O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 34
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu com o Epílogo de O Peregrino para vocês! Ele está pronto desde ontem, mas eu simplesmente não tive coragem de postar ontem porque está partindo meu coração terminar essa Fanfic, OMG ;-;
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Enfim, nos vemos nas notas finais! Epílogo dedicado à alliciaNH pela maravilhosa recomendação! Espero que goste! *-*
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Boa leitura!
P.S: Para quem se interessar pela música no final do capítulo, é essa aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=58ceeF9Robk



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O Peregrino

 

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Epílogo

⊱❊⊰

 

Ho no Kuni (País do Fogo), dois anos depois.

 

Quando acordei, com a luz tênue da manhã atravessado a janela às minhas costas, Sakura já havia se levantado, pois o futon junto ao meu estava vazio, embora ainda desarrumado.

Expirei o ar pelo nariz e voltei a soçobrar num estado apenas semidesperto até que ouvi o som do chuveiro ligado, no banheiro do quarto no qual nos hospedamos. Baixei meus olhos por instinto um pouco, até encontrá-la, segura e profundamente adormecida ainda, enrolada no meu cobertor.

Estendi minha mão até ela para afastar a franja comprida que lhe cobria os olhos, já havia algum tempo que Sakura tentava cortar seu cabelo, mas ela sempre começava a chorar ao menor indício de que tentaríamos. Os grossos cabelos negros da linhagem dos Uchihas, Sakura costumava murmurar ao final de cada tentativa frustrada.

— Ela tem tanto cabelo, Sasuke-kun! — queixava-se de vez em quando para mim, especialmente quando o penteava, e eu apenas sorria infimamente, ciente de que seria melhor esconder meu sorriso dela do que deixá-la ver e pensar que a desafiava.

Sei que Sakura fazia planos de cortá-los em breve enquanto estivesse adormecida, uma hora ou outra. Pelo menos quanto às presilhas de cabelo, ela não parecia fazer qualquer objeção, embora sempre acabasse arrancando-as mais cedo ou mais tarde.

Sakura dizia que ela havia herdado muito de mim quanto à personalidade, inclusive o hábito de contrariá-la, mas eu sempre retrucava que a teimosia provinha de nós dois. Na verdade, vejo muito de Sakura no semblante dela. A nossa pequena e geniosa Sarada.

Se dissesse que alguma vez me imaginei sendo pai de uma menina, bem, isso não seria verdade. Embora, até o nascimento, nem mesmo Sakura e eu tivéssemos certeza do sexo do bebê, apenas palpites e suposições.

Sarada nasceu saudável e com peso e tamanho ideais, Sakura explicou-me, embora tenha precisado nascer num dos esconderijos lúgubres de Orochimaru em Oto. Foi Karin quem fez o parto e quem auxiliou Sakura em sua recuperação e, por isso, lhe serei eternamente grato.

Sakura descobriu a gravidez, na verdade, apenas semanas depois de havermos deixado Konoha e quando lhe perguntei se ela queria que voltássemos, pelo bem-estar do bebê, ela se zangou e disse que, como uma Iryō-nin cuidadosa, seria perfeitamente capaz de levar uma gestação saudável ainda que nos movêssemos com frequência. Não a perguntei mais depois disso.

E, de fato, ela teve uma gestação bastante tranquila. Foram meses memoráveis enquanto seu ventre crescia a cada semana com nosso pequeno bebê. A paternidade me assustou no começo, admito, mas não demorou muito para que a ideia de ser pai se agarrasse à minha mente e eu só conseguisse pensar depois disso que teria uma família completa outra vez.

Desde então, passamos a protelar nossa estada em cada cidade ou vila que visitávamos, sempre priorizando o bem-estar de Sarada.

Ela tinha muito de mim e muito de Sakura: o formato dos seus olhos inegavelmente vinha dela, embora a cor viesse de mim. O nariz e o queixo eram de Sakura também, bem desenhados e delicados. Os lábios, ela dizia, tinham o mesmo formato dos meus, assim como as mãos e até mesmo as unhas. Mas as expressões que fazia indiscutivelmente lembravam as de Sakura muitas vezes.

Era difícil acreditar que eu pudesse haver criado junto de minha esposa algo tão puro, tão belo, tão perfeito. Justo eu, que por anos estive quebrado, preso à escuridão do meu passado e do meu ódio.

Suspirando, decidi que era hora de me levantar e me sentei no futon sem desviar o olhar de Sarada, cujas pálpebras tremeram de leve antes de se abrirem. Ela focou o olhar sonolento no meu rosto e bocejou.

Sarada gostava de dormir entre mim e Sakura, muito embora, no meio da noite, ela tendesse a rolar para o meu futon, pois eu me mexia menos durante o sono.

Não demorou em assumir um comportamento mais atento e desperto, apoiando-se sobre os dois braços para levantar o tronco e dobrando as pernas para se sentar, como eu, já balbuciando algumas sílabas incompreensíveis e olhando o entorno, atenciosa.

— Está com fome? —perguntei a ela, atraindo seus olhos redondos e brilhantes de bebê de volta para o meu rosto.

Sarada balbuciou mais algumas palavras do seu limitado vocabulário e levou um dos dedos à boca rosada e úmida, mostrando para mim as fileiras de minúsculos dentes de leite que despontavam da sua gengiva. Ela tendia a procurar os mais diversos objetos para morder e aliviar o incômodo dos dentes que ainda nasciam.

Sakura saiu do banheiro nesse momento, envolta numa nuvem de vapor quente e com os cabelos curtos ainda úmidos, e atraiu tanto a minha atenção quanto a de Sarada, que esticou os braços para ela e a chamou com um dos seus típicos “mama” extremamente manhosos.

— Bom dia, Anata — saudou a mim e à Sarada com um sorriso caloroso.

— Acho que ela está com fome — disse-lhe e Sakura anuiu, buscando sua bolsa no canto do quarto, nós sempre pedíamos para usar as cozinhas dos hotéis e pensões nos quais nos hospedávamos.

Depois que Sarada nasceu, evitamos viajar por longas distâncias e, recentemente, vínhamos nos movendo de tempo em tempo apenas pelo território do país do Fogo devido às temperaturas mais amenas.

Para que o dinheiro que tínhamos não acabasse, eu fazia favores pequenos para as vilas e cidades pelas quais passávamos e dividia meu tempo com algumas investigações que eu vinha fazendo no último ano, mas isso em segredo delas. Não queria alarmar Sakura, não sem antes ter certeza das minhas suspeitas. Por enquanto, de todo modo, eram apenas algumas verificações e coletas de informações.

Sakura também cumpria algumas funções como ninja médica e mesmo que às vezes não fôssemos recompensados com dinheiro, os suprimentos e a hospedagem que recebíamos bastava.

Fiquei com Sarada no quarto enquanto Sakura saía com tudo o que precisava e voltava minutos depois com a mamadeira pronta.

Sarada mamava no colo de Sakura quando a informei que ia tomar banho. Estávamos em Kohatsu, uma cidade grande no sul do país do Fogo, só há alguns dias, mas eu já cogitava a possibilidade de nos movermos para a próxima destinação em breve.

Depois de alguns minutos, fechei o chuveiro e vesti uma calça e uma camiseta. Saí do pequeno banheiro com uma toalha em torno do meu pescoço e foi quando as vi, uma visão que me fez estagnar: Sarada estava de pé, com pouco equilíbrio, mas exultante por haver conseguido fazer isso sozinha, e Sakura incentivava e aclamava seu bravo esforço.

Sarada riu com os incentivos da mãe e, de repente, perdeu o equilíbrio e caiu de bumbum em meio às cobertas desarrumadas. Ver que minha filha estava crescendo e se tornando cada vez mais independente quanto aos seus primeiros avanços na vida, foi um choque para mim, admito. Parecia que havia sido apenas ontem que eu a vi pela primeira vez, o rosto sujo e crispado, o cabelo negro e ralo empastado, enrolada em nada mais do que uma manta.

Ela riu depois de haver caído, ecoando o riso da própria Sakura, e tentou se colocar de pé de novo, dessa vez com outro intento. Terminei de secar meu cabelo e continuei a olhá-la enquanto se apoiava sobre os pés e as mãos, erguendo o tronco bem devagar, testando sua própria estabilidade.

Então, ela se virou para mim e esticou os braços na minha direção:

— Papa! — chamou-me, vacilando nos primeiros passos para me alcançar.

Sakura se levantou e a pegou por uma das mãos, apoiando-a para ajudá-la a chegar até mim, como parecia querer fazer tão exultantemente. Juntas, elas avançaram passo por passo até mim. Sarada se animava a cada passada e continuava a chamar por mim com insistência e obstinação.

Quando o fez, estendeu a mãozinha livre para mim, abrindo e fechando os dedos e voltando a me chamar. Com um suspiro, e contendo a vontade de rir, cedi e dei-lhe a mão também, sabendo que ela não descansaria até que tivéssemos cumprido sua vontade.

Com nós dois agora lhe servindo de apoio, Sarada colocou um pé diante do outro, mostrando-nos até onde queria ir e rindo tão espontaneamente que seu riso puro e cristalino aqueceu meu peito.

— Isso mesmo, meu amor! Um passinho de cada vez! — Sakura a encorajava a cada passo certo pelo quarto pequeno e Sarada se tornava cada vez mais segura quanto às suas passadas.

Quando ela enfim se cansou, dobrou os joelhos, sinalizando que já não queria mais. Sakura imediatamente a ergueu no seu colo e a cobriu de beijos e elogios, fazendo-a rir de novo e de novo.

E eu as olhei, fascinado.

Mais tarde, demos uma volta pelas ruas apinhadas de Kohatsu com Sarada tagarelando na sua linguagem de bebê no colo de Sakura. Ela adorava cores e multidões, encantava-se por qualquer coisa e apontava para qualquer objeto ou pessoa que lhe chamasse a atenção.

Era uma cidade bonita que cresceu bastante também nos últimos anos, como todas as outras regiões do país do Fogo, impulsionadas pela modernidade e pelos avanços tecnológicos depois do fim da guerra. Havia monólitos imensos e cinzentos como os de Konoha, lojas com os mais variados apetrechos eletrônicos e restaurantes novíssimos.

Vimos muito do mundo mudar nos últimos tempos e, ainda assim, eu me perguntava se não era hora de voltarmos para Konoha, especialmente com minha filha crescendo tanto e de forma tão repentina. Sarada já tinha um ano e três meses, talvez ela merecesse isso.

Por isso, quando voltamos ao hotel, no fim da tarde, ponderei a respeito do assunto, ruminando o que seria melhor para a minha família e decidi me abrir com Sakura.

Ela havia acabado de colocar Sarada para dormir quando a abordei; Sakura não havia mudado muito devido à maternidade, mas aos meus olhos, ela só havia se tornado ainda mais bela. Seu corpo ainda conservava alguns aspectos da gestação, como os quadris e busto mais cheios. E eu a adorava de qualquer maneira.

Seus olhos brilhantes e excitados, ao encontrarem os meus, e seus lábios cheios e apartados, ao arfarem meu nome discretamente, me disseram exatamente o que ela queria; Sarada dormia profundamente e dificilmente acordaria pelas próximas horas. Tínhamos algum tempo para nós dois.

Qualquer perspectiva de conversação que eu pudesse ter com ela esvaiu-se no momento em que ela pegou minha mão e sinalizou para que fôssemos para o banheiro. Engoli a seco, perguntando-me quando havia sido a última vez em que nos tocamos assim. Quase um mês talvez?

Em silêncio, fechei a porta e Sakura abriu o chuveiro. Despi minhas roupas com pressa, mas Sakura sorriu para mim maliciosa enquanto deliberava o ato de abrir sua bata longa e despir a calça que usava.

Minha mão conhecia o caminho até o fecho do seu sutiã e meus dedos sabiam abri-lo sem dificuldade, assim como as mãos dela estavam familiarizadas ao meu corpo e sabiam me tocar da forma certa até me fazer enlouquecer.

Uni nossos lábios e roubei seu fôlego enquanto recuávamos às cegas até o chuveiro; uma bruma de vapor quente já tomava conta de todo o banheiro.

— Temos pouco tempo — ela me lembrou ao mordiscar o lóbulo da minha orelha e eu sabia que precisávamos ser rápidos e silenciosos, como sempre.

Afundei-me no seu corpo pouco tempo depois e Sakura enterrou o rosto no meu ombro a fim de suprimir um gemido. Suas pernas estavam enroladas na minha cintura e seus braços estavam ao redor do meu pescoço. A torrente de água quente batia nas minhas costas conforme fazíamos amor.

Em certo ponto, ela puxou meu rosto para um beijo sôfrego, que percebi servir para abafar seus gemidos crescentes, e não muito depois ela atirou a cabeça para trás e mordeu a própria mão para conter um grito de prazer. Instigado por seu ápice, libertei-me também, sentindo cada músculo tensionado do meu corpo finalmente relaxar.

Letárgico, deixei que o corpo dela escorregasse e se desprendesse do meu e seus pés voltaram a tocar o chão. Sakura sorriu para mim como se houvéssemos aprontado alguma travessura e esticou-se para me beijar uma última vez.

Enquanto tomávamos um banho rápido, dividindo a torrente de água, achei que era o melhor momento para me abrir com ela:

— Estive pensando — murmurei de repente, o som do chuveiro por pouco não abafava minha voz por completo, e Sakura se virou para mim, atenta. — Talvez seja hora de voltarmos.

Ela estacou, aturdida durante um único e breve instante, então lentamente assimilou o que eu disse.

— Você diz voltar para...?

— Konoha — aquiesci resoluto.

— E o que o levou a cogitar isso? — perguntou-me com um sorriso pequeno.

— Sarada — respondi-a sem titubear. — Ela está crescendo rápido e merece a segurança e a estabilidade de um lar fixo.

Sakura se aproximou novamente para enlaçar meu corpo com seus braços e se apertou contra mim.

— O que você decidir, Anata, o que achar ser melhor para nossa família, eu vou te apoiar — prometeu-me e eu assenti, comovido. — Além disso, eu preciso confessar que também sinto saudade de todos.

— Podemos partir pela manhã, Konoha não está muito longe — sugeri e ela aceitou de imediato, enterrando o rosto no meu peito molhado.

Então se afastou e me encarou, eufórica:

— Como acha que vão reagir ao conhecê-la? Digo, Kakashi-sensei, Naruto, meus pais, todos os outros... Nós mal a mencionamos nas cartas que enviamos!

Todos a adorariam, quis lhe dizer e eu tinha certeza disso, porém apenas sorri para ela em resposta. Sarada é perfeita. Uma criança amável e de sorrisos fáceis. Encantar-se por ela é completamente inevitável.

— Então, partimos pela manhã — ela concordou e parecia genuinamente entusiasmada com a ideia de voltarmos para a vila.

Retornamos para o quarto e nos unimos à Sarada nos futons mais cedo naquela noite um pouco depois. Teríamos um longo percurso no dia seguinte e precisávamos estar devidamente descansados.

Com o amanhecer, apanhamos todos os nossos pertences e pagamos por nossa estadia. Deixamos Kohatsu para trás em pouco tempo, seguindo pela estrada de terra batida que nos levaria até Konoha. Menos de mil quilômetros nos separavam de nossa última destinação.

Mas eu já quase podia vislumbrá-los, os portões da vila, diante de nós e estava ansioso para voltar, para rever todos. Dois anos antes, parti da vila recém-casado com a mulher que amo e agora estou voltando como um pai.

Às vezes me pergunto o que seria de mim se eu jamais tivesse tido coragem para recomeçar minha vida, se eu tivesse permanecido preso ao meu passado, sozinho e miserável, ou mesmo se eu nunca tivesse admitido minha derrota no Vale do Fim depois de minha batalha contra Naruto. Onde eu estaria? Quem seria? As possibilidades sempre me inquietavam.

Mas o meu destino, ainda que eu tenha cometido a minha cota de erros, trouxe-me até esse presente, até esse momento e eu posso dizer que hoje já não tenho quaisquer arrependimentos.

Eu tomei a minha primeira decisão certa no dia em que deixei Konoha para descobrir o mundo ao meu redor e descobri junto dele que poderia refazer a minha vida sem mais receios, reencontrei o meu propósito, o meu caminho.

Uma vez, desesperado pela dor que me afligia e ainda um menino, disse a mim mesmo que era um vingador. Extraviei-me por estradas proibidas em busca dessa vingança e por pouco não me perdi de mim mesmo.

Resgatado por meus amigos, tornei-me um peregrino, um errante em busca de respostas para as dúvidas que mais me consumiam. No meio dessa jornada, entreguei-me enfim ao amor que sentia por Sakura e me tornei seu esposo, sua outra metade.

Como pai de Sarada, finalmente descobri que, na verdade, nasci para ser um protetor, seja da minha família, da vila a qual pertenço, do mundo que conheci em minhas viagens, ou mesmo um guardião do futuro da humanidade.

Olhando-as, Sakura e Sarada, adormecida e serena no colo da mãe, enquanto seguimos por essa estrada, sombreada por árvores imensas e vistosas, e sob um sol brando eu só consigo ter a certeza de que farei tudo o que puder para assegurar que elas fiquem protegidas, a salvo de qualquer mal.

Pelo futuro de Sarada, um futuro no qual ela possa crescer sem medos e dores, eu sei que farei qualquer coisa, qualquer sacrifício. Afinal, o que é o amor se não isso? Renunciar a si mesmo, aos seus maiores desejos e vontades por vezes, em nome do bem-estar de quem se ama.

Eu aprendi isso através dos sacrifícios de Itachi e através da compaixão de Naruto e de Sakura e em contrapartida eles me deram a chance de recomeçar a minha vida e de curar a minha alma das feridas do passado.

Eu sou um Shinobi e estou ciente de que a paz sempre estará ameaçada pelas ambições de terceiros e a luta talvez jamais termine, mas eu tenho motivos nobres agora para lutar pela paz e pela ordem: minha família, minha vila.

E eu as protegerei com tudo o que tiver, com todo o meu poder. Não importa o preço, não importa o que as ameace. Eu estarei de prontidão e sempre vigilante, um protetor que age à surdina, um Shinobi.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), cinco anos antes.

— Bem, eu serei honesto com você, Sasuke — Kakashi murmurou num tom apático. — Em qualquer outra circunstância, você teria sido aprisionado pelo resto da vida. Mas a razão pela qual foi perdoado é porque ajudou a dispersar o Mugen Tsukyomi.

 

Prestei atenção em suas palavras, mesmo que não entendesse a razão de me fazer lembrá-las. Eu sabia que teria de permanecer na linha, não era nenhum idiota. Tinha consciência de que o menor dos tropeços faria a fúria do Raikage e dos demais Kages cair sobre mim.

 

Estávamos nos portões da vila, Sakura, eu e Kakashi para a minha despedida. Mas Naruto não estava à vista; então, ele não viria mesmo.

 

— Tente não se esquecer disso — Kakashi continuou com o seu sermão, interrompendo meus pensamentos. — Tudo isso é graças ao Naruto. Quero dizer, ele é o herói da guerra e, bem... Eu também tive alguma influência como Rokudaime Hokage. Então, vá com calma e não enlouqueça de novo. Será a minha cabeça a prêmio caso isso aconteça.

 

Suspirei e lhe ofereci um sorriso de condescendência. Eu sabia bem o quanto havia custado ao Kakashi conseguir essa autorização dos Kages para mim. Meu julgamento havia sido há apenas alguns meses, é claro que tudo era muito fresco ainda na memória de todos.

 

— Sim, desculpe por isso — murmurei para acalmá-lo.

 

Notei que Sakura havia aberto e fechado a boca pelo menos três vezes só no último minuto e, quando a olhei, ela enfim tomou coragem de me perguntar o que quer que a estivesse incomodando:

 

— Você já está mesmo partindo? Tsunade-sama está quase terminando os braços protéticos com as células do Shodaime...

 

— Eu... — hesitei, tentando convencê-la de que o melhor para mim seria partir o mais depressa possível. — Eu preciso ver por mim mesmo. Como o mundo é. Todas as coisas que eu negligenciei, eu tenho a sensação de que posso vê-las melhor agora... Se eu desperdiçar uma chance como essa, não acho que haverá outra.

 

Depois de alguns segundos, acrescentei, incerto, não queria lhes revelar muito ainda, mas havia mais uma razão para eu estar iniciando essa viagem:

 

— Além disso, há uma coisa que vem me incomodando recentemente.

 

E isso, desde o meu julgamento, desde que as palavras de Kakashi despertaram esse sentimento de desconfiança em mim. Ele pode tê-las usado a meu favor, para me defender, mas seu argumento tinha um fundo de verdade que vinha me perturbando desde então.

 

Voltei minha atenção para Sakura e notei que ela desviado o olhar do meu. Suas faces estavam coradas; tímida, ela sussurrou para mim:

 

— E... E se eu disser que quero ir com você?

 

Ela me encarou de novo então, ansiosa por minha resposta, e eu suspirei, resignado.

 

— É uma jornada de redenção para mim. Você não tem nada a ver com os meus pecados.

 

E era verdade, Sakura não tinha nada a ver com meus crimes. Muito pelo contrário, ela era uma das melhores partes da minha vida e esses últimos meses que passamos juntos haviam nos reaproximado de tal maneira... Mas não era justo com ela, eu precisava cumprir essa penitência sozinho e Sakura seria uma distração perigosa demais para mim.

 

Entretanto, quando notei o estado depressivo do seu humor, fui acometido por uma ideia, algo que eu vinha querendo fazer e dizer a ela já havia algum tempo.

 

— Nada a ver com os seus pecados, ele diz... — balbuciou cabisbaixa e foi nesse instante que me aproximei.

 

Estiquei meu braço e toquei sua testa com meus dedos, como Itachi costumava fazer comigo, no momento em que ela levantou o rosto para mirar meu rosto.

 

— Até a próxima — eu lhe prometi porque haveria uma próxima vez, nossos caminhos ainda voltariam a se encontrar. — Obrigado — murmurei para ela a mesma palavra daquela noite, anos antes, a noite em que ela me confessou seus sentimentos pela primeira vez.

 

Olhei-a nos olhos dessa vez e rezei para que ela entendesse o que eu queria lhe dizer. Eu te amo, mas não estou pronto para viver isso, não ainda. Espere por mim.

 

Sakura arregalou os belos olhos verdes e apartou os lábios, mas não me respondeu nada.

 

Decidi que era hora de partir e me afastei deles, de Sakura e de Kakashi. Atravessei os imensos portões e segui pela estrada num ritmo contínuo; rajadas de vento faziam farfalhar as folhas nas grandes árvores que margeavam o caminho e agitavam meu manto.

 

Estava a uns bons metros já da vila quando notei a figura de Naruto recostada a uma árvore. Aproximei-me dele, desviando do meu caminho.

 

— Hmm, pensei que você não fosse vir — murmurei, lembrando-me de nossa discussão, e ele, sem me dizer uma única palavra, me estendeu seu braço.

 

Notei que segurava algo e percebi que era meu hitaiate. A tira de tecido azul, a insígnia da folha riscada no meio. Eu já não a via há vários anos, desde que desertei da vila. Naruto a guardou para mim por todo esse tempo?

 

— De novo com essa coisa — murmurei para ele, lembrando-me de sua insistência para que eu a usasse em nossa primeira luta, no terraço do hospital.

 

Parecia que estes acontecimentos, tanto tempo atrás, haviam sido vividos em uma outra vida, por outra pessoa, por outro eu.

 

— Aqui, estou te devolvendo — ele insistiu com uma careta.

 

Toquei a bandana e, por um momento, ambos a seguramos. O quanto havíamos mudado desde aquela ocasião, o quanto perdemos, o quanto ganhamos. Já não éramos mais os mesmos moleques que lutaram quase até a morte no Vale do Fim, então, quem éramos?

 

— Guarde-a — disse-lhe, empurrando o hitaiate de volta para ele. — Para o momento certo — garanti e essa foi a minha promessa a ele.

 

Para o momento em que eu pudesse me chamar de Shinobi da Folha da outra vez.

 

Para o momento em que eu estivesse pronto, algum dia, em algum futuro. Quando me sentisse inteiro, quando descobrisse quem é Uchiha Sasuke e qual é o seu verdadeiro lugar nesse mundo vasto e tão imprevisível.

 

Um dia que, eu esperava, não estava tão distante assim.

 

⊱❊⊰

Flutuando entre a luz e a escuridão

Um lírio-aranha cor vermelho-sangue

Flutuando sob a luz da lua

Um lírio-aranha cor vermelho-sangue.

Anju — Trecho de Higanbana.

⊱❊⊰

Fim.


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Notas finais do capítulo

Escrever esse "Fim" destroçou a minha alma, acreditem! XD Mas tudo precisa terminar um dia, né? :)
...
E como prometi, me despedirei corretamente de vocês agora: Quando comecei O Peregrino eu não imaginava que ela teria o Feedback maravilhoso que teve e só posso agradecer a todos os leitores que chegaram até o final comigo!
A todos que estão desde o primeiro capítulo aqui comigo, muito obrigada! A todos os leitores que comentaram, recomendaram, brigaram comigo pra saber o paradeiro da Sakura, muito obrigada mesmo! XD
A todos os leitores novos, que chegaram depois, mas me animaram com seus comentários e recomendações, muitíssimo obrigada também!
Ano passado foi muito duro pra mim por ter perdido meu avô e escrever essa Fanfic se tornou um pouco o meu escape da dor. Muito obrigada a todos que me apoiaram e me ofereceram palavras de consolo nesse momento tão difícil que eu passei! :D
...
Enfim, acho que é isso! E lembrando que temos Cosmos ainda! O Spin-off que deve ter (pelas minhas contas XD) uns quinze capítulos e eu estou planejando uma pontinha SasuSaku para ele! ;)
Para quem ainda não leu, aqui está o link:
https://fanfiction.com.br/historia/647611/Cosmos/
...
Dessa vez não há um "até o próximo", então: Obrigada, obrigada e obrigada, pessoal! o/