigar, assim sentiria seu corpo, sua pele, sua respiração...

Mas foi por isso que as coisas se complicaram, não foi?

Havia tempos que as duas não se aproximavam muito. Brigar por causa de Sasuke era algo infantil demais àquela altura. Ambas já eram bem crescidas para isso. Mas visitar Sakura após a guerra fora uma péssima ideia. Começar uma briga foi estúpido, rolar no chão com ela foi idiota, e pensar em beijá-la foi... bem, foi algo estranho. Poderia acontecer, ou poderia desencadear a pior sequência de eventos de sua vida, até mesmo se ver forçada a sair da vila. Perderia tudo, inclusive Gaara. Não era algo normal, precisava admitir.

Como sempre fez em toda a sua vida, em muitas grandes decisões que influenciariam sua vida pessoal, preferiu não arriscar. Em compensação, se tornara muito boa em decisões críticas no campo de batalha. Esse era o seu forte. E ainda assim, nunca pôde competir com Sakura em méritos, atenção ou qualquer tipo de destaque.

Ino era invisível.

Irônico, não? A maior rival no amor e na vida shinobi, era uma garota que desejava desesperadamente possuir. Incompreensível.

E agora, essa mesma garota estava desaparecida, provavelmente raptada, e a equipe de resgate dependia de Ino. Era a primeira vez em muito tempo que recebeu tanta atenção da vila. E a primeira vez que teve medo de usar sua transferência da mente em uma missão. Ainda mais com todas aquelas emoções explodindo em sua cabeça. Ela já aprendera o suficiente que emoções fortes são facilmente transmitidas com esse jutsu. O menor descuido e toda sua equipe ao ser conectada à sua mente – inclusive Sakura – saberia o que ela sentia, o que carregava por tanto tendo.

Toda aquela angústia e rejeição. Todo o medo de perdê-la para sempre.

Quando o movimento nas ruas aumentou, Ino percebeu que segurava a fotografia contra o peito. Foi até a janela. Havia um aglomerado de gente se dirigindo para a entrada da vila. Decidiu correr, na esperança da volta de Naruto e Sasuke, que como sempre, trariam mais segurança e levantaria a moral da vila.

Mas ao se aproximar dos portões de Konoha, os passos da Yamanaka diminuíram de velocidade na mesma proporção que o coração acelerava. Era Sakura quem retornava, com um sorriso cansado, narrando a Kiba, Chouji e Shikamaru como havia escapado do esconderijo onde fora aprisionada.

Ao ver Ino paralisada a uns quinze metros de distância, Sakura esforçou os músculos para um sorriso mais caloroso. Ino tentou controlar os sentimentos, mas tudo o que conseguiu fazer foi correr pateticamente para longe, para o alto de algum telhado distante, afim de que ninguém a visse derramar suas lágrimas de alívio. Sakura Haruno estava salva, era forte o suficiente para se sair bem sozinha, e voltara para ser o centro das atenções. Ino deveria novamente retornar a seu lugar de invisibilidade e admirá-la de longe.

Porquinha fujona...

Aquele foi com certeza um dos maiores sustos que uma shinobi poderia levar. Ino voltou-se como quem fora pega no ato de roubar, ou coisa pior. Sakura olhava para ela com aquele mesmo sorriso sincero, porém ainda cansado. Estava ferida e suja.

Vá tomar um banho antes de me chamar de porca.

As duas sorriram por motivos diferentes. Talvez nunca entendessem realmente uma à outra. O sorriso da Yamanaka foi se contorcendo em uma expressão quase de dor e Sakura surpreendeu-se com as repentinas lágrimas. Ino correu para abraça-la, precisava envolvê-la, molhar seu pescoço e prender seus cabelos entre os dedos, precisava chorar alto.

Ino...

Precisava dizer tudo, deixar escapar o que temia que Sakura descobrisse desastrosamente através de seu justu de telepatia durante alguma missão de vida ou morte, precisava...

Desculpe... eu... eu...

Não conseguia. Não havia palavras naquele idioma estúpido, ou articulações naquela cultura shinobi rígida e focada na guerra. O rosto queimava e as lágrimas lavavam um pouco da sujeira no pescoço e rosto de Sakura.

Decidiu que não pensaria em palavras, já que elas não serviam de nada. Deslizou seu rosto pelas maçãs da face de Sakura e as mãos pela sua nuca por baixo dos cabelos. Sentiu a respiração da outra acelerar e pensou ter ouvido um suave sussurro, dizendo seu nome, o hálito escapando, quase em seus lábios.

Beijou-a com a vontade de todos os anos que manteve o segredo. Beijou-a com o vigor que guardara para a missão daquela noite. Beijou-a e transferiu suas emoções telepaticamente.

Sakura permaneceu passiva e tensa, por alguns momentos, mas não a afastou. Aos poucos, suas mãos percorreram as costas de Ino e à medida que os pensamentos dela lhe invadiram a mente, compartilhou suas lágrimas. Pouco a pouco, puxou-a para si, e retribuiu o beijo, confundindo as emoções dela com as suas. A transferência de mente estava confusa, não havia palavras ou pensamentos. Apenas emoções tão fortes que não sabia como Ino poderia ser tão forte para suportá-las em segredo por tanto tempo. Em poucos minutos, aqueles sentimentos lhe invadiram a mente de forma tão brutal que não sabia mais quais eram as de Ino e quais eram a dela mesma.

Ou se eram um só sentimento, há muito escondido, sufocado e compartilhado entre as duas.

Quando sentiu o amor que Ino também tinha por Gaara, confundiu-se com o amor que ela própria tinha por Sasuke. Tudo misturou-se de forma assustadora e maravilhosa, os corpos se diluíam e os corações pareciam ter o mesmo ritmo. Imaginou que essa era a sensação de duas pessoas se tornarem uma só.

Quando os lábios se separaram e o jutsu foi cancelado, Ino viu que Sakura também chorava, e não sabia mais porquê. Ficou envergonhada com a possibilidade de que a tivesse deixado triste. Sakura colocou a mão atrás da cabeça, meio sem graça, e sorriu.

Você não é invisível, nem desnecessária, porquinha. Estarei sempre aqui para você.

Ino teve vontade de chorar outra vez, mas se conteve e sorriu de volta. Novamente, palavras eram tão desnecessárias quanto insuficientes, e desperdiçar o momento com elas seria tolice.

Sakura deu-lhe um beijo na testa. Ino ficou imaginando porque raios todos faziam aquilo com ela. Não que fosse ruim, ela gostava daquilo. Era como se a estivessem protegendo. Tanto Gaara quanto Sakura eram muito mais fortes que ela, então era algo lógico de se esperar, e de se gostar.

Aquilo não mudaria nada na vida das duas, Ino sabia disso. E talvez fosse assim que as coisas deveriam ser. Tudo o que precisava era dividir aquilo com ela e, ao menos isso, terminara bem. Sorriram uma para a outra em um silencioso acordo, deram as costas e se afastaram. Cada uma seguiu seu caminho, deixando naquele lugar um segredo sem palavras, como todo bom shinobi teria feito.


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Notas finais do capítulo

Well, I tried, espero que tenha sido o que minha amiguinha pediu. Sei que não é bem o que prometi nas mensagens, mas não tenho culpa, os personagens mandaram em mim hahahahaha acho que na verdade, como disse a você, gosto desse shipp, e eu queria ver algo assim, então acabei fazendo isso -q
So, feliz natal pra vc Yasmin, e felicidades e tudo o mais ^^



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