Coração de Água escrita por Aleakim


Capítulo 1
Capítulo um - Lágrimas a Cair.


Notas iniciais do capítulo

"Dentre tantas pessoas que queriam ajudá-lo, ele ainda preferia ficar a observando dia após dia, nutrindo esperanças de poderem se encontrar novamente, de terem mais lembranças juntos. Nem mesmo uma família nova poderia tirar esse desejo do jovem."



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Kagamine Len tinha dez anos quando seus pais vieram a falecer. Era uma terça-feira, estava saindo da escola, foi aí que uma das professoras veio lhe informar sobre o acidente de carro que acontecera naquela manhã. A principio, pensou que era uma brincadeira de muito mau gosto, tanto que correu imediatamente para casa, na esperança de encontrar sua mãe de braços abertos para ele. Aquilo não aconteceu, e nunca mais aconteceria.

Sentou-se no sofá da sala, se segurando para não começar a derrubar lágrimas. Doía, é claro que doía! Seus pais cuidaram dele desde que nascera, e agora não podia mais os ver, nunca mais. Era como se estivesse em um pesadelo sem fim, e nada conseguiria o acordar e ver a realidade.

Sua irmã chegou alguns minutos depois, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar com o desespero da grande perda. Seu nome era Rin, gêmea de Len. Atualmente, não se pareciam tanto quanto no início da infância, pois a diferença de personalidade também os distanciou. Agora, tinham algo em comum para sofrer juntos, algo que nada apagaria, e sua maior fé seria o tempo conseguir aliviar tudo aquilo.

- Minha irmã... - Len murmurou, enquanto se aproximava de Rin para abraçar-lhe com toda força. Estavam sozinhos, porém, unidos. E sabiam que não teriam de se soltar tão cedo. - Por favor, não chore, nossos pais não iriam querer que sofrêssemos tanto, sei que dói, mas... Vamos ficar bem, juro.

Ela o empurrou, sem mais, nem menos. Como se quisesse evitá-lo a todo custo, não importava a situação. Apenas deu de ombros e correu para o quarto, onde poderia chorar sozinha, em paz. Agora, Len estava definitivamente sozinho. Sem pais, sem o apoio da irmã, sem ninguém para lhe dizer que vai ficar tudo bem. Pegou uma garrafa d'água na geladeira e colocou numa pequena bolsinha, em seguida, caminhou até a porta e sumiu pelas ruas, caminhando sem rumo para sabe se lá onde.

Não vou voltar pra lá, pensou. Também não irei viver com ninguém de minha família. Prefiro ser órfão a partir de hoje.

Eram palavras duras para dizer a si mesmo sobre que caminho seguir. Eram escolhas demais, e tinha que as tomar sozinho pois sabia que não teria mais apoio. Mas e se parasse de caminhar? E se simplesmente morresse e fosse viver com os pais? Era uma opção, certo? Ia segui-la.

Len morava próximo de um pequeno rio que passava pelo lago, uma pequena ponte transportava as pessoas de um lado ao outro. Era lá que pretendia pular. Primeiramente, pensou em se atirar na frente dos trilhos de um trem, mas não lembrava onde tinha uma ferrovia. A ponte foi a segunda opção.

Quando faltavam poucos metros para chegar no rio, conseguiu observar uma garotinha sentada na beirada da ponte, olhando com fixação para a água se movendo com violência, não era de se admirar, estava ventando com certa força. A menina tinha cabelo curto e verde claro, o que fez Len ficar levemente interessado no estilo dela. Aparentava ter a mesma idade que ele. Sem pensar, sentou-se ao seu lado.

- Hum, oi - sua voz era doce e fina. Ela se virou para o garoto e ele pôde notar de perto sua beleza; Os olhos eram num tom de verde um pouco mais claro que o do cabelo, isso a deixava incrivelmente bela. A pele clara e as poucas sardas disfarçadas em seu rosto realçavam seu olhar que, de longe, era o ponto mais admirável que a garota tinha.

- Olá - Len deu um sorriso meio forçado, que desapareceu assim que a menina retornou a olhar para o rio. - Por que olha tanto a água?

- Estou olhando a água? - Ela piscou os olhos com delicadeza, talvez finalmente percebendo o que estava fazendo. - Ah, sim. Desculpa. Estava pensando. Minha melhor amiga mudou de cidade nessa manhã, estou pensando no que farei sem ela por perto.

- Meus pais morreram nessa manhã e minha irmã gêmea quer distância de mim. Será que pular dessa ponte curaria a sensação de vazio? - Seu tom de voz soava meio sarcástico, mas falava sério. Ele realmente pularia da ponte se fosse para o vazio em seu coração sumir.

- Ah, acho que entendo. Moro com meus tios. Minha mãe morreu dois anos atrás e meu pai está do outro lado do mundo no momento, não me dá muita atenção. Mas perder os dois de uma vez... Que coisa, né? Enfim, sinto muito, acho que posso te dizer várias coisas para você se sentir melhor, mas nenhuma funcionará. Nunca funciona.

Len ficou perplexo com a garota. Ela também sentiu a dor que estava o consumindo e não estava bem atualmente, mas mesmo assim conseguia falar com tanta sabedoria sobre sentimentos que nem eram seus. E estava certa, isso o encantou de certa forma. Fez-se silêncio por alguns minutos, até que o garoto decidiu cessá-lo.

- Qual é seu nome? - Murmurou baixinho, não esperava que ela diria para um desconhecido, mas perguntar não custava nada.

- Gumi - sorriu. Um sorriso incrivelmente honesto e delicado, se Len pensou que seus olhos eram a parte mais linda da garota, estava errado. - E o seu?

- Len - o modo como ela sorriu era cativante e puro, era provável que, se ela pedisse para o presidente dos Estados Unidos rebatizar a capital do país com seu sobrenome e desse aquele sorriso, ele concederia sem hesitar.

- Tudo bem, Len - levantou-se, o que fez com que o garoto realizasse a mesma ação. - Eu tenho que ir agora. Devo voltar no mesmo horário amanhã... A gente se vê?

No entanto, Len não respondeu. Estava ocupado demais contemplando detalhe por detalhe da garota. Estava usando sandálias brancas com algumas flores em volta, junto de um short não-muito curto azul e uma regata branca com estampa do Mickey. Demorou um pouco para notar a margarida que estava em seu cabelo, em cima da orelha esquerda.

- Len? Planeta Terra chamando O Loirinho dos Olhos Azuis, responda. Temos uma missão importante para ser executada! - O modo com que falou fez ambos rirem.

- Ah, sim, sim, a gente se vê! - Falou em meio ao riso, quando finalmente pararam, ela se aproximou de seu rosto e beijou-lhe a bochecha direita. Pôde sentir seus lábios delicados tocando-lhe a face, juntamente das pétalas da flor que roçavam seu cabelo.

- Até amanhã! - Gumi virou de costas e correu para longe da ponte, onde encontrou um casal bem-formado que a aguardava.

Len ficou parado até ver a garota se afastando com o casal. Os planos de pular da ponte estavam completamente cancelados. Ele tinha de escolher um caminho, mas poderia ir reto por mais um tempo, e gostaria que ela fosse sua acompanhante para aquela caminhada, assim poderia ter certeza que seguiriam o destino juntos.

Aquele era o pior dia de sua vida e, ao mesmo tempo, o melhor. Isso por um motivo que jamais se perdoara. A morte de seus pais realmente poderia ser aliviada por uma garota que passou o mesmo que ele? Não tinha certeza. Ia seguir seu coração.

Tocou a bochecha que Gumi havia beijado e fechou os olhos, querendo relembrar palavra por palavra que trocaram. Não podia esquecer.

Era o fim de uma história, mas o começo de outra.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, heh~
Não tenho nada para acrescentar. Só juro solenemente que tentarei com todas as minhas forças não atrasar nos capítulos, the end.