O Peregrino escrita por Deusa Nariko


Capítulo 18
Capítulo XVIII


Notas iniciais do capítulo

Décimo oitavo capítulo que eu decido à AlaynaWinchester pela linda recomendação! Obrigada mesmo *-*
...
Boa leitura!



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O Peregrino

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Capítulo XVIII

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Taki no Kuni (País da Cachoeira), dias atuais.

— Mas que merda é essa, Sasuke?!

Suigetsu perguntou-me com exaspero crescente, certamente enquanto contemplava o mesmo que eu: a tempestade ascendente, as nuvens escuras e densas que, tendo vindo do nada, cobriram todo o céu.

As rajadas de vento varriam as árvores ao nosso redor, vergastando os topos dos pinheiros e agitando as águas do rio Kitakamu, soprando em sentido centrífugo; explosões de luz alastravam-se acima da massa crescente de nuvens, a estática no ar tornava-se mais pesada e tangível a cada segundo.

Ainda cativo no punho de meu Susano’o, Ichiro deu-nos a resposta óbvia:

— Esse é o poder oculto de Raiden — comentou e o temor não passou despercebido em sua voz. — Com seu chakra, ele é capaz de moldar as condições climáticas a seu favor para criar uma tempestade elétrica. Ele domina o elemento Ranton tão perfeitamente quanto o Raiton.

Franzi o cenho, intrigado. Um usuário do elemento Tempestade? Jamais havia batalhado com um antes, mas a grandiosidade do poder de Raiden me inquietava. Somente usando seu chakra ele fora capaz de alterar as condições climáticas do campo de batalha e usá-lo para atrair nuvens cúmulo-nimbos. O mais perto que já cheguei disso foi quando utilizei meus jutsus com elemento Fogo para obter um resultado parecido. Foi durante a minha batalha contra Itachi.

Num estalo, percebi o que precisaria ser feito. Mirei, de olhos esbugalhados, o céu negro, a nuvem imensa que pairava sobre nossas cabeças: seu formato de bigorna no topo, a base estreita em forma de redemoinho, os relâmpagos que a cruzavam de ponta a ponta como flashes deslumbrantes. Um convite, de fato, a um usuário de Raiton como eu.

Expirei o ar lentamente e liberei o chakra que mantinha a técnica do meu Susano’o. Tanto eu quanto Suigetsu e Jūgo pousamos em meio aos destroços rochosos, pedregulhos irregulares, que se tornou o desfiladeiro, devido ao último jutsu de Ichiro.

— Sasuke? — Jūgo abordou-me com cautela, confuso por minha atitude; não o culpo, liberei meu Susano’o no momento em que mais precisaríamos de proteção.

Sem olhá-los, ordenei-lhes calmamente:

— Encontrem Karin. E depois, afastem-se daqui... O mais distante que puderem chegar. Não parem por nada e não voltem aqui por minha causa.

— O que você está planejando, Sasuke?

Mirei Suigetsu de soslaio, um olhar incisivo que o emudeceu e o fez entender que eu não seria questionado. Ichiro, que despencara de costas do punho do meu Susano’o, recuperava-se logo adiante e limpava um filete de sangue que escorria do seu lábio.

— Não há como deter a técnica oculta de Raiden; estamos todos mortos.

— Façam o que eu disse! — vociferei para os dois, ignorando deliberadamente as palavras agourentas do Terumi.

Suigetsu e Jūgo se entreolharam, mas decidiram confiar em mim e acabaram por acatar minhas ordens. Eles saltaram dali e, em pouco tempo, senti seus chakras desaparecerem, o que indicava que já haviam se afastado uma boa distância. Pedi-lhes que encontrassem Karin antes porque não tenho certeza do alcance e do poder destrutivo do jutsu de Raiden, mas se for similar ao que eu tenho em mente... Bem, a geografia do rio Kitakamu jamais seria a mesma.

— Ele acabou de reunir chakra suficiente — Ichiro comentou com um assombro mudo entalhado na face enquanto encarava o céu escuro.

Depois, moveu-se até o corpo inconsciente de Kazuhiko e o lançou sobre os ombros, tomando o máximo de distância dali. Crispei as sobrancelhas. Olhar para o céu agora era como mirar um vórtice negro e violento: uma coluna de nuvens em cujo interior relâmpagos galgavam. A ventania intensificou-se ao ponto de quase dobrar as árvores mais antigas e frágeis.

Raiden surgiu do pilar de nuvens, decaindo do seu posto em meio a elas, e pousou no solo a alguns metros de minha figura. O vento fustigava suas vestimentas rudimentares e seu cabelo grisalho e comprido tapava seus olhos quase incandescentes. Havia uma aura azulada em torno do seu corpo; seu chakra chamejava cintilante. Seu poder era tamanho que pequenas rochas esmigalhavam-se sob os seus pés, a pressão do ar a sua volta era quase insuportável.

— Pronto para morrer, Uchiha? — ouvi-o murmurar acima do uivo do vento e do chiado estático da tempestade elétrica.

Raiden uniu as duas palmas da mão e liberou a torrente de chakra que suprimira até então. Um brado rouco e engasgado rompeu sua garganta e sobrepôs-se ao ruído da ventania. Cerrei os dentes e me preparei para o que teria de ser feito. Talvez Jūgo, Karin e Suigetsu já tivessem se afastado o bastante, eu contava com isso, sinceramente.

Acima de nós, o céu escuro pareceu estremecer ante o seu poder oculto. As nuvens adensaram, avolumando-se de forma sobrenatural até que houvessem se tornado a face austera de um demônio. Relâmpagos iluminavam as órbitas vazias que eram os seus olhos, e estas sugavam todo o ar quente como um vórtice.

— Essa é a minha técnica mais poderosa — ele prosseguiu enquanto a cabeça de demônio assomava sobre o horizonte; era colossal e impressionante, de fato. — O demônio coletor de nuvens.

Observei-o, fascinado, mas já havia decidido que não recuaria. Tinha uma carta na manga e um plano arriscado em mente. Estava apostando tudo nessa última técnica.

— É interessante que você tenha decidido criar uma tempestade elétrica — comentei com certa prepotência. — Sabe que sou um exímio usuário de Raiton, não sabe?

— Nenhuma técnica com base no elemento Raiton se compara ao meu jutsu Cabeça demoníaca engolidora de nuvens. É uma técnica que apenas eu fui capaz de dominar completamente. Sabe, o meu mestre uma vez utilizou essa técnica para devastar uma vila inteira no país do Trovão, há muito tempo. Meu mestre era conhecido como o Demônio do Trovão Prateado, um dos maiores usuários do elemento Ranton que o mundo já conheceu, e eu fui o seu único pupilo. E... Eu também fui aquele a superá-lo!

Não consegui evitar sorrir de canto ao ouvir tais palavras:

— E eu sou o maior usuário de Raiton que você conhecerá — disse-lhe com arrogância enquanto liberava o chakra para o meu Susano’o mais uma vez.

Raiden soltou um silvo antes que o chakra ao seu redor pulsasse feroz como a batida descompassada de um coração. Ele tornou a bradar, violento, e separou as mãos até então unidas. Da cabeça de demônio feita de nuvens, rugidos que se assemelhavam ao trovão soaram. No momento em que meu Susano’o completou-se e tornou a abrir suas asas, inúmeros relâmpagos foram cuspidos da bocarra, vindo em direção ao solo e em direção a mim consequentemente.

Alcei voo antes que o primeiro deles colidissem nos penedos fragmentados abaixo dos meus pés. Usei meu Sharingan para determinar a trajetória de cada um deles e evitá-las, mas eles eram muitos e esquivar-se tornava-se cada vez mais custoso. Voei em ziguezague pelo céu enquanto os relâmpagos interrompiam meu percurso, forçando-me a virar com brusquidão para a esquerda ou para a direita.

Cada relâmpago que atingia o solo, explodia numa profusão de luz, destroçando o cenário já reduzido a escombros e queimando as pedras. Algumas árvores que haviam sido atingidas instantaneamente pegaram fogo.

Lá em baixo, Raiden ainda liberava seu chakra monstruoso a fim de manter a técnica. Eu só tinha uma chance e precisava usar aquele jutsu para vencê-lo: era agora ou nunca. A questão é quanto da técnica dele eu suportaria até reunir as condições necessárias para reverter o cenário que ele mesmo criara a meu favor.

Sem pensar duas vezes, e pressionado pelo tempo que corria imparável, ergui minha mão direita em direção ao céu enegrecido e meu Susano’o copiou-me, erguendo sua espada incandescente. Cerrei os dentes quando o primeiro raio acertou-me, fazendo-me suar frio devido ao esforço que impunha ao meu corpo. Se tudo corresse como meu plano, a espada do meu Susano’o funcionaria como uma espécie de para-raios, atraindo todos os relâmpagos para mim.

Funcionou perfeitamente no primeiro minuto; com meu chakra instigando as descargas elétricas a convergirem diretamente para mim, resisti bem. Depois disso, sustentar a imensa corrente elétrica que se expandia ao meu redor se tornou quase insuportável. Raiden era talentoso, isso eu não podia negar. Mas isso também não queria dizer que ele era superior a mim.

Com minha mão direita erguida, liberei mais chakra a fim de manter os relâmpagos sob o meu controle. Eu me lembrava do poder destrutivo desse jutsu e sabia que causaria danos irreparáveis ao terreno, mas se tivesse sorte, apenas Raiden seria o atingido.

Raiden viu o que eu estava preparando e tratou de se precaver para o impacto da minha técnica. Sua nuvem demoníaca rugiu dezenas de relâmpagos todos de uma vez, que convergiram em apenas um destino e o atingiram em cheio. O modo como ele domou o imenso relâmpago era sobrenatural. Mas meu jutsu seria superior, eu estava contando com isso.

A teia de relâmpagos ao meu redor crescera o bastante; era agora ou nunca. Ele se preparou e eu também. Com a palma de minha mão voltada para cima, lentamente abaixei-a para invocar a fera. O imenso relâmpago de Raiden, originário da boca do demônio nas nuvens, também cintilou ao seu redor, chiando esmagador.

Das nuvens acima de mim, minha criatura enfim surgiu, atendendo ao meu chamado. Feita de relâmpagos, seu corpo incandescente era todo constituído pela teia de raios que me cercava. Cabeça e corpo de dragão, grandes filamentos elétricos desprendiam-se do seu focinho longo e gravitavam luminosos. As garras longas arranharam as nuvens negras, por pouco não as dispersando, enquanto o céu se enchia de uma luminosidade abrasadora.

O relâmpago de Raiden, por sua vez, sugou a cabeça de demônio, absorvendo toda a sua energia enquanto suas mãos o domavam docilmente. Estávamos a um passo de descobrir qual de nós dois era o melhor usuário de Raiton e o perdedor pagaria o preço por sua inferioridade com a própria vida.

Encaramo-nos em silêncio absoluto: ele, de baixo, eu, de cima, enquanto nossas técnicas rugiam cada qual a sua maneira. O demônio dele contra o meu próprio monstro. Entendi o seu olhar, era chegada a hora.

Raiden manejou suas mãos como se manuseasse o próprio relâmpago. Eu virei a palma de minha mão para cima outra vez e o grande dragão azulado mergulhou nas nuvens de tempestade. No mesmo compasso e no intervalo entre uma batida de coração, liberamos ambos as nossas técnicas:

— Kirin! — chamei-o num brado, abaixando meu braço na direção de Raiden.

O relâmpago dele partiu do solo em direção ao céu enquanto o meu monstro descia das nuvens numa velocidade fenomenal. Um clarão cegante iluminou tudo — e isso eu posso apostar — dentro de um raio de, no mínimo, dez quilômetros. O estrondo de nossos jutsus colidindo fez estremecer os arredores.

Precisei cobrir os olhos com meu braço a fim de protegê-los da luminosidade excessiva e, por um instante significativo, nossas técnicas digladiaram niveladas, confrontando-se. Mas testifiquei o momento triunfal no qual meu Kirin engoliu o relâmpago de Raiden, avançando inclemente contra o homem até bater no solo com uma explosão inimaginável. Eu havia vencido no fim.

As rochas ao seu redor se fragmentaram e o chão acabou por se partir, triturando tudo devido ao poder da minha técnica. Eu mal conseguia acompanhar o desenrolar dos fatos sem que meus olhos se incomodassem com a luminosidade agressivamente excessiva. Minha fera rugiu vitoriosa ao final enquanto grande parte do desfiladeiro se desintegrava e seus destroços encontravam as águas agitadas do Kitakamu.

Árvores em chamas foram simplesmente apagadas e o grande promontório ruiu. Penedos imensos despencaram no rio, cada um com um estrondo maior do que o outro. Recolhi as asas do meu Susano’o, mirando a porção do desfiladeiro que não havia se desfeito durante a batalha; liberei minha técnica e pousei sobre um rochedo mais ou menos instável. A luminosidade azulada já se dispersava, assim como as nuvens negras que outrora cobriram o céu.

Apoiei-me na minha espada, ficando a lâmina na pedra quando meus joelhos vacilaram por um momento. Eu havia usado chakra demais nesse último jutsu?

O céu paulatinamente limpou-se e as nuvens escuras se tornaram brancas e pacíficas, tornando a expor seu sol pálido e invernal.

Ainda com meu Sharingan ativado, procurei pelo corpo de Raiden, mas fiquei surpreso quando não o avistei, tampouco quando não capitei seu fluxo de chakra. Toda a garganta que um dia compreendeu o rio Kitakamu havia sido removida do mapa, diminuída para alguns poucos paredões rochosos de granito e calcário que resistiram à grande batalha. Grandes pedaços de rocha rolavam rio abaixo ainda, entretanto. Percebi com assombro que minha técnica por pouco não havia mudado o curso do leito, o que seria, sem dúvida, um desastre.

Resolvi recuperar o fôlego ali mesmo, expirando o ar lentamente pela boca, uma vez de cada. Há muito tempo uma exaustão parecida não me abatia. Talvez desde a Quarta Guerra e minha batalha contra Naruto. Não estava exaurido como daquela vez, mas certamente levaria algum tempo para repor meu chakra.

Levantei-me de chofre quando senti a aproximação inegável de dois chakras. Eles pousaram a poucos metros de mim: eram Ichiro, que carregava ambos os corpos de Kazuhiko (este apenas inconsciente) e Raiden, e a garota que eu vira anteriormente. A julgar pelo estado de Raiden, tive certeza de que ele estava morto.

— Nós te subestimamos, Uchiha Sasuke — Ichiro foi o único a se dirigir a mim e a insatisfação no seu rosto por eu os haver derrotado estava evidente. — No entanto, posso garantir a você que a nossa batalha não termina aqui.

— Sasuke! — Ouvi a voz de Karin chamando-me ao longe e soube que ela estava acompanhada de Suigetsu e Jūgo, mas não me virei para olhá-los.

— Mas que porcaria foi aquela, Sasuke? — Suigetsu demandou tão logo me alcançou com um timbre desacreditado, ele parecia-me perplexo. — Eu juro que pudemos ver e sentir a explosão a uns quinze quilômetros daqui!

Ignorei-o e continuei a fulminar Ichiro. Eu ainda queria respostas.

— Haruno Sakura — pronunciei o nome, mas o rosto dele não se alterou. — Onde ela está?

— A Kunoichi de Konoha — ele assentiu calmamente e meu sangue ferveu de raiva. — Nós lutamos com ela há algumas semanas, mas não fomos os responsáveis por sua morte. Ela mesma causou isso.

— O que quer dizer? — interpelei-o impaciente.

— Foi ela própria quem socou o chão e causou a ruptura do penhasco para nos distrair; ela mesma se atirou no rio na tentativa de escapar de nós. Não podíamos permitir que ela fugisse do território de Taki, não com a informação que obteve. Mas não estamos com o corpo dela, se é o que deseja saber.

Cerrei os dentes, enraivecido, louco de fúria.

— Então onde ela está?!

Ichiro fez uma pequena pausa antes de responder-me; seus olhos estavam duros e frios, quase empedernidos, quando voltou a se dirigir a mim:

— Não sabemos. Mas quero apenas adverti-lo sobre algo, Uchiha. Se, por um milagre, a garota estiver viva, nós a encontraremos e a eliminaremos. Não permitiremos que ela escape de Taki com vida.

— Não se eu puder impedir — vociferei baixo e intentei avançar contra ele, mesmo que estivesse com pouco chakra.

Nesse momento, a garota de cabelo cor de cobre colocou-se à frente dele e fez sinais de mão, liberando seu chakra para sua técnica:

— Essa não é a última vez que nos encontraremos, Uchiha Sasuke — Ichiro disse enquanto o genjutsu da garota fazia efeito, encobrindo-os com uma sombra densa e viva. — Marque as minhas palavras! — exclamou com confiança assim que a escuridão do genjutsu caiu sobre eles, fazendo-os desaparecer num piscar de olhos.

Avancei ainda assim, de espada em punho. Manejei-a, mas já era tarde demais; quando perpassei através dele, através dos resquícios de sombra, soube que não havia mais nada a ser feito.

— Merda! — praguejei alto enquanto me recompunha de minha investida falha e me voltava para os três pares de olhos que me encaravam.

Embainhei minha Kusanagi e caminhei até eles sem lhes dirigir a palavra. Podia senti-los acompanhar cada movimento meu e isso estava me dando nos nervos. Como de praxe, foi Karin quem tentou se aproximar de mim para verificar meu estado:

— Você está bem, Sasuke?

— Não estou ferido, se é isso que quer saber — respondi-lhe com o máximo de cortesia que consegui coligir.

Mas que direito tinha eu de descontar minha raiva e frustração comigo mesmo naqueles três? Eles haviam dado o seu máximo para me ajudar, como sempre. Eu nunca me perdoaria se lhes retribuísse apenas com ingratidão. Suspirei, cansado, e parei a meio passo da borda de um penedo que sobrevivera à minha técnica.

— O que você fará agora, Sasuke? — Foi Jūgo quem me perguntou e eu precisei admitir (ainda que para mim mesmo) que, honestamente, não fazia ideia.

Parecia que eu havia voltado à estaca zero mais uma vez. A Higanbana Sangrenta jamais estivera com Sakura e, se por acaso, ela houvesse caído nas mãos do Lorde Feudal, eles saberiam. Aparentemente, ela estava desaparecida e sendo procurada tanto por mim quanto por Shinobis de Taki. Isso significava que onde quer que ela estivesse e como estivesse, Sakura continuava correndo perigo.

Eu precisava me apressar para encontrá-la e tirá-la o mais depressa possível do território do país da Cachoeira. Algo me dizia que tanto Ichiro e os outros quanto o Lorde Feudal não poupariam esforços para eliminá-la.

Tinha que tomar decisões e depressa. Sakura dependia de mim.

⊱❊⊰

Ho no Kuni (País do Fogo), três anos antes.

Se dissesse que em algum momento durante a transição de minha pré-adolescência para a juventude não fui tentado por pensamentos, sonhos ou até mesmo devaneios que envolvessem Sakura...

Bem, digamos que essa seria mais uma das mentiras a ser acrescentada à pilha que passei a contar a mim mesmo em todos esses anos. E isso eu assumo: sou um mentiroso, mas só quando diz respeito aos meus próprios sentimentos. Também fui covarde por boa parte de minha existência, sempre fugindo do que eu realmente queria.

O fato é que desde que me libertei do meu ódio, tudo o que sempre me pareceu velado ou complexo demais vem se tornando cada dia mais claro e evidente. O quão tolo eu fui, o quanto eu verdadeiramente abdiquei, tão perdido na minha dor e na minha escuridão.

É verdade que beijei Sakura em um impulso e isso é exatamente o que eu sou: uma criatura impulsiva, regida e controlada por suas emoções e paixões mais violentas. Mas nunca aleguei ser uma boa alma, e nisso não tenho parte alguma.

O mais surpreendente talvez seja, então, Sakura ter cedido a mim sem oferecer qualquer resistência. Se eu a detestei por isso? Talvez. Ela não devia ofertar seu coração para alguém como eu que carrega tantos pecados e tantos demônios. Especialmente porque eu já o quebrei tantas e tantas vezes. Ou talvez eu a tenha interpretado mal, afinal.

Seus lábios transmitiam tanta raiva e tanto ressentimento quanto os meus certamente. Não foi um beijo doce ou gentil como ela deve ter, em algum momento, idealizado entre nós. Mas nós dois não estávamos exatamente protestando, estávamos? Ao menos, quando senti suas mãos agarrarem minha camiseta, julguei estar no caminho certo para compreender sua motivação.

Nossa diferença de altura, entretanto, era um obstáculo à parte (e bastante incômodo, acrescento), forçando-a a esticar-se na ponta dos pés para alcançar meu rosto. Talvez por isso tenha atirado os braços em torno do meu pescoço em busca de apoio. Não que eu me importasse. Para ser franco, eu estava mais compenetrado em não me perder no gosto da sua boca e no seu perfume adoravelmente floral.

Podia sentir os contornos do seu corpo, colada como estava em mim. Cada polegada dela emanava um calor delicado que tentava minha sanidade. Os seios pequenos estavam esmagados contra o meu peito; sua cintura fina cabia tão perfeitamente no meu meio abraço que era espantoso que ela pudesse ser tão perfeita para mim. Tão certa. Como nenhuma outra jamais foi e seria.

Os quadris cheios, por outro lado, apertados contra os meus, começavam a despertar desejos meus que, por enquanto, deveriam permanecer em oculto. Ainda que um canto obscuro de minha mente dissesse-me que se eu pedisse, que se eu a quisesse, ela seria minha. Mas não, não seria justo com ela e certamente não seria justo comigo também, por mais que meu corpo ardesse contra o dela.

Sempre pensei em Sakura como algo fora de questão para mim. Ela era boa demais e eu nunca seria o suficiente, incompleto como estou. Isso não me impediu, entretanto, de puxá-la para mais perto e empurrar minha língua para dentro de sua boca. Minhas contradições me confundiam. Ou poderia ser apenas o pouco de moralidade que ainda possuo falando mais alto.

De qualquer forma, meus limites auto impostos também não me impediram de apreciar o gemido acanhado que Sakura deixou escapar quando mordisquei seu lábio inferior, correndo minha língua por cima em seguida. Ah, a quem eu estava querendo enganar? Cada fibra do meu corpo implorava por Sakura. Mais do que isso: minha alma suplicava por ela, pelo amor que apenas ela poderia me oferecer.

Sakura é minha; sempre havia sido como sempre haveria de ser e essa era uma verdade na qual eu me apoiei — mesmo que inconscientemente — durante tanto tempo. Por isso não suportava seus sorrisos quando estes estavam direcionados para outros garotos e não para mim. Por isso fiquei tão enciumado de sua admiração por Naruto e do fato de ele tê-la salvado e não eu.

Era egoísmo, mas foda-se. Eu a queria para mim. Como agora: pressionada contra o meu peito, arranhando minha nuca e agarrando meu cabelo, gemendo sob a minha boca.

Por mais que eu tenha tentado afastá-la no passado, percebi que nunca a desencorajei a continuar me amando. Nunca lhe disse que não era bom o bastante, muito menos o homem que ela merecia. Aleguei para todos e para mim próprio que mataria Naruto para romper nossos laços, mas nunca tive coragem suficiente para tentar o mesmo com Sakura, exceto por aquele dia, no país do Ferro, em que quase perdi minha sanidade de vez.

Que tolo eu fui. Talvez Itachi tivesse tido razão em me arranjar esse epíteto. Era um completo idiota por, mesmo contra a minha vontade, sempre ter auspiciado um futuro com Sakura.

Um futuro. Por anos, achei que não havia mais nada para mim que não estivesse ancorado ao meu passado, mas nisso eu estava, felizmente, enganado e Naruto e Sakura provaram-me. Um futuro me aguardava.

Essas palavras pesaram meus pensamentos no momento em que me afastei de Sakura; encontrei-a desgrenhada, em verdadeiro desalinho: a boca inchada, as faces coradas, os olhos brilhantes e excitados. E isso tudo era por minha causa.

Ela também pareceu ter se dado conta disso, pois se desprendeu do meu braço em seguida e balançou a cabeça, desacreditada:

— Te-tenho que ir, Sasuke-kun. Até mais! — balbuciou desconcertada antes de disparar rua abaixo, para longe de mim.

Fui deixado para trás, igualmente embaraçado e consciente dos sentimentos que aquele beijo despertou em nós dois; a chama que foi reacendida ou que talvez jamais se extinguiu, afinal.


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Notas finais do capítulo

Menos um, faltam três :v E o retorno da Rainha está cada vez mais próximo. AI MEU DEUS não vejo a hora de escrever esse reencontro ;-; Vocês me chamam de má pelo sumiço dela, mas eu também tô sofrendo, tá? :v Ela é a Rainha do meu coração ;-;
...
Eu amo o jutsu Kirin do Sasuke, uma pena que ele usou só uma vez.
Próximo capítulo, teremos o retorno da Ajisai e não se preocupem, ela vai abrir a boca e contar o que sabe! Hehehehehehehe
...
Obrigada a todos que comentaram! E se comentarem de novo eu posso tentar voltar mais cedo ;D
Até o próximo!