Era só mais um dia. escrita por Marril


Capítulo 2
Nevoeiro Cerrado


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que já passou muito tempo desde que postei o último capítulo, mas eu ando meio sem tempo e com muita preguiça >.<
De qualquer forma, aqui está uma nova one-shot e novamente vou escrever nas notas finais as minhas inspirações.
Não sei quando vou postar outro capítulo e desculpem-me desde já pela demora!



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A manhã estava mais escura que o habitual, apesar do vidro fosco do meu quarto não me permitir visualizar a rua ou o céu eu conseguia denotar uma tonalidade mais sombria a penetrar na divisão, tornando-a assim semi-obscura. Estaria o céu muito nublado? Ou talvez estava a chover, mas eu não conseguia captar nenhum som…

Deliberei vezes sem conta sobre o estado do tempo enquanto preparava-me para sair de casa. Tinha sempre um guarda-chuva pequeno no fundo da mochila, por isso não havia problema em estar a chover, apenas teria de me agasalhar bem para o caso de estar muito frio, como é habitual no Inverno. Além disso, ficar doente a esta altura é tudo menos conveniente e agradável, também.

Desci as escadas do prédio sem acender as luzes, apesar de estar um dia escuro eu gostava disso. Não queria estragar a sua beleza iluminando o caminho, preferia ser guiada pelas pequenas réstias de luz ou simplesmente pela escuridão, afinal eu sabia o caminho de cor até à porta.

Saí para a rua e, assim que coloquei os pés no passeio, percebi finalmente a razão pela qual o dia parecer tão escuro: estava uma manhã de nevoeiro cerrado, ou seja, muito resumidamente eu não conseguia ver um palmo à frente. Toda a rua encontrava-se coberta pelo nevoeiro, sendo que apenas conseguia vislumbrar formas difusas do que me rodeava. Suspirei, apesar de encantador, aquele tipo de tempo era o mais perigoso para mim, já que eu, por razões desconhecidas, costumava ficar ligeiramente doente após andar pela rua num dia de nevoeiro.

Caminhei em frente, percorrendo o mesmo caminho de todos os dias, mas daquela vez guiando-me apenas pela minha memória, já que a minha visão não estava inteiramente disposta a colaborar. Fugi de algumas formas difusas que eu recordava estarem lá nos dias anteriores, no entanto quando desviei os olhos para o chão, pois tinha a certeza que nos próximos cinco metros não teria obstáculos, senti o meu corpo a embater contra algo.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido, nem tive a certeza do que realmente se passou. Senti-me a tropeçar em algo e logo a seguir a cair, acabando por aterrar no chão, mas ainda por cima de alguma coisa; senti uma dor na minha mão, provavelmente devia tê-la raspado numa pedra do passeio. Quando abri os olhos, para verificar o que se tinha passado, percebi que continuava tudo escuro e nublado. “Estúpido nevoeiro”, pensei para comigo mesma.

Aproximei a mão que me doía o mais perto que consegui e verifiquei que a palma estava completamente arranhada. Passei, ao de leve, pela ferida os meus dedos e tive imediatamente uma sensação de ardor.

–Porra! Isto doí que se farta! – Resmunguei tentando esquecer a dor. Para fazê-lo concentrei-me em descobrir no que tinha chocado antes. Teria sido a mota, que por vezes fica mal estacionada no passeio? Ou teria sido outra coisa? Comecei então aos apalpanços, tentando perceber o que estava por baixo de mim… Era suave e mole, porém ao mesmo tempo parecia possuir alguma rigidez; tinha vários altos e baixos e também parecia estar coberto por algum tipo de tecido.

–Importaste de parar? – Interrompeu-me uma voz masculina, fazendo-me soltar um guincho numa mistura de susto com surpresa.

“Não… Por favor não me digam que por baixo de mim está uma pessoa… e ainda por cima um rapaz?! Eu não acredito que acabei de fazer a coisa mais embaraçosa do mundo! Que vergonha!”. Repeti interiormente vezes sem conta.

Naquele momento apenas desejava poder fugir para muito longe… E porque não? Eu podia fazer isso, não podia? Sem pensar duas vezes, levantei-me rapidamente e gritando um “Desculpa, tenho de ir” ao mesmo tempo que corria, desapareci entre o nevoeiro. Okay, eu admito que sou uma cobarde, mas que podia fazer eu? Nunca fui boa a lidar com situações constrangedoras.

Abrandei o ritmo quando comecei a aproximar-me da estrada, involuntariamente olhei para trás para ver se tinha sido seguida, no entanto ao não avistar nenhum vulto no meio do nevoeiro prossegui o meu caminho. Atravessei a passadeira e cheguei à paragem do autocarro. Passado alguns minutos o veículo chegou e eu subi. Sentei-me num dos meus lugares do costume, guardei o passe na mochila e retirei o iPod da mesma. Deixei-a repousada no meu colo, contudo ao correr o fecho sinto o meu coração a cair-me nos pés, o meu pendente favorito (que eu mantinha preso a um dos fechos) tinha desaparecido. Ter-se-ia soltado durante a queda? Será que no dia seguinte eu conseguia reavê-lo? Talvez o rapaz apanhou-o… E se ele ficar à minha espera para mo entregar e aproveitar a deixa para questionar a minha fuga? O que acontecerá se eu o encontrar?

***

Levanto-me à mesma hora do costume, ao contrário de ontem, hoje está um dia claro, sem vestígios nenhuns do denso nevoeiro que há 24 horas atrás banhava grande parte de Lisboa. Faço a minha rotina matinal como de costume, exceto que hoje tenho de colocar lentes de contacto pois tenho Educação Física na segunda hora e usar óculos para essa aula é um pouco chato.

Saio para a rua, aguentando o frio da manhã, não escolhi uma camisola mais quente pois sei que mais tarde, depois do esforço físico, vou estar a morrer de calor. Caminho prestando muita atenção no chão, viro a minha cabeça ora para a direita, ora para a esquerda mas sem encontrar sinais do meu pendente.

Quando chego ao local da queda paro por completo e começo a analisar com ainda mais atenção a área, olho para as pedras minuciosamente, porém ao não conseguir avistar o objeto suspiro desconsolada. De repente, oiço uma voz, um tanto ou quanto conhecida, dizer:

–Procuras alguma coisa? – Viro-me assustada em direção à tal voz e encontro um rapaz a sorrir-me cinicamente. -Talvez isto? – Completa, mostrando o meu pendente suspenso por num dos seus dedos.

–Ah… Eu… Ah… Obrigada! – Acabo por dizer, após tropeçar em várias tentativas de dizer algo.

Estendo o meu braço, como que para receber o objeto, e aproximo-me dele, ele deixa-me aproximar-me, no entanto quando eu levanto um pouco mais o braço para agarrar no meu pendente ele afasta-o para longe do meu alcance.

–Não tão depressa. Primeiro quero um pedido de desculpas decente por causa de ontem, porque aquilo foi tudo menos um pedido de desculpas. – Sinto-me a corar de vergonha, ele até tinha razão…

–Eu… peço desculpa por ter ido contra ti ontem! Não foi exatamente de propósito, aliás eu nem sequer conseguia ver muito bem por causa do nevoeiro, por isso a culpa também não é bem minha… – Digo muito rapidamente ao mesmo tempo que raciocino sobre os acontecimentos. -E agora, se não te importas, gostava de receber de volta o meu pendente e ir-me embora. – “E já agora nunca mais te ver”, acrescento mentalmente.

–Não tão depressa! O pedido de desculpas soa-me a pouco… Que tal me dares algum tipo de compensação.

–Desculpa?

–Sim… Por agora ainda vou ter de pensar sobre que tipo de compensação quero, por isso encontra-me amanhã aqui à mesma hora e depois falamos melhor. – Afirma. De seguida, afasta-se como se não tivesse acontecido nada, deixando-me para trás, estupefacta.

***

Acordei do meu devaneio, que por acaso já estava a tomar proporções minimamente estranhas e fora do normal, e preparei-me para sair do autocarro. Tinha passado a viagem toda a vaguear pelos meus pensamentos, acalentando a possibilidade de encontrar no dia seguinte o rapaz e assim recuperar o meu pendente.

A verdade é que desse dia adiante nunca mais vi o meu pendente ou o rapaz, se bem que se eu passasse por ele na rua nem sequer iria reconhecê-lo, pois não faço a mínima ideia de como ele é. No entanto, durante os primeiros dias ainda procurei pelo objeto tanto pelo chão como preso a alguma mochila de outra pessoa (algo um pouco absurdo, mas possível).

Os meus dias de nevoeiro ficaram então marcados por este estranho encontro e cada vez que acordo num destes dias peculiares não consigo evitar passar por aquele lugar sem abrandar ligeiramente na esperança de que entre as sombras do nevoeiro cerrado esteja escondido o rapaz com o meu pendente.


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Notas finais do capítulo

Bem, então a ideia para esta one-shot ocorreu-me numa manhã de nevoeiro cerrado xD Eu não sei bem o que dizer, eu estava a andar pela rua e não conseguia ver mesma nada à frente, de repente apareceu do nada uma senhora velhota e eu quase ia contra ela. Pedi desculpa mas ela começou a reclamar muito comigo e eu fiquei sem saber o que fazer então quando ela parou de falar eu simplesmente fui-me embora. Agora, a "ideia do rapaz", lembro-me que num dia quando estava a sair de casa passei por um rapaz e questionei-me o que ele estava a ali a fazer, parecia que ele estava à espera de alguém... Então isto tudo numa mistura estranha saiu o que acabaram de ler xD Espero que tenham gostado...

@Marril .



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