O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 33
Capítulo XXXIII


Notas iniciais do capítulo

ÚLTIMO CAPÍTULO DE O PEREGRINO, AI, MEU DEUS! T-T
Enfim, eu o dedico à moni7a pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

 

⊱❊⊰

Capítulo XXXIII

⊱❊⊰

 

Ho no Kuni (País do Fogo), dias atuais.

 

Levou um pouco menos do que uma semana, mas os preparativos para o meu casamento e o de Sakura foram apressados no fim e tudo foi organizado como ela queria — não opinei muito nos detalhes, embora soubesse que ela seria atenciosa o bastante ao ponto de levar meus poucos e concisos palpites em consideração.

Todos receberam as notícias de nosso noivado com pouca ou quase nenhuma surpresa, o que fez com que eu me perguntasse se meu envolvimento com Sakura, se essa intimidade e cumplicidade que sempre compartilhamos, foi o que nos delatou.

Naruto e Kakashi reagiram com entusiasmo às novas e parabenizaram especialmente a mim pela iniciativa com risinhos e olhares dúbios trocados. Aparentemente, eu percebi, havia uma espécie de consenso entre ambos em não mencionar o ocorrido com Sakura e acredito que o fizeram por temerem a minha reação. Ótimo.

Nós havíamos escolhido o Ichiraku para nos reunirmos naquela noite amena e enluarada, e dar-lhes a notícia:

— Então, vocês planejam se casar e nos deixar, não é? — Naruto nos provocou com um tom zombeteiro e fingiu uma mágoa que nem sequer existia.

— Não seja dramático, Naruto — Sakura o censurou ao menear a cabeça em desaprovação. — Mandaremos notícias sempre que pudermos.

— Humpf, eu não prometo nada — contrariei-a apenas para ver Naruto franzir a cara e cruzar os braços emburrado.

— Kakashi-sensei — ele se queixou num tom estridente, finalmente ignorando sua tigela fumegante de ramen —, o Sasuke-teme tá planejando sequestrar a Sakura-chan!

Kakashi riu contido por trás da máscara e Sakura corou com a escolha do termo do imbecil. Ora, crispei os lábios, pensativo, não é que eu planejasse desaparecer no mundo com Sakura, mas é líquido e certo que eu estava me permitindo ser um pouco egoísta dessa vez ao traçar essa linha de pensamento. Desperdicei tempo demais e queria-a apenas para mim um pouquinho.

Nós nos despedimos quase uma hora depois porque Kakashi alegou que precisava voltar às suas obrigações de Hokage e Naruto disse que sua esposa o esperava em casa. Apesar de não ser tarde da noite ainda, notei que Sakura estava cansada e sonolenta ao voltarmos para o meu apartamento.

Quando chegamos, depois de mais alguns minutos de caminhada pelas ruas monótonas e iluminadas de Konoha, ela bocejou.

— Cansada? — questionei-a e Sakura aquiesceu com um gesto indolente.

Fechei a porta e ela imediatamente se acomodou no sofá, descansando a cabeça no encosto e fechando as pálpebras pesadas. Mesmo de olhos fechados, murmurou sua justificativa para mim:

— Ino deve ter me arrastado por umas dez lojas diferentes e me fez provar quase todos os quimonos de todas elas. Eu disse a ela que não queria algo suntuoso demais, mas a porquinha não me ouviu — resmungou ao fim num tom menos arrastado, franzindo o rosto em desgosto.

Sentei-me ao seu lado em silêncio porque a verdade é que já havia cuidado do meu vestuário para a cerimônia, sozinho, é claro. Eu não suportaria ser alvo das piadinhas de Naruto ou do tal Sai, que também estava noivo da Yamanaka. Por isso não informei a ninguém a respeito das minhas intenções antes de ir.

Depois de algum tempo, percebi que Sakura havia adormecido e que ressonava tranquilamente numa posição desconfortável no sofá. Suspirando, toquei seu ombro e a chacoalhei devagar para despertá-la. Grogue de sono, ela anuiu quando eu disse para irmos para a cama.

No dia seguinte, eu já havia me decidido, tinha algo importante para fazer — e sozinho.

⊱❊⊰

Acordei mais cedo do que o habitual e, sem fazer qualquer ruído, deslizei para fora da cama. Sakura expirou o ar de repente numa única lufada e crispou o sobrecenho, incomodada com a súbita movimentação, mas se virou para o outro lado, ainda adormecida.

Movi-me pelo quarto em silêncio, vestindo-me, e saí do cômodo e, depois, do apartamento ainda em jejum. Meus pés me conduziram através das vielas esvaziadas, o sol mal havia nascido e o céu ainda clareava, riscado por nuances de índigo da madrugada, mas as cotovias e rouxinóis já treinavam seus trinados mais afinados nos galhos dos bordos.

Apesar do peso familiar que senti no peito e do vazio que sentia engolfar a minha alma, mantive o ritmo das passadas e me dirigi até o velho e acabado Distrito Uchiha, na parte mais afastada da vila e intocada pela modernidade que redesenhava toda Konoha; pouco havia sofrido alterações, notei, desde a última vez em que estive ali.

Graças ao ataque da Akatsuki, tantos anos antes, a maioria das casas velhas e abandonadas havia tombado e algumas outras tinham apenas algumas paredes ainda de pé, mas estavam frágeis e cheias de buracos.

Passei pela entrada do Distrito e foi inevitável que lembranças — tanto boas quanto ruins — assaltassem meus pensamentos e inundassem minha alma dolorida, cutucando aquelas velhas feridas que jamais cicatrizariam.

Atravessei as ruas tomando cuidado com as pedras e lajotas quebradas e não consegui deixar de notar o quanto a tinta do símbolo do meu clã havia desgastado em todos esses anos, mal se via o emblema pintado nos muros que delimitavam todo o terreno.

Engolindo a seco, avistei a casa que pertenceu aos meus pais: estava em um estado ainda mais lastimável do que as outras, embora tivesse mais paredes de pé do que todas as demais construções.

Uma parte do telhado havia ruído fazia tempo enquanto a outra se agarrava às escoras por um fio. Não tive coragem de entrar, mas o pouco que observei me fez refletir sobre o estado do assoalho rachado e quebrado em diversos pontos, as paredes esburacadas, a umidade e o tempo que haviam desgastado aquela casa de tantas formas diferentes.

Suspirei e me afastei, seguindo para o meu objetivo, mais nos fundos do Distrito. As cercas altas de madeira que antes o protegiam, agora jaziam tão quebradas quanto o restante e algumas tábuas haviam até mesmo se desprendido e caído, abrindo brechas no tapume.

Aproximei-me com cautela e atravessei o cercado por uma das lacunas e, então, estava de repente defronte para todas elas, frias e silenciosas como eu me recordava: as lápides do cemitério onde todo o meu clã jazia enterrado, exceto pelo corpo do meu irmão.

Senti uma ardência familiar nos olhos e uma pressão habitual nas têmporas. Pisei no gramado que crescera incontrolável nos últimos anos, ao ponto de até mesmo esconder algumas das lápides, mas não tinha importância, e me aproximei resoluto.

Os túmulos dos meus pais estavam logo à frente e não traziam qualquer epitáfio gravado na pedra fria. Minhas pernas pesaram e eu senti que precisava me sentar um pouco, então ajoelhei na grama umedecida pelo orvalho da matina.

Agarrei fiapos de grama entre os meus dedos e respirei uma vez de cada: eu precisava fazer isso. Não poderia reconstruir minha vida, não sem antes deixar o passado de vez para trás. Por isso, olhei para as lápides dos meus pais por mais um momento antes de fechar os meus olhos e inspirar longa e profundamente.

Quando reabri os meus olhos, senti-me leve pela primeira vez.

— Otou-san... Okaa-san... — chamei-os e uma rajada de vento abrupta sacudiu a grama alta ao meu redor, assobiando fino nas copas das árvores que cercavam o cemitério.

Já faz algum tempo desde que a última vez em que estive aqui. E muito mudou desde aquela época. Eu mudei muito.

Pai, mãe... Itachi, eu acrescentei com um sorriso e vislumbrei seus rostos na minha mente: meu pai, de feições severas e olhos cansados, eu sei que ele se orgulharia do Shinobi que me tornei. Queria que ele pudesse dizer que sou o seu garoto outra vez, ainda quero tanto saber o que ele conversava ao meu respeito com minha mãe...

 

Minha mãe. Tão gentil e afetuosa, sempre me apoiava, sempre me instigava a dar o meu melhor. Queria que ela pudesse sorrir para mim de novo, queria que ela visse o homem que me tornei e também que tivesse orgulho de mim.

 

E meu Nii-san... Itachi. Eu sei que ele está me vendo, onde quer que esteja, eu sei que ainda está cuidado de mim. Todos eles estão. Por isso preciso das suas bênçãos.

Inspirei profundamente e mirei as lápides cinzentas.

Pai, mãe, Itachi... Eu vou me casar, disse-lhes e quase podia imaginar suas reações à notícia. Ela é uma mulher incrível. Tenho certeza de que todos vocês adorariam conhecê-la.

Sei que o meu pai aprovaria que eu me casasse com uma Kunoichi tão forte e uma Iryō-nin tão respeitada. Okaa-san... Ela e Sakura se dariam muito bem, ambas são parecidas em tantos aspectos: doces e calorosas, e firmes e fortes em todos os sentidos. Quanto a Itachi... Sei que ele a adoraria também, afinal é a mulher que eu amo e desejo tornar minha esposa.

Eu vou reconstruir o nosso clã, prometi-lhes. Não estou certo de que o clã Uchiha possa renascer através de mim, mas prometo, pai, mãe, Itachi, que farei o que puder para devolver a glória e a honra ao sobrenome Uchiha do jeito correto.

Vou proteger o sonho de Itachi e defender essa vila, e vou ajudar o próximo Hokage a manter a paz. Então...

— Otou-san, Okaa-san, Nii-san... Olhem por mim — sussurrei e apertei meus dedos na terra, na grama.

Prometo que jamais vou esquecê-los.

Perdi a noção do tempo ali, admito, mas quando me levantei para partir, espanando a sujeira das minhas roupas, avistei três botões de lírios-aranha crescendo junto aos túmulos dos meus pais, miúdos e escondidos pelo matagal.

Suspirei, desviando o olhar, e me apressei para ir embora dali, já havia feito o que precisava fazer.

Assim que cheguei ao apartamento, cruzei com Sakura na cozinha que preparava o desjejum. Ela não me fez pergunta alguma sobre o meu paradeiro, não a princípio pelo menos. Mas logo sua curiosidade a venceu.

— Está tudo bem, Sasuke-kun? Quando acordei você já tinha levantado e não estava em lugar algum — comentou com receio, notei, e talvez não quisesse soar invasiva.

Porém, eu meneei a cabeça e assegurei que estava tudo bem. Finalmente tudo estava bem.

— Eu precisava fazer uma coisa, mas já acabou.

Ela ergueu as sobrancelhas e apartou a boca, mas seja o que for que tenha pretendido dizer naquele momento desistiu logo a seguir e optou por abrir um sorriso e aceitar minha explicação evasiva, mudando de assunto rapidamente.

Nós tomamos o desjejum como em todas as manhãs e Sakura roçou seus lábios no meu rosto ao se despedir de mim e ir para o hospital, alegando que precisava deixar tudo em ordem para a viagem. Nosso casamento aconteceria em apenas dois dias.

Pensei em ficar trancado no apartamento a princípio, depois que ela se foi, mas a ideia de ser consumido pelo ócio me desagradou enormemente, então saí de lá e caminhei a esmo pela vila. Encontrei alguns conhecidos no caminho que me cumprimentaram e me felicitaram pelo meu noivado, um deles foi Kiba, acompanhado de Akamaru, como sempre. O outro foi Iruka, que disse querer comparecer na cerimônia.

De algum modo, acabei no antigo campo de treinamento do Time 7, de frente para o memorial dos heróis de Konoha que morreram cumprindo missões pela vila. Foi quando ouvi a voz de Naruto me chamando ao longe.

Voltei-me para ele, que acenava e vinha ao meu encontro.

— O que está fazendo aqui, Sasuke?

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa — retruquei com um sorriso incisivo, embora soubesse sua motivação interior, ou ao menos tivesse certeza dela.

Naruto indicou a pedra brilhante do memorial com centenas de nomes de Shinobis gravados, mas eu sabia qual ele apontava: Obito Uchiha.

— Eu gosto de vir aqui visitá-lo de vez em quando. Não sobrou nada dele para fazermos um funeral decente, então... É, esse memorial é tudo o que restou da memória dele.

— Foi difícil perdoá-lo? — perguntei a ele enquanto uma lufada quente de vento soprava o descampado e farfalhava as árvores ao longe.

Naruto franziu o cenho, pensativo, então balançou a cabeça depois de quase um minuto imerso em um silêncio soturno.

— Se eu dissesse que foi fácil, estaria mentindo — disse-me e me surpreendi com sua franqueza. — Mas eu sabia que ele estava sofrendo, eu sabia que ele estava sangrando, assim como eu. Obito não foi um vilão, Obito foi só mais uma vítima do sistema Shinobi e um fantoche da Kaguya, como Madara foi. E eu sabia que podia resgatá-lo — então, ele se virou para mim — como sabia que podia resgatar você também, Sasuke.

Depois de mais um minuto em silêncio, mas um silêncio profundo que desta vez provinha de mim, voltei a me manifestar.

— Você acha que eu posso perdoar Itachi pelas escolhas que fez?

— Eu sei que você já o perdoou, Sasuke. — Foi sua resposta, dita com tamanha convicção que não me senti em posição de contestá-lo. — Você o perdoou no momento em que soube do quanto ele te amou. Você pode não concordar com os métodos dele, mas você já o perdoou. Eu sei disso.

Fiquei em silêncio mais uma vez até o momento em que Naruto me chamou. Quando o fitei, ele me estendia um objeto familiar, uma tira de tecido azul-escura bem recortada com um retângulo de metal costurado a ela. No seu centro, havia sido gravada a insígnia da folha.

— Pega, Sasuke — ele insistiu, oferecendo-a a mim e eu estendi a mão para sentir a textura do pano entre os meus dedos; eu ainda me lembrava dessa sensação. — Você a recusou da última vez, me disse para guardá-la para o momento certo... Bem, não vejo momento melhor do que esse! — enunciou com contentamento e um sorriso largo.

— Acha que estou pronto? — perguntei a ele e Naruto assentiu.

— Você está mais do que pronto, Sasuke! É um Shinobi orgulhoso de Konoha, anda, pega! — persistiu até que eu finalmente cedi e puxei o hitaiate para mim.

Segurei-o entre os meus dedos; ele estava certo: eu estou pronto. Pronto para voltar a ser um Shinobi orgulhoso da minha vila. Como Itachi foi um dia mesmo com tudo o que precisou fazer para protegê-la.

Aquele momento, aquele cenário, aquele sentimento me pareceu tão familiar. Tudo havia começado ali, naquele campo de treinamento. Meu envolvimento com o Time 7... Minha família. E agora eu estava de volta àquele lugar.

— Seja feliz, Sasuke-teme, e faça a Sakura-chan muito feliz também ou eu chuto esse seu traseiro de novo! — Naruto murmurou com outro dos seus sorrisos largos e calorosos.

Eu seria, prometi. Eu faria, jurei.

⊱❊⊰

Quando a semana chegou ao fim, chegou junto dela a data do meu casamento com Sakura. Ela não dormiu a noite passada comigo porque sua melhor amiga escandalosa, a Yamanaka, havia-a intimidado a dormir na casa dos seus pais para que pudesse arrumá-la devidamente para a cerimônia.

Então, eu me arrumei sozinho, ou pelo menos desfrutei da paz que imperava no apartamento até que Naruto e Sai chegaram para me ajudar. Irritei-me com eles mais cedo do que imaginei e por pouco não os coloquei para fora.

Meus trajes eram os tradicionais usados pelos noivos, escuros e discretos. Terminei de vestir a haori, por cima do quimono e da hakama cinzentas, ajeitando a gola quando Naruto e Sai bateram pela milésima vez à porta do quarto que eu havia trancado.

— Sasuke-teme, tá pronto?

Foi Naruto que perguntou, seu tom agudo pouco abafado pela porta, e eu ouvi o outro, Sai, cochichar para ele:

Naruto, Sasuke-kun leva tanto tempo se arrumando quanto uma menininha.

Rangi os dentes e destranquei a porta, escancarando-a e dei de cara com os dois que trocaram risinhos assim que passei por eles, e vieram junto, no meu encalço, para o meu desgosto.

— Você não tá nervoso, não é, Teme? — Naruto fez troça e em resposta Sai fez um comentário pouco pertinente a respeito de minhas núpcias com Sakura.

— Isso é, se ele não a deflorou ainda, não? — acrescentou logo em seguida e Naruto se apressou em calar a boca do idiota assim que o olhei de canto, fulminando-o.

— Sai, você não tem mesmo papas na língua, não é?! — censurou-o.

Sai o ignorou e abriu um sorriso bizarro para Naruto.

— Ao menos ele pode satisfazer melhor a Sakura, não é? Naruto, com o seu pintinho eu aposto que não deve nem chegar perto de dar prazer à Hinata-san...

— Sai, seu bastardo, retira o que disse! — Naruto gritou com ele, erguendo um punho para ameaçá-lo e eu abanei a cabeça, resignado a aturá-los.

Só mais tarde consegui me livrar desses idiotas enquanto estávamos a caminho do templo onde celebraríamos a cerimônia. Com a primavera, as cerejeiras que o cercavam haviam florescido e forravam todo o pátio com flores miúdas com tonalidades que iam do branco ao rosa e perfumavam o ambiente com uma fragrância delicada.

Era um dia claro e ameno, tipicamente primaveril. E, ao chegarmos ao templo, todos já estavam ali nos aguardando. Avistei Kakashi e Iruka primeiro, depois Tsunade e sua assistente, Shizune se não me engano, seguidos de Hinata com o pequeno Boruto no colo, Ino, Tenten, Kiba, Shino, Rock Lee, Chouji e sua namorada de Kumo, uma Kunoichi ruiva e bastante enfezada, percebi.

Não havia muitos convidados e por isso eu agradecia. Imaginei que a própria Sakura preferiria uma cerimônia mais íntima, reservada apenas aos mais próximos e conhecidos.

Um pouco depois, eu a veria chegar ao templo, acompanhada dos seus pais, e a partir de então não enxergaria mais nada. Havia flores no seu cabelo arrumado e as cores do quimono que a vestia eram apenas branco e vermelho, moldando-se ao seu corpo esbelto. Seu sorriso para mim, quando me viu, foi deslumbrante. Não posso descrevê-la de outra forma que não essa: uma visão.

Assim aconteceu e assim nós nos tornamos marido e mulher, um só por toda a eternidade porque o tempo de vida mundano me parecia pouco se comparado à grandeza do que sinto.

Nós trocamos os nossos votos, bebemos do sakê e recebemos a bênçãos dos deuses e das deidades, embora eu não sentisse necessidade de tê-las, antes desafiaria todo o cosmos se ele intentasse me separar dela.

Levei tempo demais para aceitar o amor outra vez na minha vida e demorei mais algum tempo até sentir que poderia me doar por inteiro para ela. Tive medo, sim, de assumir o que sentia e, por isso, fugi, neguei, menti. Mas no fim meu caminho voltou a cruzar o de Sakura de novo e de novo até que eu fizesse a escolha certa. Talvez isso seja o que as pessoas chamam de destino.

Eu a amo mais do que a mim mesmo e por anos acreditei que não estivesse à altura dela, por isso me afastei, por isso fui ríspido e frio, fingi não me importar enquanto meu corpo me traía e a protegia sempre que estivesse em perigo, reagia à mera presença dela.

Estou pronto para ter o amor de volta à minha existência vazia, estou pronto para deixá-la me preencher com sua luz, seu calor, sua intensidade que me ofusca. Durante anos fiquei preso ao passado, amarrado pelo meu desejo de vingança, pelo meu ódio, incapaz de seguir em frente, pensei que enlouqueceria antes de suprir essa fome que eu tinha por amor.

Mas Sakura me provou o contrário.

Eu te amo — sussurrou ela para mim ao término da cerimônia com um brilho genuíno no olhar e um sorriso delicado nos lábios.

Toquei seu rosto e em seguida levantei meu braço o suficiente para roçar meus dedos indicador e médio no centro da sua testa. Sakura voltou a sorrir para mim, exultante, creio que agora entendia o que eu queria dizer toda vez que a tocava assim.

Era minha forma de dizer que também a amava e que a amaria por toda a minha vida, por muito mais eu acredito; minha alma estaria presa à dela até o fim de todas as eras. Antes eu fui um garoto sem rumo, até ontem era um homem quebrado que tentava recolher os cacos do próprio passado, mas hoje eu começava a escrever a minha própria história, ali, com Sakura ao meu lado.

Eu estava pronto, eu estava inteiro.

Enfim.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Com o passar dos dias, Sakura passou a se mostrar mais compreensiva com a minha decisão de partir. Ela estava ciente de que eu precisava disso e se resignou com a ideia, embora, eu sabia, ela ainda fosse sofrer com a distância, uma vez que esta voltasse a nos separar.

 

Porém, Naruto e eu não nos falamos desde aquele dia. Ele estava me evitando e eu também confesso que não fiz muito esforço para encontrá-lo e explicar a ele meu ponto de vista.

 

Kakashi finalmente me deu a autorização da qual eu tanto precisava, assinada por todos os Kages, o que asseguraria meu direito de ir e vir por onde eu quisesse e bem entendesse. Eu seria livre para escolher minha destinação, contanto que não me envolvesse em problemas.

 

No dia da minha partida, levantei-me bem cedo para fazer os últimos preparativos. Vesti roupas escuras e discretas e pendurei nos meus ombros um longo manto negro, a ideia é que eu passasse despercebido pelos lugares que pretendia visitar.

 

Não levaria muito comigo: algumas mudas de roupa, um pouco de comida e dinheiro, minha kusanagi e apenas isso. Então, saí da quitinete onde passei os últimos meses (com exceção das semanas em que fiquei preso) e não olhei para trás uma única vez.

 

Segui para os portões da vila onde Kakashi e Sakura me aguardavam. Eu tinha certeza de que eles estariam lá para me dizer adeus. Quanto a Naruto... Bom, nós não estávamos nos falando ainda, mas eu gostaria que ele também estivesse lá.

 

Conforme me aproximava da entrada da vila, lembrei-me do motivo de estar iniciando essa jornada de penitência e autodescobrimento. Eu não tinha certeza se me encontraria lá fora, em algum lugar desse mundo vasto, mas tinha esperanças de fazê-lo.

 

Aquela era a primeira de muitas decisões certas que eu tomaria, convencia-me.

 

O primeiro passo em direção ao meu futuro, em direção ao meu recomeço.


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Notas finais do capítulo

Ai, meu Deus, só tem o Epílogo agora =o Vou me despedir apropriadamente só nele, sinto muito! U_U HAHAHAHA
Até o fim da semana postarei o Epílogo, ok? ;D
...
Muito obrigada a todos os leitores que chegaram até aqui comigo, foi um pouco mais do que um ano de Fanfic e eu estou muito contente por poder finalizá-la! Minha primeiríssima Long-Fic SasuSaku totalmente UN e fiel ao cânone :v
Enfim, vou deixar o discursinho pro próximo :v HUEHUEHUEHUE
...
Comentem simmmmm!!!!!! *3*
Até o próximo E ÚLTIMO! Ufa!