O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 32
Capítulo XXXII


Notas iniciais do capítulo

Trigésimo segundo e penúltimo capítulo de O Peregrino que eu dedico à Taliane Jansen pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574886/chapter/32

 O Peregrino

 

⊱❊⊰

Capítulo XXXII

⊱❊⊰

 

Ho no Kuni (País do Fogo), dias atuais.

 

Havíamos acabado de alcançar a fronteira do país do Fogo quando os membros do Taka decidiram que era hora de nos separarmos: eles seguiriam o restante do trajeto até os esconderijos de Orochimaru sozinhos.

As três figuras encapuzadas anuíram para mim ao se despedir:

— Nos vemos por aí, Sasuke! — disse Suigetsu, já virando o corpo para partir e acenando com um entusiasmo dissimulado, que combinava com seu sorriso cínico e afiado.

— Cuide-se, Sasuke — Jūgo murmurou para mim e me pareceu o mais sincero dos três.

— Até mais, Sasuke — Karin disse por último, concisa, ajeitando os óculos no rosto antes de se virar e rapidamente igualando suas passadas com as de Suigetsu.

Assisti-os diminuir no imenso descampado conforme se distanciavam num ritmo moderado. Todos os três, caminhando lado a lado, sob o ardor suave do sol que fulgurava no céu límpido daquela manhã.

— Hora de ir para casa! — Naruto exclamou com satisfação e alegria suficientes por nós três.

Voltei-me para ele e o encontrei com o braço direito enfaixado esticado no ar, apontando o caminho para Konoha. Seu sorriso idiota não deixava dúvidas quanto a memorar velhas lembranças do Time 7, quando ainda cumpríamos missões pela vila; três pirralhos que nada sabiam sobre o que verdadeiramente significava ser um Shinobi, mas cada um de nós descobriu, ao seu modo e atravessando percalços e rompendo os próprios limites, como ser um verdadeiro ninja.

Naruto estava a caminho de se tornar o sucessor de Kakashi. Juntos, nós éramos os Shinobis mais poderosos e éramos igualmente respeitados e temidos por todas as nações. Ele sempre seria o meu rival, independentemente da amizade e irmandade que cultivávamos a cada dia, nunca iríamos perder um para o outro, disso eu tinha certeza.

Já Sakura havia conquistado seu lugar de direito num mundo que era predominantemente ocupado por homens. Ela não permitira que seus oponentes a subestimassem por seu sexo e, aos meus olhos, ela se tornou a mulher forte que eu sempre soube que se tornaria.

O meu futuro — que por anos permaneceu-me uma incógnita —, gradualmente, revelava-se para mim e, conforme seguíamos em direção à vila, eu me sentia cada vez mais certo do que queria, do que faria, do homem que eu seria a partir de hoje, não mais um peregrino, não mais uma alma errante e deslocada.

Agora, eu poderia sorrir ao lado dos meus amigos sem sentir qualquer sentimento de culpa, poderia assumir meus laços sem quaisquer receios porque eu também lutaria por eles agora.

Eu vi muito do mundo e todas as pessoas que conheci me ensinaram lições valiosas, era hora de colocá-las em prática.

⊱❊⊰

Sakura e eu fomos visitar Naruto e sua esposa alguns dias depois de havermos resolvido a crise em Takigakure a havermos voltado para a vila. Por insistência dela, que gostaria que eu também conhecesse o primogênito do Dobe, acabei concordando em ir junto.

Batemos à porta do apartamento suntuoso onde ele morava agora com sua família e foi ele próprio a nos atender, com um largo sorriso no rosto:

— Ei, Sasuke, Sakura-chan! Entrem! Fiquem à vontade!

Nós o fizemos — eu de forma mais acanhada — e fomos recepcionados pela visão da esposa de Naruto sentada no sofá com um embrulho pequeno aninhado nos seus braços. Ela saudou Sakura com um sorriso e a mim, com cortesia.

Aproximei-me de forma furtiva, comedidamente, o oposto de Sakura que o fez sem qualquer receio, inclinando-se na direção do bebê a fim de conhecê-lo e perguntando à Hinata pormenores a respeito do parto.

Naruto se colocou de pé, ao lado da esposa e do filho e gesticulou com uma das mãos para mim, chamando-me para mais perto.

— Vem cá, Sasuke! Quero que conheça meu filho!

Atendi seu chamado e me acheguei um pouco mais, o bastante para vislumbrar o rosto da criança e meu riso contido quando o fiz chamou a atenção de todos:

— Ele se parece com você — disse a Naruto, observando os traços do rosto do bebê, a cabeleira dourada, embora fina, e os riscos negros em ambas as bochechas.

Naruto afagou a própria nuca, um típico trejeito seu que delatava nervosismo, e sorriu.

— É a minha cara, não é?

— Eu acho que há um pouco da Hinata nos traços dele — Sakura interferiu com um sorriso e um olhar intrigado.

Quando o menino se agitou nos braços da mãe e abriu os olhos, estes se mostraram ainda mais azuis do que os de Naruto, mais claros, e, de fato, mais suavizados nas bordas.

— Sem dúvida, há um pouco da Hinata nos traços dele — Sakura reiterou com mais certeza enquanto a criança nos olhava com atenção.

Depois disso, Hinata ofereceu a criança para que Sakura a segurasse, que aceitou sem qualquer lampejo de dúvida ou hesitação. Quando o segurou, não consegui demover meus olhos dela; a forma como o encaixou nos seus braços com segurança, como se já o tivesse feito um milhão de vezes no passado, como o ninou, fez com que eu me sentisse estranho.

Como se, de repente, o bebê que ela segurava e embalava tivesse tufos de cabelo escuro ao invés de loiros. Pisquei os olhos e tentei me desfazer da imagem que povoava persistentemente meus pensamentos, mas a possibilidade agarrou-se a mim com afinco e eu não pude deixá-la ir.

— Sasuke-kun, quer segurá-lo um pouco? — ela me perguntou com um sorriso delicado de incentivo e eu neguei.

— Eu... não sei como — admiti, engolindo a seco, e estava prestes a usar a ausência de um membro meu como pretexto quando ela riu docemente, antecipando minha evasiva tola.

— Não se preocupe, eu te mostro como!

Meu coração acelerou quando o pequeno e frágil Boruto foi passado para o meu único braço. Sakura me instruiu como dobrá-lo na altura certa e me mostrou como apoiar a cabeça do menino no antebraço para que não pendesse. Observou-me de perto, atenta, enquanto o embrulho se aconchegava ao calor do meu peito.

Olhei-o sem saber o que fazer ou mesmo se deveria dizer algo, mas o bebê pareceu reagir inexplicavelmente a mim e voltou a abrir os olhos, focando-os no meu rosto, não com estranhamento ou medo por estar no colo de um desconhecido, mas com um sentimento que eu não pude nominar, não naquele momento.

Então, depois que esse momento breve e insólito quebrantou-se, o menino voltou aos braços da mãe, e Sakura e eu decidimos que era hora de ir. Voltamos para o apartamento que Kakashi me emprestara — o mesmo de quando voltei à vila para saber do paradeiro de Sakura — e almoçamos enquanto ela conversava amenidades e relatava-me como todos reagiram ao seu retorno.

Embora eu não tenha em nenhum instante vocalizado a minha vontade de que Sakura se instalasse no meu apartamento, pareceu-me gradual e até mesmo um processo inevitável que ela passasse mais tempo aqui comigo do que na casa de seus pais ou no hospital.

Ela já dormia comigo há algumas noites e eu nem mesmo me surpreendia mais por encontrar algum pertence dela junto aos meus, como uma escova de cabelo sobre a cômoda, um vidro de xampu feminino ou um sabonete perfumado no banheiro, uma lingerie dela no meio das minhas roupas. Eu havia me acostumado até mesmo ao cheiro dela nos meus lençóis.

E embora quisesse acertar nossa situação o mais depressa possível já havia algum tempo, ela ainda não conhecia esse desejo meu.

Meu braço cicatrizava bem mais uma vez, e disso Sakura se assegurava. Quando Tsunade e Kakashi me perguntaram, contudo, se eu gostaria de tentar outra prótese, eu neguei. Não era importante no fim.

Mais alguns dias se passaram antes que eu decidisse que era hora de dar o próximo passo importante na nossa relação e, por isso, eu procurei por Kakashi no seu escritório naquela manhã. Como em outras vezes em que o busquei, ele se mostrou surpreso ao me receber:

— Sasuke, não esperava vê-lo aqui.

Fechei a porta, aproveitando-me do fato de que estava sozinho (um feito raro), e voltei-me para ele com seriedade, decidi que não faria rodeios a respeito do assunto.

— Precisamos conversar, Kakashi.

— Bom, diga-me do que precisa dessa vez — ele me incentivou, entrelaçando os dedos sobre o tampão da sua escrivaninha abarrotada de documentos.

— Preciso que me autorize a sair da vila outra vez — anunciei sem preâmbulos e vi o espanto atravessar o seu rosto cuidadosamente composto apenas por um segundo.

— Bem... — ele desentrançou os dedos para coçar o queixo coberto pela máscara. — Isso é inesperado, admito. Pensei que estivesse tudo acertado entre você e a Sakura.

Não era surpresa que ele soubesse de mim e de Sakura, pensei; Kakashi conhecia seus pupilos como poucos. Suspirei a fim de dar-lhe tempo de assimilar a situação corretamente. Então, murmurei talvez um pouco baixo demais devido ao meu constrangimento, mas ele ouviu-me de todo modo.

— E está. É por isso que preciso que a autorize a vir comigo.

A surpresa iluminou seu rosto, especialmente seus olhos cinzentos, e ele não teve receios quanto a engasgar um riso pouco apropriado, e ganhou um olhar fulminante meu em resposta.

— Ahh sim, compreendo agora, Sasuke.

Então, ele voltou a entrelaçar os dedos, mas dessa vez apoiou os cotovelos sobre a mesa e descansou o queixo sobre as mãos unidas, olhando-me por cima delas.

— Mas, diga-me, Sasuke, a Sakura sabe a respeito dessa viagem?

Corei contra a minha vontade e desviei meu olhar para o piso de linóleo gasto do escritório.

— Ainda não — balbuciei de mau humor e meu ex-sensei não se conteve em rir de mim dessa vez.

— Certo, darei autorização a vocês dois, mas me prometa que informará a Sakura a respeito disso, sim? — disse-me com um tom zombeteiro que acentuou o rubor no meu rosto. — E prometa que mandarão notícias quando puderem, certo? Cuide bem da minha menininha — pediu-me ainda com aquele sorriso irônico que lhe chegava aos olhos.

— Eu me entendo com a Sakura.

Praticamente vociferei para Kakashi, para que não se metesse nos meus assuntos com ela e saí pela porta, irritado pelo olhar pervertido que ele me lançou um pouco antes que eu me retirasse do seu escritório.

Mais tarde, eu voltei para casa, mal-humorado. Ruminava as palavras de Kakashi na minha cabeça porque eu sabia que precisava conversar com Sakura, mas me faltava coragem no último momento sempre que eu tentava trazer o assunto à pauta.

Tentei inúmeras vezes durante essa semana abordar o assunto “nosso futuro” com ela, mas me acovardei depressa, confesso. Eu não conseguia escolher as palavras certas e proferi-las no momento certo, e o resultado indesejável disso é que acabei me afastando um pouco dela.

Cheguei até mesmo a cogitar pedir conselhos do Dobe, perguntá-lo como o fez, admito, mas descartei o pensamento assim que ele me ocorreu: eu tinha o meu orgulho e o meu ego ainda, humpf.

Mas eu estava resoluto: conversaria com Sakura hoje à noite, contaria sobre a viagem, pediria a ela que viesse comigo e, por último mas não menos importante, pediria que se tornasse minha esposa antes que partíssemos.

É claro que, conhecendo o meu histórico e o de Sakura, eu deveria esperar que as coisas não saíssem como eu havia meticulosamente planejado.

Quando ela chegou do hospital, perto do anoitecer, relatou-me como foi o seu dia enquanto preparava nosso jantar. Nós nos sentamos à mesa e jantamos então, e ela me contou animada que eles receberam notícias de Shikamaru e Temari, que estavam em Suna e com os preparativos para o seu casamento já nos detalhes finais.

Enquanto ela me contava isso, mais uma vez alheia à mudança no meu humor, com o rosto corado e os olhos brilhantes de excitação, uma onda insuportável de desejo me assaltou; senti aquela pressão familiar na virilha e o sangue corria rápido e quente pelo meu corpo. Eu não consegui me controlar.

Levantei-me da cadeira, interrompendo o monólogo entusiasmado de Sakura, e avancei até ela com três passadas. Em um instante, tinha envolvido sua cintura com meu braço e a trazido para junto do meu corpo.

— Sasuke-kun, o que houve? — ela me questionou com preocupação, espalmando ambas as mãos no meu peito, e ficou sem a resposta (ao menos a verbalizada).

Colei minha boca na dela, silenciando outra pergunta sua, e encostei meu corpo ao dela, especialmente a parte de mim que clamava por alívio. Grunhi quando ela envolveu meu pescoço com seus braços e retribuiu meu beijo sôfrego, suspirando nos meus lábios.

Assim que libertei sua boca e afundei meu rosto no seu pescoço, ela tombou a cabeça para trás e agarrou-se ao meu corpo com mais força, roçando os quadris nos meus.

— Sasuke-kun, e-eu... Eu preciso de um banho primeiro! — queixou-se, embora suas ações a contradissessem, uma vez que retribuía as investidas dos meus quadris com cada vez mais vigor e começava a gemer baixo no meu ouvido.

Sem lhe dar ouvidos — e porque eu sabia que ela queria tanto quanto eu —, ergui-a com meu braço, passando-o por baixo do seu bumbum e fazendo-a enlaçar minha cintura com suas pernas, e a levei para o quarto.

Coloquei-a sobre os lençóis, desarrumando-os com minha pressa, e me esparramei por cima do seu corpo, tomando seus lábios para mim outra vez. Deslizei meus dedos pelos botões da sua blusa, mas meu destino era outro: agilmente, abri o botão da sua calça e desci o zíper. A própria Sakura retirou-a então para mim e em seguida arrastou-se mais para cima da cama, sentando comigo entre as suas pernas nuas enquanto desabotoava um por um os botões da sua blusa.

Assim que tive o primeiro vislumbre dos seus seios contidos pelo sutiã, tornei a empurrá-la para debaixo do meu corpo enquanto Sakura se dedicava à sua próxima empreitada: despir-me.

Deixei que suas mãos me libertassem da blusa e das calças e entrelacei nossos corpos assim que ela se livrou do sutiã: queria senti-la contra o meu corpo, nua, macia e deliciosa. Ela estava me deixando louco.

Eu ofegava descontrolado, incapaz de desacelerar meus movimentos, e os gemidos de Sakura quando beijei e mordisquei seu corpo apenas serviram de estímulos para aquela paixão insana que me consumia. Fiquei perdido mais uma vez nas curvas do seu corpo desnudo, na maciez e na quentura da sua pele, no seu perfume floral. Perdido na intensidade do amor que eu neguei por tantos anos.

Só quando me uni a ela, quando me tornei um com o seu corpo, eu consegui decrescer a veemência daquele desespero incompreensível e fixei os meus olhos nos dela, entrecerrados e nublados pelo desejo, enquanto me movia junto dela.

Agarrei os lençóis amarfanhados e descansei minha testa na dela, o peso do meu corpo estava todo no meu braço flexionado. Gotas de suor corriam pela minha espinha, tal como as unhas de Sakura. Ela afundou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos de vez, gemendo meu nome baixinho, tão entregue quanto eu àquela sensação incomparável e sublime.

No fim, atendi suas súplicas por mais e afundei meus lábios nos dela, liberando-os apenas quando Sakura gemeu uma última vez, como nunca até então, e eu encontrei a minha libertação finalmente, desfazendo-me junto das ondas de prazer que me assaltavam.

O braço que suportava meu peso cedeu com o cansaço e eu caí sobre o corpo dela, respirando ruidosamente. Não me lembro de ter me sentido dessa forma assim antes, desesperado de desejo e Sakura não havia nem ao menos me incitado sexualmente. Eu me perguntava quando minha libido se tornara tão incontrolável ao ponto de eu atacá-la no meio do jantar quando senti seus lábios roçarem meu pescoço e ombro suados.

Levantei meu rosto do seu ombro delicado e encontrei seu olhar na semiescuridão. Sakura envolveu meu rosto e afastou meu cabelo molhado de suor dos meus olhos sonolentos. Agora era o momento ideal. Se eu tentasse agora, enquanto compartilhávamos um momento tão íntimo, talvez não me acovardasse.

Abri a boca num arquejo quase silencioso, ainda recuperava meu fôlego:

— Sakura, eu...

Ouvimos três batidas fortes ecoarem por todo o apartamento — e só o fizemos porque os cômodos eram preenchidos por um silêncio sepulcral; vinha da porta da frente.

Sakura e eu nos viramos na direção da sala de estar quando as batidas tornaram a soar, mais urgentes e poderosas dessa vez.

— Quem será a essa hora? — ela perguntou num sussurro e eu cerrei os dentes porque percebi que o momento perfeito havia acabado de ser destruído por quem quer que estivesse à porta.

Praguejando, deslizei de cima do corpo de Sakura e para a beirada do colchão, roçando meus pés descalços no assoalho frio enquanto procurava por minha cueca e por minha calça; levantei-me para me vestir e Sakura puxou os lençóis por sobre seu corpo.

— Seja quem for — eu finalmente a respondi —, o idiota está morto.

Vesti minha blusa e enfim saí do quarto, e, quando marchava até a porta da frente, as batidas soaram de novo, mas dessa vez acompanhadas por um tom estridente que eu conhecia muito bem:

— Sasuke-teme, eu sei que você tá aí e é melhor abrir essa maldita porta, ‘ttebayo!

Grunhi de raiva e escancarei a porta, dando de cara com Naruto. Para evitar escândalos — e porque não permitiria que o Dobe entrasse no meu apartamento estando Sakura nua na minha cama — empurrei-o para o corredor e fechei a porta atrás de mim, postando-me à frente dela como um maldito cão de guarda, mas foda-se, Sakura continuava nua na minha cama.

— O que você quer? — cuspi de cenho franzido e dentes cerrados; eu não acredito que o idiota estragou o meu momento com Sakura.

Naruto franziu a cara, confuso e desgostoso, então cruzou os braços sobre o peito e fungou, não se deixando intimidar pela aura hostil que eu certamente emanava:

— Que história é essa de que você pretende partir da vila outra vez, hein, seu bastardo?!

— Eu vou matar o Kakashi — suspirei e pressionei meus dedos contra as minhas pálpebras cerradas, deixando meus ombros caírem, mas Naruto saiu em defesa do traidor.

— Ei, não culpe o Kakashi-sensei! Ele achou que eu devia saber o que você está planejando, Teme, e francamente eu quero muito chutar esse seu traseiro agora! Como assim você vai nos abandonar de novo?!

— Fale baixo — eu vociferei, mas Naruto não me deu atenção.

— Eu não ‘tô nem aí! Eu ‘tô muito puto com você agora, Sasuke! Você vai mesmo deixar a vila de novo?! Vai deixar a Sakura-chan de novo?! Eu devia te dar uma surra, seu...!

— Basta, Naruto! — exigi num tom moderado. — Pelo visto o Kakashi não te contou tudo — esclareci e ele piscou, aturdido. — Mas não importa, os meus assuntos não te interessam, muito menos aqueles que dizem respeito a mim e à Sakura. Cuide da sua família — declarei e não me importei com a pontada de remorso que senti ao deixá-lo ali, plantado no meio do corredor vazio.

Simplesmente dei-lhe as costas e entrei no apartamento, trancando a porta assim que a fechei. Acredito que ele tenha seguido meu conselho, pois não voltou a me perturbar — o que fez com que eu me sentisse ainda mais culpado.

Quando voltei ao quarto, as luzes estavam acesas e Sakura estava de pé junto à cama, enrolada nos lençóis e em mais nada.

— O que houve, Sasuke-kun? — ela me perguntou e me soou preocupada.

Mas eu meneei a cabeça devagar e evadi seu questionamento.

— Não era nada, vamos tomar banho.

Apesar de ter aceitado meu ridículo subterfúgio, algo me dizia que ela estava desconfiada a respeito do meu comportamento recluso, embora não tenha manifestado, mesmo nos dias seguintes, qualquer tentativa de me pressionar para saber a verdade.

É claro que eu sabia que essa verdade viria à tona de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde, mas admito que posterguei aquele incômodo até o ponto em que não pude demais, o momento em que a própria Sakura me colocou contra a parede.

Isso aconteceu numa tarde, quando eu voltei ao apartamento depois de uma caminhada pela vila; caminhadas, em geral, eram a única atividade que me permitiam espairecer a cabeça cheia, desanuviar o torvelinho que se tornou meus pensamentos.

Contudo, quando voltei naquela tarde em especial, encontrei Sakura sentada no sofá, cabisbaixa. Apesar do meu instinto me dizer que havia algo errado, passei pela sala de estar com naturalidade e me aproximei da geladeira para pegar a garrafa de água gelada; as temperaturas estavam amenas naquele dia em Konoha, um perfeito início de primavera, de fato.

Sakura se aproximou de mim por trás, com passos silenciosos, e sua voz soou às minhas costas, acusadora:

— Quando pretendia me contar?

Apesar disso, contudo, quando me virei para ela, seus olhos já brilhavam e lágrimas raivosas escorriam pelo seu rosto. Abri a boca para lhe falar, mas ela me interrompeu.

— Quando pretendia me contar que ia embora outra vez, Sasuke-kun?!

Suspirei e amaldiçoei mentalmente tanto Kakashi quanto Naruto, qualquer um dos dois que tivesse lhe contado aquilo, embora eu apostasse mais em Kakashi, ele me deu a impressão de que gostaria de me punir dessa forma.

— Sakura, eu... — tentei conversar com ela outra vez, mas ela virou-se com raiva e pressionou os punhos na testa quando voltou para a sala de estar com passadas rápidas.

— Eu não acredito que fui tão idiota ao pensar que você ficaria! Eu não acredito em como fui imbecil! — ela gritou consigo mesma, censurando-se. — Pensar que você ficaria aqui por minha causa, eu devo mesmo ser uma estúpida!

Tentei me aproximar, mas ela me repeliu; andava pela mobília sem ter um rumo certo, xingando a si própria e a mim. Tive medo que perdesse a cabeça e usasse sua força mesmo sem querer, mas ela se controlou algum tempo depois e respirou fundo várias vezes. Limpou as lágrimas do rosto e só então me fitou.

A intensidade nos seus olhos me pegou com a guarda baixa.

— Eu vou com você — declarou de súbito e com firmeza.

— O quê? — eu perguntei por que talvez eu tivesse ouvido errado, mas Sakura se aproximou de mim como um furacão e agarrou minha camisa entre os seus punhos.

— Eu vou com você, Sasuke-kun! Não importa o que você diga ou faça, eu não vou ficar para trás dessa vez, entendeu?! Então é bom se acostumar com a ideia! — berrou para mim com novas lágrimas irrompendo dos seus olhos brilhantes e vermelhos.

E eu ri contido então, de como eu havia protelado tanto essa situação que havíamos acabado dessa forma, com Sakura gritando comigo e dizendo que me seguiria quer eu quisesse ou não, quando na verdade eu planejara levá-la comigo o tempo todo!

Sakura não pareceu entender o que meu riso significava, tanto que me soltou e me olhou chocada.

— Do que está rindo, Sasuke-kun?

Eu a olhei, incapaz de parar de me divertir com toda aquela situação, e murmurei:

— Eu te levo comigo, Sakura — declarei com sinceridade, mas acredito que o sorriso torto na minha boca a levou a recuar e a duvidar das minhas intenções. — Mas...

— Mas o quê, Sasuke-kun?

— Existe uma condição — expliquei e ela arfou incerta, insegura, receosa, talvez.

— Que... Que condição? — balbuciou com a voz alquebrada.

Meu sorriso zombeteiro tornou-se um sorriso sincero, afetuoso, afável. E só então eu lhe revelei a minha condição, o que eu quisera lhe pedir desde que voltamos para a vila juntos, desde que eu me entreguei a ela pela primeira vez ainda em Taki, desde que descobri que não posso mais ficar longe dela. Preciso de Sakura. Eu amo Sakura.

— Case comigo.

Ela levou quase um minuto para assimilar meu pedido, eu acredito. Depois, se jogou contra mim e derrubou a nós dois sobre o assoalho acarpetado da sala de estar, em todo o tempo beijando meu rosto e meu pescoço e murmurando sem cessar:

— Sim, sim, sim!

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

 

Contar ao Time 7, mais especificamente Naruto e Sakura, a respeito da minha decisão de viajar pelo mundo foi difícil, como eu previ que seria desde o começo.

 

Naruto gritou comigo, acusou-me de estar abandonando o Time mais uma vez e por pouco nós não discutimos como costumávamos fazer antigamente. Foi Kakashi quem nos apartou dizendo que mesmo que não gostasse da minha decisão a respeitaria e aconselhou Naruto a fazer o mesmo.

 

— O lugar dele é aqui conosco, Kakashi-sensei. — Foi sua resposta e seus olhos me fulminavam como há meses não faziam.

 

— Entenda a decisão dele, Naruto.

 

Kakashi pediu a ele mais uma vez, tentando mediar nossa equipe como fez em todos esses anos, mas Naruto bufou e saiu da quitinete batendo a porta e murmurando um “ele que faça o que quiser, ‘tô cansado disso, ‘ttebayo”!

 

Kakashi me encarou com condescendência um pouco antes de seguir pelo mesmo caminho de Naruto.

 

— Ele vai te entender, só dê tempo a ele, Sasuke — murmurou.

 

Por último, quando ficamos apenas os dois na quitinete apertada, Sakura suspirou e estava prestes a sair pela porta também quando a interrompi:

 

— E você não vai me dizer nada? Não vai gritar comigo e me pedir para ficar, Sakura?

 

Ela estacou perto da porta, resolveu fechá-la com um som suave e só então se voltou para mim; seus olhos estavam tristes.

 

— O Kakashi-sensei está certo, temos que compreender a sua decisão, a sua vontade, ainda que ela te leve para longe de nós.

 

— Não é definitivo — eu assegurei de cenho franzido enquanto ela se aproximava com passos comedidos de mim.

 

— Mas é por um tempo indeterminado — ela rebateu, estendendo uma mão para tocar o meu rosto assim que me alcançou. — Até mesmo você precisa reconhecer, Sasuke-kun, que não sabe quando voltará para nós.

 

Afastei-me do seu toque, do seu calor, do seu afeto, não suportava fazê-la infeliz.

 

— Eu preciso descobrir o meu lugar no mundo, Sakura; quem eu sou, quem eu devo ser. Não pude fazer isso antes porque estive cego pelo ódio e pelo desejo de vingança. Há tantas questões e eu preciso de respostas.

 

 — E não pode encontrá-las aqui, não é?

 

Dei-lhe as costas e vaguei sem rumo pelo cômodo apertado.

 

— Isso é algo que eu preciso fazer sozinho.

 

— Ao menos você não está saindo da vila à surdina dessa vez — Sakura sussurrou numa tentativa falha de me esconder seus sentimentos; céus, como eu me detestava, como eu era repugnante.

 

Voltei-me para ela e me aproximei da sua silhueta frágil com passadas decididas.

 

— Você sabe que será diferente dessa vez — disse-lhe, olhando-a nos olhos, não havia mais segredos entre nós dois, não agora.

 

Sakura abriu um sorriso frágil para mim, ínfimo. Seu lábio inferior tremeu e as lágrimas se mostraram imparáveis a partir daí: escorriam pelo seu rosto livremente, molhando suas faces.

 

— Eu vou esperar por você, eu prometo.

 

Cerrei os dentes com raiva porque eu jamais pediria isso a ela, eu não tinha o direito de lhe pedir ou exigir nada no fim das contas, não depois de tudo, mas isso era exatamente o que eu queria, o que eu precisava: a certeza de que ela ainda seria minha, de que o seu amor seria apenas meu.

 

Quando Sakura me abraçou, eu não consegui recuar, eu não tive forças para me afastar. Eu partiria dentro de alguns dias, mas dizer adeus a ela mais uma vez estava me matando por dentro.

 

Ainda que fosse diferente dessa vez, como eu mesmo me convencia, a saudade seria a mesma, o vazio que ocuparia a minha alma com ausência dela, de toda a minha família, seria o mesmo.

 

Mas eu precisava desse tempo sozinho, precisava conhecer o mundo no qual eu vivia. Eu precisava saber quem eu era e quem eu seria a partir de agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pra quem chutou pedido de casamento e pedido para acompanhá-lo na viagem, acertou! :v Kakashi e Naruto fizeram o Sasuke passar um aperto, hein?! HAHAHAHAHA
...
No próximo e último capítulo de O Peregrino, teremos casório com mais cenas de amorzinho para vocês!
Sobre o que será o epílogo... Bem, vou deixá-los com o suspense! Hehe
Nos vemos nos reviews! Até o próximo! ;D