O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 20
Capítulo XX


Notas iniciais do capítulo

Vigésimo capítulo.
Boa leitura!



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O Peregrino

⊱❊⊰

Capítulo XX

⊱❊⊰

Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

— O pico das Shibito-bana... — repeti, intrigado. — Por que o chamam assim?

Ajisai pareceu divagar por um instante antes de responder minha pergunta.

— É que... durante o ano inteiro, mais notoriamente no outono, flores de Shibito-bana crescem ao longo de toda a montanha e a colorem por inteiro. Devido à tonalidade carmesim das pétalas, alguns forasteiros, há muitos anos, de passagem pela região, acreditaram que a montanha sangrasse todos os outonos e a viram como um sinal de mau agouro, espalhando rumores a respeito da montanha ser assombrada por espíritos desencarnados.

“Mesmo hoje, poucos se aventuram por lá e até mesmo os mais céticos têm medo de chegar perto da montanha devido à espessa neblina que a envolve desde o seu pico. Dizem que a névoa lá é tão densa que você não consegue enxergar sequer um palmo diante do rosto e ela jamais se dispersa.

— Shinobis de Konoha procuraram vasculhá-la? — questionei-a, mesmo que já imaginasse a resposta.

Ela balançou a cabeça devagar com um ar soturno.

— Eles tiveram receio de ir até lá, uma vez que ouviram os rumores sobre a montanha. Além disso, alegaram que a região que cerca a montanha era íngreme demais e o que único acesso a ela era estreito demais. Alguém nas condições de Sakura-san, eles disseram, que havia acabado de escapar de uma batalha mortal, não teria conseguido ir muito longe se se movesse por um terreno como aquele.

Covardes, desdenhei deles com raiva. Talvez por isso não a houvessem encontrado, os medrosos haviam descartado com indiferença o único local no qual Sakura poderia ter se refugiado durante todo esse tempo.

— Como chego a essa montanha?

Ajisai ajeitou uma mecha de cabelo escuro, colocando-a atrás da orelha.

— Ela está localizada a cinquenta quilômetros descendo o rio Kitakamu a partir da sua nascente, a nordeste. É uma montanha solitária, cujo cume está sempre oculto pela névoa; a floresta no seu sopé é raquítica e lenhosa. Se Sasuke-san se perder, basta escalar um imenso paredão de calcário, que fica a oeste da margem do rio. Do seu topo, poderá vê-la. De qualquer modo, é só procurar pelas Shibito-bana, elas crescem em abundância nos arredores da montanha; quanto mais perto estiver dela, mais flores Sasuke-san verá.

— Entendi — anuí, mas antes que pudesse me virar e começar minha busca, ouvi a voz de Ajisai me chamando, detendo-me.

— Sasuke-san, espere.

Olhei-a, esperando que me dissesse o que queria, mas ela se calou. Fitou-me com mágoa, notei, e cruzou as mãos um tanto trêmulas. Então, suspirou timidamente.

— Conhece a lenda das Shibito-bana, Sasuke-san? — indagou retoricamente e pôs-se a explicar-me seu significado. — Essas flores... Elas não apenas simbolizam a saudade e a dor que sentimentos pela perda daqueles que amamos. É uma flor que também tem significado para os amantes cujos caminhos se extraviam.

“A lenda diz que dois duendes, perdidamente apaixonados um pelo outro, guardavam cada um as flores e as folhas dessa planta. Como a planta jamais dava flores e folhas num mesmo período, os dois duendes, Manju e Saka, estavam fadados a jamais poderem se encontrar.

“Quando a saudade se tornou insuportável, Manju e Saka decidiram contrariar a ordem natural e marcaram um encontro. Porém, suas transgressões foram descobertas pelos deuses e, como consequência, ambos foram punidos, sentenciados a jamais poderem se encontrar novamente, por toda a eternidade.

Pesei suas palavras, mas Ajisai tornou a se pronunciar:

— Sasuke-san... e a Sakura-san... Vocês… Vocês passaram por muita coisa, não é mesmo? Inclusive, seus caminhos se extraviaram por muitas e muitas vezes.

— Agora é diferente — murmurei, ciente do impacto de minhas palavras, não só para Ajisai, mas também para mim e para Sakura. Para nós dois. — Dessa vez é diferente.

— Eu compreendo — ela sussurrou cabisbaixa, ainda ferida por minha rejeição, creio. — Então não vou mais segurá-lo aqui. Espero de todo o coração que a encontre, Sasuke-san — disse-me, erguendo a fronte para me mostrar seu sorriso.

Assenti e em seguida decidi que era hora de partir. Apesar da noite já haver se achegado e de eu estar faminto e exausto, não poderia parar. Não agora que tinha uma pista concreta sobre o paradeiro de Sakura.

Enquanto me afastava, ouvi Ajisai murmurar tristemente entre o canto das cigarras:

— Adeus, Sasuke-san.

Não houve tempo para remorsos, apenas segui em frente, resoluto; passei na casa da velha Shizuka para apanhar minha bolsa de viagem e logo em seguida eu já me afastava da vila. Não tinha certeza se voltaria à Imagawa, portanto já estava preparado para a possibilidade bastante real de encontrar Sakura e partir do País da Cachoeira o mais depressa possível.

Deixei a vila com a lua cheia alta no céu e me aventurei pela floresta, tomando a mesma trilha de antes, que me levaria até o rio Kitakamu mais uma vez. Onde outrora soava o canto das cotovias e dos rouxinóis, nos galhos das faias escarlates, agora restava apenas o piar de corujas solitárias.

Segui a trilha num ritmo constante, sem diminuí-lo nem apressá-lo. Estava consciente dos limites do meu próprio corpo e do modo como estava me cansando rápido devido à quantidade de chakra que usei para lutar contra Ichiro e os outros. Acho que consegui caminhar mais um quilômetro ou dois antes de ser forçado a parar pelo meu próprio corpo.

Estava à margem esquerda de um trecho mais baixo do rio Kitakamu e aproveitei a pequena pausa para encher meu cantil com água e revirar a bolsa de viagem até encontrar um pacote de amendoins cobertos com molho de soja. Era melhor do que nada, refleti, antes de beliscar o pacote enquanto escorava meu corpo contra o tronco de uma árvore velha.

Porém, conforme a fome desaparecia, o cansaço tratava de me suplantar. Minhas reservas de chakra estavam mais baixas do que eu havia imaginado e me vi forçado a estender aquela pausa. Como a temperatura havia despencado muito na última hora, recolhi alguns galhos secos nos arredores e os reuni para uma fogueira. Tive o cuidado de usar apenas um pouco de chakra para o meu jutsu Katon e em pouco tempo estava aconchegado perto do fogo, encolhido no manto limpo que tirei da bolsa.

Enquanto a revirava, acabei reencontrando os dois pergaminhos que permaneciam lacrados e decidi que era hora de abri-los. O primeiro, como eu já sabia, continha informações a respeito de alguns membros da organização criminosa Higanbana Sangrenta, de modo que encontrei pouco uso para ele, uma vez que já os havia enfrentado e conhecia os estilos de luta e jutsus de três deles. O primeiro pergaminho eu queimei com pressa, indiferente.

O último pergaminho, entretanto, era um mistério. Kakashi não havia mencionado seu conteúdo, mas fez questão de enfiá-lo no meio dos pertences que eu trouxe para cá. Manuseando-o entre minhas mãos, também não encontrei nenhuma pista a respeito do seu teor, então rompi seu lacre e fiquei surpreso por encontrar a letra de Sakura infundida no papel fino.

A despeito do aperto inicial que senti no peito, li a primeira linha e, depois, passei a ouvir sua voz melódica nos meus pensamentos, ditando cada uma daquelas palavras.

Querido Sasuke-kun,

Se estiver com esse pergaminho em mãos agora, então significa que minha missão foi um insucesso. Dei instruções específicas ao Kakashi-sensei para que ele só seja entregue a você, algum dia, quando retornar à Konoha, se algo acontecer a mim. Jamais me perdoaria se eu partisse sem nos despedirmos, sem ao menos trocarmos algumas últimas palavras. Estas palavras, apesar de limitadas, espero de todo o coração que o alcancem.

Se, por acaso, Naruto tiver posto as mãos nesse pergaminho e ter te entregue sem o meu consentimento... Bem, diga a ele, por mim, que está numa encrenca, e das grandes! Ah, e também não brigue com o Kakashi-sensei por ter me deixado ir nessa missão. Há pessoas adoentadas em uma vila pobre que precisam de mim. E eu também precisei chantagear o sensei com seus livros Icha Icha para conseguir permissão.

De todo modo, a razão pela qual estou te escrevendo é porque... Já imagino que saiba o motivo, mas eu gosto de reafirmá-lo. Quando uma garota abre o seu coração, um homem sempre deve escutá-la. Você sempre me escutou, Sasuke-kun. Obrigada por isso, mesmo que na época não tenha podido me retribuir.

E eu preciso tirar essas palavras de dentro de mim: Você me tornou uma pessoa melhor e, por isso, eu também te agradeço. Você me mostrou, mesmo ao seu jeito, que algum dia eu seria forte e que eu não precisaria depender de vocês dois para ser protegida para sempre.

Mesmo com os anos e a distância que agora nos separam, quero que saiba que eu tenho orgulho de você, de quem você se tornou. Assim como tenho orgulho do Naruto, mas não diga isso a ele, por favor, ultimamente ele já anda com o ego inflado demais.

Espero que algum dia possa me perdoar por essa ausência.

Eu te amei por muito tempo. Eu te amo a cada dia mais intensamente e é provável que eu te ame por muito mais.

Sua, por toda a eternidade,

Sakura.

Tornei a enrolar o pergaminho com um sorriso torto na boca. Maldito Kakashi. Ele sabia exatamente como me pressionar e motivar — como se já não estivesse suficientemente motivado — a encontrá-la. Esse último pergaminho... Eu não consegui queimá-lo. Então, guardei-o de volta na bolsa e me levantei. Já havia descansado o suficiente.

Com os pés, empurrei um punhado de terra sobre a minha fogueira e retomei o ritmo de antes, desta vez incansável. Continuei a descer o rio pela margem esquerda; a lua cheia era refletida nas suas águas escuras e agitadas.

Quando avistei o paredão de calcário que Ajisai mencionou, escalei-o em três saltos com as solas dos meus pés envoltas em chakra. Do seu topo, não demorei a avistar os contornos de uma imensa montanha contra o céu negro, iluminada apenas parcialmente pela lua cheia.

Desci do paredão e continuei a seguir em frente; entre mim e a montanha ainda havia, pelo menos, umas quarentas milhas.

A vegetação densa e vistosa, aos poucos, tornou-se cada vez mais esparsa e raquítica, como Ajisai havia me advertido. Alguns lírio-aranha vermelhos já despontavam no meio do caminho, a princípio tímidos e solitários, mas à medida que avançava, eles pluralizavam, dobrando em número.

O relevo também foi se tornando gradativamente mais íngreme e o solo, rochoso. Agora, a floresta era quase inexistente e apenas arbustos cresciam entre os espaços dos grandes penedos. Uma névoa sutil desceu sobre mim.

No princípio, confundi sua umidade fria com o orvalho da noite, mas uma bruma espectral não demorou a cair sobre a região, tão silenciosa quanto um suspiro. Àquela altura, eu já havia começado a subir a montanha através de uma trilha estreita paralela aos rochedos.

Descobri nesse meio tempo que Ajisai não havia exagerado: a névoa era tão densa que eu mal enxergava um passo adiante, perdido na escuridão como estava. Mas o pensamento de recuar nem mesmo me passou pela cabeça e eu segui em frente, resoluto.

Meus pés chutavam pequenos cascalhos que eram lançados numa imensidão vazia, despencando montanha abaixo. Ouvia o som da minha respiração ofegante, dos meus passos constantes e mais nada. Eu estava, de fato, sozinho naquela busca.

As condições adversas só melhoraram um pouco com a chegada da alvorada; a madrugada gélida e soturna paulatinamente se tornou um alvorecer ameno e o céu clareou primeiro para um tom cinza-gelo antes que o sol surgisse a leste, por trás da cadeia de montanhas que cerceavam a região, à minha direita.

Estava mais ou menos na metade do percurso quando a trilha me levou direto para uma floresta densa e úmida com as copas de salgueiros chorões roçando a relva molhada e juncos crescendo em lagoas minúsculas. Rochas estavam cobertas por líquens e rosas de musgo.

Mas o mais impressionante eram os lírios-aranha vermelho que, juntos, forravam todo o leito da floresta com seu tom vívido. Eles sufocavam outras espécies de flores e seus caules erguiam-se altivos do solo por toda a parte. Centenas deles que, amontoados, tornavam a relva um leito de sangue.

Avancei a floresta, fazendo pouco caso às flores ou à bruma que ainda impossibilitava que eu enxergasse algo além de um raio de quinze metros. Agora entendia por que os aldeões a chamavam de Pico das Shibito-bana, além dos rumores sobre a montanha ser agourenta. A aura que a cercava... Não me passava uma boa impressão.

Porém, optei por encarar a situação toda com indiferença e continuei a me embrenhar na mata. O sol que nascia a leste era pouco visível ali, com a névoa cobrindo toda a floresta e as copas vistosas e frouxas dos salgueiros chorões entrelaçando-se umas às outras.

Em certo ponto, porém, parei para observar melhor o entorno. Eu sentia que havia algo oculto naquela floresta; não era natural e definitivamente não deveria estar ali. Ressabiado, vasculhei todos os cantos e senti um formigamento incomum alastrar-se pelo meu membro protético. Não era apenas isso, tinha algo errado naquela floresta.

Franzindo o cenho, virei-me para um imenso rochedo à minha esquerda. Samambaias e líquens cresciam a partir da rocha imensa e mais lírios-aranha vermelhos se amontoavam sob ela, no chão. Eu não conseguia fazer passar aquela sensação de deslocamento, por mais que tentasse.

Por isso, ativei meu Sharingan e dei uma boa olhada em toda a floresta. Sorri de canto quando matei o enigma: um fluxo de chakra muito sutil corria por cada polegada daquela floresta e eu só pude detectá-lo por causa do meu dōjutsu.

Na verdade era uma corrente de chakra tão ínfima, tão delicada que apenas alguém muito talentoso notaria, ou alguém como eu, no caso, que possuía uma linhagem sanguínea muito avançada que não se permitia ser ludibriada tão facilmente.

— Genjutsu — murmurei comigo mesmo, satisfeito por minha descoberta.

Por isso a névoa era tão espessa, por isso poucos se aventuravam por essa montanha: ela estava envolvida por um genjutsu muito poderoso. Uma camuflagem, um disfarce. Para o quê? Eu não tinha ideia.

Reuni chakra o suficiente no meu olho direito e dispersei o genjutsu sem maiores dificuldades. Foi instantânea a forma como a névoa se dispersou e como a luz diurna permeou as copas das árvores, roçando a relva coberta pelos lírios-aranha. Uma vez que meu caminho foi purificado da influência externa do genjutsu, virei-me para a mesma rocha de antes, aquela que havia chamado minha atenção por alguma razão.

Contive uma exclamação quando vi que a rocha se revelou, na verdade, uma caverna. Sem as samambaias e os líquens, a entrada da gruta era um pouco estreita e inclinada demais, talvez. Mas eu decidi me arriscar do mesmo modo.

Aproximei-me cauteloso e adentrei à cova com passos comedidos. Ali o ar era mais pesado, ainda mais úmido e água respingava das estalactites no teto, pingando nas rochas alternadamente.

Mantive o meu Sharingan ativado porque não queria ser pego em outro genjutsu de novo e procurei apertar um pouco o passo; estava me sentindo encurralado naquela passagem estreita. Por fim, depois de mais alguns minutos, uma luz ínfima alcançou-me, revelando uma possível saída.

Apressei-me ainda mais na direção do facho de luz e, quando o atravessei, precisei piscar meus olhos a fim de habituá-los à luminosidade cegante. Uma vez que o fiz, fiquei surpreso com o cenário que encontrei.

Tratava-se de uma galeria oculta, no coração da montanha. Mais acima, o céu claro resplandecia através de uma fenda na rocha; abaixo, havia um prado vasto, forrado por flores. Mais especificamente lírios-aranha, eles praticamente transbordavam da campina. Também havia uma pequena queda d’água a alguns metros dali, que culminava em uma laguna rasa e cristalina. A água brotava de uma fissura no rochedo e desaguava na poça serena, rodeada por juncos.

Mas o que verdadeiramente chamou a minha atenção foi a casa de madeira muito mais adiante, construída com pau-ferro e telhado de palha. Era modesta, sombria e misteriosa, com uma varanda antiga no seu entorno e degraus na sua entrada.

Curioso e atraído pela visão incomum da casa, eu resolvi me aproximar; atravessei a campina de lírios-aranha cauteloso, mas parei bruscamente quando meus reflexos Shinobi alertaram-me para o perigo. Sem delongas, puxei minha espada da sua bainha e usei a lâmina para rebater três senbons que haviam sido atiradas com precisão contra mim.

As agulhas de metal guincharam de encontro à minha Kusanagi e tiveram suas trajetórias extraviadas, caindo silenciosas sobre a campina ao meu redor. Vasculhei o entorno, à procura do meu adversário e me surpreendi quando uma mulher de meia idade recuou do prado.

Tinha rugas no rosto e fios grisalhos mesclavam-se ao seu cabelo longo e escuro. Trajava um simples quimono azul-escuro, mas trazia em cada mão mais três senbons. Seus olhos castanhos fulminaram-me quando ela postou-se entre mim e a casa, mais ao fundo, impedindo minha aproximação.

— Como achou esse lugar?! — demandou furiosa com sua voz rouca enquanto lançava mais agulhas contra mim.

Voltei a me defender sem dificuldades, bloqueando-as todas. Mas, de repente, a mulher saltou do meio da campina e realizou alguns selos de mão, concentrando chakra no seu peito e boca:

Suiton: Suiryūdan no Jutsu!

Da sua boca, uma imensa quantidade de água foi expelida; um jato tão poderoso que assumiu a forma de um dragão de água. Cerrei os dentes e também preparei chakra suficiente nos meus pulmões. Mesmo no chão, contra-ataquei seu dragão de água com meu próprio dragão de fogo:

Katon: Gōryūka no Jutsu!

A bola de fogo que explodiu da minha boca também assumiu a forma da cabeça de um dragão, que se chocou com a técnica da Kunoichi. Ambos os dragões se destruíram, transformando-se numa cortina de vapor que caiu sobre toda a campina, dificultando, certamente, o campo de visão dela, mas não o meu.

— Não sei como conseguiu detectar o meu genjutsu — ela murmurou para mim com mágoa. — Mas farei com que se arrependa por isso!

— Não pretendo ir embora até ter certeza de que alguém que conheço não está aqui — argumentei com uma calma fria enquanto me preparava para lutar com aquela mulher.

Nós dois nos encaramos, furiosos, pelo menos até que uma voz dolorosamente familiar soasse à distância, na direção da casa:

— Ginchiyo-obaa-sama! O que está havendo?!

Olhei assustado para a casa e foi então que a vi, parada na varanda e encarando a cena toda com assombro. Era ela. Mais madura do que eu me lembrava, mais bonita do que a minha memória imperfeita poderia reproduzir. Vestida com um quimono azul-escuro, tal como a Kunoichi mais velha diante de mim, e com o cabelo curto penteado de uma forma diferente da Sakura com quem eu convivi.

Mas ainda era ela: esbelta, olhando-me cética com a boca rosada apartada. Os belíssimos olhos verde-oliva ainda eram os mesmos que transtornavam minha consciência.

Minha busca havia se encerrado; eu havia alcançado o meu objetivo.

— Sasuke-kun — ela murmurou o meu nome num misto de sentimentos, surpresa e saudade eram os mais notáveis.

E eu... Eu a chamei de volta, aliviado:

— Sakura.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Certo dia, estávamos eu, Naruto e Sakura no velho campo de treinamento do Time 7 relembrando o passado que compartilhávamos quando eles chegaram.

Não havia me passado pela cabeça, nem por um instante, que eu escaparia impune dos meus pecados. Era tão certo como o dia e a noite: em algum momento, quando eu menos esperasse por isso, o meu passado retornaria para me assombrar.

E ele veio. Na forma de Shinobis de Kumogakure, cujo líder era um dos homens que mais detestavam a minha existência. E eu nem mesmo podia culpá-lo por isso, afinal atentei contra a vida do seu irmão e contra a dele próprio num espaço curto de tempo. Feri seu orgulho, sua nação e deixei-os ambos sangrando, como o braço que ele perdeu graças às chamas do meu Amaterasu.

O esquadrão de Kumo chegou acompanhado por Shinobis da própria Konohagakure e, assim que se aproximaram de nós três, exigiu que eu os acompanhasse sem resistência. Mais adiante, pela minha visão periférica, percebi que Kakashi também se acercava, preocupado.

— Ei, o que vocês querem com o Sasuke?!

Naruto bradou daquele jeito estúpido, mas eu já tinha uma ideia do que queriam e a julgar pela expressão assustada no rosto de Sakura, ela também já sabia. No intuito de protegê-los, investi contra o grupo de Shinobis, colocando-me entre eles e meus companheiros.

— Eu vou com vocês e não ofereço resistência — disse-lhes e eles anuíram.

Quando Naruto fez menção de tentar se meter outra vez, dei-lhe um olhar furioso.

— Não se meta nos meus assuntos, Naruto! Vocês dois... — eu vociferei para ambos, mirando Sakura e mentalmente lhe pedindo perdão por isso. — Fiquem fora dos meus assuntos — acrescentei com frieza.

— Por decisão dos Kages, líderes da Aliança Shinobi, você, Uchiha Sasuke, está preso sob as acusações de traição, deserção da sua vila, conluio com a organização criminosa conhecida como Akatsuki, tentativa de captura ao Jinchūriki do Hachibi, invasão da cúpula dos Kages no País do Ferro e atentado à vida de cinco Kages.

“O réu deverá ser mantido em cárcere em sua própria vila até a data do julgamento.

— Não podem prender o Sasuke! — Naruto teimou e eu cerrei os dentes.

— O que quer dizer com essa decisão ter sido tomada pelos Kages? — Sakura se acercou, um pouco mais calma do que o Naruto, dirigindo-se ao Shinobi de olhos frios que informou a iminência da minha prisão.

— Quer dizer que numa votação que envolveu as cinco grandes nações, três dos Kages votaram a favor da prisão do Sasuke — Kakashi interveio, já tendo nos alcançado. Ele olhou para Sakura, aflito. — Desculpe-me por isso, Sakura. Gaara e eu estamos tentando evadir essa situação há semanas, mas infelizmente os outros três Kages tomaram essa decisão ontem.

“Eles alegaram que o Sasuke deve ser mantido preso até o julgamento para que não tente nenhuma eventual fuga.

— Isso é ridículo! — Naruto voltou a se pronunciar, berrando como o escandaloso que era. — O Sasuke ajudou a salvar o mundo! Sem ele eu jamais teria conseguido selar a Kaguya e muito menos desfazer o Mugen Tsukuyomi!

— Infelizmente, isso não foi prova suficiente para os Kages de que o Sasuke já está reabilitado, Naruto — Kakashi argumentou racionalmente e eu o agradeci por isso. — Antes, eu não permitiria que outras vilas se envolvessem nas questões particulares da vila, mas Sasuke se tornou um criminoso internacional no momento em que atacou a cúpula dos Kages. Além disso, agora há uma Aliança para considerarmos e...

— Bah, eu não entendo nada de diplomacia! — ele desdenhou, bufando. — E estão cometendo um grande erro ao prenderem o Sasuke-teme!

— Cale a boca, Usuratonkachi!

Rosnei no auge da minha paciência e me aproximei ainda mais do esquadrão que esperava para me escoltar até a prisão, não que eles pudessem me deter caso eu não estivesse me entregando espontaneamente. Tsc.

— Kakashi-sensei, não pode fazer nada para impedir isso? — Sakura suplicou desesperada, mas ele meneou a cabeça negativamente.

— Infelizmente, vamos ter que aguardar que o Sasuke seja inocentado no julgamento. Eu usarei como contraprovas o seu bom comportamento desde que voltou à vila e...

Kakashi lançou-me um olhar cúmplice e eu empalideci, rapidamente negando seu pedido. Eu havia entendido o que ele queria no instante em que me fitou: revelar a verdade por trás do massacre dos Uchiha para me inocentar das acusações. Mas não, eu não queria isso. Eu não queria limpar o meu nome e o nome de Itachi às custas da reputação do meu clã e da vila.

Não era isso o que meu Nii-san desejava e eu passei a respeitar sua vontade, mesmo que não concordasse com seus meios de manter a paz.

— Bem, então teremos que contar com a sorte e a leniência dos outros Kages — Kakashi suspirou desanimado e arriou os ombros.

— Levem-no para a prisão!

O mesmo Shinobi de antes ordenou e logo eu fui escoltado para longe de Naruto, Sakura e Kakashi, levado para a prisão. Meu futuro nunca esteve tão incerto quanto naquele momento.

Eu certamente não sentia medo, mas talvez sentisse apreensão.


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Notas finais do capítulo

E finalmente a Sakura chegou! Hahahahaha E agora sim começa o romance! Desculpe tê-los feito esperar tanto X'D
...
Cosmos já teve o seu primeiro capítulo postado. Para os que se interessarem, deem uma passadinha por lá e não esqueçam de comentar ;)
https://fanfiction.com.br/historia/647611/Cosmos/
...
Eu pretendia postar esse capítulo amanhã, mas surgiu um compromisso inadiável então corri para terminar esse capítulo hoje para vocês. Qualquer erro de digitação, ignorem, eu digitei tão rápido que nem estou sentindo meus dedos direito T-T
...
Ahh, e obrigada a todos pelas lindas palavras de consolo. Hoje, como completou uma semana, bateu uma tristeza, mas aos poucos eu vou me recuperando e aprendendo a conviver com a saudade.
...
Nos vemos nos reviews! Se comentarem, posso tentar voltar semana que vem :D
Até o próximo.